70% das novas vagas de emprego formal do estado pagam de 1 a 2 salários mínimos em outubro

21/12/2021 14:38

Por: Allan da Cruz Lopes[1] e Victor Hugo Azevedo Nass[2]

Dando sequência aos acompanhamentos mensais publicados no Blog do Necat, o objetivo deste texto é analisar o comportamento do mercado formal de trabalho do Brasil e de Santa Catarina em outubro de 2021, a partir dos resultados do Novo CAGED[3]. Para isso, serão analisados os saldos mensais e as variações relativas do emprego formal por grupamento de atividade econômica, gênero, escolaridade, faixa de remuneração e mesorregião geográfica.

De acordo com a Tabela 1, em outubro o Brasil apresentou saldo positivo de aproximadamente 253 mil vínculos formais de trabalho, porém vem diminuindo o seu ritmo de criação de empregos, decaindo para 0,6%. Já Santa Catarina teve saldo de 17,7 mil novos vínculos, tendo novamente uma  alta de 0,8% no mês. 

Tabela 1 – Evolução mensal de estoque, admissões, desligamentos, saldo e variação percentual (Brasil e Santa Catarina, outubro de 2020 a outubro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

No acumulado de 12 meses[4], após o reprocessamento de toda a base de dados do Novo Caged, que reduziu os saldos e estoques passados[5], o Brasil gerou 2,8 milhões de novos postos formais de trabalho, o que representa uma variação de 7,5% no estoque nacional, números bem abaixo do que via-se antes do reprocessamento. O mercado formal de trabalho catarinense seguiu as tendências nacionais durante todo o período analisado, todavia com um ritmo de geração de vagas mais intenso. O estado acumulou uma variação de 9,6% entre outubro de 2020 e de 2021, com saldo de 200 mil vagas. Esses dados mostram uma expressiva expansão do mercado de trabalho formal catarinense no último ano, e mesmo com a redução do saldo total de vagas por conta do reprocessamento dos dados, é fato que não há mais a distorção causada pela pandemia nas taxas de variação.

Evolução do emprego formal no Brasil

Conforme os dados contidos na Tabela 2, os serviços ficaram mais uma vez com o melhor desempenho no país em outubro, com saldo de 144 mil vínculos. Esse resultado equivale a um crescimento mensal de 0,8%, que a aparente volta de uma “normalidade”, com mais de 70% da população nacional imunizada[6], acaba puxando a volta das contratações nos subsetores que dependiam da circulação de pessoas, como por exemplo, as atividades administrativas e serviços complementares, que tiveram 43 mil novas vagas formais de emprego no mês. Apesar do desempenho  mensal, vale notar que no acumulado de 12 meses os serviços seguem com o menor crescimento entre os setores, de 6,8%.

Tabela 2 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Brasil, outubro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

O setor de comércio gerou pouco mais de 70 mil vínculos formais de trabalho em outubro, o que representou um crescimento de 0,7%. Esse resultado foi fortemente influenciado pelos subsetores do comércio varejista de vestuário e acessórios (10.109), varejo não especializado, como super e hiper mercados (9.955) e de produtos novos não especificados anteriormente, como novos tipos de vestuários e acessórios (5.763). No acumulado de um ano, o comércio registrou crescimento de 7,9%.

A indústria criou mais de 27 mil postos de trabalho formais em outubro, com destaque para os subgrupos de: confecção de artigos do vestuário e acessórios (6.550);  artigos para a viagem e calçados (4.064); e fabricação de máquinas e equipamentos (2.563), que juntos correspondem por mais de 40% do saldo mensal do setor. Tomado em seu conjunto, o crescimento do setor industrial foi de 0,3% no mês, e, no acumulado em 12  meses, de 7,4%.

O setor de construção continua obtendo o melhor desempenho relativo no acumulado em 12 meses, com crescimento de 11,6%. Seu saldo em outubro foi de (17.236) vínculos, o que corresponde a uma alta de 0,7% neste mês. Esse resultado ficou concentrado nos subsetores de construção de edifícios (10.018) e serviços especializados para a construção (7.017).

A agropecuária obteve saldo negativo esse mês (-5.844), com decréscimo de 0,3%, se colocando como o pior setor dentre os apresentados. Entre seus subsetores, os destaques negativos foram as atividades de apoio à agricultura (-4262), cultivo de cana-de-açúcar (-3.398). No acumulado de 12 meses, o setor agropecuário registra uma queda de 7,6%.

A Tabela 3 apresenta o saldo de vínculos formais de trabalho por sexo no Brasil. O resultado de outubro foi positivo em 106 mil vínculos para os homens e em 147 mil vínculos para as mulheres, ou seja, as mulheres ocuparam mais postos de trabalho. No acumulado de 12 meses a situação é diferente, com o sexo masculino liderando o saldo de novas vagas.

Tabela 3 – Saldo por sexo (Brasil, outubro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 4 apresenta a distribuição do emprego formal por nível de escolaridade. Em outubro, aproximadamente 73% dos postos formais de trabalho criados foram ocupados por pessoas que têm ensino médio completo (185.415). Embora em menor medida, outros níveis de escolaridade que obtiveram crescimento considerável foram o de ensino médio incompleto (27.216) e o ensino superior  completo (18.994). No acumulado de 12 meses, é notável que a expansão do emprego foi puxada principalmente por vagas para ensino médio completo (2.103.599).

Tabela 4 – Saldo por nível de escolaridade (Brasil, outubro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 5 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em outubro, foram criadas mais de 240 mil vagas com remuneração entre 1 a 2 salários mínimos, o que corresponde a 90% do saldo mensal. O segundo maior saldo por faixa salarial foi a de 2 a 3 salários mínimos. A faixa de meio a um salário mínimo continua sua tendência de queda, no mês foram 31 mil postos formais de trabalho. Em relação ao acumulado de 12 meses, observa-se que a faixa entre 1 e 2 salários mínimos (2,8 milhões) representou quase a totalidade das vagas geradas, revelando uma tendência de concentração do emprego formal nessa faixa salarial.

Tabela 5 – Saldo por faixa de remuneração (Brasil, outubro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Nota: Faixas de remuneração em salários mínimos de 2021 (R$ 1.100).

Evolução do emprego formal em Santa Catarina

Em outubro, os serviços mais uma vez apresentaram  o maior saldo mensal no emprego formal do estado, com 8,8 mil novas vagas e mostra a mesma variação vista em setembro, de 0,8%. Esse resultado mensal foi puxado pelos subsetores de: alojamento e alimentação (1.776); saúde humana e serviços sociais (1.371); e transporte, armazenagem e correio (1.078). No acumulado de 12 meses,  o setor fechou com um crescimento de 9,8%.

 Tabela 6 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Santa Catarina, outubro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Com saldo de 2,5 mil vínculos formais de trabalho, a indústria obteve um crescimento mensal de 0,6%. Os maiores saldos se deram nos subsetores de: confecção de artigos do vestuário e acessórios (615); fabricação de produtos alimentícios (560); fabricação de máquinas e equipamentos (410); manutenção, reparação de máquinas e instalação de equipamentos (165); e fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (147), que juntos correspondem por metade do saldo setorial. Já no crescimento em 12 meses, o setor apresenta alta de 9,4%.

O comércio registrou um crescimento de 0,9% em outubro, com criação de 4,3 mil vínculos. Os subsetores que mais se destacaram foram o de comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios (534); hiper e supermercados varejistas (447 vínculos). Em 12 meses, o crescimento do setor foi de 9,0%.

A construção, com crescimento de 0,8% nesse mês, contou com um saldo de 868 vínculos. Esse crescimento foi concentrado nos subsetores de  serviços especializados para a construção (502); construção de edifícios (465). No acumulado de um ano, assim como visto nacionalmente, o setor foi o que mais cresceu, com uma taxa de 12,8%.

A agropecuária criou 1 mil novas vagas no mês. Esse saldo é sustentado principalmente  pelo cultivo de maçã,  do qual Santa Catarina é o maior produtor nacional. O subsetor abriu 949 vagas em outubro. Nota-se que a agropecuária registrou a maior taxa de crescimento no mês (1,4%), mesmo que no acumulado de 12 meses apresente o menor crescimento entre os setores(5,5%).

Conforme a Tabela 7, das mais de 17 mil vagas abertas em outubro, 9,7 mil foram ocupadas por mulheres e quase 8 mil por homens, ou seja, as mulheres tiveram novamente um saldo ligeiramente maior no mês. As mulheres acumulam saldo maior que os homens no agregado anual, com alta de 104 mil vagas, face às quase 96 mil vagas masculinas. O que demonstra a presença das mulheres no setor dos serviços, onde elas ocupam cerca de 60% das vagas criadas.

Tabela 7 – Saldo por sexo (Santa Catarina, o de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Conforme indicam os dados contidos na Tabela 8, mais da metade dos empregos formais gerados em outubro de 2021 foram ocupados por trabalhadores com ensino médio completo (10.814). O segundo maior saldo é o da faixa de ensino médio incompleto, com 2.311 vagas. No acumulado de 12 meses, segue a tendência de concentração do emprego na faixa de ensino médio completo, cujo saldo de mais de 125 mil vínculos representa cerca de 2/3 do total de vagas geradas no período. Em seguida, aparece a faixa de ensino médio incompleto (28 mil vagas no acumulado).

Tabela 8 – Saldo por nível de escolaridade (Santa Catarina, outubro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 9 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em outubro, cerca de  12 mil vagas formais foram criadas na faixa entre 1 e 2 salários mínimos, que concentrou quase 3/4 do saldo mensal. Na sequência, a faixa de 2 a 3 salários mínimos foi a segunda com maior saldo (2,4 mil vagas). Com relação ao acumulado de 12 meses, percebe-se que Santa Catarina tem um comportamento muito similar ao visto nacionalmente, com um crescimento das vagas extremamente concentrado na faixa entre 1 e 2 salários mínimos (169 mil vagas), que corresponde a mais de 80% do saldo total.

Tabela 9 – Saldo por faixa de remuneração (Santa Catarina, outubro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Com relação à distribuição mesorregional dos empregos formais (Tabela 10), podemos observar que a região do Vale do Itajaí novamente apresentou a melhor performance em outubro, em termos absolutos. A região registrou alta expressiva, da ordem de 0,8%, correspondente ao saldo de 5 mil novos postos formais de trabalho. Em 12 meses, o Vale do Itajaí acumula um saldo de mais de 60 mil vagas, uma alta de 11%.

Tabela 10 – Saldo por mesorregião (Santa Catarina, outubro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Na sequência fica a região da Grande Florianópolis, com um saldo de 4,9 mil vagas no mês. Em termos relativos, a região apresentou alta mensal de 1,2%, puxada pela retomada tardia dos serviços. No acumulado de 12 meses, a Grande Florianópolis apresenta um crescimento de 10,2%.

Já a região Sul registrou saldo de 2,3 mil vagas no mês, uma alta de 0,8%. Os setores industrial e de comércio foram os principais responsáveis pelo saldo. Em 12 meses, a região apresentou um crescimento da ordem de 9,4%.

A região Oeste obteve um saldo de mais de 2,2 mil vagas em outubro, equivalente a uma alta de 0,5% no seu estoque de empregos formais. Os principais destaques positivos ficaram por conta da agricultura, pecuária e serviços relacionados e comércio varejista em geral. Em relação aos últimos 12 meses, a região obteve um crescimento consideravelmente inferior à média estadual, de 7,3%, muito por conta do lento crescimento da indústria – notadamente a alimentícia – e o comércio voltado ao varejo em geral.

A região Norte apresentou um saldo de 2 mil vínculos e cresceu 0,5% em relação a outubro. Esse saldo é sustentado principalmente pelo bom desempenho dos serviços, com destaque para os subsetores de: alojamento e alimentação, informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas, e comércio varejista em geral. Em relação ao desempenho em 12 meses, a região Norte acumula um crescimento de 9,1% e saldo de 38 mil vagas.

A região Serrana apresentou um crescimento da ordem de 1% em outubro, representando um saldo de 973 vagas, puxado pelo cultivo da maçã. No acumulado de 12 meses, a região apresenta alta de 8,4%.

Em síntese, os dados de outubro indicam que o emprego formal em Santa Catarina continua em expansão, com destaque para o forte desempenho da região do Vale do Itajaí e para a região da Grande Florianópolis. Os setores da indústria e de serviços têm papel muito importante nesse processo. Outro dado importante é a distribuição do emprego entre os sexos, que favorece mais as mulheres nos últimos meses, em compasso com a aceleração das contratações no setor de serviços. Além disso, é importante destacar a baixa qualidade dos postos de trabalho gerados, dada sua concentração em vagas com baixa remuneração (na faixa entre 1 e 2 salários mínimos) e de baixa escolaridade.


[1] Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat.

[2] Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat.

[3] Todos os dados apresentados neste texto foram coletados junto à base de dados do Ministério da Economia em 10 de dezembro de 2021. Em razão das declarações fora do prazo e das revisões periódicas da base de dados, os dados podem divergir ligeiramente dos divulgados nas análises anteriores.

[4] A variação acumulada em 12 meses refere-se ao crescimento do estoque de empregos formais entre novembro de 2020 e outubro de 2021.

[5] Para mais detalhes, ver MATTEI. Nova revisão do Caged reduziu em 27% o volume do emprego formal criado em Santa Catarina no ano de 2020, Blog do Necat, 2021.

[6] Para mais, ver MINISTÉRIO DA SAÚDE. Plano nacional de operacionalização da vacina contra a covid 19, 2021.