Atividade industrial de Santa Catarina apresenta a sexta retração seguida em 2021

24/09/2021 12:01

Por: Matheus Souza da Rosa[1] e Lauro Mattei[2]

Os dados divulgados na última semana pela Pesquisa Industrial Mensal do IBGE (PIM-PF), referentes ao mês de julho, apresentam, em nível nacional e regional, a manutenção das dificuldades da indústria no que diz respeito aos níveis mensais de produção. Nacionalmente, o segundo semestre de 2021 iniciou com mais uma retração na série mês a mês, a quinta do ano, com variação de -1,3%. Já em Santa Catarina, a pesquisa apontou a sexta retração seguida nessa mesma série, com queda de -1,5% no mês.

Esse quadro regressivo foi registrado em parte das UFs abrangidas pela pesquisa. Das 14 pesquisadas, 7 delas apresentaram retrações, sendo os destaques negativos para Amazonas (-14,4%), São Paulo (-2,9%) – cujo resultado é o principal motor da retração nacional, em função de sua alta participação no agregado industrial nacional -, Minas Gerais (-2,6%) e Pará (-2%). Apresentaram resultados positivos os estados da Bahia (6,7%), Espírito Santo (3,7%), Paraná (3,3%) e Pernambuco (2,5%). Nesse escopo regional ficou nítida uma expansão concentrada no Nordeste, enquanto as perdas foram disseminadas entre todas as demais regiões.

Em função disso, consolidou-se uma trajetória de queda da indústria nacional no início do segundo semestre, situação que dá seguimento ao cenário verificado ao final do primeiro semestre. Essa tendência foi captada pelos dados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados no início do mês, os quais registraram retração de -0,2% do PIB da Indústria no 2º trimestre de 2021.

Neste artigo é feita uma breve análise dos resultados da PIM-PF de julho, tanto dos dados agregados do país como das informações específicas sobre Santa Catarina, procurando elucidá-los à luz da conjuntura econômica brasileira, que ainda se ressente dos impactos da pandemia provocada pelo novo coronavírus.

A atividade industrial do Brasil em julho de 2021

A Tabela 1 sintetiza os resultados da atividade industrial no Brasil ao longo do último ano. Inicialmente destaca-se a quinta retração do ano na série mês a mês, efetivada pela variação negativa de 1,3% na passagem de jun/21 para jul/21. Esse resultado se traduz no mais baixo nível de produção do ano, ou seja, uma queda de -5,4% em relação a jan/21. Com isso, o índice da produção industrial do país ficou abaixo dos níveis do período pré-pandemia, inclusive com perda da recuperação obsevada no segundo semestre de 2020, uma vez que a retração em relação a fev/20 se situa no patamar de -2,1%.

Tabela 1: Variação da atividade industrial do Brasil em vários períodos

T1

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Na comparação com jul/20 foi registrada uma leve expansão, porém num ritmo bastante diferente daquele registrado nos últimos meses, com variação de 1,2%. A diferença de ritmo se explica pelo menor impacto do carrego estatístico da primeira metade de 2020 e pela vigência de bases de comparação mais elevadas a partir de julho do ano passado. Nas UFs, essa série também apresentou diminuição de ritmo, porém expansões relevantes ainda foram registradas, como no caso de Espírito Santo (9,4%), Minas Gerais (8,6%) e Paraná (8,2%). Destaques negativos ficaram por conta de Bahia (-12,2%), Pará (-10,9%) e Pernambuco (-8,6%).

Já na série do acumulado do ano, que compara o desempenho dos sete primeiros meses de 2021 com o mesmo período de 2020, foi registrada mais uma expansão significativa, com variação de 11%. O resultado é o sétimo positivo do ano, consolidando o cenário esperado no qual os níveis de produção industrial performam melhor em 2021 do que em 2020, a despeito da vacilância que destacamos através dos dados mensais. Dentre as 14 UFs pesquisadas, 10 delas apresentaram resultados positivos, destacando-se as expansões de Santa Catarina (23,1%), Ceará (20,9%) e Amazonas (20,8%). Já Bahia (-14,9%), Mato Grosso (-5%) e Goiás (-3,8%) obtiveram as piores retrações.

Por fim, na série do acumulado de doze meses foi registrada a quarta expansão seguida, totalizando quatro resultados positivos e três negativos em 2021. Nas UFs, 11 das 14 localidades pesquisadas apresentaram resultados positivos. Os destaques ficaram por conta de Santa Catarina (16,3%) – assim como na série do acumulado do ano -, Amazonas (14,9%) e Ceará (14,6%). Consolidaram retrações Bahia (-9,3%), Mato Grosso (-6,9%) e Goiás (2,4%).

Assim, se configura nesse início de segundo semestre um cenário superior ao verificado em 2020, porém num ritmo ainda vacilante e recheado de incertezas, como mostram os dados mensais. Esse contraste, porém, tende a se dirimir a partir dos próximos meses, quando diminuirão os efeitos do carrego estatístico de 2020 e as bases de comparação se elevarão paulatinamente até dezembro, condicionando resultados de menor expressão nas séries acumuladas e na comparação com o ano passado. A reversão dessa tendência negativa dependerá da resolução dos problemas relativos aos custos de insumo e à desorganização produtiva, os quais continuam gerando situações adversas para parte dos setores de atividades da indústria (IEDI, 2021).

É possível aprofundar essa compreensão sobre o desempenho setorial a partir dos dados expostos na Tabela 2. De início destacam-se os desempenhos agregados negativos da indústria extrativa (-1,2%) e da indústria de transformação (-1,2%), que se expressam na destacada retração de 1,3% da indústria geral. Quanto ao conjunto de setores, foram registrados 18 resultados negativos e apenas 7 positivos na série mensal, identificando a disparidade setorial acima referida. Os piores resultados nessa série foram dos setores de outros equipamentos de transporte (-15,6%) e fabricação de bebidas (-10,2%). Já os destaques positivos se concentraram nos setores de impressão e reprodução de gravações (11,4%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (3,8%).

Tabela 2: Produção Física Industrial do Brasil por Setores de Atividades, mês a mês com ajuste sazonal

T2

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Cabe destacar também a trajetória de queda demonstrada por diversos setores. É o caso de veículos automotores, reboques e carrocerias, setor que apresentou retrações em 6 dos 7 meses de 2021, totalizando uma perda de -21,2% em relação ao índice de janeiro de 2021. Máquinas, aparelhos e materiais elétricos e produtos de metal também configuram o mesmo quadro, sendo a retração em relação a janeiro de -11% e -11,7%, respectivamente. Esses cenários preocupam até mais do que os resultados dos setores com maiores retrações no mês por representarem quedas sustentadas e com baixa demonstração de reação. Além disso, a recuperação agregada da produção industrial nacional dependerá de respostas positivas desses setores nos próximos meses.

Por fim, pode-se observar o Gráfico 1, que ilustra o desempenho setorial pela ótica da série de doze meses. Em relação aos dados agregados, nota-se a expansão da indústria de transformação (8,2%) e da indústria geral (7%) e a queda da indústria extrativa, com variação de -1,4%. Os setores de máquinas e equipamentos (26,2%) e fabricação de produtos têxteis (21,2%) apresentam os melhores resultados. Já impressão e reprodução de gravações (-18%) e manutenção, reparação e instalação de equipamentos (-9,8%) possuem as maiores variações negativas, fato que vem tendo continuidade ao longo dos últimos meses.

Gráfico 1: Produção física industrial do Brasil por setores de atividade, acumulada em 12 meses

G1

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Atividade industrial de Santa Catarina em julho de 2021

O desempenho da atividade industrial de Santa Catarina segue, em grande medida, a tendência verificada no comportamento da indústria nacional. Como mostra o Gráfico 2, o atual cenário da indústria catarinense é caracterizado por quedas sustentadas na série mês a mês com ajuste sazonal. Essa tendência de queda se estabelece após as expansões da segunda metade de 2020, as quais esboçaram uma recuperação do setor industrial em relação aos impactos mais bruscos da pandemia. Em relação ao início do ano, a produção industrial catarinense regrediu -8,4%. O dado de julho, que configura a sexta retração seguida da atividade industrial de Santa Catarina, apresentou uma variação de -1,5% frente ao mês de junho.

Gráfico 2: Produção Física Industrial em Santa Catarina, mês contra mês imediatamente anterior com ajuste sazonal

 G2

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

A Tabela 3 apresenta a síntese do cenário catarinense. Além da queda mensal já referida, é possível observar também a série mensal, em relação ao mesmo mês do ano anterior, a série do acumulado do ano e o acumulado de doze meses. A comparação com julho de 2020 registra expansão de 7,8%, superior ao dado nacional e a quarta melhor variação entre as UFs. Com isso, o desempenho da indústria de Santa Catarina superou, em todos os meses, os resultados mensais de 2020. Esse resultado, ainda que positivo, era esperado quando considerando-se o péssimo desempenho no ano passado.

Da mesma forma, o acumulado no ano apresenta expansões sustentadas, registrando em julho a variação de 23,1%, o melhor resultado dentre todas as UFs pesquisadas. Com isso, a indústria catarinense registrou saldos positivos em todos os meses de 2021 na comparação com o mesmo período de 2020. O mesmo cenário se repete na série do acumulado de doze meses, na qual foi consolidada a variação de 16,3% em julho. Nessa série se registra a quinta expansão seguida nos níveis de produção.

Tabela 3: Atividade Industrial em Santa Catarina em diversos períodos

T3

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

No que concerne aos setores de atividade, nota-se na série de doze meses, como mostra o Gráfico 3, a manutenção do quadro de expansões relevantes na maioria dos setores, como no caso de metalurgia (43,6%), máquinas e equipamentos (43,2%) e máquinas e aparelhos Elétricos (29,1%). As altas sustentadas destes setores são fatores positivos para a economia catarinense, pois representam atividades de alta complexidade e, consequentemente, bons potenciais de geração de emprego e renda. Para os próximos meses, contudo, é esperada uma diminuição no ritmo dessas expansões, já que as altas da segunda metade de 2020 elevarão as bases de comparação.

Gráfico 3: Produção física industrial de Santa Catarina por setores de atividades, acumulada em 12 meses

G3

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Continua como destaque negativo nesse indicador o resultado do setor de produtos alimentícios, com retração de -9,4%. O setor consolidou retrações em todos os meses do ano na série do acumulado de doze meses (o mesmo também ocorre na série do acumulado do ano), constatando-se de forma inequívoca as perdas do nível de produção em relação ao ano de 2020. Esse desempenho negativo se explica, em grande medida, pela relação direta que o setor possui com o comércio varejista e com a demanda do consumidor final. A manutenção do desemprego elevado e a queda nos níveis de renda contribuem, por isso, para a manutenção dos níveis deprimidos de produção no setor.

Analisando com mais detalhes esse setor, nota-se que os principais determinantes de retração na indústria catarinense de produtos alimentícios se encontram nas quedas de produção de óleo de soja refinado, carnes e miudezas de aves congeladas, preparações e conservas de peixes e biscoitos e bolachas. Todas essas atividades que apresentaram saldos negativos no período acumulado entre janeiro e julho de 2021, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Dos produtos de maior influência, apenas carnes de suínos congeladas (cujo maior parcela da produção é destinada para exportação) obteve saldo positivo no período.

Com isso, o quadro geral da produção industrial de Santa Catarina aponta para uma trajetória evidente de quedas, como pode ser visto pelas repetidas retrações na série mês a mês com ajuste sazonal. Ainda assim, as comparações com os meses de 2020 apresentaram resultados positivos, o que é esperado diante dos impactos mais fortes da Covid-19 naquele período. Para os próximos meses as mudanças nas bases de comparação poderão deixar mais evidentes os setores que estão conseguindo esboçar uma reação sustentada diante do cenário de pandemia que ainda persiste.

Considerações Finais

A produção industrial, tanto nacional como estadual, segue acumulando retrações mês após mês na série com ajuste sazonal. Essa trajetória gera preocupação e incerteza sobre a capacidade dos setores reagirem no segundo semestre do corrente ano, especialmente em função da situação macroeconômica do país e dos próprios rumos da política econômica. Como aponta análise recente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, fatores como a piora na pandemia em decorrência da variante delta, o atraso na vacinação, a diminuição das medidas emergenciais de auxílio e gargalos nas cadeias produtivas, dentre outros, são determinantes para o agravamento da conjuntura (IEDI, 2021).

Em relação aos setores fica nítida a necessidade de recuperação de atividades deprimidas ao longo de todo ano, como veículos automotores, reboques e carrocerias, no âmbito nacional, e produtos alimentícios em Santa Catarina, para que os níveis agregados de produção possam reverter a trajetória de queda. Sem a eliminação dessas disparidades setoriais é bastante improvável uma retomada sustentada das atividades industriais.

Além disso, no segundo semestre que se inicia pesará, ainda, a atuação dos governos no combate ao desemprego e à queda dos níveis reais de renda da população, fatores fundamentais para reaquecer os níveis de demanda do consumidor e, consequentemente, fomentar a atividade econômica. Num contexto no qual os níveis gerais das atividades econômicas do país ainda permanecem oscilantes, a recuperação e expansão das atividades industriais são fundamentais para impulsionar o crescimento do PIB e, com isso, auxiliar no enfrentamento dos problemas na esfera social.

Referências Bibliográficas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal da Indústria. Produção Física (PIM). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, julho de 2021.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal da Indústria. Produção Física Regional (PIM Regional). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, julho de 2021.

IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Análise IEDI: Indústria em rota descendente. Disponível em:  https://www.iedi.org.br/artigos/top/analise/analise_iedi_20210902_industria.html.

IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Carta IEDI. Edição 1098. Disponível em: https://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_1098.html.

VALOR ECONÔMICO – Pressão de custos leva a queda de -1,3% na Produção Industrial. Disponível em: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/09/03/pressao-de-custos-leva-a-queda-de-13-na-producao-industrial.ghtml.  Setembro de 2021.


[1]Graduando em Ciências Econômicas da UFSC e Bolsista do NECAT. Email: matheusrosa.contato@outlook.com.

[2]Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador Geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br