As tarifas comerciais do governo trump e seus possíveis impactos sobre as exportações catarinenses

28/08/2025 16:29

Lauro Mattei*

Desde o início do segundo mandato do Governo Trump (janeiro de 2025) o centro do debate tem sido a política comercial dos EUA em relação ao restante do mundo. Na verdade, Trump apenas está retomando assunto que já havia sido bastante polêmico em seu mandato anterior (2017-2020). Naquela época, visando conter os déficits comerciais dos EUA com a China, houve um aumento médio das tarifas sobre as exportações daquele país de 1,5% para 2,5%. Registre-se que tal processo foi implementado à época em conflito aberto com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) que estavam em vigor.

Registre-se que nas ações atuais Trump cita explicitamente a seção terceira da Lei do Comércio dos EUA. Tal dispositivo dá poderes legais à Agência Comercial Norte-Americana para impor sanções unilaterais (como é o caso das alterações de tarifas sobre exportações realizadas pelos países) contra parceiros comerciais. Por diversas vezes o mandatário estadunidense explicitou que sua política de taxação das exportações de parceiros comerciais tem como objetivo reverter o processo de desindustrialização em curso nos EUA, o que pode ser considerado um erro básico uma vez que a desindustrialização não será revertida com a simples adoção de tarifas comerciais.

Segundo informações divulgadas pelo Laboratório do Orçamento da Universidade de Yale, o Governo Trump, utilizando-se deste artifício desde a posse no seu segundo mandato, aumentou as tarifas médias dos EUA de 2,5% para 16,6%, numa clara violação das regras da OMC da qual os EUA são signatários. Isso significa que está em curso um abalo sísmico na ordem do comércio global em vigor desde janeiro de 1995. Tal abalo teve início ainda em abril de 2025 e está tendo continuidade no mês de julho quando Trump anunciou novas tarifas contra diversos países, tarifas essas que deverão ser implementadas a partir do início de agosto/25.

O artigo está organizado em três seções, além dessa breve introdução. Na primeira delas são apresentadas e discutidas as ações principais da política comercial do governo Trump com foco nas medidas anunciadas em 04.02.2024 e nas novas medidas anunciadas em julho de 2025. Na segunda seção busca-se indicar os possíveis impactos do tarifaço de Trump sobre as exportações catarinenses, enquanto a trceira seção contém os comentários finais sobre o assunto.

 1-  NOTAS SOBRE AS AÇÕES DE POLÍTICA COMERCIAL DO GOVERNO TRUMP

 1.1-As medidas anunciadas em 02.04.2024

 Logo após ter sido eleito presidente dos EUA em 2024, Trump já dava sinais por onde iria iniciar seu governo. Ainda no mês de novembro de 2024 ele afirmou que no primeiro dia de seu mandato iria taxar todos os produtos oriundos do México e do Canadá porque esses países não foram eficazes em controlar a entrada da droga fetanil nos EUA.

Além disso, no dia 30.11.2024 exigiu publicamente que os países membros do BRICS se comprometessem a não criar outra moeda ou apoiar outra moeda que viria a substituir o dólar, do contrário sofreriam tarifas de 100%. Em suas palavras na rede social particular Truth Social: “caso esses países não cumpram nossa exigência de manutenção do poderoso dólar americano, sofrerão 100% de tarifas e deverão dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia norte-americana. Eles podem procurar outro otário”.

Desde o início de seu segundo mandato como presidente dos EUA, Trump passou a adotar o que ele denominou de “tarifas recíprocas”, ou seja, taxar os países com os quais os EUA mantêm déficits comerciais. Assim, nos primeiros dias de governo taxou as exportações chinesas em 10%, procedimento que um mês depois sofreu mais uma taxa de 10%. Com isso, nos dois primeiros meses de governo, além de taxar a China especificamente, ele preparou sua política comercial.

No dia 05.03.2025, em discurso no Congresso Nacional, Trump apresentou sua política protecionista mais ampla, indicando que divulgaria no dia 02.04.2025 uma lista de países que seriam taxados porque há tempos eles vêm taxando abusivamente os produtos estadunidenses. Naquela ocasião reforçou a ideia de que as taxações na verdade seriam “tarifas recíprocas”, inclusive fazendo menção ao Brasil, país que segundo ele estaria abusando de tarifas contra os EUA. Além disso, mencionou também a Índia, Coréia do Sul e União Europeia.

No dia 02.04.2025 – denominado por Trump como o “Dia da libertação dos EUA” – o governo deu início a uma “guerra comercial” cujo alvo inicial foi a China que naquele momento tinha uma taxação de suas exportações aos EUA em 20%, percentual que passou para 54%. Segundo o mandatário estadunidense a China foi taxada “com base na falta de respeito que esse país tem demonstrado nos mercados mundiais” e que em algum momento “espera-se que a China perceba que os dias de explorar os EUA não são mais aceitáveis”.

Naquele mesmo ato Trump indicou que a partir de 09.04.2025 todos os países com os quais os EUA possuíam déficits comerciais iriam enfrentar tarifas adicionais da forma que segue: Vietnã (46%), China (34%), Taiwan (32%), Índia (26%), Japão (24%), União Europeia (20%) e Brasil (10%). Apenas como informação correta, deve- se registrar que há mais de uma década os EUA detêm um saldo comercial superavitário com o Brasil, o que não justificaria – pelo motivo apresentado – uma elevação das tarifas sobre as exportações brasileiras.

O posicionamento da maioria dos países afetados foi unânime em afirmar que elas iriam promover um choque no sistema do comércio internacional porque não causavam impactos apenas nas relações comerciais bilaterais, mas também no próprio sistema multilateral de comércio e na própria economia mundial, especialmente pelo potencial de desestimular e reduzir o comércio global.

Já no dia 09.04.2025 Trump fez seu primeiro recuo em sua saga tarifária e anunciou a redução de tarifas para todos no patamar de 10%, exceto no caso da China que passou a ser de 145%. Com essas alterações o Brasil perdeu sua vantagem provisória porque sua tarifa de 10% passou a ser o padrão para todos os demais países. Registre-se que a reação chinesa foi comedida, porém certeira ao indicar que o comportamento do presidente dos EUA era destrutivo, que a China jamais se curvaria às pressões e que as imposições sucessivas ao seu país de tarifas elevadas não era apenas uma política tarifária, mas fundamentalmente uma arma coercitiva e uma prática intimidatória.

Na sequência Trump fez um segundo recuo ao anunciar uma pausa de 90 dias para negociações com todos os parceiros comerciais antes que as novas tarifas passassem a vigorar. Segundo ele anunciou em sua rede social particular (Truth Social), essa decisão foi tomada porque mais de 75 países convocaram os representantes dos EUA pra negociar as tarifas comerciais e também porque os países afetados não fizeram nenhuma retaliação aos EUA conforme ele havia indicado durante a divulgação de suas medidas. Ou seja, como eles se comportaram adequadamente como o mandatário queria, ele resolveu dar uma nova chance aos mesmos.

O cenário anteriormente descrito permite duas considerações elementares. Por um lado, percebe-se que Trump e seus policymakers acreditam que as políticas protecionistas, além de melhorar o orçamento do governo, irão criar empregos e revigorar o setor industrial estadunidense após décadas de globalização e liberalismo econômico, o que pode ser qualificado como mais uma das grandes lorotas do trumpismo. Por outro, essa política está colocando os EUA diante de uma escolha: continuar negociando tarifas com países com menores custos e maiores eficiências, ou voltar a ser líder produtivo na esfera industrial, gerar emprego e promover o crescimento econômico com base na produção doméstica.

Na mesma direção, Paul Krugman afirma que as tarifas de Trump poderão piorar ainda mais a situação econômica dos Estados Unidos por diversas razões; a) na esfera da indústria eletrônica estão sendo elevadas as tarifas das mercadorias intermediárias usadas nas indústrias do que nos bens finais; b)Trump mudou seu plano inicial e impôs uma tarifa média maior para alguns países enquanto outro tiveram tarifas menores, passando a impressão de que as tarifas poderão mudar a cada dia; c)há fortes possibilidades de haver corrupção nessas políticas tarifárias, uma vez que as companhias mais beneficiadas são exatamente aquelas que mais contribuíram para a eleição presidencial de Trump.

 1.2-As novas medidas anunciadas em julho de 2025

 Durante a pausa de 90 dias estipulada por Trump em abril/25 teve início um processo de negociação em várias regiões do mundo. Todavia, encontros e negociações estavam em curso quando Trump resolveu enviar cartinhas para diversos países com novas tarifas. Foi assim que em 09.07.2025 ele enviou, via rede social privada, uma carta ao Presidente Lula informando que as tarifas contra o Brasil tinham sido elevadas em 50% e que as mesmas passariam a vigorar a partir de 01.08.2025.

A carta que será comentada na sequência contém dois conteúdos: um eminentemente político e outro econômico, porém não verdadeiro quando Trump afirma que “barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil causaram déficits insustentáveis contra os EUA. Esse déficit é uma grande ameaça à economia e à segurança nacional”. Na verdade, os Estados Unidos estão mantendo superávits comerciais com o Brasil desde 2009, sendo que somente em 2024 o superávit foi de US$ 7,4 bilhões.

Além disso, na esfera econômica a carta de Trump ainda contém uma clara ameaça: “se por qualquer razão o senhor (Presidente Lula) decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos”. Ao final, o emissor informa que também orientou “a representação comercial dos EUA no Brasil a abrir uma investigação comercial com base na seção 301 da Lei do Comércio dos EUA de 1974, que prevê apuração de práticas estrangeiras desleais que afetam o comércio dos EUA”.

No dia 11.07.25 Trump anunciou tarifas de 30% para o conjunto de países da União Europeia (EU), as quais também entrarão em vigor no dia 01.08.2025. Mesmo após meses de negociações (abril a junho), essas novas tarifas estão sendo impostas separadamente das tarifas setoriais. Diante desse novo cenário, dirigentes da EU informaram que continuarão preparando novas contramedidas, uma vez que já organizaram um pacote de tarifas sobre o aço e o alumínio que poderão atingir US$ 24,6 bilhões em produtos estadunidenses. Tal pacote foi suspenso temporariamente para tentar a possibilidade de negociações mais condizentes com as regras internacionais. Além disso, a EU dispõe do instrumento Anticoerção, criado exatamente para situações extraordinárias e que permite ao bloco impor retaliações contra países terceiros que exerçam pressões econômicas sobre os países membros da EU.

No dia 12.07.2025 o presidente Trump usou do mesmo expediente ao enviar carta ao México comunicando que as tarifas de 30% passarão a vigorar a partir do início de agosto, como tem sido feito com os demais países. Neste caso as razões também são de ordem política porque esse país não impediu que os cartéis parassem de levar fentanil para os EUA. Nas palavras do próprio presidente: “os EUA impuseram tarifas para lidar com a crise do fentanil em nosso país causada, em grande parte, pelo fracasso do México em impedir que os cartéis formados pelas pessoas mais desprezíveis que já passaram pela terra despejassem essas drogas em nosso país”.

Com isso, até a presente data (22.07.25) verificamos que Trump já tinha notificado, por meio de suas cartas pouco republicanas por serem divulgadas em redes sociais, mais de vinte países, sendo que para todos eles foi definida a data definitiva para se encerrar as negociações, ou seja, 01.08.2025.

2-  POSSÍVEIS IMPACTOS DAS MEDIDAS TARIFÁRIAS DE TRUMP SOBRE O COMÉRCIO EXTERNO DE SANTA CATARINA

2.1-O cenário geral entre os dois países

Ao longo dos últimos 24 anos a relação comercial entre o Brasil e os EUA apresentou duas situações distintas. Na primeira delas observa-se que o saldo comercial foi superavitário para o Brasil no período entre 2000 e 2008, quando o país obteve um superávit de US$ 49 bilhões. A segunda fase, que compreende o período entre 2009- 2024 mostra a inversão desse processo com um saldo superavitário dos EUA frente ao Brasil da ordem de US$ 90 bilhões. Essas informações são cruciais neste momento porque elas desmentem as afirmações do Governo Trump de que as novas tarifas impostas ao Brasil se justificariam devido aos déficits comerciais dos EUA em suas relações de troca com o Brasil.

No quadro abaixo se observa o valor monetário das exportações brasileiras para os EUA no ano de 2024. Inicialmente nota-se que os quatro estados da região Sudeste respondem por aproximadamente 71% do valor monetário das importações estadunidenses, enquanto as três unidades da federação da região Sul respondem por outros 12.5% do valor total arrecadado. Isso significa que as sete unidades federativas do centro-sul do país são responsáveis por quase 84% do total arrecadado pelo país.

 Volume das exportações em US$ bilhões por unidade da federação em 2024

Posição Unidade da federação Montante da UF no total geral
São Paulo 13,6
Rio de Janeiro 7,4
Outros 4,8
Minas Gerais 4,6
Espírito Santo 3,1
Rio Grande do Sul 1,8
Santa Catarina 1,7
Paraná 1,6
Bahia 0,9
10ª Pará 0,8
TOTAL PAÌS 40,3 bilhões

Fonte: MDCI, Comex Stat; 2025.

Um breve resumo do primeiro semestre de 2025 revela as seguintes informações, segundo a Amcham Brasil (2025): as exportações brasileiras para os Estados Unidos no primeiro semestre de 2025 atingiram o valor de US$ 41,7 bilhões, significando um aumento de 7,7% em relação ao primeiro semestre de 2024. Já as exportações estadunidenses para o Brasil aumentaram 11,5%. Com isso, o superávit comercial dos EUA em relação ao Brasil no primeiro semestre de 2025 foi 1,7% bilhões de US$, significando um aumento expressivo em relação ao primeiro semestre de 2024.

O quadro a seguir apresenta a participação percentual de cada unidade da federação nas exportações brasileiras para os EUA no período entre janeiro de 2024 e junho de 2025. Inicialmente observa-se que os quatro estados da região sudeste são responsáveis por 70,16% das exportações do país para os EUA. Se a essa região agregarmos a participação dos três estados do Sul (12,77%) chega-se ao total de 82,93% do total exportado pelo país. A outras cinco UFs (BA,CE,PA,GO e MS) contribuíram com 9,4%. Com isso, nota-se que esses doze estados foram responsáveis por 92,33% de todas as exportações para os Estados Unidos no período citado.

Participação de cada estado no total das exportações para os EUA de Jan/24 a Junho/25

Posição Unidade da federação % da UF no total geral do país
São Paulo 33,08
Rio de Janeiro 17,56
Minas Gerais 11,76
Espírito Santo 7,76
Rio Grande do Sul 4,63
Santa Catarina 4,29
Paraná 3,85
Bahia 2,19
Pará 2,33
10ª Ceará 2,01
11ª Mato Grosso do Sul 1,63
12ª Goiás 1,24
Total 92,33

Fonte: MDCI, Comex Stat; 2025.

2.2-Possíveis impactos sobre as exportações catarinenses

A pauta exportadora catarinense sofreu importantes modificações ao longo das últimas décadas, particularmente a partir dos anos 1990s, quando ocorreram duas alterações fundamentais: por um lado, o destino das exportações ganhou novos contornos, especialmente após a expansão da inserção chinesa no comércio externo de Santa Catarina e, por outro, a pauta exportadora também vai se alterando com o passar dos anos em termos dos produtos exportados. Por exemplo, no setor primário o fumo foi um item importante até 2011-2012, porém aparece com baixo percentual no âmbito das informações de 2024, sendo que em seu lugar aparece com maior relevância a soja. Da mesma forma, no setor secundário cresceram de importância bens industriais de maior valor agregado, como são os casos de motores, motores elétricos, peças industriais, componentes industriais, etc.

Com isso, no ano de 2024 o estado passou para o sétimo lugar no país, em termos de valor monetário arrecadado com as exportações, atingindo a cifra US$ 1,7 bilhões. Todavia, quando se considera a participação das exportações no conjunto das exportações do país, nota-se que o percentual de santa Catarina cresceu bastante da década de 1970 (1,4%) até o ano de 2022, quando atingiu seu ápice com 5,24% das exportações do país. Daí em diante esse percentual foi caindo até atingir aproximadamente 4,2% em 2024. Essa queda é explicada em função da maior participação de outras unidades da federação, especialmente de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio Grande do Sul, mas também pelos produtos que atualmente são exportados, sendo que o setor de carnes de suínos e aves responde por aproximadamente 30% do volume exportado, com destino majoritário para países asiático e em menor parte para Oriente Médio e União Europeia.

No ano de 2024 Santa Catarina exportou seus produtos para 88 países. Todavia,

14 deles responderam por mais de 70% do volume das vendas, sendo que aproximadamente 26% tiveram como destino apenas dois países: China e EUA, sendo este o maior parceiro comercial até o momento. Além disso, deve-se registrar o importante papel dos países do Mercosul, que atingiram 12,3% do total exportado. Se a eles agregarmos as participações do Chile e México, chega-se a mais de 23% do total exportado.

Destino das exportações catarinenses em 2024 por participação % dos países

PAÍSES % PARTICIPAÇÃO
EUA 14,9
CHINA 11,0
MÉXICO 6,7
ARGENTINA 6,4
JAPÃO 5,5
CHILE 4,1
FILIPINAS 3,9
PARAGUAI 3,7
HOLANDA 3,0
EMIRADOS A. UNIDOS 2,7
ARÁBIA SAUDITA 2,6
REINO UNIDO 2,3
URUGUAI 2,2
ALEMANHA 1,8

Fonte: MDIC/ComexStat

Esses dados revelam, ainda, mais dois aspectos importantes. Por um lado, uma tendência de expansão para os países asiáticos, em especial para a China e, por outro, o aumento das exportações para países do Oriente Médio.

Mesmo que a pauta exportadora de Santa Catarina para os Estados Unidos no ano de 2024 seja bastante diversificada, nota-se que em termos de volume de recursos arrecadado há uma forte concentração em um pequeno número de produtos. Assim, se considerarmos todos os setores, subsetores e partes da indústria da madeira, nota-se que no referido ano esse setor atingiu o patamar de 37% do montante financeiro exportado. Já a indústria de motores elétricos, outros motores elétricos e conversores para motores elétricos foi responsável por 13,5% do total exportado. Por fim, a indústria de cabeçotes para motores a diesel respondeu por 10,3% do total. Ou seja, esses três macrossetores industriais responderam aproximadamente 60% do total exportado, revelando que, embora a pauta geral seja bastante diversificada, o volume financeiro movimentado é extremamente concentrado em um pequeno número de setores produtivos.

O conjunto dessas informações permite fazer algumas considerações sobre os impactos das tarifas anunciadas pelos EUA, caso as mesmas não sejam revogadas. Em primeiro lugar, é perceptível que os impactos das tarifas sobre as exportações poderão ser muito expressivos diante da concentração setorial do volume financeiro exportado para os EUA. Assim, é bastante provável que os produtos manufaturados (motores elétricos, outros motores, motocompressores, conversores para motores elétricos, etc.), bem como todos os produtos da indústria de madeiras serão os mais afetados. Isso significa que as medidas anunciadas pelos EUA poderão causar impactos relevantes sobre a pauta exportadora catarinense.

Em segundo lugar, nos setores exportadores vinculados ao setor primário os impactos também existirão, porém com menores dimensões porque essa pauta é mais bem distribuída geograficamente e nos últimos anos vem sequencialmente alterando sua rota, especialmente em direção aos países asiáticos.

Portanto, as maiores dificuldades advirão da pauta com parcelas expressivas destinadas ao mercado norte-americano, especialmente no caso de todos os subsetores da indústria da madeira. Isto porque dificilmente se conseguirá, num curto espaço de tempo, redirecionar esses produtos para outros mercados de outros países, cuja tradição não tem a madeira como produto essencial, especialmente na indústria da construção.

Já o setor da indústria de motores elétricos e derivados também será afetado, ainda que alguns produtos possam ser redirecionados para outros mercados, uma vez que são produtos com demanda em expansão no mercado mundial.

Uma alternativa importante seria buscar aprofundar ainda mais o comércio com países do Mercosul, bem como demais países latino-americanos, em especial com aqueles que já mantém boas relações comerciais com o estado, como são os casos do Chile e México.


9 Este artigo é parte integrante do Texto para Discussão número 067/2025, publicado pelo NECAT em julho de 2025.

* Professor titular do Curso de Graduação em Economia e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador Geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDAUFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br

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