Cenário da evolução dos casos ativos em cidades de Santa Catarina entre os dias 01.02 e 22.02.2021

23/02/2021 15:49

Por: Lauro Mattei [1]

Após quatro meses de um surto bastante acelerado de contaminação da população, Santa Catarina vive o pior momento da pandemia desde os primeiros registros oficiais no mês de março de 2020. E essa aceleração está sendo bem mais expressiva no mês de fevereiro de 2021. A seguir mostraremos que, embora municípios da região Oeste estejam em evidência, a pandemia está se espraiando fortemente em municípios de todas as regiões do estado.

A tabela 1 apresenta a taxa de crescimento da evolução da doença na microrregião de Florianópolis, que é composta por mais 5 municípios (Antonio Carlos, Governador Celso Ramos, Paulo Lopes, Santo Amaro da Imperatriz e São Pedro de Alcântara), além das 4 cidades que compõem a área conurbada da capital catarinense. Inicialmente observa-se que esses 4 municípios respondiam por 96% de todos os casos da microrregião. Neste caso, chama atenção a expressiva taxa de crescimento dos casos ativos na cidade de São José, atingindo mais de 500% nas três primeiras semanas de fevereiro, além do elevado número de pessoas contaminadas na capital do estado. Por fim, não é nada desprezível a taxa de crescimento dos casos ativos nas cidades de Palhoça e Biguaçu. Adicionalmente, registre-se que a microrregião de Florianópolis detém 94% dos casos ativos da Grande Florianópolis, enquanto as 4 cidades da área conurbada da capital representam 89% de todos os casos da Grande Florianópolis.

Tabela 1 –Taxa de crescimento % dos casos ativos em cidades da microrregião de Fpolis

LM_tabela1_23-02-21A tabela 2 apresenta a evolução dos casos ativos em algumas cidades do Vale do Itajaí, especialmente do Alto Vale (Rio do Sul) e Médio Vale (as demais). Neste caso, destacam-se as altas taxas de crescimento dos casos ativos nas cidades de Timbó e Pomerode, bem como a expressiva quantidade de pessoas contaminadas na cidade de Blumenau. Apenas a título de registro, nota-se que as cidades do Baixo Vale, como Itajaí e Balneário Camboriú, não apresentaram uma evolução tão expressiva como nas demais localidades, embora também detenham número elevados de pessoas doentes.

Tabela 2 –Taxa de crescimento % dos casos ativos em cidades do Vale do Itajaí

LM_tabela2_23-02-21

A tabela 3 apresenta a evolução dos casos ativos em cidades do Norte Catarinense. Embora São Francisco do Sul tenha apresentado uma taxa de crescimento bastante elevada (110%), o fato é que cidades como Jaraguá do Sul não apresentaram grandes oscilações, assim como Joinville apresentou uma taxa relativamente baixa, apesar de permanecer com um número de pessoas contaminadas extremamente elevado (o terceiro maior do estado). Isso pode estar indicando que na região Norte o surto que está em curso em outras regiões do estado ainda não seja tão expressivo nesse espaço geográfico no momento.

Tabela 3 –Taxa de crescimento % dos casos ativos em cidades do Norte

LM_tabela3_23-02-21

A tabela 4 mostra a evolução das pessoas contaminadas em municípios da região Serrana de Santa Catarina, chamando atenção para a alta taxa de crescimento do município de São Joaquim, muito embora o número de doentes nesta localidade ainda seja baixo, comparativamente às demais cidades. Por outro lado, verifica-se que Lages – por ser o grande polo regional – é a cidade com o maior número absoluto de pessoas doentes, fazendo com que seja parte do grupo dos dez municípios do estado com o maior número de casos ativos. Por fim, nota-se que nessa região o espraiamento do surto atual é mais lento, comparativamente a outras regiões do estado.

Tabela 4 –Taxa de crescimento % dos casos ativos em cidades da Serra

LM_tabela4_23-02-21

A tabela 5 mostra a evolução das pessoas contaminadas na região Sul Catarinense, chamando atenção para as elevadas taxas de crescimento observadas nos municípios de Araranguá e de Orleans, ambos com um número absoluto de pessoas contaminadas em forte expansão nas duas últimas semanas. Tal comportamento também está sendo observado na cidade de Tubarão, que apresentou taxas consideráveis e o segundo maior número absoluto de pessoas contaminadas na região Sul do estado. Por fim, embora a taxa de crescimento em Criciúma não seja muito elevada, é nesse município que se localiza o maior número de contaminados de todo sul catarinense.

Tabela 5 –Taxa de crescimento % dos casos ativos em cidades do Sul

LM_tabela5_23-02-21

A tabela 6 apresenta a evolução do número de pessoas com casos ativos na região Oeste catarinense, principal foco de contaminação do surto atual. Inicialmente é importante frisar uma característica relevante da dinâmica populacional dessa região, cuja mobilidade é muito grande em direção às cidades-polo regionais, como são os casos de Chapecó, Concórdia, Xanxerê, Videira, Joaçaba e São Miguel do Oeste. Grande parte dessa mobilidade decorre dos empregos gerados pelas indústrias frigoríficas e de lacticínios na maioria dessas municipalidades, as quais aglomeram um número bastante considerável de trabalhadores. Além do expressivo crescimento dos casos ativos na cidade de Chapecó, tanto em termos percentuais como em valores absolutos, fazendo com que a mesma ocupe o 1o lugar no ranking estadual dos municípios com maior número de pessoas doentes, observa-se também o crescimento expressivo desses casos nas cidades de Concórdia, Xanxerê e Xaxim, praticamente repetindo um cenário já verificado entre os meses de junho e agosto de 2020.

Tabela 6 –Taxa de crescimento % dos casos ativos em cidades do Oeste

LM_tabela6_23-02-21

Todavia, no contexto atual são observadas algumas diferenças em relação ao surto anterior, particularmente no que diz respeito à rapidez da transmissão da virose e no ritmo de espraiamento da doença. Neste último caso, nota-se que a doença está chegando rapidamente aos pequenos municípios, como é o caso de Coronel Freitas, uma cidade com menos de 10 mil habitantes.

Por fim, como visto no surto anterior, aventa-se a hipótese de que o processo contaminatório atual está encontrando seu vetor de transmissão nos parques industriais frigoríficos e de lacticínios da região. Tal hipótese se ampara no fato de que em praticamente todas as cidades listadas com as maiores taxas de contágio no período considerado existe algum tipo de empreendimento empresarial das áreas acima citadas.

Considerações Gerais

Santa Catarina está vivenciando o mais longo surto desde que a doença se instaurou no estado, uma vez que desde meados de outubro as taxas de crescimento de transmissão do vírus têm se mantido em níveis elevados, fazendo com que o estado ocupe atualmente a 4ª posição no ranking nacional dentre os estados com o maior número de pessoas que foram contaminadas pelo novo coronavírus.

Ao longo de quase um ano de convivência com a doença, muitas foram as iniciativas governamentais para combater a pandemia, tanto no âmbito estadual com das municipalidades. Todavia, nos aprece que a mensagem emitida pela Organização Mundial da saúde (OMS) em março de 2020 não foi muito bem interpretada pelas terras catarinenses, uma vez que a maioria das iniciativas não esteve focalizada na esfera do controle da pandemia, mas sim no ataque de suas consequências. Com isso, no momento o estado se encontra exatamente naquela posição que a OMS alertava para ser evitada, ou seja, o colapso nos sistemas de saúde. E isso não está sendo obra do acaso!


[1] Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador Geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br