No mês de setembro de 2020 o setor de serviços atingiu o patamar pré-pandemia no estado de Santa Catarina

19/11/2020 16:11

Por: Mateus Victor Fronza *Lilian de Pellegrini Elias ** e Lauro Mattei ***

A pandemia da COVID-19 provocou um efeito abrupto e profundo no setor de serviços da economia catarinense entre os meses de março e abril, como mostra a série histórica apresentada pelo Gráfico 1. A partir de maio o setor vem apresentando uma recuperação lenta, porém, consistente, de tal forma que em setembro retornou ao patamar semelhante ao período anterior ao início da pandemia. No entanto, como já discutido nos textos anteriores, o setor já não apresentava grande dinamismo no ano anterior e no início de 2020, período pré-pandemia. O indicador de volume de serviços do início de 2020 apresentava o mesmo patamar do início de 2011, quando essa série passou a ser disponibilizada pelo IBGE. Todavia, o resultado de setembro de 2020 ainda está longe do patamar obtido em 2014, quando se verificou o auge da série. (IBGE, 2020).

Gráfico 1: Volume de serviços em Santa Catarina (índice base fixa com ajuste sazonal, 2014=100)

Gráfico 1

Fonte: PMS 2020 (IBGE); Elaboração: Necat/UFSC

O comportamento do setor de serviços de Santa Catarina de janeiro a setembro

O comportamento dos serviços em Santa Catarina apresenta os efeitos mais intensos decorrentes das medidas adotadas para o controle da crise sanitária provocada pela COVID-19 entre março e abril. Nos meses de maio a setembro a flexibilização das regras de isolamento social provocaram uma recuperação vagarosa, porém consistente e que foram capazes de atingir no mês de setembro o patamar anterior ao início da pandemia. Esta trajetória pode ser observada no Quadro 1, onde consta que a variação de setembro de 2020 em relação ao mês anterior foi positiva em 4,9%.

Quadro 1: Variação (%) do volume de serviços em Santa Catarina (janeiro a setembro de 2020)

Quadro 1

Fonte: PMS 2020 (IBGE)
Nota 1 – Base: mês imediatamente anterior – com ajuste sazonal
Nota 2 – Base: igual mês do ano anterior
Nota 3 – Base: igual período do ano anterior
Nota 4 – Base: 12 meses anteriores

Outro aspecto importante foi o desempenho positivo do setor no mês de setembro em relação ao mesmo mês do ano da ordem de 3,7%. Trata-se da primeira variação positiva na comparação com o mesmo mês do ano anterior desde fevereiro, mês imediatamente anterior ao surgimento da pandemia no Brasil e em Santa Catarina. De tal forma que Santa Catarina obteve o 4º melhor resultado entre as UFs, atrás apenas de Amazonas, Pará e Mato Grosso do Sul.

Todavia, quando analisa o desempenho acumulado do ano em relação ao período do ano anterior, nota-se que os resultados continuam negativos em 6,6%. Da mesma forma, quando são considerados os últimos doze meses, os resultados seguem negativos em 5,2%, revelando que ainda um longo caminho para ser recuperado.

O Quadro 2 apresenta uma comparação das variações entre Santa Catarina e o Brasil o período entre julho e setembro. Assim, quando os resultados são comparados com os meses imediatamente anteriores, verifica-se que nos dois casos (Santa Catarina e Brasil) todos os resultados foram positivos, sendo todos os períodos os dados de SC foram superiores aos apresentados pelo conjunto do país. Tomando-se setembro como referência, nota-se que Santa Catarina apresentou uma variação positiva de 4,9% em relação ao mês imediatamente anterior, enquanto o país apresentou uma variação de apenas 1,8% na mesma comparação. Todavia, ao se considerar essas informações em relação ao mesmo mês do ano anterior, verifica-se que há variação positiva apenas em Santa Catarina (3,7%), enquanto o resultado para o Brasil continua sendo negativo em 7,2%.

Quadro 2: Comparação da variação (%) do volume de serviços em Santa Catarina e do Brasil (setembro de 2020)

Quadro 2
Fonte: PMS 2020 (IBGE)
Nota 1 – Base: mês imediatamente anterior – com ajuste sazonal
Nota 2 – Base: igual mês do ano anterior
Nota 3 – Base: igual período do ano anterior
Nota 4 – Base: 12 meses anteriores

Quando se considera o acumulado do ano com igual período do ano anterior, nota-se que no período julho a setembro a variação negativa foi menor em Santa Catarina (-6,6%), comparativamente ao conjunto do país (-8,8%). Além disso, quando se considera o mês de setembro em relação aos 12 meses anteriores, observa-se que a variação negativa de Santa Catarina (-5,2%) também foi inferior à variação negativa do país (-6,0%).

Os dados referentes ao volume de serviços de Santa Catarina por atividades podem ser observados por meio do Quadro 3. Como registrado anteriormente, a variação do mês de setembro em relação ao mesmo mês do ano anterior foi positiva em 3,7%. No entanto, destaca-se que os “Serviços prestados às famílias” segue apresentando variação negativa, tendo em setembro recuado 22,9% quando esse resultado é comparado ao igual mês do ano anterior. Porém, quando se considera o acumulado de janeiro a setembro em relação ao mesmo período do ano anterior, nota-se que a variação negativa ficou em 28,0%. Por fim, o resultado de agosto em relação aos doze meses anteriores foi de -20,7%.

Quadro 3: Variação (%) das atividades de serviços em Santa Catarina, 2020

Quadro 3
Fonte: PMS 2020 (IBGE)
Nota 1 – Base: igual mês do ano anterior
Nota 2 – Base: igual período do ano anterior
Nota 3 – Base: 12 meses anteriores

A atividade de “serviços de informação e comunicação” apresentou resultados negativos em todas as comparações, o resultado no mês de setembro em relação ao mesmo mês do ano anterior foi de estabilidade, da ordem de -0,7%. No acumulado de 2020 em relação ao mesmo período do ano anterior foi negativo em 8,2% e no acumulado dos 12 meses anteriores a setembro foi de -7,8%.

Quanto às atividades de “Serviços profissionais, administrativos e complementares”, nota-se que apresentaram um resultado positivo em setembro da ordem de 25,8% quando comparado ao igual mês do ano anterior. Atividade com melhor desempenho no mês, tendo influenciado o resultado positivo do setor no estado. Quando se considera o acumulado no período de janeiro a setembro, verifica-se ampliação de 3,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. Por fim, o resultado até setembro em relação aos últimos doze meses anteriores foi de variação positiva de 2,3%.

Já a atividade de “Transportes, serviços auxiliares de transportes e correio” apresentou um resultado positivo da ordem de 5,7% em setembro quando comparado ao igual mês do ano anterior. Mesmo que mantenha um resultado negativo no acumulado entre janeiro e setembro em relação ao mesmo período do ano anterior (4,1%) e no acumulado dos 12 meses anteriores a setembro (-2,5%).

Considerações finais

O mês de setembro apresentou uma variação positiva de 4,9% em relação ao mês anterior, indicando um retorno ao patamar anterior ao início pandemia da COVID-19. Mas quando se analisa as diversas atividades do setor de serviços, notam-se diferenças muito importantes entre elas. Por um lado, o grupamento de “Serviços prestados às famílias” e de “Serviços de informação e comunicação” apresentaram resultados negativos em todos os quesitos comparativos, indicando que os fatores que levaram a essas quedas sequenciais ainda continuam exercendo impactos sobre esse grupamento de atividades. Por outro, apenas o setor “Serviços profissionais, administrativos e complementares” apresentou resultados positivos em todos os períodos considerados, indicando que esse setor de atividade foi o único até o momento que conseguiu se recuperar integralmente dos impactos sofridos a partir do mês de março quando a pandemia tomou conta do país.

Todavia, essa recuperação deve ser vista com algumas ressalvas. Em primeiro lugar, porque o patamar anterior à crise não apresentava um setor dinâmico, muito pelo contrário. Isso porque o desempenho do setor de serviços vinha apresentando quedas sequenciais desde o segundo semestre de 2014, tendo apresentado no início de 2020 o mesmo patamar que aquele verificado no início de 2011, ou seja, quase uma década atrás. Segundo, a pandemia voltou a apresentar expansão forte de novos casos, podendo implicar na necessidade de novas medidas de isolamento social visando o controle da doença. Se isto vier a ocorrer, implicará em novos impactos sobre os diversos setores, em especial naqueles que ainda não se recuperaram integralmente das medidas anteriores adotadas nos meses de março e abril.

De qualquer forma, essa recuperação lenta do setor nos últimos meses, além de correr o risco de ser dissipada rapidamente, irá impactar na composição do PIB estadual, dada a grande presença desse setor na composição da produção agregada estadual.


* Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat/UFSC. Email: mateusvfronza@gmail.com.

** Economista com doutorado em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp. Pesquisadora do NECAT-UFSC. Email: lilianpellegrini@gmail.com

*** Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador Geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br