A redução dos óbitos pela Covid-19 por faixas etárias até o mês de julho/21 em SC

13/08/2021 11:55

Por: Lauro Mattei[1]

Neste artigo apresenta-se um breve balanço da situação da pandemia no estado de Santa Catarina, particularmente no que diz respeito aos seus efeitos fatais. O foco central da análise é mostrar os possíveis impactos da vacinação sobre as distintas faixas etárias da população catarinense. Para tanto, são utilizadas informações a partir do mês de dezembro de 2020, o qual serviu de parâmetro inicial de comparação, uma vez que a imunização no estado teve início em meados de janeiro de 2021.

A Tabela 1 apresenta a evolução dos óbitos segundo as diversas faixas etárias consideradas nos dados oficiais disponibilizados pelo governo estadual. O corte inicial adotado (31.12.20) justifica-se pelo fato de que no mês de dezembro de 2020 teve início uma forte expansão dos óbitos no estado de forma bem mais aguda, comparativamente aos meses anteriores. Para tanto, estão sendo consideradas nessa análise as informações disponíveis nos sete primeiros meses do ano de 2021.

Do ponto de vista da participação percentual de cada faixa observa-se uma trajetória praticamente linear na maioria delas, chamando atenção para a existência de movimentos distintos nos meses recentes. Assim, nota-se que as faixas de até 29 anos de idade continuam tendo uma participação bastante baixa nesse tipo de ocorrência, uma vez que seu percentual de participação no agregado estadual permanece ao redor de 1,5% do total de mortes registradas até o momento. Já as faixas entre 30-39; 40-49 e 50-59 anos de idade apresentaram uma ligeira tendência de aumento de suas participações, especialmente a partir do mês de março de 2021. Todavia, em termos absolutos, verifica-se que no mês de julho de 2021 a faixa entre 40 e 59 anos foi responsável por 43% de todos os óbitos registrados no referido mês. Em grande medida, isso indica certo deslocamento da incidência de mortes nas faixas com idades superiores, mesmo que as pessoas idosas ainda estejam concentrando os maiores números de óbitos. No caso das faixas entre 60 e 79 anos observa-se que, apesar de uma pequena redução a partir do mês de maio, essa faixa etária continua sendo responsável por 49% de todos os óbitos que ocorreram em Santa Catarina até o momento, ou seja, proporcionalmente as pessoas entre 60 e 79 anos de idade foram as mais afetadas fatalmente pela doença. Finalmente, deve-se registrar que as faixas acima de 80 anos de idade vêm apresentando reduções sequenciais a partir do mês de março de 2021, quando houve uma grande explosão dos óbitos no estado. Mesmo assim, essas faixas continuam respondendo por aproximadamente 20% de todos os óbitos contabilizados até o momento.

Tabela 1: Participação % das faixas etárias nos óbitos totais, segundo os meses selecionados

T1

Fonte: Boletins Epidemiológicos SES-SC. Elaboração: NECAT-UFSC

Em síntese, essas informações revelam que 68% de todas as mortes provocadas pelo novo coronavírus até o momento dizem respeito às pessoas com 60 anos ou mais de idade. Portanto, é importante observar o que está acontecendo após o início da imunização com as pessoas dessas faixas etárias que foram contaminadas pela doença e acabaram perdendo suas vidas.

A tabela 2 apresenta a evolução da taxa de crescimento percentual mensal de cada faixa etária nos diversos meses selecionados. Devido aos impactos causados em todas as faixas etárias pela grande incidência de óbitos no mês de março de 2021, tal mês será considerado como ponto de partida das análises. Assim, observa-se que as faixas entre 30 e 59 anos foram aquelas que apresentaram as maiores taxas de crescimento em março/21, mês em que foi registrado o maior número de mortes ao longo de toda a pandemia. Neste caso, chama atenção o expressivo diferencial desses percentuais dessas faixas (30-59 anos), comparativamente aos percentuais registrados nas faixas etárias de 80 anos ou mais.

No mês de abril ocorreu uma redução importante do número absoluto de óbitos em todas as faixas etárias, porém com as faixas entre 30 e 59 anos continuando a apresentar os maiores percentuais de crescimento. Além disso, é importante destacar a redução expressiva ocorrida nesse mês da taxa de crescimento nas faixas acima de 60 anos, especialmente das faixas entre 70 e 89 anos de idade.

Tabela 2: Taxa de crescimento dos óbitos de cada faixa etária por mês em 2021

T2

 Fonte: Boletins Epidemiológicos SES-SC. Elaboração: NECAT-UFSC

Tal comportamento foi muito semelhante nos meses de maio e junho, ou seja, nesses dois meses ocorreram importantes reduções, tanto do número de óbitos como das taxas de crescimento. Todavia, as reduções bem mais expressivas passaram a ocorrer apenas nas faixas acima de 60 anos de idade, ao mesmo tempo em que as faixas entre 30 e 59 anos de idade continuaram apresentando os maiores percentuais de crescimento a cada mês considerado.

Por fim, no mês de julho nota-se a continuidade das reduções desses percentuais de cada faixa etária, porém destacando-se novamente que as maiores taxas de crescimento ainda diziam respeito às faixas entre 30 e 59 anos de idade. Em sentido contrário, destacam-se as expressivas reduções das taxas percentuais de todas as faixas etárias acima de 60 anos de idade.

Em síntese, as análises das informações relativas aos óbitos ocorridos entre as distintas faixas etárias nos meses de dezembro de 2020 a julho de 2021 permitiram observar dois movimentos distintos. Por um lado, ocorreu de fato um deslocamento etário das mortes, sendo que as faixas etárias entre 30-59 anos de idade apresentaram percentuais de crescimento em aceleração, movimento que também foi observado na faixa etária de 20-29 anos, porém em magnitude menor. Por outro, a partir do mês de março as taxas de crescimento de óbitos das pessoas das faixas acima de 60 anos começaram a regredir, movimento que ganhou força nos meses seguintes. Neste caso, destacam-se as expressivas reduções registradas no mês de julho/21 em todas as faixas etárias acima de 60 anos. Tal fato pode estar indicando os impactos positivos da imunização das pessoas dessas faixas etárias, processo iniciado ainda em meados do mês de janeiro de 202, porém com efeitos mais visíveis somente a partir de março/21, devido à grande explosão de óbitos em todas as faixas etárias no referido mês.

O Gráfico 1 apresenta a participação percentual dos óbitos por cada faixa etária agrupada no total estadual a partir do mês de agosto de 2020, com destaque para o período inicial de imunização da população catarinense. Inicialmente, registra-se que a participação percentual da faixa etária entre 0-19 anos de idade, que é bastante incipiente no total (0,5%), praticamente se manteve inalterada ao longo de todo o período considerado.

Já duas faixas intermediárias (20-39 e 40-59 anos de idade) apresentaram tendência de aumento de suas participações no agregado estadual de óbitos, especialmente a segunda faixa, que atingiu o patamar de 26,5% no mês de julho de 2021. Em sentido oposto, nota-se que a faixa de 60 a 79 anos de idade iniciou um processo de redução de seu percentual de participação a partir do mês de maio, situando-se em 49% no último mês considerado. Finalmente, destaca-se a queda do percentual de participação da faixa de 80 anos ou mais no agregado estadual de óbitos a partir do início do ano de 2021, movimento mais expressivo a partir de março desse ano. Com isso, nota-se que a participação dessa faixa etária no total de óbitos caiu para 19% no último mês considerado. Tal tendência pode ser creditada aos efeitos positivos do processo de vacinação.

Gráfico 1: Evolução do percentual de óbitos por Covid-19 por faixas etárias agrupadas no total estadual, segundo períodos selecionados

G1

Fonte: Boletins Epidemiológicos SES-SC. Elaboração: NECAT-UFSC

O gráfico 2[2] apresenta a evolução do percentual de participação de cada faixa etária nos óbitos acumulados ocorridos no estado a partir do início do processo de imunização. Mais uma vez chama atenção o efeito decorrente da explosão dos óbitos no mês de março em função da expansão de novos casos provocada pela variante Gama (P1) desde o início do ano de 2021, sendo que a média semanal móvel de registros no mês de fevereiro atingiu aproximadamente 5.000 casos diários ao final do referido mês.

Quanto ao percentual de participação da faixa etária de até 59 anos de idade no acumulado estadual, nota-se que essa participação teve uma elevação relativamente baixa entre os meses de janeiro e fevereiro e um grande aumento (288%) no mês de março, muito embora o crescimento dos números absolutos tenha sido inferior ao crescimento absoluto dos óbitos da faixa de pessoas idosas. Após a explosão de março, nota-se um crescimento moderado nos meses seguintes, sendo que no último mês da série o percentual de crescimento foi inferior ao verificado em janeiro de 2021. Em termos absolutos, observa-se que a partir do mês de junho/21 o número de óbitos das pessoas até 59 anos de idade, pela primeira vez ao longo de toda a pandemia, superou as mortes ocorridas em pessoas de 60 anos ou mais de idade.

Já o percentual de óbitos dos idosos, que vinha dando sinais de queda entre os meses de janeiro e fevereiro, também foi impactado pelo grande número de óbitos ocorridos no mês de março de 2021. Com isso, das 3.527 mortes registradas no estado no referido mês, 71% delas ocorreram na faixa etária de pessoas idosas. Todavia, a partir do mês de abril se configurou uma tendência bastante significativa de queda das mortes dessas faixas etárias, sendo que no último mês considerado (julho) o percentual de evolução dos óbitos ficou abaixo do acumulado estadual. Além disso, é importante destacar que no último mês da série a evolução percentual dos óbitos de pessoas idosas foi 61% inferior à evolução do percentual de óbitos das pessoas com até 59 anos.

Gráfico 2 – Evolução percentual dos óbitos acumulados por faixas etárias em SC, segundo meses selecionados

G2

Fonte: Boletins Epidemiológicos SES-SC. Elaboração: NECAT-UFSC

O gráfico 3 apresenta a evolução percentual dos óbitos por mês e por faixas etárias em SC, segundo meses selecionados. Inicialmente observa-se que até o mês de março havia uma queda das mortes de idosos, enquanto a faixa etária até 59 anos de idade apresentava uma tendência de crescimento percentual mais expressiva, patamares esses que foram invertidos pelo elevado crescimento de óbitos registrado no mês de março em ambos os casos. Ainda assim, nesse mês é possível se observar que a taxa de crescimento das mortes de pessoas até 59 anos foi muito maior (351%), comparativamente à evolução percentual de óbitos de idosos (216%).

Quando se consideram os meses seguintes (abril a julho), verifica-se que as reduções foram bem mais expressivas na faixa de pessoas idosas, especialmente nos meses de abril e maio, com continuidade em junho e julho, porém em patamares inferiores comparativamente aos meses anteriores. Com isso, e excluindo-se as distorções das informações de março, é possível verificar que ocorreu uma redução de mais 50% dos óbitos de idosos nos últimos quatro meses. Em grande medida, essa redução percentual pode ser creditada aos impactos positivos da imunização dessa faixa etária.

Gráfico 3 – Evolução percentual dos óbitos por mês e por faixas etárias em SC, segundo meses selecionados

G3

Fonte: Boletins Epidemiológicos SES-SC. Elaboração: NECAT-UFSC

Diante do escalonamento temporal da vacinação, que teve início pelas faixas etárias mais elevadas e com sequência nas faixas de idades inferiores, é importante observar o que ocorreu dentre algumas faixas etárias que compõem a categoria denominada genericamente de “pessoas idosas”. E isso está sendo mostrado pelo Gráfico 4, que apresenta a evolução percentual dos óbitos por mês, segundo as diversas faixas etárias dentre as pessoas consideradas idosas. Inicialmente nota-se que até o mês de março já havia uma queda maior das pessoas com idade acima de 80 anos. Isso também se refletiu no número de óbitos nesse mês, sendo que dos 2.503 óbitos de idosos registrados em março, 1.830 deles ocorreram na faixa entre 60 e 79 anos de idade, ou seja, apenas 27% diziam respeito às pessoas de 80 anos ou mais. Tal fato já poderia estar refletindo possíveis efeitos positivos da vacinação, uma vez que nesse mês atípico os óbitos dos idosos em relação ao mês de fevereiro cresceram 167% nas pessoas com 80 ou mais anos idade e 239% nas pessoas com idade entre 60 e 79 anos.

Gráfico 4: Evolução percentual dos óbitos por mês em SC, segundo as diversas faixas etárias dentre as pessoas idosas

G4

Fonte: Boletins Epidemiológicos SES-SC. Elaboração: NECAT-UFSC

Essa tendência de queda maior de óbitos dos idosos acima de 80 anos se repetiu nos meses de abril e maio, comparativamente à faixa de 60 a 79 anos de idade. Registre-se que no mês de maio foram contabilizadas apenas 180 mortes de pessoas idosas acima de 80 anos, ao mesmo tempo em que 821 pessoas perderam suas vidas para a Covid-19 fazendo parte da faixa entre 60 e 79 anos.

No mês de julho/21 foram contabilizadas apenas 157 mortes de pessoas idosas acima de 80 anos, o que corresponde a 30% dos óbitos de pessoas idosas no referido mês. Já cerca de 370 pessoas perderam suas vidas para a Covid-19 fazendo parte da faixa entre 60 e 79 anos, ou seja, 70% dos óbitos de pessoas idosas ocorridos no último mês se localizam nessa faixa etária.

Considerações Finais

As informações analisadas demonstram os possíveis os efeitos positivos da imunização contra a Covid-19 em várias faixas da população catarinense, especialmente das pessoas mais idosas que foram as primeiras a serem vacinadas a partir de meados de janeiro de 2021.

Mesmo que o processo de vacinação continue lento (ao final de julho aproximadamente 21% da população catarinense estava efetivamente imunizada), os efeitos positivos da vacina já são perceptíveis, especialmente nas faixas etárias acima de 70 anos de idade.

Portanto, diante de um cenário que poderá se agravar diante da eminência de uma nova expansão da doença impulsionada pela variante Delta, é fundamental que o processo imunizatório seja mais célere.

ANEXOS

Tabela 3: Número acumulado e mensal dos óbitos ocorridos em SC por faixas etárias das pessoas, segundo períodos selecionados

T3

Fonte: Boletins Epidemiológicos. SES-SC. Elaboração: NECAT-UFSC

*Como os dados dos óbitos por faixas etárias nos Boletins Epidemiológicos no mês de novembro até 12.12.20 estão sempre repetidos, não foi possível saber o número exato dos óbitos por faixa etária no mês de dezembro de 2020.

Tabela 4: Evolução % dos óbitos acumulados e por mês em Santa Catarina, segundo faixas etárias das pessoas

T4

Fonte: Boletins Epidemiológicos. SES-SC. Elaboração: NECAT-UFSC

Tabela 5: Evolução % dos óbitos por mês em SC, segundo as diversas faixas etárias das pessoas idosas

T5

Fonte: Boletins Epidemiológicos. SES-SC. Elaboração: NECAT-UFSC


[1] Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador Geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br Artigo escrito em 12.08.2021.

[2] As informações que deram origem aos gráficos 2, 3 e 4 se encontram nas tabelas anexas 3, 4 e 5, respectivamente.