Recuperação do setor de serviços em Santa Catarina nos primeiros oito meses de 2020 foi incapaz de reverter as perdas sofridas na pandemia

28/10/2020 10:00

Por: Mateus Victor Fronza *Lilian de Pellegrini Elias ** e Lauro Mattei ***

A série histórica do setor de serviços se inicia em 2018 com o objetivo de mostrar a forte oscilação provocada pela greve dos caminhoneiros que ocorreu no primeiro semestre de 2018. Tal episódio, apesar de ter tido uma curta duração, provocou efeitos expressivos sobre o Produto Interno Bruto (PIB) daquele ano. Já a pandemia da COVID-19 provocou efeitos abruptos e profundos entre os meses de março e maio, conforme pode ser observado por meio do Gráfico 1. Tal figura também revela que o processo de recuperação das perdas é bastante lento, sendo que no mês de agosto o índice ainda se encontrava cinco pontos abaixo do valor observado no mês de janeiro de 2020.

Gráfico 1: Volume de serviços (índice base fixa com ajuste sazonal, 2018=100)

pms sc

 Fonte: PMS (2020); Elaboração: Necat/UFSC

No caso particular de Santa Catarina observou-se uma leve tendência de crescimento no período posterior à greve dos caminhoneiros (maio de 2018) até os primeiros meses de 2019. A partir de então, houve momentos de grandes oscilações do setor no estado até o ápice obtido em dezembro de 2019, quando o índice praticamente se iguala ao verificado em dezembro de 2018. A partir daí teve início uma trajetória descendente do setor de serviços no estado de forma semelhante àquela observada no país. Portanto, o processo de desaceleração do setor serviços já estava em curso antes mesmo do início da pandemia, podendo ser explicado pela acomodação em relação aos avanços apresentados nos últimos meses de 2019.

Do ponto de vista específico da pandemia, nota-se que o comportamento dos serviços revela os efeitos decorrentes das medidas adotadas para o controle da crise sanitária a partir de março, as quais tiveram maior incidência até o mês de abril, quando o índice caiu para 83 pontos. Com a flexibilização das regras de isolamento social a partir do mês de maio, o estado passou a apresentar resultados mensais positivos, porém lentos e incapazes de compensar as perdas ocorridas durante os meses de restrições sociais. Com isso, no mês de agosto o setor ainda se encontrava em um patamar ligeiramente inferior ao verificado no mês de fevereiro e antes mesmo do início da pandemia.

O desempenho do setor de serviços também pode ser analisado por meio do Quadro 1, que apresenta as variações mensais entre os meses de janeiro e agosto de 2020, e do Quadro 2, que apresenta uma comparação com o país. Após o mês de janeiro apresentar estabilidade comparativamente ao mês anterior (0,1%), fevereiro, março e abril apresentaram resultados negativos, sendo que em abril houve o maior decréscimo de todo o ano (-13,5%).

Quadro 1: Variação (%) do volume de serviços em Santa Catarina (janeiro a agosto de 2020)

Quadro 1

Fonte: PMS 2020 (IBGE)
Nota 1 – Base: mês imediatamente anterior – com ajuste sazonal 
Nota 2 – Base: igual mês do ano anterior 
Nota 3 – Base: igual período do ano anterior 
Nota 4 – Base: 12 meses anteriores

Após esse período, de março a abril, de fortes quedas, o mês de maio apresentou uma variação positiva de 7,5%, enquanto o país apresentou uma variação ligeiramente negativa (-1,2%). Todavia, ao se considerar essas informações em relação ao mesmo mês do ano anterior, verifica-se que a variação negativa ocorrida em Santa Catarina (-18,7%) foi maior que aquela apresentada pelo conjunto do país (-19,3%). Quando se considera o acumulado do ano com igual período do ano anterior, nota-se que no período de janeiro a maio a variação negativa novamente foi maior em Santa Catarina (-8,6%), comparativamente ao conjunto do país (-7,6%). Além disso, quando se considera o mês de maio em relação aos últimos 12 meses anteriores, observa-se que a variação negativa de Santa Catarina (-4,0%) também foi superior à varia negativa do país (-2,6%).

Todavia, essa recuperação ensaiada no mês de maio não teve o mesmo fôlego nos meses seguintes, quando houve crescimento ao redor de 3%. Porém, quando se considera esses resultados com os períodos anteriores os resultados ainda são todos negativos. Assim, tomando-se o mês de agosto como referência, verifica-se que a variação nesse mês em relação ao mesmo mês do ano anterior, nota-se que Santa Catarina apresentou uma variação negativa de 4,0%, enquanto a variação do conjunto do país foi de -10,0%.

Quadro 2: Comparação da variação (%) do volume de serviços em Santa Catarina e do Brasil (agosto de 2020)

Quadro 2

Fonte: PMS 2020 (IBGE)
Nota 1 – Base: mês imediatamente anterior – com ajuste sazonal
Nota 2 – Base: igual mês do ano anterior
Nota 3 – Base: igual período do ano anterior
Nota 4 – Base: 12 meses anteriores

Quando se considera o acumulado do ano com igual período do ano anterior, nota-se que no período de janeiro-agosto a variação negativa foi ligeiramente inferior em Santa Catarina (-7,9%), comparativamente ao conjunto do país (-9%). No entanto, quando se considera a variação acumulada no mês de agosto em relação aos últimos 12 meses, observa-se que a variação negativa de Santa Catarina (-5,6%) foi superior à variação negativa do país (-5,3%).

Os dados referentes ao volume de serviços de Santa Catarina por atividades podem ser observados por meio do Quadro 3. Como registrado anteriormente, a variação do mês de agosto em relação ao mesmo mês do ano anterior foi negativa em 4%. Dentre as diversas atividades de serviços, destaca-se que os “Serviços prestados às famílias” apresentaram uma variação negativa da ordem de 34,5% quando esse resultado é comparado ao igual mês do ano anterior. Porém, quando se considera o acumulado de janeiro a agosto em relação ao mesmo período do ano anterior, nota-se que a variação negativa ficou em 28,6%. Por fim, o resultado de agosto em relação aos doze meses anteriores foi de -19,2%.

Já a atividade de “Transportes, serviços auxiliares de transportes e correio” apresentaram um resultado negativo da ordem de 2,3% em agosto quando comparado ao igual mês do ano anterior. Quando se considera o acumulado entre janeiro e agosto em relação ao mesmo período do ano anterior, verifica-se que a queda foi de 5,3%.

Quanto às atividades de “Serviços profissionais, administrativos e complementares”, nota-se que apresentaram um resultado positivo em agosto da ordem de 20,7% quando comparado ao igual mês do ano anterior. Quando se considera o acumulado no período janeiro a agosto, verifica-se estabilidade, com variação positiva de 1,1% em relação ao mesmo período do ano anterior. Por fim, o resultado até agosto em relação aos últimos doze meses anteriores foi de estabilidade, com variação positiva de 0,4%.

Quadro 3: Variação (%) das atividades de serviços em Santa Catarina, 2020

Quadro 3

Fonte: PMS 2020 (IBGE)
Nota 1 – Base: igual mês do ano anterior
Nota 2 – Base: igual período do ano anterior
Nota 3 – Base: 12 meses anteriores

A atividade de “serviços de informação e comunicação” apresentou resultados negativos em todas as comparações, destacando-se que o resultado no mês de agosto em relação ao mesmo mês do ano anterior foi negativo, da ordem de -7,9%, enquanto no acumulado de 2020 em relação ao mesmo período do ano anterior foi negativo em mais de 9%. Embora os subsetores dessa atividade não sejam apresentados pelo IBGE, é bem provável que no estado de Santa Catarina os subsetores que estão provocando essas quedas sejam praticamente os mesmos observados no conjunto do país.

Considerações finais

No caso particular de Santa Catarina, apesar de apresentar uma variação positiva de 3,4% no mês de agosto em relação ao mês anterior, deve-se registrar que quando se compara esse mês em relação ao mesmo mês do ano anterior, observa-se um resultado negativo da ordem de 4,0%. Além disso, o acumulado de janeiro a agosto de 2020 em relação ao mesmo período do ano anterior é de -7,9%.

Quando se observa o desempenho no estado das atividades de serviços verificam-se dois movimentos distintos. Por um lado, as atividades “Serviços prestados às famílias” e “Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio” continuaram apresentando resultados negativos, tanto em relação ao mês anterior como no acumulado do ano. Por outro, apenas as atividades “Serviços profissionais, administrativos e complementares” apresentaram resultados positivos, tanto no comparativo com o mesmo mês do ano anterior como no comparativo do acumulado de janeiro e agosto de 2020 em relação ao mesmo período do ano anterior.

Esses dados, portanto, não explicitam nenhuma reação mais consistente da atividade de serviços também no estado de Santa Catarina, uma vez que todas as comparações metodológicas definidas pela PMS são amplamente desfavoráveis ao desempenho atual desse setor no estado, o que poderá impactar negativamente na composição do PIB do ano de 2020.

Texto publicado em 28 de outubro e atualizado em 2 de novembro de 2020


* Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat/UFSC. Email: mateusvfronza@gmail.com.

** Economista com doutorado em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp. Pesquisadora do NECAT-UFSC. Email: lilianpellegrini@gmail.com

*** Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador Geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br