Com avanço da vacinação, serviços puxam o crescimento do emprego formal em Santa Catarina em agosto de 2021

15/10/2021 12:36

Por: Victor Hugo Azevedo Nass[1] e Allan da Cruz Lopes[2]

Dando sequência aos acompanhamentos mensais publicados no Blog do Necat, o objetivo deste texto é analisar o comportamento do mercado formal de trabalho do Brasil e de Santa Catarina em agosto de 2021, a partir dos resultados do Novo CAGED[3]. Para isso, serão analisados os saldos mensais e as variações relativas do emprego formal por grupamento de atividade econômica, gênero, escolaridade, faixa de remuneração e mesorregião geográfica.

De acordo com a Tabela 1, em agosto o Brasil apresentou saldo positivo de 372.265 vínculos formais de trabalho, já Santa Catarina de 20.305 vínculos. Em termos relativos, ambas as regiões registraram uma alta expressiva, da ordem de 0,9% no mês.

Tabela 1 – Evolução mensal de estoque, admissões, desligamentos, saldo e variação percentual (Brasil e Santa Catarina, agosto de 2020 a agosto de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

No acumulado de 12 meses[4], o Brasil gerou 3,2 milhões novos postos formais de trabalho, o que representa uma variação de 8,3% no estoque de empregos formais. O mercado formal de trabalho catarinense seguiu as tendências nacionais durante todo o período analisado, todavia com um ritmo de geração de vagas mais intenso. O estado acumulou uma variação de 11,3% entre agosto de 2020 e de 2021, com saldo de 234 mil vagas. Em grande medida, essas taxas elevadas ainda se devem ao fato de que os estoques de emprego formal estavam baixos durante o mesmo período em 2020, por conta da crise da Covid-19. No entanto, também demonstram uma recuperação consistente em 2021, uma vez que já é visível, tanto em nível nacional como regional, que o emprego formal está se expandindo para além do observado antes da pandemia.

Evolução do emprego formal no Brasil

Conforme os dados contidos na Tabela 2, em valores absolutos, os serviços foram novamente o setor com melhor desempenho no país em agosto, com saldo de quase 181 mil vínculos. Esse resultado equivale a um crescimento mensal de 0,9%, o qual foi puxado principalmente pelas contratações nos subsetores de: atividades administrativas e serviços complementares (45.470); alojamento e alimentação (38.708); e educação (25.096). Apesar da aceleração recente, no acumulado de 12 meses os serviços seguem com o menor crescimento entre os setores, devido sobretudo ao desempenho de subsetores como os de atividades associativas e de alimentação, que tiveram uma lenta recuperação dos postos de trabalho perdidos na fase inicial da pandemia.

Tabela 2 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Brasil, agosto de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Em termos relativos, a construção continua obtendo o melhor desempenho no acumulado em 12 meses, com crescimento de 13%. Seu saldo em agosto foi de 32 mil vínculos, o que corresponde a uma alta de 1,3% no mês, também o maior crescimento observado.  Esse resultado ficou concentrado nos subsetores de serviços especializados para a construção (13.857) e na construção de edifícios (13.790).

O setor de comércio gerou mais de 77 mil vínculos formais de trabalho em agosto, o que representou um crescimento de 0,8%. Esse resultado foi fortemente influenciado pelos subsetores do comércio varejista de vestuário e acessórios (9.447); e do varejo não especializado (8.705), que juntos representam 1/3 do saldo mensal. No  acumulado de um ano, o comércio registrou crescimento de 9%, tendo os super e hipermercados grande importância para tal.

A indústria criou mais de 72 mil empregos formais em agosto, com destaque para os subgrupos de: fabricação de produtos alimentícios (18.034); preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para a viagem e calçados (8.751); confecção de artigos do vestuário e acessórios (7.855); fabricação de produtos de minerais não-metálicos (4.411); e fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (4.060), que juntos correspondem por mais de 50% do saldo mensal do setor. Tomado em seu conjunto, o crescimento do setor industrial foi de 0,9% no mês, e de 9,2% em comparação com o estoque de agosto de 2020.

A agropecuária obteve o menor saldo do mês, com cerca de 9 mil vagas criadas, registrando alta de 0,5% em agosto. Esses novos vínculos estão localizados principalmente nos subsetores de: cultivo de melão (2.230); pecuária (2.574); e atividades de apoio à agricultura e à pecuária (2.235). Porém, o setor apresentou queda expressiva no nível de empregos no subsetor de cultivo de café (-7.165), devido ao fim da safra do grão. No acumulado de 12 meses, o setor registra a mesma taxa de crescimento do comércio, de 9%.

A Tabela 3 apresenta o saldo de vínculos formais de trabalho por sexo no Brasil. O resultado de agosto foi positivo em quase 198 mil vínculos para os homens e em mais de 174 mil vínculos para as mulheres, ou seja, pouco mais da metade dos postos gerados foram ocupados por homens. No acumulado de 12 meses, o cenário se repete.

Tabela 3 – Saldo por sexo (Brasil, agosto de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 4 apresenta a distribuição do emprego formal por nível de escolaridade. Em agosto, 65% dos postos formais de trabalho criados foram ocupados por pessoas que têm ensino médio completo (244.306). Embora em menor medida, outros níveis de escolaridade que obtiveram crescimento considerável foram o superior completo (39.786) e o ensino médio incompleto (36.725). No acumulado de 12 meses, é notável que a retomada do emprego foi puxada principalmente por vagas para ensino médio completo (2.359.288).

Tabela 4 – Saldo por nível de escolaridade (Brasil, agosto de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 5 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em agosto de 2021, foram criadas mais de 317 mil vagas com remuneração entre 1 a 2 salários mínimos, o que corresponde a 85% do saldo mensal. A faixa de 2 a 3 salários mínimos também registrou crescimento notável, embora mais contido, de 28 mil vagas. A única faixa que registrou queda no mês foi mais uma vez a de meio a 1 salário mínimo, com a perda de quase 17 mil postos formais de trabalho. No acumulado de 12 meses, observa-se que a faixa entre 1 e 2 salários mínimos (3 milhões) representou quase a totalidade das vagas geradas, revelando uma tendência de concentração do emprego formal nessa faixa salarial.

Tabela 5 – Saldo por faixa de remuneração (Brasil, agosto de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Nota: Faixas de remuneração em salários mínimos de 2021 (R$ 1.100).

Evolução do emprego formal em Santa Catarina

Em agosto, os serviços continuam a apresentar o maior saldo mensal no emprego formal do estado, com mais de 9 mil novas vagas e variação de 1,1%. O resultado mensal foi puxado pelos subsetores de: atividades administrativas e serviços complementares (2.807); transporte, armazenagem e correio (1.612); e alojamento e alimentação (1.193). Em grande medida, esse resultado é reflexo do avanço da vacinação, que contribui para a retomada da demanda por serviços presenciais, como os prestados por bares e restaurantes. No acumulado de 12 meses,  o setor fechou com um crescimento de 11,1%, aproximando-se da média estadual. Esse resultado difere enormemente do que é observado no restante do Brasil, indicando que em Santa Catarina os serviços estão se recuperando mais rápido. Quanto aos segmentos que compõem esse setor no estado, destaca-se que as atividades administrativas e os serviços complementares respondem por 1/4 das vagas criadas , enquanto as atividades de alojamento e alimentação apresentam taxas de crescimento modestas. Com isso, nota-se que a pandemia provocou um deslocamento das vagas dos serviços prestados às famílias para os prestados às empresas.

Tabela 6 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Santa Catarina, agosto de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Com o maior crescimento em 12 meses, temos a indústria, com uma alta de 12,4%. No mês, o setor obteve crescimento de 0,8%, que corresponde a um saldo de cerca de 6 mil novos vínculos formais de trabalho. Esse resultado foi bem distribuído dentro da indústria de transformação, com saldos levemente maiores nos subsetores de: confecção de artigos do vestuário e acessórios (1.111); fabricação de produtos têxteis (712); fabricação de máquinas e equipamentos (489); e manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (400).

A construção, com o mesmo crescimento que os serviços (1,1%), contou com um saldo de quase 1,5 mil vínculos. Esse crescimento foi concentrado nos subsetores de construção de edifícios (812) e serviços especializados para a construção (686). No acumulado de um ano o número de empregos formais no setor cresceu 11,4%.

O comércio registrou um crescimento de 0,6% em agosto, com criação de quase 3 mil vínculos. Os subsetores que mais se destacaram foram o de comércio em geral e o comércio varejista de materiais de construção, que juntos representam 30% do saldo mensal. Em 12 meses, o crescimento do setor foi de 10,4%.

A agropecuária parou de apresentar saldos negativos em agosto, criando 153 novas vagas. Esse saldo diminuto se deve à baixa expressão do setor na estrutura do mercado formal de trabalho. Além disso, nota-se que a agropecuária registrou as menores taxas de crescimento tanto no mês (0,4%), quanto na comparação com agosto de 2020 (4,1%).

Conforme a Tabela 7, quase 11 mil das vagas abertas em agosto foram ocupadas por mulheres e pouco mais de 9 mil por homens, ou seja, as mulheres tiveram novamente um saldo ligeiramente maior no mês. Esse desempenho está relacionado ao crescimento das vagas nos ramos dos serviços, notadamente as atividades administrativas e serviços complementares, onde as mulheres ocuparam cerca de 80% das vagas criadas. Com o saldo deste mês, as mulheres acumulam saldo maior que os homens no agregado anual, com alta de quase 120 mil vagas, face às quase 115 mil vagas masculinas.

Tabela 7 – Saldo por sexo (Santa Catarina, agosto de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Conforme indicam os dados contidos na Tabela 8, mais da metade dos empregos gerados em agosto de 2021 foram ocupados por trabalhadores com ensino médio completo (12.157). Além disso, destaca-se o desempenho na faixa com ensino médio incompleto (2.906). No acumulado de 12 meses, segue a tendência de concentração do emprego na faixa de ensino médio completo, cujo saldo de quase 147 mil vínculos representa cerca de 2/3 do total de vagas geradas no período. Em seguida, aparece a faixa de ensino médio incompleto (31 mil).

Tabela 8 – Saldo por nível de escolaridade (Santa Catarina, agosto de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 9 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em agosto, mais de 14 mil vagas formais foram criadas na faixa entre 1 e 2 salários mínimos, que concentrou cerca de 70% do saldo mensal. Além disso, parte expressiva do saldo mensal também localizou-se na faixa de 2 a 3 salários mínimos (2,6 mil vagas). Com relação ao acumulado de 12 meses, percebe-se que Santa Catarina tem um comportamento muito similar ao visto nacionalmente, com um crescimento das vagas extremamente concentrado na faixa entre 1 e 2 salários mínimos (194 mil vagas), que corresponde a mais de 80% do saldo total.

Tabela 9 – Saldo por faixa de remuneração (Santa Catarina, agosto de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Com relação à distribuição mesorregional dos empregos formais (Tabela 10), podemos observar que a região do Vale do Itajaí novamente apresentou a melhor performance em agosto, em termos absolutos. Puxado pelo bom desempenho no setor dos serviços – com destaque para as atividades financeiras, de informação, comunicação, imobiliárias, profissionais, administrativas e de alojamento e alimentação –  a região registrou alta da ordem de 0,7%, correspondente ao saldo de 6 mil novos postos formais de trabalho. Em 12 meses, o Vale do Itajaí acumula um saldo de mais de 70 mil vagas, com alta de 12,9%. Com isso, a região já concentra 30% de todas as vagas geradas em Santa Catarina ao longo desse  período.

Tabela 10 – Saldo por mesorregião (Santa Catarina, agosto de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

O segundo melhor desempenho mensal ficou por conta da grande Florianópolis, com um saldo de quase 5 mil vagas no mês. Em termos relativos, a região registrou o melhor desempenho estadual, com alta mensal de 1,2%. Em grande medida, esse resultado se deve à retomada do setor de serviços – que tem uma forte presença na região. No acumulado de 12 meses, a Grande Florianópolis apresenta um crescimento de 11,4%.

Já a região Norte cresceu 1%, com mais de 4 mil vagas criadas em agosto. Esse saldo é sustentado principalmente pelo bom desempenho dos serviços e da indústria, com destaque para os subsetores de: atividades administrativas e serviços complementares; administração pública; fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos; e metalurgia. Joinville acumulou sozinha 60% das vagas criadas na mesorregião durante agosto. Em relação ao desempenho em 12 meses, a região Norte acumula um crescimento de 11,4%.

Com um expressivo crescimento em 12 meses, de 12,5%, a região Sul registrou saldo de quase 2,3 mil vagas no mês, uma alta de 0,8%. Os setores industrial (com destaque para os subsetores de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos; e confecção de artigos do vestuário e acessórios) e de serviços (notadamente os subsetores de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas; e correios) foram fundamentais para esse crescimento,

A região Oeste obteve um saldo de mais de 1,5 mil vagas em agosto, equivalente a uma alta de 0,4% no seu estoque de empregos formais. Os principais destaques positivos ficaram por conta dos serviços de correios e administração pública. Em relação aos últimos 12 meses, a região obteve um crescimento consideravelmente inferior à média estadual, de 8,8%, muito por conta do lento crescimento da indústria alimentícia.

A região Serrana apresentou um crescimento da ordem de 1% em agosto, representando um saldo de 905 vagas. Esse resultado se deve em grande medida à fabricação de produtos de madeira e à administração pública. No acumulado de 12 meses, a região apresenta alta de 8,4%, sendo este o menor resultado entre as mesorregiões catarinenses.

Em síntese, os dados de agosto indicam que o emprego formal em Santa Catarina continua em expansão, registrando um crescimento ainda maior ao observado nos últimos meses, com destaque para o forte desempenho da região do Vale do Itajaí e para a Grande Florianópolis. Os setores da indústria e de serviços têm papel muito importante nesse processo. Outro dado importante é a inversão da distribuição do emprego entre os sexos, que passou a favorecer mais as mulheres nos últimos meses, em compasso com a aceleração das contratações no setor de serviços. Além disso, é importante destacar a baixa  qualidade dos postos de trabalho gerados, dada sua concentração em vagas com baixa remuneração (na faixa entre 1 e 2 salários mínimos) e de baixa escolaridade.


[1] Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat.

[2] Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat.

[3] Todos os dados apresentados neste texto foram coletados junto à base de dados do Ministério da Economia em 3 de outubro de 2021. Em razão das declarações fora do prazo e das revisões periódicas da base de dados, os dados podem divergir ligeiramente dos divulgados nas análises anteriores.

[4] A variação acumulada em 12 meses refere-se ao crescimento do estoque de empregos formais entre agosto de 2020 e agosto de 2021.