Emprego formal: Santa Catarina tem perda em dezembro, mas encerra 2020 com saldo de 53 mil vagas

05/02/2021 14:59

Por: Maria Eduarda Munaro e Victor Hugo Azevedo Nass[1]

Dando sequência aos acompanhamentos mensais publicados no blog do NECAT, o objetivo deste texto é analisar o comportamento do mercado formal de trabalho do Brasil e de Santa Catarina em dezembro de 2020, a partir dos resultados do Novo CAGED. Para isso, serão analisados os saldos mensais e acumulados do emprego formal por grupamento de atividade econômica, gênero, faixa etária, grupamento ocupacional e mesorregião geográfica.

De acordo com a Tabela 1, no mês de dezembro o Brasil apresentou saldo negativo de 67.906 vínculos formais de trabalho, enquanto Santa Catarina perdeu 11.677 vínculos. Com isso, o Brasil gerou 142.693 vínculos ao longo de 2020, o que representa uma variação de apenas 0,4% no estoque de empregos formais.

Tabela 1 – Evolução mensal de estoque, admissões, desligamentos e saldo (Brasil e Santa Catarina, janeiro a dezembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

O mercado formal de trabalho catarinense seguiu as tendências nacionais durante todo o ano, contudo apresentou um ritmo de recuperação mais intenso entre julho e novembro. No acumulado, Santa Catarina registrou uma variação de 2,6% no estoque de vínculos formais de trabalho, com saldo de 53.051 vagas. Diante o desempenho pífio das demais regiões, esse resultado foi o melhor dentre todas as unidades da federação no período.

Evolução do emprego formal no Brasil

Conforme os dados contidos na Tabela 2, o setor com melhor resultado em dezembro foi o do comércio, com saldo de 62.599 vínculos, puxado principalmente pelo comércio varejista e sendo o único setor a apresentar resultado positivo no mês. Apesar do resultado de dezembro, o acumulado do setor no ano foi praticamente nulo (0,1%), com somente 8.130 vínculos.

Em todos os demais setores, houve uma inflexão importante com relação aos resultados dos meses anteriores. O pior resultado de dezembro ficou com o setor da construção, que apresentou saldo negativo de 43.032 vínculos, registrando variação de -1,9% no estoque de empregos formais. Por outro lado, no acumulado de 2020, o setor obteve o melhor resultado setorial, com 112.174 novos postos de trabalho e crescimento de 5,1%.

Seguindo a construção, os setores da indústria, serviços e agropecuária também apresentaram resultados negativos no mês, com quedas de 40.192, 23.749 e 22.970 vínculos, respectivamente. Em termos relativos, essa queda foi mais intensa na agropecuária (-1,5%), seguido por indústria (-0,5%) e serviços (-0,1%).

Tabela 2 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Brasil, dezembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Tendo voltado a apresentar retração, os serviços são o único setor que ainda não recuperou as vagas perdidas ao longo de 2020, tendo terminado o ano com o fechamento de 132.584 vagas. Nos demais setores, o saldo anual foi positivo, sendo de 95.588 vínculos na indústria (1,3%) e 61.637 na agropecuária (4,1%).

            A Tabela 3 apresenta o saldo de vínculos formais de trabalho por gênero no Brasil. O resultado de dezembro foi negativo em 68.948 vínculos para os homens e positivo em 1.042 vínculos para as mulheres. No acumulado, entretanto, somente os homens recuperaram os postos formais de trabalho perdidos  ao longo do ano, registrando saldo de 230.294 vínculos. No caso das mulheres, o resultado permanece negativo, com 87.604 vínculos abaixo do estoque registrado ao final de 2019.

Tabela 3 – Saldo por gênero (Brasil, dezembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Grandes discrepâncias na retomada dos vínculos formais também se manifestam no indicador de faixa etária, conforme os dados da Tabela 4. A faixa etária de 18 a 24 anos mantém resultado positivo, como observado nos meses anteriores, mas com uma desaceleração na recuperação, apresentando saldo de 36.425 vínculos em dezembro. Sendo assim, essa faixa acumulou 720.376 novos vínculos ao longo de 2020.

Em dezembro, apenas as duas faixas etárias mais jovens (até 24 anos) apresentaram saldos positivos. Já no acumulado, apenas as três faixas etárias mais jovens (até 29 anos) apresentam saldos positivos, sendo que todas as demais ainda não conseguiram retomar os postos de trabalho perdidos na fase mais aguda da crise. Nesse sentido, destaca-se a faixa etária de 50 a 64 anos, que apresenta o pior resultado no acumulado do ano, com queda de 422.275 vínculos.

Tabela 4 – Saldo por faixa etária (Brasil, dezembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Dentre os grupamentos ocupacionais, somente os trabalhadores dos serviços, vendedores do comércio em lojas e mercados apresentaram saldo positivo no mês de dezembro, com 76.402 vínculos (Tabela 5). Apesar disso, esse grupamento segue com o pior resultado no acumulado de 2020, com perda de 236.707 vínculos. Os piores saldos mensais ficaram por conta dos trabalhadores da produção de bens e serviços industriais (-64.268), profissionais das ciências e das artes (-33.376) e trabalhadores agropecuários, florestais e da pesca (-27.973).

Nos demais grupamentos o decrescimento foi mais contido. Técnicos de nível médio; Trabalhadores de serviços administrativos; Membros superiores do Poder Público, dirigentes de organizações de interesse público e de empresas e gerentes; e Trabalhadores em serviços de reparação e manutenção registraram saldos negativos de 8.819, 6.003, 1.476 e 675 vínculos no mês, respectivamente. Estes dois últimos grupamentos também concluíram 2020 com perdas em seus estoques de empregos formais, as quais foram de 59.534 e 3.878 vínculos, respectivamente,

Tabela 5 – Saldo por grupamento ocupacional (Brasil, dezembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Evolução do emprego formal em Santa Catarina

Santa Catarina segue quase no mesmo cenário visto nacionalmente em dezembro, tendo como o único setor com saldo positivo o comércio, que vinha em ritmo acelerado de recuperação desde outubro, mas perdeu intensidade em dezembro. O resultado final de 4.685 novas vagas comerciais no mês equivale a um crescimento de 1,0%, e se deve muito ao desempenho do subsetor do  varejo não-especializado (mercearias, super e hipermercados). Com isso, o setor de comércio acumulou um saldo de 7.141 postos desde o início de 2020, o que equivale a um crescimento de 1,5%, como mostra a Tabela 6.

Tabela 6 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Santa Catarina, dezembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Todos os outros setores sofreram quedas no estoque de vínculos formais em dezembro.  Ainda que dezembro tenda a ser um mês de ajustes nos quadros de empregados e fechamento de postos de trabalho em diversos setores, chama atenção a intensa retração da indústria, que registrou  um saldo negativo de 10.690 postos formais de trabalho. Em meio à queda generalizada no setor, os subsetores que mais se destacaram por puxar esse resultado para baixo foram os de: confecção de artigos do vestuário e acessórios; e a fabricação de produtos têxteis,  que fecharam 2.980 e 1.408 vagas, respectivamente. Diante desse cenário, o setor industrial apresentou uma queda de 1,5% no mês, mas no acumulado do ano ainda sustenta um crescimento de 3,7%. Esse crescimento representou a geração de 25.452 novos vínculos, sendo o principal determinante para o desempenho geral do estado em 2020.

Em seguida, temos o setor de construção, que perdeu quase 3 mil postos de trabalho só em dezembro, representando um decrescimento de 2,8%. Apesar disso, no acumulado do ano o setor ainda registra uma taxa positiva, de 2,0%, tendo criado 17.776 novas vagas.

O setor de serviços sofreu uma queda de 0,2% no mês de dezembro, mediante a perda de 1.867 postos formais de trabalho. O que puxou queda tão aguda no setor foi o subsetor de administração pública, defesa e seguridade social, que sozinho teve saldo de menos 4.898 vagas. Esse resultado pode estar relacionado com o encerramento de contratos temporários no setor público, que passaram a ser incluídos nas estatísticas do Novo Caged. No acumulado do ano, o setor deflagrou uma taxa de variação de 2,3%, o que corresponde a um saldo de 17.776 empregos.

Dentre os setores que apresentaram queda, a menor foi a da agropecuária, com retração de  834 vínculos. Mas mesmo com essa queda, no acumulado do ano o setor ainda apresenta um saldo positivo de 630 empregos, o que lhe confere  uma taxa de crescimento  de 1,6%.

Conforme a Tabela 7, podemos observar que a redução dos postos formais de trabalho registrada em dezembro esteve mais concentrada nos homens (-7.138) do que nas mulheres (-4.539). Mesmo que no acumulado a diferença entre os sexos tenha diminuído em relação a novembro, ela ainda apresenta uma concentração no sexo masculino. Do total de vínculos gerados no ano, 32.758 (62%) foram ocupados por homens e 20.292 (38%) por mulheres.

Tabela 7 – Saldo por sexo (Santa Catarina, dezembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Quanto à faixa etária, a Tabela 8 indica que o emprego formal também continua se concentrando entre os mais jovens no estado. Em dezembro, a faixa de 18 a 24 anos foi a única que não teve retração, apresentando saldo de 346 vínculos. Com isso, já são 48.068 novas vagas geradas nessa faixa desde o início de 2020, o que equivale a 72% do saldo total registrado no período.

Tabela 8 – Saldo por faixa etária (Santa Catarina, dezembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

O pior resultado mensal permanece na faixa de 65 anos ou mais, que perdeu 227 vínculos. Mesmo que os vínculos dos menores de idade tenham sofrido uma retração, a retomada dos empregos formais no acumulado do ano concentra-se somente nesta faixa e na de 18 até 24 anos. Em todas as demais, o saldo acumulado foi negativo, com destaque para a faixa de 50 a 64 anos, que perdeu 20.997 vagas em 2020.

Conforme indicam os dados contidos na Tabela 9, em dezembro houve uma reversão das tendências de crescimento estabelecidas desde outubro em quase todos os grupamentos. Os Trabalhadores dos serviços, vendedores do comércio em lojas e mercado foram o único grupamento que permaneceu com saldo positivo no último mês do ano (7.566). Apesar disso, seu resultado no acumulado do ano continua negativo, com déficit de 2.936 vagas.

Tabela 9 – Saldo por grupamento ocupacional (Santa Catarina, dezembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

O maior decrescimento em dezembro ocorreu entre os trabalhadores da produção de bens e serviços industriais, com uma redução de 7.743 vagas, acompanhando a retração da indústria de transformação. No acumulado do ano, esse foi o grupamento que mais gerou vagas (41.275), o que corresponde a 78% do saldo total do estado.

O grupo de trabalhadores de serviços administrativos, que vinha desde outubro gerando saldos expressivos (na casa de 6 mil vagas), em dezembro teve uma retração de  3.077 vínculos. No acumulado do ano, esse grupamento registrou um saldo positivo de 12.463 empregos formais.

Com os resultados de dezembro, os grupamentos que fecharam 2020 com saldos acumulados negativos foram os: trabalhadores dos serviços, vendedores do comércio em lojas e mercados (-2.936); membros superiores do poder público, dirigentes de organizações de interesse público e de empresas e gerentes (-2.712); e  trabalhadores em serviços de reparação e manutenção (-98).

Com relação à distribuição mesorregional dos empregos formais de Santa Catarina (Tabela 10), podemos observar que, em termos relativos, a região Oeste apresentou a pior variação mensal, com perda de 1,1% de seus vínculos, o que corresponde a 4.262 postos de trabalho formais fechados. No entanto, essa região se manteve com a maior variação acumulada no ano, com um saldo 19.781 empregos formais, registrando crescimento anual de 5,5% (mais que o dobro da média estadual).

Tabela 10 – Saldo por mesorregião (Santa Catarina, dezembro de 2020)[2]

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

O Vale do Itajaí (saldo de -4.997 vagas) e a região Norte (-3.827 vagas) também tiveram resultados bastante negativos em dezembro, registrando, ambas, retração da ordem de 0,9%. Considerando o acumulado do ano, a região Norte registrou crescimento de 2,5%, enquanto o Vale logrou crescimento de 1,8%. Em termos absolutos, os saldos dessas regiões foram de 10.494 e 10.384 vínculos, respectivamente.

Já na região Serrana, 811 postos formais de trabalho foram perdidos em dezembro. Ao longo de todo o ano de 2020, a região gerou 1.448 vagas, registrando um crescimento abaixo da média estadual, da ordem de 1,7%.

O melhor resultado mensal foi o da Grande Florianópolis, que aumentou em 1.207 o seu estoque de empregos formais, com variação de 0,3%. Apesar disso, a região se mantém com o pior resultado no conjunto de 2020, quando acumulou um crescimento de somente 0,4%, o que se refletiu num saldo de 1.647 vagas.

O Sul também logrou crescimento, mesmo que módico (0,4%), em dezembro, registrando a abertura de 1.013 vagas. Ao longo de 2020, a região acumulou um crescimento de 3,5% em seu estoque de empregos formais, apresentando o segundo melhor desempenho entre todas as mesorregiões.


[1] Estudantes de Economia na UFSC e bolsistas do Necat.

[2] Em razão das revisões periódicas dos dados do Novo Caged realizadas pelo Ministério da Economia, os resultados acumulados podem diferir das divulgações anteriores, o que compromete sobretudo a comparação do saldo acumulado em dezembro com os de novembro e outubro.