Emprego formal: Santa Catarina tem saldo negativo de 53 mil vagas no primeiro semestre de 2020

29/07/2020 22:41

Por: Lauro Mattei [1]

Conforme explicamos em artigo anterior publicado no Blog do Necat, no início de 2020 o Ministério da Economia percebeu que houve problemas com as informações do chamado “Novo CAGED”, uma vez que foi constatado que muitas empresas deixaram de informar os desligamentos no eSocial, fato que comprometeu a transferência da base de dados. Esse problema, somado às dificuldades decorrentes das consequências da pandemia sobre as empresas, levou a Secretaria Especial da Previdência e Trabalho do Ministério da Economia (SEPRT-ME) a suspender a divulgação mensal do CAGED até o mês de abril, visando promover uma readequação das duas bases de dados (CAGED e eSocial). Com isso, as informações relativas aos meses de janeiro a abril de 2020 foram divulgadas somente no final do mês de maio de 2020, ao passo que as informações relativas a esse mês foram divulgadas somente no dia 29 de junho de 2020. Finalmente, em 28 de julho foram divulgadas as informações relativas ao mês de junho de 2020.

Registre-se que a partir do mês de maio, conforme mostramos no artigo anterior acima mencionado, as informações dizem respeito a um conjunto de quesitos que atualizam a situação do mercado formal de trabalho no país, as quais também podem contribuir para uma maior qualificação das análises sobre essa parte importante do mercado de trabalho no estado catarinense.

O objetivo do presente artigo é atualizar as análises dessas informações divulgadas recentemente com o intuito de compreender a dinâmica atual do mercado formal de trabalho em SC à luz do cenário geral de pandemia que tomou conta de todo o país e impactou fortemente o nível de emprego, especialmente os vínculos formais de trabalho.

Os resultados agregados para Santa Catarina

O Quadro 1 apresenta as informações agregadas para Santa Catarina (SC) obedecendo o corte temporal do início da pandemia. Assim, nota-se que os efeitos sobre o mercado de trabalho já tiveram início a partir do mês de março, ainda que de forma menos expressiva, uma vez que a doença ainda se encontrava em níveis baixos no estado. Todavia, com o avanço da doença e com o maior grau de restrições impostas à população como mecanismo de controle da epidemia, verificou-se expressivo impacto no mercado formal de trabalho no mês seguinte (abril), quando o saldo entre admissões e demissões foi negativo da ordem de mais de 73 mil postos formais de trabalho. Com isso, observa-se que no mês de abril houve um aumento do saldo negativo de mais de dez vezes em relação aos resultados obtidos no mês anterior. Isto se explica pelo fato de que os desligamentos foram 3,2 vezes superiores às admissões.

Quadro 1: Admissões e Desligamentos de trabalhadores em SC entre os meses de março e junho de 2020 (valores unitários)

q1

Fonte: CAGED, diversos meses

Tal movimento perdeu intensidade no mês de maio, quando a diferença negativa entre admissões e desligamentos se reduziu para 22.705. Isso significa que o ritmo das demissões foi bem menos intenso, comparativamente ao mês anterior. Mesmo assim, o resultado acumulado no ano de 2020, considerando-se as informações entre janeiro e maio, foi negativo da ordem de 62.150 vínculos formais de trabalho, muito embora somente nos últimos três meses (março a maio) foram perdidos 102.855 empregos formais.

No mês de junho observou-se o esboço de uma pequena reação, tendo em vista que se obteve um resultado positivo de 3.721 vínculos formais de trabalho, ou seja, as admissões superaram, pela primeira vez durante o início da pandemia, os desligamentos. Todavia, a variação relativa foi de apenas 0,18%. Com isso, o período de quatro meses da pandemia (março a junho) manteve um saldo negativo de mais de 53 mil vínculos formais de trabalho. Isso significa que ao longo dos seis primeiros meses do ano as demissões prevaleceram nesse mercado de trabalho, ocasionando uma variação relativa da ordem de -2,50%. Tais indicadores explicitam o nível de impacto da COVID-19 sobre os vínculos formais de trabalho no estado.

O comportamento do emprego formal segundo os setores de atividade econômica

O Quadro 2 apresenta os saldos do emprego formal entre os meses de março e junho, segundo os diversos setores de atividade. Considerando-se que 53.592 vínculos formais de trabalho foram perdidos ao longo dos primeiros seis meses do ano de 2020, é importante analisar os setores que mais contribuíram para ocasionar esse elevado saldo negativo. Para tanto, descreveremos de forma pormenorizada cada um dos grupamentos de atividades considerados pelo CAGED, destacando o seu saldo ao final do primeiro semestre de 2020.

O grupamento relativo à agricultura, pecuária, pesca e produção florestal apresentou resultados negativos nos três meses considerados e uma pequena reação positiva no mês de junho. Todavia deve-se ressaltar que, em função da estrutura desses setores no estado, apenas uma pequena parte desse macro setor desenvolve atividades formais. O resultado é sua baixa participação no emprego formal agregado do estado, patamar que ao final de 2019 se situava ao redor de 9%. Isso explica porque a participação percentual desse setor no saldo negativo semestral foi de apenas 0,50%.

O setor industrial continua tendo grande importância no emprego formal catarinense, uma vez que ao final de 2019 respondia por aproximadamente 24% dos vínculos formais de trabalho do estado. Observa-se que esse setor ainda manteve um resultado positivo, ainda que incipiente, no mês de março de 2020, muito embora já estavam dadas as condições para aquilo que viria a acontecer nos meses seguintes. Assim, nota-se que no mês de abril a indústria em geral foi responsável por 42% dos desligamentos ocorridos no estado no referido mês. E mais, no mês seguinte (maio) foi o setor que mais contribuiu para os desligamentos, sendo que respondeu por 43% da redução verificada nos postos formais de trabalho no estado em maio de 2020. Com isso, a indústria catarinense contribuiu com 39% dos saldos negativos que ocorreram entre os meses de março e maio de 2020. No mês de junho ocorreu uma expansão de 1.760 vínculos, cujo resultado poderia ter sido melhor caso não ocorressem quedas na indústria de eletricidade e gás, bem como na de água, esgotos e resíduos, que juntas apresentaram redução de 317 postos de trabalho. Desta forma, quem garantiu esse desempenho favorável foi a indústria de transformação, que apresentou saldo positivo 2.079 vagas no mês de junho. Mesmo assim, deve-se registrar que o setor industrial apresenta um resultado negativo de aproximadamente 13 mil vínculos formais no primeiro semestre de 2020, ou seja, 23,5% do saldo negativo estadual.

Quadro 2: Saldo do emprego formal em Santa Catarina entre os meses de março e junho de 2020 e saldo no ano, segundo os setores de atividade econômica

q2

Fonte: CAGED, diversos meses

A construção foi outro setor que apresentou resultados negativos nos três primeiros meses da série considerada, porém respondendo por apenas 4% do total dos desligamentos. Já no mês de junho apresentou uma ligeira recuperação, o que contribuiu para torná-la no único setor que apresentou saldo positivo ao final do primeiro semestre de 2020. Mesmo assim, esse é um setor com baixo percentual de participação no agregado estadual, cuja patamar não ultrapassa os 7%. Deve-se recordar que após apresentar resultados positivos bastante expressivos durante os períodos de expansão econômica do país, tal setor reduziu sua participação desde a crise de 2015 de tal maneira que sua participação atual é inferior àquela verificada em 2013/2014.

O setor comércio também continua tendo grande importância no emprego formal catarinense, uma vez que ao final de 2019 respondia por aproximadamente 18% dos vínculos formais de trabalho do estado. Esse setor foi um dos mais afetados pelas medidas adotadas para frear a expansão do novo coronavírus, uma vez que apresentou resultados negativos nos três primeiros meses considerados, com destaque para o mês de abril quando foi responsável por 20% dos desligamentos ocorridos no estado no referido mês, percentual que se repetiu no mês de maio de 2020. Já no mês de junho apresentou uma tímida reação com saldo positivo de 525 vínculos formais. Com isso, o setor do comércio catarinense contribuiu com 46% do saldo negativo dos vínculos formais de trabalho que ocorreu no primeiro semestre de 2020.

O setor de serviços continua sendo o mais importante para o emprego formal catarinense, uma vez que ao final de 2019 respondia por aproximadamente 42% do total de vínculos formais de trabalho no estado. Esse setor foi o segundo mais afetado pelas medidas adotadas para frear a expansão do novo coronavírus, uma vez que apresentou resultados negativos nos três primeiros meses considerados, com destaque para o mês de abril quando foi responsável por 32% dos desligamentos ocorridos no estado, percentual que se reduziu para 31% no mês de maio de 2020.  Já no mês de junho se observou uma tímida recuperação, uma vez que o saldo setorial nem sequer atingiu a mil unidades de vínculos trabalhistas. É importante destacar algumas diferenças entre os diversos subsetores que fazem parte desse macro setor. Assim, nota-se que o subsetor Informação, comunicação e atividades financeiros gerou 2.808 vínculos formais no mês de junho, enquanto que o subsetor Alojamento e alimentação teve um saldo negativo de 1.577 vagas e o subsetor Outras atividades de serviços apresentou um saldo negativo de 262 vagas. Com isso, o setor de serviços contribuiu com 30% do saldo negativo correspondente ao primeiro semestre de 2020.

Especificamente em relação ao mês de junho, nota-se que todos os setores apresentaram resultados positivos, ainda que em patamares bastante baixos. Quanto ao primeiro semestre de 2020, verifica-se que apenas a Construção não possui saldo negativo, sendo que os setores do comércio e de serviços são responsáveis por 76% desse saldo negativo verificado ao final do período considerado.

De um modo geral, verifica-se que os setores da indústria geral, do comércio e dos serviços, ao apresentarem resultados negativos nos três primeiros meses da série, acabaram respondendo 93% do saldo negativo estadual ao final desse período. Já os pífios resultados apresentados no mês de junho, ainda que tenham sido positivos, não foram suficientes para reduzir mais drasticamente o grande saldo negativo do semestre.

O saldo do emprego formal em junho de 2020, segundo alguns quesitos 

Nesta seção vamos explorar um pouco mais as características do saldo dos vínculos formais de trabalho existente no mês de junho, segundo alguns quesitos disponibilizados recentemente. Registre-se que tal procedimento não obedecerá a mesma análise temporal anterior, tendo em vista que no “Novo Caged” essas informações estão disponíveis somente a partir dos dados do mês de maio de 2020[2].

a) Gênero

O Quadro 3 apresenta o saldo existente no mês de junho, segundo o gênero dos trabalhadores. Neste caso, nota-se que os homens responderam por 90% do montante de vínculos formais que se expandiram no estado no referido mês, enquanto as mulheres responderam pelo restante. Essa proporção é muito desfavorável às mulheres, tendo em vista que antes da pandemia a participação desse segmento no total de empregos formais no estado se situava na faixa de 45%.

Quadro 3: Saldo no mês de junho, segundo o gênero dos trabalhadores

q3

Fonte: CAGED, junho de 2020.

b) Grau de instrução

O Quadro 4 apresenta o saldo do mês de junho, tomando como referência o grau de instrução dos trabalhadores.  Em primeiro lugar, verifica-se o grau de instrução Fundamental (completo e incompleto) teve resultados negativos no último mês, ou seja, os trabalhadores com esse grau de instrução apresentaram os maiores percentuais de desligamentos no mês de junho.

Em segundo lugar, observa-se que os trabalhadores com grau de instrução Médio (incompleto ou completo) são a grande maioria dentre aqueles que compõem o saldo positivo registrado ao final do semestre, atingindo mais do que o próprio saldo de 3.721 vínculos formais. A esses, se somam os trabalhadores com grau de instrução Superior incompleto, muito embora com uma representação muito inferior em relação ao grau de instrução médio. Assim, verifica-se que o grau ensino médio, especialmente completo, dominou o saldo positivo do emprego formal em junho. Mas é importante registrar que no mês de maio se encontravam nesse nível de instrução aproximadamente 50% do total de desligamentos.

Quadro 4: Participação unitária de cada nível de instrução no saldo do mês de junho

q4

Fonte: CAGED, junho de 2020

De qualquer forma, essas informações indicam que o mercado formal de trabalho em Santa Catarina possui um contingente expressivo de trabalhadores com um elevado grau de instrução, tanto de ensino médio como superior, e que o movimento recente de novas admissões parece estar priorizando tal segmento de trabalhadores.

Por fim, destaca-se a presença de um número importante com grau de instrução “analfabeto”, condição que aparentemente se supunha não ter espaço dentre os vários setores classificados como integrantes do núcleo dinâmico desse mercado.

c) Faixa etária

O Quadro 5 apresenta o saldo do mês de junho de acordo com a faixa etária dos trabalhadores admitidos e desligados. Inicialmente nota-se que as faixas até 17 anos e de 18 a 24 anos respondiam pela grande maioria do saldo positivo de vínculos formais de trabalho. Já em sentido oposto, observa-se que as faixas etárias de 50 a 64 anos de idade e de 65 anos ou mais foram aqueles que mais perderam postos formais de trabalho no referido mês.

    Quadro 5: Saldo no mês de junho, segundo as faixas etárias dos trabalhadores

q5

Fonte: CAGED, junho de 2020

Já as admissões nas faixas intermediárias entre 25 e 39 anos apresentaram uma reação muito limitada, fazendo com que o percentual de participação das mesmas no saldo positivo do mês correspondesse a apenas 24% do total.

Por fim, nota-se que todas as faixas acima de 40 anos apresentaram resultados negativos, sobretudo na faixa entre 50 e 64 anos de idade. Esse fato é preocupante, uma vez que pessoas nesta faixa etária sempre encontram maiores dificuldades para se realocar no mercado de trabalho.

d) Categorias profissionais

O Quadro 6 apresenta as categorias profissionais dos trabalhadores que fazem parte do saldo do mês de junho. De um modo geral, era de se esperar que os mais afetados continuariam sendo os trabalhadores vinculados aos setores que no mês de junho ainda permaneceram afetados pela pandemia provocada pelo novo coronavírus. Inicialmente verifica-se que os trabalhadores de produção de bens e serviços industriais tiveram os melhores resultados dentre todas as categorias profissionais, uma vez que, além de compensar as perdas ocorridas nas demais categorias, foram os grandes responsáveis pelo saldo positivo de 3.721 vínculos formais de trabalho no referido mês. Se a esse contingente for agregado os vínculos formais de trabalhadores dos serviços administrativos, nota-se que essas duas categorias profissionais apresentaram um saldo positivo no mês de junho de quase 6 mil vagas.

Todavia, o saldo não se manteve nesse patamar porque os trabalhadores que atuam como vendedores do comércio em lojas e mercados continuaram sendo fortemente afetados, tendo em vista que os maiores desligamentos do mês foram registrados exatamente nessa profissão. Se a esses trabalhadores forem somados àqueles vinculados aos serviços de reparo e manutenção, os profissionais de ciências e artes e os membros superiores do poder público, chega-se a um resultado negativo superior a dois mil vínculos formais ainda perdidos no mês de junho.

Quadro 6: Saldo no mês de junho, segundo categorias profissionais dos trabalhadores

q6

Fonte: CAGED, junho de 2020

Finalmente, deve-se mencionar que as principais profissões que apresentaram saldo negativo nesse mês estão entre as categorias profissionais que nos meses anteriores já tinham sido muito impactadas pela covid-19.

O comportamento do emprego formal nas principais cidades catarinenses

O Quadro 7 apresenta o saldo mensal para o período entre março e junho e o saldo geral do primeiro semestre de 2020 para algumas cidades de Santa Catarina. Inicialmente é importante frisar que esse quadro apenas sintetiza as informações pelas principais cidades, destacando que existem resultados negativos em mais de uma centena de cidades, porém muitas delas com números pouco expressivos, bem como alguns resultados positivos ao longo do primeiro semestre do corrente ano.

Uma característica geral a ser enfatizada é que diversas cidades importantes do estado, como são os casos de Chapecó, Criciúma, Jaraguá do Sul, Lages, Rio do Sul, São Bento do Sul, São José, etc., foram afetadas mais fortemente a partir de abril, mês em que todos os municípios considerados tiveram resultados negativos. Tal tendência também se repetiu no mês de maio, porém já se observando em alguns casos uma desaceleração do ritmo de desligamentos. Mesmo assim, o mesmo de junho se encerrou com todas essas cidades com resultados negativos, exceção apenas para os casos de Chapecó e Rio do Sul.

Quadro 7: Saldos do emprego formal nas cidades de Santa Catarina

q7

Fonte: CAGED, junho de 2020

Uma segunda característica marcante é que todas os municípios selecionados apresentaram resultados negativos nos meses entre março e junho, período em que a pandemia impactou expressivamente as atividades produtivas e, particularmente, o mundo do trabalho.

Uma terceira característica geral é que durante o período de março a junho o saldo negativo foi bastante elevado em alguns municípios (Balneário Camboriú, Blumenau, Florianópolis, Joinville, Brusque, Itajaí, Criciúma, Jaraguá do Sul, São João Batista e São José), fazendo com que todos eles mantivessem saldo negativos no cômputo geral do primeiro semestre de 2020.

Com relação ao período em que a pandemia exerceu todos os seus impactos (março a junho) sobre as atividades econômicas do estado, nota-se que a grande maioria dos municípios de Santa Catarina apresentou resultados negativos em termos de saldo dos vínculos formais de trabalho. Apenas aproximadamente 40 municípios tiveram resultados positivos, porém com acréscimo mínimo de vaga, normalmente inferior a um décimo. Neste caso, a exceção ocorreu apenas em 3 municípios (Xaxim, com 121 vagas; Itapiranga, com 353 vagas e Seara, com 593 vagas). Ou seja, mesmo que tenham ocorrido resultados positivos em alguns municípios, isso não foi suficiente para compensar as grandes perdas, sobretudo nas grandes cidades responsáveis pela maioria dos vínculos formais do estado.

Do ponto de vista do primeiro semestre, notam-se diversos aspectos relevantes. Há um grupo de municípios (Florianópolis, Balneário Camboriú, Tubarão, etc.) cujos saldos negativos foram maiores ainda em relação ao período agudo da pandemia. Isso significa que a Covid-19 apenas agravou uma situação de redução dos vínculos formais de trabalho que já estava em curso. Por outro lado, a maioria dos municípios considerados apresentou redução dos saldos negativos no período integral, fato que pode ser explicado pelo bom desempenho desse tipo de ocupação nos meses que antecederam ao início da pandemia, uma vez que todos eles tiveram saldos negativos no período entre março e junho. Por fim, poucos municípios da lista considerada (Chapecó e Rio do Sul) apresentaram resultados positivos no primeiro semestre, o que também pode estar relacionado a uma reação mais consistente no último mês da série do CAGED.

Um corte microrregional permite observar com maior precisão o problema do desemprego em algumas cidades no cômputo geral do primeiro semestre de 2020. Neste caso, destacam-se três cidades da microrregião de Florianópolis (Florianópolis, São José e Palhoça) que juntas perderam mais de 13 mil postos formais de trabalho; cinco cidades da microrregião de Blumenau (Blumenau, Brusque, Gaspar, Indaial e Timbó) que juntas perderam mais de 7mil empregos formais; duas cidades da microrregião de Joinville (Joinville e Jaraguá do Sul) que juntas perderam mais de 10 mil postos formais de trabalho; e duas cidades da microrregião de Itajaí (Itajaí e Balneário Camboriú) que juntas perderam 7.465 empregos formais. Somente nessas doze cidades estão localizados mais de 60% dos trabalhadores que perderam emprego formal ao longo dos seis primeiros meses de 2020.

Essas informações são relevantes para as administrações dessas municipalidades, uma vez que revelam o grau de dificuldades que o mercado de trabalho local está enfrentando, bem como o problema social daí derivado.

Considerações finais 

As informações divulgadas recentemente sobre o mercado formal de trabalho em Santa Catarina relativas ao mês de junho de 2020 revelaram uma tímida recuperação diante dos impactos da COVID-19 nos meses anteriores, quando os saldos foram negativos. Isso indica que os efeitos da pandemia ainda deverão ser sentidos no mercado formal de trabalho catarinense por um longo período.

Por isso, é importante registrar que o saldo negativo observado no primeiro semestre de 2020 está em mais de 53 mil vínculos formais. Tal montante decorre dos grandes impactos da Covid-19 nos meses de março a maio, quando foram verificados saldos negativos bastante expressivos, especialmente no mês de abril. Isso fez com que o ritmo de crescimento do emprego formal no estado, que já tinha perdido fôlego em fevereiro, ingressasse em uma trajetória decrescente que deverá demorar para ser revertida, especialmente em alguns setores de atividade.

Desta forma, nota-se que o saldo nos primeiros seis meses do ano é negativo para todos os setores, exceto no caso da construção, que apresentou um saldo ligeiramente positivo no período. Destaca-se que o setor do comércio continua sendo o grande responsável por esse resultado negativo, uma vez que responde por quase 50% dos mais de 53 mil vínculos formais perdidos.

O destaque positivo é a aparente recuperação do emprego formal no setor industrial no mês de junho, embora ainda apresente um déficit de mais de 12 mil vagas no agregado do primeiro semestre de 2020. Já o destaque negativo continua sendo o setor de serviços, particularmente o subsetor de Alojamentos e alimentação, com saldo negativo superior a 1,5 mil vínculos no referido mês.

Do ponto de vista das localidades, observou-se que em doze cidades (Balneário Camboriú, Blumenau, Brusque, Florianópolis, Gaspar, Itajaí, Jaraguá do Sul, Joinville, Palhoça, São José, Timbó e Indaial) se localizavam aproximadamente 60% do saldo negativo dos vínculos formais de trabalho relativos ao primeiro semestre de 2020.

Em síntese, pode-se afirmar que o tímido resultado positivo observado no mês de junho não deve ser motivo de celebrações eufóricas por parte de autoridades governamentais, inclusive com comparações indevidas. O fato é que o primeiro semestre de 2020 mostrou concretamente que o mercado formal de trabalho em Santa Catarina continua fortemente deficitário, comparativamente a igual período do ano anterior. Além disso, as informações recentes revelam que ritmo de crescimento dos vínculos formais de trabalho no estado, a continuar dessa forma, dificilmente será capaz de cobrir, no próximo semestre, o grande déficit decorrente dos impactos da Covid-19 no estado.


[1] Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br

[2] Para o mês de maio essas características já foram analisadas no artigo anteriormente mencionado.