A produção industrial catarinense apresentou a terceira retração seguida no mês de abril de 2021

18/06/2021 20:29

Por: Matheus Souza da Rosa[1]

Os dados da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, PIM/PF-IBGE, divulgados neste mês de junho revelam a continuidade da oscilação do setor industrial no Brasil e em Santa Catarina. Os dados relativos ao mês de abril mostraram o baixo desempenho da produção física nos quatro primeiros meses de 2021, expressando os impactos da crise econômica e a pouca capacidade de reação do setor industrial aos impactos da pandemia da Covid-19.

Esse resultado negativo na série mês a mês ocorreu em 8 das 14 Unidades de Federação contempladas pela pesquisa, sendo que os piores resultados estavam localizados na Bahia (-12,4%), Goiás (-3,6%) e São Paulo (-3,3%). Destacaram-se com dados positivos os estados de Amazonas (1,9%), Rio de Janeiro (1,5%), e Espírito Santo (0,9%). Chama atenção a magnitude da queda na Bahia, estado que vem acumulando retrações sucessivas desde janeiro (-4,3% em janeiro, -5,9% em fevereiro e -8,9% em março), numa trajetória de queda expressiva que até o momento não demonstrou quaisquer sinais de reversão.

Com base nos dados divulgados pelo IBGE, neste artigo será analisado, concomitantemente, o panorama geral da produção industrial no Brasil e no estado de Santa Catarina, em particular.

A Produção Industrial no Brasil em Abril de 2021

A Tabela 1 sintetiza os resultados da indústria do país no mês de abril de 2021. O primeiro destaque diz respeito à continuidade da retração na série mês a mês, no montante de -1,3%, consolidando-se a terceira queda seguida dos níveis mensais da produção industrial brasileira. Esse novo dado reforça o cenário de baixo desempenho que se apresentando desde o mês de outubro de 2020, o que demonstra a incapacidade de recuperação vigente no setor industrial.

Em relação à série que compara o desempenho de abril de 2021 com os níveis de abril de 2020, pode-se observar um quadro muito mais positivo, no qual 11 das 14 UFs apresentaram expansões de grande magnitude. Os destaques positivos são os desempenhos de Amazonas (132,8%), Ceará (90,2%) e Paraná (55,1%). Esses resultados bastante expressivos dessa comparação eram esperados, tendo em vista as retrações generalizadas decorrentes das medidas restritivas adotadas no início da pandemia, especialmente nos meses de março e abril de 2020. Portanto, esses percentuais elevados na verdade são reações a uma base de comparação muito baixa. Mesmo assim, novamente chama atenção os resultados negativos dos estados da Bahia (-10%) e de Goiás (-8,7%).

Tabela 1: Atividade Industrial no Brasil, 12 meses

T1

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

No que concerne aos dados do acumulado do ano, os quais comparam o primeiro quadrimestre de 2021 com o mesmo período de 2020, nota-se também uma expansão considerável, da ordem de 10,5%. Esse resultado é expressão do saldo positivo registrado nas UFs, com destaque dos três estados da região Sul: Santa Catarina (24,4%), Rio Grande do Sul (20,5%) e Paraná (18,1%). Para além desses estados, também apresentaram resultados positivos outras 7 Unidades da Federação. Destaques negativos, contudo, são registrados mais uma vez nos estados da Bahia e de Goiás, os quais apresentaram retrações de -16,3% e -6,4%, respectivamente, corroborando o quadro muito negativo da produção industrial desses estados em 2021.

Por fim, em relação ao acumulado dos últimos 12 meses, notou-se um resultado positivo de 1,1%, fato inédito nos últimos 22 meses. Com base nesse dado, pode-se afirmar que a trajetória das variações dos últimos doze meses, com suas expansões e retrações, consolida um acumulado muito próximo da estagnação, característico da conjuntura de incertezas que vigora desde os primeiros impactos da pandemia. Além disso, é digno de destaque que a expansão, ainda que tímida, consolida a trajetória de ligeira ascendência registrada na série desde o último mês de agosto. Nos estados, esse indicador se apresentou através de retrações em 8 das 14 UFs pesquisadas, sendo os destaques positivos por conta Pernambuco (7,4%), Santa Catarina (6,6%) e Paraná (4,7%). Negativamente, destacaram-se os desempenhos do estado da Bahia (-9,8%), Espírito Santo (-9,2%) e Mato Grosso (-5,9%).

Com isso, os dados da pesquisa apresentaram um quadro com sucessivas variações negativas no curto prazo, representadas pela terceira queda seguida na série mês a mês, além de uma trajetória de estagnação dos níveis de produção no médio prazo, a qual pode ser observada por meio das variações mensais de pouca magnitude e do indicador modesto na série do acumulado de 12 meses. A continuidade ou não dessas tendências dependerá, obviamente, das políticas adotadas em relação à crise econômica e aos impactos gerais da pandemia.

O Gráfico 1 apresenta os dados consolidados entre os setores na série do acumulado dos 12 meses. Em relação aos maiores níveis de desagregação, verifica-se a já mencionada expansão de 1,1% na indústria geral do país. Já a expansão da indústria de transformação foi de 1,7%, enquanto a indústria extrativa apresentou retração de 2,9%.

No caso particular da indústria de transformação, destaca-se o desempenho positivo do subsetor de produtos de fumo, cuja expansão acumulada de 19,7% nos últimos doze meses foi a maior alta dentre todos os demais. Além disso, tiveram destaques positivos os subsetores de produtos de metal (11,1%); produtos de madeira (10,4%) e produtos minerais não-metálicos (10,3%). Já no sentido oposto destacam-se os setores de impressão e reprodução de gravações (-28,6%); outros equipamentos de transporte (-18%) e manutenção, reparação e instalação de máquinas (-14,2%), ou seja, subsetores retrações negativas expressivas no período analisado. Com isso, consolida-se um quadro com elevadas disparidades no conjunto de setores pesquisados, evidenciando que determinados setores possuem capacidades muito distintas de resposta à crise econômica provocada pela pandemia da Covid-19.

Além disso, também chama atenção outro aspecto distintivo entre os setores de com bom e mau desempenho: por um lado, os setores que concentram atividades que, em sua maioria, não são diretamente destinadas ao consumidor final apresentam resultados positivos, como produtos de fumo; produtos de metal; produtos de madeira e produtos de minerais não-metálicos, e, por outro, os setores mais dependentes da capacidade de demanda direta do consumidor final – como impressão e reprodução de gravações; outros equipamentos de transportes; manutenção e instalação de máquinas e equipamentos – apresentaram as retrações mais significativas.

Gráfico 1: Produção Física Industrial por setores de atividade, acumulado 12 meses (Brasil, 2021)

G1

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

A Produção Industrial em Santa Catarina em Abril de 2021

O desempenho da produção industrial catarinense vem acompanhando os movimentos dos resultados verificados no país. Como mostra o Gráfico 2, a trajetória recente da atividade industrial no estado é caracterizada por uma tendência de retração, após grandes oscilações positivas nos meses de maio a julho de 2020. Desta forma, ainda no ano anterior se consolidou um patamar bastante baixo de crescimento para, a partir do mês de fevereiro de 2021se estabelecer resultados negativos. Tal cenário teve continuidade no mês de abril quando se verificou uma nova queda na série mês a mês, com uma retração de -2%, a mais relevante desde as quedas de abril de 2020, mês no qual se apresentaram os impactos decorrentes da paralisação de muitas atividades como consequência da pandemia. Importante destacar que a queda em Santa Catarina é maior que a retração verificada em nível nacional.

Gráfico 2: Variação percentual mensal da produção física da indústria catarinense nos últimos 24 meses, com ajuste sazonal

G2

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

A Tabela 2 sintetiza o desempenho da atividade industrial em Santa Catarina nos últimos doze meses, apresentando o desempenho mês a mês, para três períodos distintos: a comparação com abril de 2020; o acumulado do ano e o acumulado de doze meses. Na comparação com abril de 2020 pode-se verificar uma expansão considerável, da ordem de 50,5%. Assim como no quadro nacional, essa enorme magnitude percentual é explicável, principalmente, pela baixíssima base de comparação. Contudo, é digno de destaque que o resultado de Santa Catarina é o melhor dentre todas as UFs pesquisadas, apresentando o maior salto nos níveis de produção na comparação com abril do ano passado. No que concerne aos dados da série acumulada no ano, verifica-se uma expansão de 24,4%, o que demonstra um cenário mais positivo no primeiro quadrimestre de 2021 quando comparado com o mesmo período de 2020.

Já em relação aos dados da série de 12 meses, verifica-se a expansão de 6,6%, consolidando a ligeira alta verificada em março. Esse resultado apresenta um quadro ligeiramente positivo no médio prazo, apresentando-se como consequência da tendência de recuperação do acumulado de 12 meses que é verificada desde o último mês de julho. Também é importante destacar que 7 das 14 UFs pesquisadas apresentaram resultados negativos nessa série, o que demonstra que, ao menos nesse período de comparação, Santa Catarina se encontra numa posição mais confortável em relação ao quadro nacional.

Tabela 2: Atividade Industrial em Santa Catarina, 12 meses

T2

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

É possível visualizar esses resultados a partir do desempenho dos subsetores da indústria em Santa Catarina, como mostra o Gráfico 3. Fica nítido que parte importante do desempenho agregado positivo se deu por conta do resultado dos setores de máquinas e equipamentos e máquinas, aparelhos e materiais elétricos, os quais apresentaram expansões de 32,5% e 23,8%, respectivamente. Esse resultado é bastante positivo, pois ambos os setores possuem relevância na dinâmica econômica do estado, empregando quantidade expressiva de trabalhadores e, consequentemente, gerando renda e alavancando a demanda dos consumidores. Os destaques negativos, contudo, também ficam por conta de setores relevantes para o estado, como produtos alimentícios (-6,5%), veículos automotores (-4,2%) e produtos minerais não-metálicos (-0,9%).

Gráfico 3: Produção Física Industrial por setores de atividade, acumulado 12 meses (Santa Catarina, 2021)

G3

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Com isso, a análise setorial da produção industrial em Santa Catarina revela um quadro ligeiramente promissor, o qual se expressa pelas expansões de 8 dos 12 setores pesquisados e é consolidado pela expansão agregada de 6,6%. Contudo, ainda existem desafios importantes para serem superados. O principal talvez seja a recuperação das indústrias de produtos alimentícios, setor que representa sozinho mais de 20% do Valor da Transformação Industrial[2] no estado e que emprega quantidade relevante de trabalhadores. Em abril esse setor apresentou a pior taxa acumulada dos últimos doze meses, resultado que já vinha se repetindo também nas pesquisas anteriores.

Considerações Finais

Em nível geral, podemos observar uma dificuldade evidente para o estabelecimento de uma dinâmica de crescimento sustentável nos níveis de produção industrial. Justamente no caminho contrário, o que se apresenta nos dados mensais é a continuidade de uma tendência de arrefecimento dos níveis de produção, o que pode ser verificado pela vigência da terceira retração seguida na série mês a mês dos dados nacionais e estaduais. É fato que quando esse desempenho é comparado com os péssimos resultados dos meses de março e abril de 2020 registram-se expansões. Contudo, a contextualização desses dados mostra que as comparações com os meses com as maiores restrições econômicas devido ao controle da pandemia são distorcidas, pois representam variações fora da curva observadas em decorrência dos meses mais bruscos da pandemia. Com isso, pode-se estar encobrindo cenários adversos com esses tipos de comparações.

A análise setorial contribuiu para se observar o problema, uma vez que setores importantes para no conjunto da indústria nacional ainda se encontram com desempenho acumulado bastante negativo. Em grande medida, tal situação também se encontra presente em Santa Catarina. Por isso, é pouco provável a recuperação da produção industrial sem o devido reestabelecimento desses setores. Para tanto, ainda se fazem necessárias políticas industriais que sejam capazes de dirimir essas disparidades setoriais.

Por fim, o destaque positivo dos dados relativos ao mês de abril foi a expansão de 6,6% da produção industrial de Santa Catarina na série de 12 meses, o que coloca o estado numa posição ligeiramente favorável, comparativamente ao quadro nacional. Todavia, entende-se que as atuais perdas mensais somente poderão ser revertidas de forma sustentada quando também ocorrer, simultaneamente, uma recuperação do cenário econômico nacional. Sem essa recuperação, que passa necessariamente pelo estabelecimento de políticas que combatam os impactos econômicos e sanitários da pandemia, é impossível esperar que a dinâmica industrial de Santa Catarina alcance sucessivos resultados positivos.


Referências Bibliográficas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal da Indústria. Produção Física Regional (PIM Regional). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, abril de 2021.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Industrial AnualEmpresa; Rio de Janeiro (RJ): IBGE, 2018.

[1] Graduando em Ciências Econômicas da UFSC e bolsista do NECAT. Email: matheusrosa.contato@outlook.com

[2] A contribuição dos setores para o Valor da Transformação Industrial pode ser consultada na Pesquisa Industrial Anual – Empresa do IBGE.