Produção Industrial de Santa Catarina cresceu em outubro, mas produção acumulada do ano ainda é negativa

18/12/2020 19:48

Por: Matheus Rosa[1] e Lauro Mattei[2]

Os dados divulgados pela Pesquisa Industrial Mensal do IBGE (PIM-PF) do mês de outubro revelaram uma possível estagnação da produção industrial do país, uma vez que sete das quinze unidades da federação pesquisadas apresentaram resultados negativos e/ou estagnados. Com isso, verifica-se que, diferentemente dos meses imediatamente posteriores ao período agudo da crise da Covid-19 (março e abril), o mês de outubro registrou baixas taxas de crescimento nas diversas comparações mensais, mantendo-se, desta forma, o cenário negativo para a produção acumulada do ano, quando comparada ao igual período do ano anterior.

No âmbito nacional, como podemos observar no Quadro 1, a produção física teve uma expansão de apenas 1,1% em relação ao mês imediatamente anterior, na série com ajuste sazonal. Com isso, o mês de outubro registrou a menor taxa de expansão da produção desde o início da recuperação (9,6% em junho, 8,6% em julho, 3,4% em agosto, 2,8% em setembro e 1,1% em outubro).

Quadro 1: Atividade Industrial no Brasil, 2020

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Dentre as 14 Unidades da Federação pesquisadas no mês de outubro, apenas quatro delas, PR (3,4%), PE (2,9%), SC (2,8%) e MT (1,1%), apresentaram taxas superiores à média nacional, que foi de 1,1%. Além dessas, mais três unidades apresentaram resultados positivos: CE (0,5%), SP (0,5%) e MG (0,4%). Todas as demais apresentaram resultados negativos ou estagnados, destacando-se os seguintes percentuais: RJ (-3,9%), GO (-3,2%), ES (-1,8%), PA (-1,8%), AM (-1,1%) e BA (-0,1%). Apenas no RS a produção ficou estagnada (0,0%) em relação ao mês anterior.

Em relação ao desempenho acumulado do ano (janeiro-outubro), o cenário geral do país ainda é negativo da ordem de -6,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. Dentre as 14 unidades da federação pesquisadas apenas quatro delas apresentaram resultados positivos: PE (2,4%), RJ (1,4%), GO (0,7%) e PA (0,1%). Todas as demais detêm um saldo negativo, destacando-se o ES (-17%), CE (-9,8%), RS (-9%), AM (-8,9%), SP (-8,2%), SC (-7,8%), BA (-6,9%) PR (-6,0%), MG (-5,8%) e MT (-4,6%). Tais retrações acumuladas contribuíram significativamente para a geração de um cenário nacional negativo no mesmo período.

Para o conjunto da produção industrial do país, a taxa de apenas 1,1% em relação ao mês anterior, mais do que representar uma mera recomposição de bases comparativas, revela diversos fatores estruturais, com destaque para o arrefecimento da recuperação que estava em curso; para uma queda importante da taxa de crescimento em relação ao mesmo mês do ano anterior; além de descompassos entre os diversos setores, em particular dos bens de consumo duráveis e não duráveis. Tais fatores, sem dúvida, estão indicando uma clara perda generalizada de dinamismo e de ritmo da produção industrial que, em última instância, reflete a dimensão da crise econômica em curso no país.

O desempenho da Indústria Catarinense em outubro de 2020

O Gráfico 1, que ilustra o desempenho oscilante em curso na indústria catarinense há pelo menos dois anos, evidencia a perda de ritmo para a retomada da produção industrial. Assim como no cenário nacional, as altas expressivas após os impactos iniciais da pandemia serviram apenas para recuperar parcialmente os baixos índices de março e abril, porém sem a força necessária para uma recuperação mais efetiva. Com isso, observa-se que também no estado catarinense começou a se desenhar um retorno próximo ao patamar de 2019, caracterizado por baixas variações que configuravam um cenário próximo à estagnação.

Gráfico 1: Produção Física Industrial em Santa Catarina, variação (%) no mês (com ajuste sazonal) – 24 meses

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Como é mostrado pelo Quadro 1, a variação mensal de outubro, em comparação com o mês imediatamente anterior, foi de 2,8%. Mantendo uma correlação muito próxima aos resultados do agregado nacional, a expansão da produção industrial de SC no mês de outubro apresentou a menor magnitude desde que se iniciou a recuperação das quedas de março e abril. Como consequência, o resultado acumulado do ano continuou apresentando uma retração da ordem de -7,8%. Em grande medida, esse montante está sendo agravado pela perda de ritmo das taxas mensais de recuperação, mesmo que o parâmetro de comparação seja o baixo resultado apresentado no ano de 2019. Isso significa que ainda há um longo caminho para que a produção industrial de Santa Catarina supere os impactos da pandemia e apresente um cenário de crescimento mais estável e sustentável.

Em comparação ao mesmo mês do ano anterior, a expansão em outubro voltou a ser de 7,6%, repetindo o auferido em setembro. Mais uma vez é importante destacar que esses dados positivos dizem mais sobre a debilidade da indústria catarinense em 2019 do que propriamente uma expansão da produção em 2020. Por isso que o acumulado dos últimos doze meses também é negativo da ordem de -6,8%.

Quadro 2: Atividade Industrial em Santa Catarina, 2020

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Comparando-se o desempenho da indústria catarinense em relação às demais UFs pesquisadas (Gráfico 2), observa-se que o estado possui o sexto pior desempenho acumulado, ficando à frente apenas dos estados do Espírito Santo (-17%), Ceará (-9,8%), Rio Grande do Sul (-9%), Amazonas (-8,9%) e São Paulo (-8,2). Além disso, é preciso destacar, ainda, que o acumulado catarinense de -7,8 % continua abaixo da própria média nacional (-6,3%).

Gráfico 2: Produção Física Industrial, acumulado em 2020, por UFs

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Esse resultado decorre do desempenho dos diferentes setores que compõe a planta industrial catarinense. Como se pode observar no Gráfico 3, apenas dois dos 12 setores pesquisados apresentaram taxas positivas no acumulado: máquinas, aparelhos e materiais elétricos (2,7%) e máquinas e equipamentos (2,5%).  Já os setores de produtos de borracha e material plástico e de celulose, papel e produtos de papel registraram estagnação em relação ao acumulado do mesmo período de 2019.

Os oito setores restantes continuaram apresentando retrações significativas. Os piores cenários são verificados nos setores de veículos automotores, reboques e carrocerias (-27,3%), metalurgia (-21,8%) e artigos de vestuário e acessórios (-21,5%). Nos dois primeiros casos, esse fraco desempenho poder estar associada à taxa de investimentos que se situa em patamares baixos atualmente. Já o baixo desempenho do terceiro caso, enquadrado no macro setor de bens de consumo não duráveis, pode estar associado ao dinamismo do mercado interno, o qual sofre os efeitos dos graves problemas atuais, especialmente do elevado nível de desemprego. A continuidade do desempenho desses setores novamente nesses patamares é preocupante, uma vez que poderão afetar bastante a dinâmica econômica do estado também em 2021.

Gráfico 3: Produção Física Industrial em Santa Catarina, acumulado em 2020, por setores

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

O Quadro 3 apresenta a variação dos setores em outubro, em relação ao mesmo mês do ano anterior. De maneira geral, é possível visualizar um cenário positivo em relação aos níveis de outubro 2019. Dos doze setores pesquisados, 10 deles apresentaram taxas de variação positivas, sendo as mais expressivas registradas nos setores de máquinas e equipamentos (35,5%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (29,5%). As altas expressivas desses setores, que também tinham ocorrido nos meses anteriores, são responsáveis pela elevação das taxas acumuladas.

Quadro 3: Produção Física Industrial de Santa Catarina, variação dos meses de 2020 em relação ao mesmo mês do ano anterior (2019), por seções e atividades industriais

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Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Os setores de fabricação de produtos alimentícios (-4,5%) e de fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (-10,3%) foram os que apresentaram taxas negativas no desempenho mensal. Destaca-se, novamente, o desempenho da indústria de veículos automotores, uma vez que com a queda brusca de outubro,  registra-se que o setor somou quedas expressivas ao longo de todos os meses de 2020, exceção apenas no mês de fevereiro, quando ocorreu uma expansão bem tímida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cenário da indústria nacional no ano de 2020 continua muito desfavorável, fato que não pode ser creditado apenas aos impactos da Covid-19, uma vez que esse baixo desempenho já está em curso desde a crise de 2014. Após sofrer fortes impactos nos meses de março e abril de 2020, em função das medidas adotadas para conter a expansão da doença no país, o processo de recuperação tem sido lento, sendo que nos dois últimos meses se observou um arrefecimento que pode estar indicando uma perda de dinamismo da atividade industrial. De alguma forma, os resultados negativos do acumulado do ano, sobretudo no setor de bens de capital (-15,4%) e no setor de bens de consumo duráveis (-24,6%), revelam a dimensão da crise econômica atual que perpasse, inclusive, a esfera específica do setor industrial.

No caso particular de Santa Catarina, notou-se que esse mesmo cenário nacional está em curso na atividade industrial catarinense, uma vez que seu desempenho nos dois últimos meses parece ter retornado ao patamar com baixas taxas de crescimento, sendo que algumas delas praticamente estagnadas. Isto porque, depois de superar os impactos das quedas bruscas verificadas nos meses de março e abril, desenha-se para os próximos meses o retorno para variações produtivas bastante modestas, especialmente em alguns setores essenciais do parque industrial estadual.

Neste caso, acendeu-se o sinal de alerta para os setores de veículos automotores, metalurgia e artigos de vestuário e acessórios, os quais continuam apresentando taxas acumuladas de retração muito expressivas. Em um sentido contrário, despontam com saldos positivos acumulados os setores de máquinas, aparelhos e materiais elétricos e máquinas e equipamentos, em função das variações positivas registradas, sobretudo no último mês.

Desta forma, nota-se que a sustentabilidade do crescimento dos setores com bom desempenho e a recuperação dos setores que hoje ainda apresentam baixas taxas de crescimento dependerá da capacidade dos agentes governamentais em estabelecerem políticas que garantam a efetividade da retomada econômica. Sem esse arcabouço de políticas, articuladas regional e nacionalmente, que tenha como objetivo a retomada dos níveis de produção, renda e emprego, de forma paralela à imunização da população, não haverá possibilidade de recuperação automática do conjunto da indústria catarinense.

[1] Estudante de Economia na UFSC e Bolsista do NECAT. E-mail: matheusrosa.contato@outlook.com

[2] Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador Geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br