Recuperação de vagas no comércio dá fôlego para a continuidade da retomada do emprego formal em novembro

23/01/2021 14:44

Por: Maria Eduarda Munaro[1]

Dando sequência aos acompanhamentos mensais publicados no Blog do Necat, o objetivo deste texto é analisar o comportamento do mercado formal de trabalho do Brasil e de Santa Catarina em novembro de 2020, a partir dos resultados do Novo CAGED. Para tanto, serão analisados os saldos mensais e acumulados no ano do emprego formal por setor de atividade econômica, gênero, faixa etária e grupamento ocupacional dos trabalhadores.

De acordo com a Tabela 1, no mês de novembro o Brasil apresentou saldo de 414.556 vínculos formais de trabalho, enquanto em Santa Catarina foram geradas 33.004 novas vagas. Com isso, o Brasil acumulou saldo de 227.025 vínculos entre janeiro e novembro de 2020, o que representa uma variação de 0,6% no estoque de empregos formais. Em geral, o mercado formal de trabalho catarinense permanece seguindo as tendências nacionais, mas com ritmo de recuperação mais intenso. No acumulado do ano, Santa Catarina registrou uma variação de 3,2% no estoque de vínculos formais de trabalho, com saldo de 67.134 vagas.

Tabela 1 – Evolução mensal de estoque, admissões, desligamentos e saldo (Brasil e Santa Catarina, janeiro a novembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Evolução do emprego formal no Brasil

Conforme indicam os dados contidos na Tabela 2, o setor com o melhor resultado nacional em novembro foi o de serviços, que registrou saldo de 179.261 vínculos, com destaque para o grupamento de atividades administrativas e serviços complementares. Apesar do resultado de novembro, o acumulado do setor ainda permanece negativo em 98.348 vagas.

Tabela 2 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Brasil, novembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

O segundo melhor resultado do mês foi o do comércio, cujo saldo foi de 179.077 vínculos, puxado principalmente pelo comércio varejista. O setor mantém seu ritmo de recuperação acelerado, porém ainda apresenta perda de 53.835 vínculos no acumulado do ano.

Apesar do saldo expressivo de 51.457 vínculos em novembro, o ritmo de recuperação da indústria desacelerou em relação a outubro. Desde o início de 2020, o setor acumula 137.483 novos vínculos.

Já o setor da construção apresentou saldo de 20.724 vínculos no mês, retornando ao ritmo de crescimento assumido em 2019. No acumulado entre janeiro e novembro de 2020, a construção obteve o melhor resultado setorial, com crescimento de 157.881 vínculos.

Por fim, a agropecuária apresentou o pior resultado do mês, com saldo negativo de 15.353 vínculos. Com isso, o resultado do setor no acumulado do ano ficou em 85.587 novos vínculos.

A Tabela 3 apresenta o saldo de vínculos formais de trabalho por gênero no Brasil. O crescimento registrado em novembro foi levemente superior para as mulheres (220.294 vínculos) do que para os homens (194.262). No acumulado, no entanto, somente os homens recuperaram seus postos de trabalho perdidos, registrando saldo de 309.459 vínculos. No caso das mulheres, o resultado segue bastante negativo, ainda 82.434 vínculos abaixo do estoque registrado ao final de 2019.

Tabela 3 – Saldo por gênero (Brasil, novembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

As divergências na retomada dos vínculos formais também se manifesta no indicador de faixa etária, conforme os dados da Tabela 4. A faixa etária de 18 a 24 anos mantém o ritmo de aceleração observado nos meses anteriores, apresentando saldo de 197.957 vínculos em novembro. Com mais esse saldo expressivo, essa faixa já acumula 685.316 novos vínculos desde o início de 2020. Esse saldo chega a ser três vezes maior que o total de empregos gerados no período.

Tabela 4 – Saldo por faixa etária (Brasil, novembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Por outro lado, as faixas de 50 a 64 anos e 65 anos ou mais permanecem com saldos negativos, de 6.076 e 3.655, respectivamente. No acumulado do ano, apenas as três faixas etárias mais jovens (até 29 anos) apresentam saldos positivos, sendo que todas as demais ainda não conseguiram retomar os postos de trabalho perdidos na fase mais aguda da crise.

Dentre os grupamentos ocupacionais, somente os trabalhadores agropecuários, florestais e da pesca apresentaram saldo negativo no mês de novembro, com queda de 20.487 vínculos (Tabela 5). Os melhores saldos mensais ficaram por conta dos trabalhadores dos serviços, vendedores do comércio em lojas e mercados (174.641), trabalhadores de serviços administrativos (105.688) e trabalhadores da produção de bens e serviços industriais (100.188).

Tabela 5 – Saldo por grupamento ocupacional (Brasil, novembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Nos demais grupamentos o crescimento foi mais contido, com destaque para o saldo reduzido dos trabalhadores em serviços de reparação e manutenção (7.968 vínculos) e dos membros superiores do Poder Público, dirigentes de organizações de interesse público e de empresas e gerentes (4.564 vínculos). Esse último grupamento segue com resultado negativo no entre janeiro e novembro de 2020 (-57.691). Tal déficit só não é maior do que o registrado entre os trabalhadores de lojas e mercados (-309.523), que seguem muito abaixo do nível auferido ao final de 2019.

Evolução do emprego formal em Santa Catarina

Conforme ocorrido no conjunto do país, em Santa Catarina o setor que apresentou o melhor resultado em novembro foi o de serviços, como apresentado na Tabela 6. Os 11.997 novos vínculos gerados no setor contaram com importante contribuição das atividades administrativas e serviços complementares, além dos serviços de alojamento e alimentação. Com isso, os serviços acumulam saldo de 21.397 vagas desde o início de 2020.

Tabela 6 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Santa Catarina, novembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

O segundo melhor resultado foi do comércio, com saldo de 11.790 vínculos em novembro. Tal saldo contribuiu para tornar o resultado acumulado do ano no setor positivo, com 2.510 vínculos. Como o comércio era o único setor que ainda permanecia deficitário até a divulgação passada, os resultados de novembro indicam que todos os macro setores do mercado de trabalho catarinense recuperaram o volume de empregos formais perdidos ao longo de 2020.

Em seguida, aparece a indústria, com saldo de 8.154 vínculos no mês. No acumulado do ano, o setor permanece com o melhor resultado (36.473 vínculos), principalmente em razão do bom desempenho dos ramos produtores de alimentos, material plástico, madeira e móveis.

Já os setores de agropecuária e construção apresentaram crescimentos tímidos em novembro, com variação de 759 e 304 vínculos, respectivamente. No acumulado, agropecuária e construção cresceram em 1.482 e 5.272 vínculos, respectivamente.

Conforme a Tabela 7, as vagas geradas em novembro foram bem distribuídas entre homens (16.247) e mulheres (16.757). No entanto, Santa Catarina também manifesta a tendência de concentração da recuperação dos empregos formais entre os homens, uma vez que, no acumulado do ano, eles apresentaram saldo de 41.158 vínculos (61,3% de participação no total) frente à geração de 25.976 vínculos (38,7% do total) no caso das mulheres.

Tabela 7 – Saldo por gênero (Santa Catarina, novembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Quanto à faixa etária, a Tabela 8 indica que o emprego formal também segue se concentrando entre os mais jovens no estado. Em novembro, a faixa de 18 a 24 anos liderou novamente, apresentando saldo de 12.705 vínculos. Com isso, já são 48.472 novas vagas geradas nessa faixa desde o início de 2020, o que equivale a 72,2% do saldo total registrado no período.

Tabela 8 – Saldo por faixa etária (Santa Catarina, novembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

O pior resultado mensal permanece na faixa de 65 anos ou mais, com saldo negativo de 119 vínculos. Ao contrário do que ocorre com os mais jovens, o resultado acumulado segue deficitário em todas as faixas superiores aos 40 anos de idade.

De acordo com a Tabela 9, os melhores saldos por grupamento ocupacional em novembro foram dos trabalhadores dos serviços, vendedores do comércio em lojas e mercados (11.596), trabalhadores da produção de bens e serviços industriais (10.808) e trabalhadores de serviços administrativos (6.817). Os demais grupamentos também apresentaram crescimento, todavia em volume menor. Os menores saldos ficaram por conta dos profissionais das ciências e das artes e dos membros superiores do Poder Público, dirigentes de organizações de interesse público e de empresas e gerentes, com ampliação de 336 e 274 vínculos, respectivamente.

Tabela 9 – Saldo por grupamento ocupacional (Santa Catarina, novembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

No acumulado do ano, os trabalhadores da produção de bens e serviços industriais apresentaram o maior saldo, de 49.854 vínculos. Esse resultado equivale a 74,3% de todos os empregos formais gerados no período. Já o pior resultado ficou com os trabalhadores dos serviços, vendedores do comércio em lojas e mercados, que, apesar de apresentarem o melhor resultado do mês, acumularam perda de 9.724 vagas no ano.

Na Tabela 10, foram agregados os resultados municipais de acordo com as seis mesorregiões geográficas que compõem o território catarinense. Esses dados revelam que todas as regiões apresentaram crescimento, tanto no mês, como no acumulado do ano. Os maiores saldos de novembro localizaram-se no Vale do Itajaí (10.197 vínculos), na Grande Florianópolis (6.621) e no Norte (5.996). Logo abaixo, vêm as regiões Sul (4.556) e Oeste (4.541). O pior desempenho foi também o da região menos populosa, a Serrana (1.093).

Tabela 10 – Saldo por mesorregião (Santa Catarina, novembro de 2020)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Em que pese a recuperação registrada no último mês da série, é importante registrar que a Grande Florianópolis permanece praticamente estagnada no acumulado do ano, registrando saldo de apenas 1.521 vínculos. Esse resultado deve-se em grande medida à recuperação tardia observada em seus principais municípios, Florianópolis e São José. Embora supere a região da capital, a mesorregião serrana também apresentou baixo crescimento, com aumento de 2.314 empregos formais. Puxada pela indústria de alimentos, a mesorregião Oeste apresentou o melhor resultado do período, abrindo 24.191 vagas. Completando o quadro, aparecem Vale do Itajaí (16.138), Norte (14.570) e Sul (8.400).

Em linhas gerais, os municípios que apresentaram melhores resultados em novembro são aqueles cuja participação dos setores de comércio e serviços é maior na estrutura do emprego formal. Como é essa a composição da maioria dos municípios, os maiores saldos se apresentaram nos municípios de maior porte. Isso também explica os piores resultados no acumulado do ano, já que os setores de comércio e serviços ainda se encontram com saldos não muito expressivos.


[1] Estudante de Economia na UFSC e bolsista no NECAT.