Santa Catarina gera 13,6 mil empregos formais em maio, mas apenas 24% recebem mais que dois salários mínimos

15/07/2021 17:00

Por: Victor Hugo Azevedo Nass[1]

Dando sequência aos acompanhamentos mensais publicados no blog do NECAT, o objetivo deste texto é analisar o comportamento do mercado formal de trabalho do Brasil e de Santa Catarina em maio de 2021, a partir dos resultados do Novo CAGED[2]. Para isso, serão analisados os saldos mensais e as variações relativas do emprego formal por grupamento de atividade econômica, gênero, escolaridade, faixa de remuneração e mesorregião geográfica.

De acordo com a Tabela 1, em maio o Brasil apresentou saldo positivo de 280.666 vínculos formais de trabalho, registrando alta de 0,7%. Já Santa Catarina criou 13.587 vínculos no mesmo período, com variação mensal de 0,6%. Com isso, ambas as regiões mantêm o ritmo de crescimento visto no mês anterior.

Tabela 1 – Evolução mensal de estoque, admissões, desligamentos, saldo e variação percentual (Brasil e Santa Catarina, maio a maio de 2021)

T1 CAGED

Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

No acumulado de 12 meses[3], o Brasil gerou 2.583.181 novos postos formais de trabalho, o que representa uma variação de 6,8% no estoque de empregos formais. O mercado formal de trabalho catarinense seguiu as tendências nacionais durante todo o período analisado, mas continua apresentando um ritmo de geração de vagas mais intenso. O estado acumulou uma variação de 10,8% entre maio de 2020 e de 2021, com saldo de 222.245 vagas. Em grande medida, essas taxas elevadas se devem ao fato de que os estoques estavam muito baixos durante o mesmo período em 2020, por conta da fase mais aguda da crise da Covid-19.

Evolução do emprego formal no Brasil

Conforme os dados contidos na Tabela 2, o setor com melhor desempenho no país em maio, em valores absolutos, foi novamente o de serviços. Seu saldo foi de quase 111 mil vínculos, sendo puxado principalmente pelas contratações nos subsetores de: Atividades Administrativas e Serviços Complementares (26.920); saúde humana e serviços sociais (16.459 vagas); e Atividades Profissionais, Científicas e Técnicas (14.733). Em termos relativos, os serviços tiveram alta mensal de 0,6% e de 4,6% no acumulado de 12 meses.

Tabela 2 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Brasil, maio de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC

Em termos relativos, a construção obteve o melhor desempenho no acumulado em 12 meses, com crescimento de 15%. Seu saldo em maio foi de 22.617 vínculos, o que corresponde a uma alta de 0,9% no mês. Esse resultado foi bem distribuído entre os seus subsetores.

Quanto à variação mensal, a agropecuária obteve o melhor desempenho, registrando alta de 2,5% em maio. Esse crescimento equivale a um saldo de 42.526 vínculos, sendo puxado principalmente pela colheita do café e da laranja, com saldos de 13.644 e 9.090 postos formais de trabalho, respectivamente. No acumulado de 12 meses, o setor corresponde ao segundo melhor crescimento, com alta de 9,5%.

A indústria criou 44.146 empregos formais em maio, com saldos bem distribuídos entre seus subsetores, mas com destaque para os subgrupos de: fabricação de produtos alimentícios (8.543); fabricação de máquinas e equipamentos (4.074); e fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (3.456). Tomado em seu conjunto, o crescimento do setor industrial foi de 0,6% no mês, e de 8,8% em comparação com o estoque de maio de 2020.

O setor de comércio gerou 60.480 vínculos formais de trabalho em maio, o que representou um crescimento de 0,6%. Esse resultado esteve muito concentrado no segmento varejista, que é o maior do setor. No acumulado de um ano, o comércio registrou crescimento de 7,2%.

A Tabela 3 apresenta o saldo de vínculos formais de trabalho por sexo no Brasil. O resultado de maio foi positivo em 76.207 vínculos para os homens e em 40.216 vínculos para as mulheres, ou seja, 2/3 dos postos gerados foram ocupados por homens. Essa concentração se reafirma no acumulado de 12 meses, onde praticamente a mesma proporção de vagas entre os sexos se repete.

Tabela 3 – Saldo por sexo (Brasil, maio de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC

A Tabela 4 apresenta a distribuição do emprego formal por nível de escolaridade. Em maio, mais de 60% dos postos formais de trabalho criados (179.466) foram ocupados por pessoas que têm ensino médio completo. Embora em menor medida, outro nível de escolaridade que teve crescimento considerável foi o superior completo, com 30.559 novas vagas. No acumulado de 12 meses, é notável que a retomada do emprego foi puxada principalmente por vagas para ensino médio completo (1.995.646).

Tabela 4 – Saldo por nível de escolaridade (Brasil, maio de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC

A Tabela 5 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em maio de 2021, foram criadas 246.125 vagas com remuneração entre 1 a 2 salários mínimos, que corresponde a quase 90% do saldo mensal. A faixa de 2 a 3 salários mínimos também registrou crescimento, porém mais contido, de 18.0332 vagas. Nas duas extremidades da pirâmide de renda, a faixa de até meio salário mínimo e a de mais de 5 salários mínimos tiveram saldos muito parecidos, com 11.955 e 12.447 novas vagas, respectivamente. A única faixa que registrou queda no mês foi a de meio a 1 salário mínimo, com um saldo negativo em 15.504 postos formais de trabalho. No acumulado de 12 meses, observa-se que a faixa entre 1 e 2 salários mínimos (2.571.191) representou quase a totalidade das vagas geradas, revelando uma tendência de concentração do emprego formal nessa faixa salarial.

Tabela 5 – Saldo por faixa de remuneração (Brasil, maio de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC

Nota: Faixas de remuneração em salários mínimos de 2021 (R$ 1.100)

Evolução do emprego formal em Santa Catarina

De acordo com os dados da Tabela 6, o principal responsável pelo crescimento do emprego formal em Santa Catarina em maio de 2021 foi o setor de serviços, que registrou saldo de 5.355 vínculos e variação relativa de 0,6%. O resultado mensal foi puxado pelos subsetores de: informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (2.585 vagas); e administração pública, defesa, seguridade social, educação e saúde humana e serviços sociais (1.220 vagas). Tais números indicam que o setor público tem sido responsável por grande parte dos empregos formais gerados no estado nos últimos meses. Quando se considera o acumulado de 12 meses, o  setor de serviços fechou com um crescimento bastante expressivo, de 9,7%.

Tabela 6 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Santa Catarina, maio de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC

A construção obteve novamente o maior crescimento relativo do mês, com uma alta de 1,1% e saldo de 1.358 vínculos. Esse crescimento concentrou-se no subsetor de serviços especializados para construção (eletricistas, encanadores, pintores, etc), que abriu 730 vagas. No acumulado de um ano o setor teve um aumento de 11,3% no número de empregos formais.

A indústria catarinense criou 4.360 novos vínculos formais de trabalho no mês, o que lhe conferiu uma alta de 0,6%. Esse resultado foi bem distribuído dentro da indústria de transformação, com pequenos destaques aos subsetores de: fabricação de máquinas e equipamentos (606);  fabricação de produtos de madeira (598); confecção de artigos do vestuário e acessórios (482); e fabricação de máquinas, aparelhos e aparelhos elétricos (426). No acumulado em 12 meses, o setor industrial tem o maior crescimento do estado, com 13,4% de aumento no emprego formal.

O comércio registrou um crescimento de 0,6% em maio, com criação de 2.934 vínculos. Cerca de metade desses vínculos estão concentrados no setor varejista, que apresentou um saldo de 1.735 vagas. Em 12 meses, o crescimento do setor comercial foi de 9,5%.

Pelo segundo mês consecutivo o setor agropecuário registrou queda (-420 vagas, equivalente a uma retração de 1%). Essa queda ainda reflete o fim da safra da maçã, cultivo este que havia gerado um grande volume de vagas temporárias nos meses iniciais do ano e que fechou 303 postos formais de trabalho em maio. Com isso, a agropecuária registrou o menor crescimento setorial no acumulado de 12 meses, da ordem de 4,1%.

Conforme a Tabela 7, 7.410 das vagas abertas em maio foram ocupadas por homens e 6.177 por mulheres. O saldo de 12 meses também apresenta uma leve concentração nos vínculos masculinos, que tiveram saldo de 118.115 vagas, face às 104.130 vagas femininas.

Tabela 7 – Saldo por sexo (Santa Catarina, maio de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC

Conforme indicam os dados contidos na Tabela 8, mais da metade dos empregos gerados em maio de 2021 foram ocupados por trabalhadores com ensino médio completo (8.804 vagas). Além disso, destaca-se o bom desempenho nas faixas com ensino médio completo (1.662 novos vínculos) e ensino superior completo (1.292). No acumulado de 12 meses, segue a tendência de concentração do emprego na faixa de ensino médio completo, cujo saldo de 142.485 vínculos representa cerca de 2/3 do total de vagas geradas no período. Em seguida, aparece a faixa de ensino médio incompleto (29.272).

Tabela 8 – Saldo por nível de escolaridade (Santa Catarina, maio de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC

A Tabela 9 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em maio, 9.327 vagas formais foram criadas na faixa entre 1 e 2 salários mínimos, que concentrou 2/3 do saldo mensal. Além disso, parte expressiva do saldo mensal também localizou-se na faixa de meio a 1 salário mínimo (1.006), indicando uma grande presença de trabalhos parciais entre as contratações. Dentre as demais faixas de renda, apenas a de 2 a 3 salários mínimos também teve um crescimento considerável, de 2.126 vagas. Nesse sentido, chama a atenção que, do total de postos de trabalho gerados no mês, apenas 24% recebiam mais do que 2 salários mínimos.

Com relação ao acumulado de 12 meses, percebe-se que Santa Catarina tem um comportamento muito similar ao visto nacionalmente, com um crescimento das vagas extremamente concentrado na faixa entre 1 e 2 salários mínimos (197.426 vagas), que corresponde a quase 90% do saldo total.

Tabela 9 – Saldo por faixa de remuneração (Santa Catarina, maio de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC

Com relação à distribuição mesorregional dos empregos formais (Tabela 10), podemos observar que a região do Vale do Itajaí apresentou o melhor desempenho em maio, em termos absolutos. Puxado pelo bom desempenho do setor de serviços e da indústria, a região registrou alta da ordem de 0,7%, correspondente ao saldo de 4.221 novos postos formais de trabalho. Em 12 meses, o Vale do Itajaí acumula um crescimento de 12%.

Tabela 10 – Saldo por mesorregião (Santa Catarina, maio de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC

O segundo melhor desempenho mensal ficou por conta da Grande Florianópolis, que registrou alta de 0,7%, que corresponde a um saldo de 2.836 vagas. Em grande medida, esse resultado se deve ao desempenho do setor de serviços – que tem uma forte presença na região -, com destaque para as atividades relacionadas à informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas. No acumulado de 12 meses, a Grande Florianópolis apresenta um crescimento de 8,9%.

A região Norte apresentou um crescimento mensal da ordem de 0,5%, com 2.120 vagas criadas em maio. Esse saldo é sustentado principalmente pelo bom desempenho da indústria da região, destacadamente nos segmentos metal-mecânico e elétrico. Em relação ao desempenho em 12 meses, a região Norte também acumula um crescimento de 12%.

Em que pese o bom desempenho do Vale do Itajaí e do Norte Catarinense, a região Sul permanece com o melhor crescimento acumulado em 12 meses, registrando alta de 12,5%. Essa tendência foi reforçada em maio, mediante a geração de 1.836 novas vagas, correspondentes a uma variação mensal de 0,6%. As indústrias cerâmica e de material plástico, bem como os setores de serviços e de comércio são os principais responsáveis pelos expressivos saldos observados na região.

O Oeste Catarinense obteve um saldo de 2.337 vagas em maio, uma alta de 0,6% no seu estoque de empregos formais. Os principais determinantes desse desempenho são o crescimento da indústria e dos serviços, por um lado, e a queda no emprego agropecuário, por outro. Em relação aos últimos 12 meses, a região obteve um crescimento de 9,5%, concentrado na indústria de alimentos.

A região Serrana voltou a crescer depois de dois meses de perdas. Sobretudo em razão da criação de empregos na indústria madeireira, a região registrou um saldo de 237 postos formais de trabalho e uma leve alta de 0,3% em maio. No acumulado de 12 meses, a região apresenta alta de 7,4%, sendo este o menor resultado entre as mesorregiões catarinenses.

Em síntese, os dados de maio indicam que o emprego formal em Santa Catarina continua em expansão, porém com a menor intensidade que já havia sido vista em abril. Os setores da indústria e de serviços tiveram papel muito importante nesse processo, apresentando taxas de crescimento semelhantes à média nacional, mesmo que proporcionalmente diferentes entre si, devido à concentração do mercado formal de trabalho nos serviços a nível nacional. Quanto ao caráter dos empregos gerados, destaca-se a forte presença de vagas com remuneração na faixa entre 1 e 2 salários mínimos e de baixa qualificação da mão-de-obra.


[1] Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat.

[2] Todos os dados apresentados neste texto foram coletados junto à base de dados do Ministério da Economia em 1º de julho de 2021. Em razão das declarações fora do prazo e das revisões periódicas da base de dados, os dados podem divergir ligeiramente dos divulgados nas análises anteriores.

[3] A variação acumulada em 12 meses refere-se ao crescimento do estoque de empregos formais entre maio de 2020 e maio de 2021.