Emprego formal: com saldo de 32 mil vagas em janeiro, Santa Catarina retorna ao ritmo pré-pandemia

30/03/2021 13:15

Por: Victor Hugo Azevedo Nass[1]

Dando sequência aos acompanhamentos mensais publicados no blog do NECAT, o objetivo deste texto é analisar o comportamento do mercado formal de trabalho do Brasil e de Santa Catarina em janeiro de 2021, a partir dos resultados do Novo CAGED[2]. Para isso, serão analisados os saldos mensais e variações relativas do emprego formal por grupamento de atividade econômica, gênero, faixa etária, grupamento ocupacional e mesorregião geográfica.

De acordo com a Tabela 1, no mês de janeiro o Brasil apresentou saldo positivo de 260.353 vínculos formais de trabalho, registrando alta de 0,7%. Já Santa Catarina criou 32.077 vínculos no mesmo período, praticamente repetindo o ritmo de crescimento observado no mesmo período de 2020, com variação mensal de 1,5%. Com isso, ambas as regiões reverteram as quedas obtidas em dezembro.

Tabela 1 – Evolução mensal de estoque, admissões, desligamentos, saldo e variação percentual (Brasil e Santa Catarina, janeiro a janeiro de 2021)

Tabela1-br-sc-jan-caged

Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

No acumulado de 12 meses[3], o Brasil gerou 372.693 novos postos de trabalho formais, o que representa uma variação de apenas 0,6% no estoque de empregos formais. O mercado formal de trabalho catarinense seguiu as tendências nacionais durante todo o período analisado, contudo apresentou um ritmo de recuperação mais intenso, registrando uma variação de 2,5%, com saldo de 83.390 vagas entre janeiro de 2020 e de 2021. Diante do desempenho pífio das demais regiões, esse resultado foi o melhor dentre todas as unidades da federação no período[4].

Evolução do emprego formal no Brasil

Conforme os dados contidos na Tabela 2, o setor com melhor desempenho em janeiro, em valores absolutos, foi o industrial, com saldo de 90.431 vínculos, sendo puxado principalmente pela fabricação de produtos alimentícios (que demonstra saldo de 50.231 vagas). Com isso, o setor registrou crescimento mensal de 1,2%, acumulando alta de 1,6% em comparação com janeiro de 2020.

Tabela 2 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Brasil, janeiro de 2021)

Tabela2-setores-br-jan-caged

Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Em termos relativos, a agropecuária teve o melhor desempenho no mês. Seu saldo de 32.986 vínculos formais de trabalho representou um importante crescimento de 2,1% em janeiro. Esse resultado do setor agropecuário no início do ano é fruto de contratações sazonais, principalmente por conta da colheita e do cultivo de soja (que criou 9.194 vínculos no mês) e de maçã (que gerou 12.222 novas vagas). Em comparação com o mesmo período de 2020, esse setor obteve o 2º maior crescimento, da ordem de 4,9%.

O setor de construção foi o que obteve o maior crescimento anual, com 5,3%. No mês, seu saldo foi de 43.498 empregos formais, o que corresponde a uma variação de 1,9% em relação a dezembro de 2020.

Os serviços, por mais que em números absolutos tenham atingido o segundo melhor saldo do mês (83.686 postos), devido ao seu estoque total – que é o maior dentre os setores, representando 47% de todos os empregos formais no país – logrou crescimento de apenas 0,5% no primeiro mês de 2021. Diante disso, os serviços seguem como o único setor que ainda não conseguiu recuperar os postos de trabalho perdidos ao longo de 2020, registrando queda de 0,7% no acumulado de 12 meses.  Essa queda se deve principalmente às perdas registradas nos segmentos de alojamento e alimentação, nos serviços pessoais e nos transportes.

O saldo mensal do setor de comércios foi de 9.848 vagas, o que representa um crescimento praticamente nulo (0,1%). O fraco desempenho do setor também se deve a um efeito sazonal, associado ao encerramento dos contratos temporários firmados em dezembro para as vendas de final de ano. Da mesma forma, a variação acumulada dos últimos 12 meses também é módica, com crescimento de apenas 0,7%, indicando que a pandemia afetou bastante o emprego no setor de comércio.

A Tabela 3 apresenta o saldo de vínculos formais de trabalho por sexo no Brasil. O resultado de janeiro foi positivo em 170.559 vínculos para os homens e em 89.794 vínculos para as mulheres. Comparando as distribuições de um ano para outro, percebe-se que ⅔ das vagas continuam concentradas no sexo masculino, por mais que a disparidade entre os sexos tenha reduzido.

Tabela 3 – Saldo por sexo (Brasil, janeiro de 2021)

Tabela3-sexo-br-jan-caged

Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A exemplo do que foi observado nas divulgações anteriores, a tendência de concentração dos postos de trabalho na faixa de 18 a 24 anos continua. Conforme indicam os dados da Tabela 4, essa faixa etária teve saldo de 107.680 vínculos, concentrando 41% de todas as vagas geradas no mês.

Tabela 4 – Saldo por faixa etária (Brasil, janeiro de 2021)

Tabela4-idade-br-jan-caged

Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A faixa etária dos 30 a 39 anos também teve um crescimento importante no mês, com 57.718 novos vínculos. Além disso, vale também notar que cada vez mais as pessoas de 65 anos ou mais perdem espaço no mercado formal de trabalho, uma vez que essa faixa etária obteve um decrescimento de 5.495 empregos neste mês.

Dentre os grupamentos ocupacionais (Tabela 5), há uma concentração de quase metade do saldo mensal na indústria (127.179). Os grupamentos de serviços (42.613) e de agropecuários (29.170) também tiveram um crescimento considerável em janeiro de 2021, com saldos 2,1 e 4,4 vezes maiores, respectivamente, do que os registrados no mesmo mês de 2020.

            Tabela 5 – Saldo por grupamento ocupacional (Brasil, janeiro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Nos demais grupamentos, o crescimento foi mais contido. Técnicos de nível médio; Profissionais das ciências e das artes; Trabalhadores dos serviços, vendedores do comércio em lojas e mercados; Trabalhadores em serviços de reparação e manutenção; e Membros superiores do Poder Público registraram saldos positivos de: 21.808; 15.123; 12.588; 8.076; e 5.686 vínculos no mês, respectivamente.

Evolução do emprego formal em Santa Catarina

De acordo com os dados da Tabela 6, Santa Catarina segue tendências semelhantes às nacionais em janeiro de 2021, tendo na indústria a concentração da maioria dos postos de trabalho e no setor de comércio o pior desempenho, pelos mesmos efeitos sazonais mencionados anteriormente. O caráter sazonal dessas tendências se expressa na comparação com o desempenho de janeiro de 2021, cujos resultados foram bastante parecidos.

Tabela 6 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Santa Catarina, janeiro de 2021)

Tabela6-setores-sc-jan-caged

Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

O setor industrial lidera a geração de empregos em Santa Catarina tanto no mês, quanto no acumulado anual. Com um saldo de 19.885 postos formais de trabalho em janeiro e uma variação de 2,8% no mês, o setor acumulou um crescimento de 3,9% no último ano. Os cinco segmentos que mais contribuíram para o saldo mensal do setor foram: Confecção de artigos do vestuário e acessórios (4.513); Fabricação de produtos têxteis (2.059); Fabricação de produtos de madeira (1.542); Fabricação de produtos alimentícios (1.345); Fabricação de móveis (1.275).

O setor com maior variação mensal foi o da agropecuária. Seu saldo de 3.670 vínculos lhe confere um crescimento vigoroso de 8,9% no primeiro mês do ano. Esse crescimento é puxado quase em absoluto pelo cultivo da maçã (saldo de 3.224 vagas). No acumulado em 12 meses, o setor tem o segundo maior crescimento do estado, com 3,1% de aumento das contratações formais.

Em janeiro de 2021 a construção teve uma ampliação de 3.533 vínculos formais de trabalho. Tanto na variação mensal, quanto na acumulada de 12 meses, o setor obteve o terceiro melhor desempenho, com taxas de crescimento de 3,1% e 2,3%, respectivamente. Seu saldo mensal está bem concentrado na construção de edifícios, que registrou alta de 2.233 vínculos no mês

Os serviços tiveram um aumento de 6.067 empregos formais, significando um crescimento de 0,7% no mês. No acumulado de 12 meses, essa variação sobe para 1,8%. As divisões do setor que mais contribuíram para o saldo de janeiro foram: Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (3.291) e Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (1.031).

Após registrar o melhor saldo em dezembro do ano passado, o comércio foi o único setor que teve um saldo negativo em janeiro de 2021, perdendo 1.078 vínculos formais de trabalho, sobretudo em decorrência da sazonalidade do comércio varejista. Apesar disso, no acumulado de 12 meses o setor obteve crescimento de 1,8%.

Conforme a Tabela 7, podemos observar que aproximadamente 2/3 do aumento dos postos formais de trabalho registrados em janeiro, tanto em 2020, quanto em 2021, foram ocupados por homens. No último mês, eles ocuparam 18.463 novos postos formais de trabalho, enquanto as mulheres tiveram crescimento menor, de 13.614 postos.

Tabela 7 – Saldo por sexo (Santa Catarina, janeiro de 2021)

Tabela7-sexo-sc-jan-caged

Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Quanto à faixa etária, a Tabela 8 indica que o emprego formal também continua se concentrando entre os mais jovens no estado. Em janeiro de 2021, ⅓ das vagas ficou apenas na faixa de 18 a 24 anos, apresentando saldo de 10.881 vínculos.

Tabela 8 – Saldo por faixa etária (Santa Catarina, janeiro de 2021)

Tabela8-idade-sc-jan-caged

Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Por óbvio, a tendência se inverte com os mais velhos, com uma participação cada vez menor no emprego formal. Em janeiro de 2021, a faixa de idade de 65 anos ou mais se retraiu em 173 postos de trabalho. O pior resultado mensal permanece na faixa de 65 anos ou mais, que perdeu 227 vínculos.

Conforme indicam os dados contidos na Tabela 9, em janeiro de 2021 houve uma volta do crescimento no estado em todos os grupamentos ocupacionais, que apresentaram tendências bastante parecidas às observadas no mesmo período de 2020.

Tabela 9 – Saldo por grupamento ocupacional (Santa Catarina, janeiro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

O melhor desempenho mensal foi o dos trabalhadores da produção de bens e serviços industriais, com um saldo de 16.502 vínculos formais de trabalho. Ademais, também houve um crescimento considerável nos grupamentos dos Trabalhadores de serviços administrativos (6.458) e dos Trabalhadores agropecuários, florestais e da pesca (3.330). O menor crescimento ocorreu entre os membros superiores do setor público, dirigentes de organizações de interesse público e de empresas e gerentes, com um pequeno aumento de 281 empregos formais no mês.

Com relação à distribuição mesorregional dos empregos formais (Tabela 10), podemos observar que, em termos relativos, a região Serrana apresentou a melhor variação mensal, com aumento de 2,7% de seus vínculos, o que corresponde à abertura de 2.437 novos postos de trabalho formais. Esse desempenho se deve em grande medida à indústria madeireira e à agropecuária, com destaque à produção de maçãs em Monte Carlo.

Tabela 10 – Saldo por mesorregião (Santa Catarina, janeiro de 2021)[5]

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

O Vale do Itajaí obteve o melhor resultado absoluto do mês, com um saldo de 9.533 vínculos. Em termos relativos, isso representou um crescimento de 1,6% no estoque de empregos formais da região.

O segundo maior crescimento absoluto foi registrado no Oeste, onde os 7.491 novos vínculos gerados em janeiro correspondem a um crescimento de 2% no mercado formal de trabalho da região. As atividades agropecuárias e a fabricação de alimentos, que são bastante expressivas no Oeste, foram algumas das principais responsáveis por essa expansão.

Tanto na região Norte, quanto no Sul, houve um crescimento mensal da ordem de 1,3%, representando saldos positivos de 5.664 e 3.454 vagas, respectivamente.

O menor crescimento do mês ficou com a Grande Florianópolis, devido à sua maior dependência das atividades de comércio e de serviços. A região registrou uma variação de 0,9% no mês, o que representa o saldo de 3.498 postos formais de trabalho.


[1] Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat.

[2] Todos os dados apresentados neste texto foram coletados junto ao Ministério da Economia em 21 de março de 2021.

[3] A variação acumulada em 12 meses refere-se ao crescimento do estoque de empregos formais entre janeiro de 2020 e janeiro de 2021.

[4] Esse tema foi abordado em outro texto recentemente publicado no Blog do Necat. Ver: Razões para Santa Catarina apresentar o maior saldo de empregos formais entre os estados do Brasil em 2020.

[5] Em razão das revisões periódicas dos dados do Novo Caged realizadas pelo Ministério da Economia, o mês de janeiro contará apenas com o saldo e variação mensal.