Santa Catarina detém a 4ª menor porcentagem da população vacinada no país

09/02/2021 00:32

Por: Lauro Mattei [1] 

Após muitas incertezas sobre o controle da pandemia provocada pelo novo coronavírus, o ano de 2021 trouxe uma luz com o início da vacinação da população brasileira, apesar de todas as ações desastrosas do governo federal, especialmente na esfera da saúde pública. Em grande parte, essa “luz no final do túnel” se deve ao trabalho fundamental de dois órgãos públicos que historicamente têm contribuído na busca de solução para todas as pandemias que afetaram o país: Instituto Butantan e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).


No dia 17.01.2021 foi aplicada a primeira dose de vacina em São Paulo, sendo que nos dias seguintes foi iniciado o Plano Nacional de Imunização (PNI) em todo o país. Santa Catarina aplicou a primeira dose no dia 18.01.2021. Desde então a campanha está em curso no estado, porém num ritmo muito aquém do desejado, conforme mostraremos na sequência.

A tabela 1 apresenta a evolução das doses aplicadas apenas nos estados com aplicação inferior à Santa Catarina. Neste caso, nota-se que SC está em 16° lugar dentre as unidades da federação que menos aplicaram doses da vacina até o presente momento. Registre-se que nesse grupo figuram unidades da federação que possuem dificuldades bem maiores para a execução dessa importante tarefa, sobretudo os estados da região Norte e Centro-Oeste, dadas as dimensões geográficas, a própria diversidade da composição populacional e as debilidades na infraestrutura de saúde pública.

Tomando-se como referência a região Sul, cujas características são muito semelhantes nas três unidades federativas, nota-se uma disparidade muito grande entre os números obtidos pelos estados do Paraná (212.935 doses aplicadas) e Rio Grande do Sul (231.768 doses), comparativamente ao desempenho de Santa Catarina após 20 dias do início da vacinação. Isso mostra que o ritmo da vacinação no estado catarinense é muito lento, podendo ter consequências sobre a duração da pandemia, conforme comentaremos mais adiante.

Tabela 1:Doses da vacina por estados que menos aplicaram até 08.02.2021

tabela_1_LM_09_02_21

A tabela 2 apresenta a evolução da vacinação em diversos estados, segundo o percentual da população atingida. Esse é o indicar mais relevante no combate de qualquer pandemia, uma vez que já está cientificamente comprovado que ao se promover a imunidade de 70% da população as chances de se manter a doença sob controle são efetivas. No âmbito geral do país, até o momento foi atingido o percentual de 1,79% da população, patamar que pode ser considerado muito baixo diante da gravidade da situação epidêmica em curso.

Com o avançar do processo de imunização da população, vemos que as diferenças regionais se explicitam diante da grande diversidade geográfica do país, bem como das próprias distinções entre as infraestruturas dos serviços públicos de saúde. Neste caso, chama atenção o baixo percentual de cobertura da população catarinense até o momento, uma vez que o estado figura entre as oito unidades da federação com os menores percentuais de cobertura, ao se juntar com estados que geograficamente possuem dificuldades muito maiores para executar o plano geral de imunização. No momento, Maranhão e Santa Catarina estão empatados no 4º lugar no ranking nacional com as menores porcentagens da população vacinada.

No sentido oposto, vemos que estados como Roraima (2,36%), Amazonas (3,03%) e Mato Grosso do Sul (2,62%), obtiveram bons avanços, mesmo em condições totalmente adversas, comparativamente ao estado catarinense.

Tabela 2: Percentual de aplicação sobre a população de estados em 08.02.2021

tabela_2_LM_09_02_21

A tabela 3 apresenta a proporção de doses aplicadas por 100 mil habitantes nos dez estados com as menores proporções. Novamente vemos que a maioria dos estados da região Norte, diante das condições geográficas e estruturais, faz parte do ranking nacional com as menores proporções de doses aplicadas a cada 100 mil habitantes.

Já Santa Catarina encontra-se atualmente no sexto lugar do ranking nacional com as menores proporções, indicando que o ritmo de vacinação da população catarinense é muito lento.

Essa situação catarinense é mais gritante quando se compara com os demais estados da região Sul. Neste caso, vemos que a proporção do Paraná é de 17.219 para cada 100 mil habitantes, enquanto no Rio Grande do Sul é de 20.210 doses para a mesma proporcionalidade. Esse é mais um indicador que revela o ritmo extremamente lento da vacinação em Santa Catarina.

Tabela 3: Estados com menores proporções de doses aplicadas a cada 100 mil habitantes até 07.02.2021

tabela_3_LM_09_02_21

Observações Finais

Nesse artigo apenas se constatou aquilo que já se previa diante dos equívocos e incertezas em relação ao Plano Nacional de Imunização (PNI), uma vez que o mesmo prescinde de um elemento central: ter vacinas disponíveis e em quantidades suficientes. Em função disso, o processo de vacinação torna-se lento, sendo que em muitos municípios de diversas unidades da federação as vacinas já se esgotaram em menos de 20 dias.

No âmbito nacional, estima-se que existem 40 mil salas de vacinação disponíveis, o que poderia resultar em mais de 1 milhão de pessoas vacinadas diariamente, como já ocorreu em campanhas massivas anteriormente. Como até o momento foi vacinada apenas 1,79% da população, a persistir o ritmo atual, a meta de imunizar 70% da população só será atingida em 2024.

Da mesma forma, ao se manter o ritmo atual de vacinação em Santa Catarina, seriam necessários mais 1.138 dias para imunizar 70% da população, de tal forma a impedir a continuidade da contaminação pelo novo coronavírus, ou seja, três anos e dois meses. As consequências econômicas e sociais dessa lentidão poderão ser bastante negativas para o futuro da sociedade catarinense.


 [1] Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador Geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br