763 mil pessoas acima de 50 anos de idade sequer tomaram a primeira dose de reforço

19/07/2022 15:15

Lauro Mattei[*]

Inicialmente é necessário destacar, mais uma vez, a importância da vacinação para o conjunto da população, uma vez que somente um percentual elevado de pessoas imunizadas irá propiciar a chance concreta de controlar em definitivo a atual pandemia. Por isso, a ciência tem seguidamente reafirmado a necessidade de tomar também as doses de reforço dos imunizantes visando manter o maior número possível de pessoas protegidas, passo considerado essencial para cortar o círculo virtuoso do novo coronavírus. Além disso, a ciência também confirmou que as pessoas mais idosas e com comorbidades são os grupos sociais mais vulneráveis ao novo coronavírus. Por isso, esse público foi priorizado desde o início do programa de imunização da população do país.

Neste artigo vamos fazer uma atualização da aplicação da primeira dose de reforço nas faixas etárias mais vulneráveis (acima de 50 anos de idade), à luz das informações disponíveis no Vacinômetro da Secretaria Estadual de Saúde (SES-SC) até o dia 10.07.2022. No início de março de 2022, em artigo intitulado “872 mil pessoas acima de 50 anos de idade estão com a 1ª dose de reforço atrasada” e publicado no blog do NECAT-UFSC, destacamos o número expressivo de pessoas dessas faixas etárias que não tinha tomado a primeira dose de reforço e, portanto, não estavam mais imunizadas.

O Quadro 1 apresenta a evolução do número de pessoas de cada faixa etária acima de 50 anos de idade que tomou a primeira dose de reforço até a data pesquisada (10.07.2022). Inicialmente é importante esclarecer que o ponto de referência analítico de cada faixa etária específica é a quantidade de pessoas imunizadas com a primeira dose em cada uma das faixas consideradas, uma vez que a população alvo de cada uma delas estava assentada em estimativas populacionais, as quais foram realizadas devido à ausência de um Censo Demográfico atualizado. Além disso, é importante frisar, ainda, que a população acima de 60 anos foi o primeiro grupo prioritário, sendo que a maioria recebeu as duas doses até o mês de setembro de 2021. Como o prazo do reforço é de 4 meses, significa que todas as pessoas que fazem parte das faixas etárias consideradas como idosas já deveriam ter recebido a primeira dose de reforço. Além disso, a última faixa etária considerada (50 a 59 anos) também já deveria ter concluída a aplicação da dose de reforço, conforme calendários de vacinação da Secretaria Estadual da Saúde.

O comentário geral em relação às informações contidas no Quadro 1 é que podemos considerar o desempenho da imunização primária de todas as faixas etárias de forma bastante positiva, uma vez que o percentual de pessoas não imunizadas foi baixo em todas as faixas, ou seja, da população alvo total dessas faixas etárias menos de 5% deixaram de completar o esquema primário. Esse cenário é totalmente oposto quando se considera a aplicação da 1ª dose de reforço, uma vez que esse percentual subiu para 36%. Decorre daí a importância em identificar as diferenças entre faixas etárias conforme faremos na sequência.

Analisando as informações no sentido em que se iniciou o processo de imunização, verifica-se que na faixa etária de 80 anos ou mais de idade 22.365 pessoas deixaram de completar o esquema primário. Em termos percentuais, isso significa que 12% desse público não tomaram as vacinas recomendadas. Quando se considera o percentual de vacinados dessa faixa etária com a primeira dose de reforço, nota-se que 67.444 pessoas dessa faixa etária não tomaram tal dose, ou seja, o percentual de idosos não imunizados e sujeitos aos efeitos de uma nova contaminação subiu para 36,5%.

Quadro 1: Evolução da vacinação dos catarinenses acima de 50 anos de idade, segundo o esquema primário e a primeira dose de reforço

tabela vacinação acima de 50

Fonte: Vacinômetro da SES-SC. Dados atualizados em 10.07.22. Elaboração: NECAT

*Vacinação primária (1ª,  2ª Doses ou Dose Única)

**Déficit em função da população total de cada faixa etária vacinada com 1ª dose do esquema primário.

Analisando-se a faixa etária de 70 a 79 anos de idade, observa-se que apenas 17 mil pessoas deixaram de completar o esquema primário, o que corresponde a 5% da população vacinável. Quando se considera o percentual de vacinados dessa faixa etária com a primeira dose de reforço, nota-se que 79.723 pessoas não tomaram tal dose, ou seja, o percentual de idosos dessa faixa etária não imunizados e sujeitos aos efeitos de uma nova contaminação subiu para 22%.

Analisando-se a faixa etária de 60 a 69 anos de idade, observa-se que apenas 10.826 pessoas deixaram de completar o esquema primário, o que corresponde a 2% da população vacinável. Quando se considera o percentual de vacinados dessa faixa etária com a primeira dose de reforço, nota-se que 218.658 pessoas dessa faixa etária não tomaram tal dose, ou seja, o percentual de idosos dessa faixa etária não imunizados e sujeitos aos efeitos de uma nova contaminação subiu para 32%.

Analisando-se a faixa etária de 50 a 59 anos de idade, observa-se que apenas 19.914 pessoas deixaram de completar o esquema primário, o que corresponde a 2,2% da população vacinável. Quando se considera o percentual de vacinados dessa faixa etária com a primeira dose de reforço, nota-se que 397.651 pessoas dessa faixa etária não tomaram tal dose, ou seja, o percentual de pessoas dessa faixa etária não imunizados e sujeitos aos efeitos de uma nova contaminação subiu para 44%.

Em síntese, os dados analisados anteriormente revelam que 36% do público acima de 50 anos de idade está com processo imunizatório em atraso, uma vez que não se dignaram a tomar a primeira dose de reforço. Tal fato, pode se transformar em vetor potencial de transmissão da doença e contribuir para que o controle efetivo da pandemia no estado se torne indefinido no tempo. Todavia, deve-se destacar que neste caso o grande problema se localiza nas faixas etárias de 50 a 59 anos e de 60 a 69 anos de idade, uma vez que juntas elas respondem por 81% das pessoas que estão com a 1ª dose de reforço atrasada.

A consequência desse cenário precário de imunização com a primeira dose de reforço já é visível na elevação dos casos fatais, ou seja, apenas em seis meses de 2022 já foram registrados quase 2 mil óbitos no estado por Covid-19. Quando se estratifica essas informações dos óbitos por faixas etárias, nota-se que a grande maioria dessas mortes (86%) ocorreu exatamente nas faixas etárias acima de 50 anos de idade ou mais.


[*] Professor titular do curso de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador geral do Necat/UFSC, Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ e membro da Comissão de Monitoramento da Covid-19 da UFSC. E-mail: l.mattei@ufsc.br. Artigo escrito em 15.07.2022.