Produção Industrial de Santa Catarina em setembro continuou tímida e acumulado permanece negativo

21/11/2020 14:37

Por: Matheus Rosa [1] e Lauro Mattei [2]

Os dados divulgados recentemente pela Pesquisa Industrial Mensal do IBGE (PIM-PF) revelam que ainda há um longo caminho para a reversão dos impactos negativos causados pela crise da pandemia da COVID-19 no desempenho industrial de Santa Catarina.

No âmbito do país a produção física se expandiu 2,6% em setembro, reafirmando uma queda do ritmo de recuperação em relação aos meses imediatamente anteriores (3,6% em agosto, 8,6% em Julho e 9,6% em Junho). Nas diversas unidades da federação pesquisadas, em apenas sete delas foi verificado um desempenho acima da média nacional, bem como um desempenho inferior ao país nos outros sete estados. Dentre aquelas unidades federativas que mais expandiram a produção física destacam-se o Paraná (7,7%), Amazonas (5,8%) e Espírito Santo (5%). Já dentre aquelas com piores desempenhos encontra-se o Mato Grosso (-3,7%), Rio de Janeiro (-3,1%) e Pará (-2,8%).

O Quadro 1 apresenta os diversos comparativos da produção industrial do país no ano de 2020. Quando se considera o desempenho atual (setembro de 2020) em relação ao mesmo mês do ano anterior, o cenário foi positivo para o conjunto do país, uma vez que houve a expansão de 3,4%, bem como para mais 10 dos 14 estados pesquisados. Neste caso, destaca-se que os maiores crescimentos foram verificados no Amazonas (14,2%), Ceará (8,5%) e Pará (8,1%), enquanto Espírito Santo (-11%), Mato Grosso (-6,2%) e Bahia (-1,9%), foram os estados com os piores indicadores. Todavia, é importante levar em consideração nesse comparativo que o desempenho do setor industrial no ano de 2019 foi muito fraco, ou seja, antes mesmo de sofrer os impactos decorrentes da pandemia o setor industrial do país já apresentava problemas em sua estrutura produtiva.

Já o comparativo do acumulado no ano em relação ao mesmo período do ano anterior mostra que o caminho necessário para superar os impactos da crise econômica e da pandemia ainda é longo. Isto porque, no âmbito do país, acumulado da produção industrial nos primeiros nove meses de 2020 apresenta uma retração de -7,2%, enquanto  apenas três estados dos 14 pesquisados apresentaram dados positivos: Goiás (2,5%), Rio de Janeiro (2,2%) e Pernambuco (1,8%). Já os estados com os piores desempenhos foram Espírito Santo (-18%), Ceará (-11,9%) e Amazonas (-10,6%).

Quadro 1: Atividade Industrial no Brasil, 2020

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: Necat/UFSC

O desempenho da Indústria Catarinense no mês de Setembro de 2020

O Gráfico 1 apresenta a evolução da produção industrial catarinense desde o segundo semestre de 2018, destacando-se que a trajetória produtiva já vinha apresentando importantes oscilações e com fraco desempenho, ainda que na média o estado se situasse em um patamar ligeiramente superior ao resultado do conjunto da produção industrial do país.

No ano de 2019, observa-se novamente um desempenho pífio, uma vez que a produção industrial catarinense apresentou importantes resultados negativos, especialmente no período entre os meses de maio e agosto, e resultados ligeiramente negativos também nos dois meses finais do respectivo ano. Os cinco meses de 2019 com resultados positivos foram bastante tímidos e sequer foram suficientes para compensar os períodos de baixa produção. Com isso, pode-se dizer que no ano de 2019 a produção da indústria catarinense esteve praticamente estagnada.

Quadro 1: Produção Física Industrial em Santa Catarina, variação (%) no mês (com ajuste sazonal) – 24 meses

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: Necat/UFSC

O Quadro 2 apresenta a evolução da produção física no ano de 2020. Também em Santa Catarina é possível verificar uma trajetória de recuperação dos níveis mensais de produção, porém num ritmo bem mais modesto. Em setembro, por exemplo, a produção industrial do estado se expandiu 4,5%, enquanto nos meses anteriores essa expansão foi muito maior (6,5% em agosto, 10,6% em julho e 10,5% em junho). Com isso, setembro revelou a menor taxa de expansão desde o início do período de recuperação após os impactos mais agudos causados pela pandemia da COVID-19.

Em parte, essa desaceleração é natural devido às bases de comparação nos meses anteriores serem maiores. Todavia, a desaceleração também pode estar sendo puxada por outros fatores, particularmente pela retração da demanda em função da redução do valor do auxílio emergencial, da incerteza sobre o desempenho da atividade econômica nos próximos meses, bem como das dificuldades para obtenção de insumos produtivos em diversos setores.

Quadro 2: Produção Física Industrial em Santa Catarina, 2020

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: Necat/UFSC

No comparativo com setembro de 2019, a expansão é significativa (7,6%), registrando o melhor desempenho desse indicador desde o início da recuperação da pandemia. Assim como no quadro nacional, os dados se mostram num bom patamar por causa da base de comparação relativamente baixa, já que em 2019 a indústria de SC apresentou desempenho pífio.

Todavia, quando se considera o desempenho acumulado no ano de 2020 em relação ao mesmo período do ano anterior, o estado continua apresentando saldos negativos desde o mês de março, quando teve início a pandemia. Ainda que tenha diminuído em magnitude desde o mês de maio, quando o acumulado era de -15,6%, nota-se que no último mês da série ainda havia uma forte variação negativa desse indicador da ordem de 9,7%.

Quando se considera o desempenho da indústria catarinense no âmbito nacional (Gráfico 2), observa-se que o desempenho estadual é preocupante, uma vez que Santa Catarina apresentou o quinto pior desempenho industrial em 2020, situando-se à frente apenas dos estados do Espírito Santo, Ceará, Amazonas e Rio Grande do Sul. Destaca-se também que o acumulado é, inclusive, inferior ao verificado nacionalmente (-7,2%), indicando que ainda há um caminho longo para ser percorrido até que sejam recuperadas todas as perdas decorrentes da crise econômica e da pandemia.

Gráfico 2: Produção Física Industrial, acumulado em 2020, por UFs

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: Necat/UFSC

Neste sentido, é importante analisar o desempenho dos diversos setores que compõem a indústria catarinense, conforme Gráfico 3. Desses, apenas o setor de produtos alimentícios apresentou desempenho ligeiramente positivo, enquanto todos os demais registraram quedas na produção industrial. Dentre os setores com pior desempenho destacam-se veículos automotores (-29,2%), metalurgia (-25,4%), artigos de vestuário e acessórios (-24,7%) e produtos minerais não-metálicos (-16,1%). Vale destacar que esses setores, tanto nos meses anteriores como no atual, não conseguiram esboçar reações mais efetivas diante dos impactos da pandemia, deixando-os numa situação bastante incerta quanto à capacidade real de retomada nos próximos meses. Destacamos que esse cenário é extremamente grave, pois tratam-se de setores importantes para a economia estadual, tanto do ponto de vista de geração de emprego e renda, quanto do ponto de vista da dinamização dos setores que deles dependem direta e indiretamente.

Gráfico 3: Produção Física Industrial em Santa Catarina, acumulado em 2020, por setores

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: Necat/UFSC

O Quadro 3 apresenta a variação da produção física dos diversos setores a cada mês em relação ao mesmo mês do ano anterior. De uma maneira geral, é possível verificar que em setembro alguns setores reagiram em relação ao patamar de 2019, enquanto outros ainda mantêm desempenho duvidoso, mesmo quando comparados com uma base débil como foi a do ano anterior. Assim, dos 12 setores com dados disponíveis na PIM-PF Regional, oito deles apresentaram expansão, enquanto os outros quatro mantiveram a trajetória de quedas acumuladas. Os setores com melhor desempenho em setembro foram fabricação de máquinas e equipamentos (37,4%), fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (34,7%), fabricação de produtos têxteis (25,2%) e fabricação de produtos de borracha e de material plástico, todos com taxas expressivas em relação a setembro de 2019. Dentre os setores que continuaram apresentando resultados negativos destacam-se fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (-7,2%), artigos de vestuário e acessórios (-4,3%), fabricação de produtos de metal (-2,2%) e metalurgia (-1,8%).

Quadro 3: Produção Física Industrial de Santa Catarina, variação dos meses de 2020 em relação ao mesmo mês do ano anterior (2019), por seções e atividades industriais

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: Necat/UFSC

Considerações Finais

O desempenho do setor industrial em setembro reafirmou a tendência de retomada da produção, tanto no país como em Santa Catarina. Porém, essa retomada novamente se demonstrou tímida e num ritmo cada vez menor, comparativamente aos meses imediatamente posteriores a março e abril, quando os impactos da pandemia foram mais agudos. De um modo geral, é possível afirmar que tal comportamento pode estar relacionado a uma instabilidade da demanda e ao grau de incerteza que se vislumbra sobre o desempenho da economia brasileira em 2021.

No caso particular da Indústria de Santa Catarina destaca-se o fraco desempenho acumulado no ano, além da preocupante incapacidade de recuperação dos setores mais dinâmicos da planta industrial, especialmente os setores de veículos automotores, metalurgia e artigos de vestuário e acessórios. Neste sentido, os dados e informações publicados pela mais recente pesquisa do IBGE revelam uma forte conexão entre o panorama industrial do país e o desempenho catarinense, demonstrando que padece de qualquer fundamento o discurso que tenta nutrir a ideia de que em Santa Catarina existe atualmente uma economia suficientemente forte para garantir à indústria catarinense um patamar de autossuficiência.

Por isso entendemos que uma possível retomada dos níveis de produção aos patamares pré-crise e pré-pandemia nos próximos meses dependerá fortemente da atuação do governo federal e da administração estadual. Isto porque, sem políticas para o conjunto do setor, e em particular para aqueles setores mais impactados pela pandemia, dificilmente teremos uma retoma mais efetiva da produção industrial e, consequentemente, da própria economia do estado.


[1] Estudante de Economia na UFSC e Bolsista do NECAT. E-mail: matheusrosa.contato@outlook.com

[2] Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador Geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br