Santa Catarina perdeu 163 mil postos de trabalho no 1º semestre de 2020

16/09/2020 11:56

Por: Vicente Loeblein Heinen[1] e Lauro Mattei[2]

Em texto anterior mostramos que a crise associada à pandemia provocada pelo novo coronavírus afetou intensamente os principais indicadores do mercado de trabalho catarinense já no 1º trimestre de 2020, quando houve a perda de 62 mil postos de trabalho. Recentemente, o IBGE divulgou os resultados regionais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) relativos ao 2º trimestre de 2020, o que permite contextualizar o cenário estadual no período mais agudo da pandemia no país, contemplando todo o primeiro semestre de 2020.

No conjunto do país a taxa de desocupação atingiu 13,3% no trimestre compreendido entre abril e junho, registrando variação interanual de 1,5 ponto percentual (p.p.). Em Santa Catarina, essa taxa ficou em 6,9%, de modo que o estado se manteve com o menor índice de desemprego dentre todas as unidades da federação. Apesar disso, os impactos da pandemia no mercado de trabalho catarinenses não foram menos graves. No 2º trimestre de 2020, a taxa de desocupação estadual subiu 1,1 p.p. com relação ao trimestre anterior, e 1,2 p.p. com relação ao mesmo trimestre de 2019 (Gráfico 1).

Gráfico 1 – Taxa de desocupação, Brasil e Santa Catarina (2017-2020, em %).

G1set

Fonte: PNADC/T (2020); Elaboração: Necat/UFSC.

Em que pese a importância geralmente dada ao comportamento da taxa de desocupação, esse indicador diz pouco sobre o atual cenário do mercado de trabalho brasileiro, sobretudo em razão das oscilações inéditas na procura por trabalho. Em Santa Catarina, tanto a adoção de medidas de distanciamento social mais rígidas como sua posterior “flexibilização”, começaram antecipadamente em relação às demais unidades da federação. Dessa forma, houve uma defasagem importante na fase mais aguda de demissões, bem como na fase em que a população voltou a procurar trabalho, conforme podemos observar a partir das informações contidas no Gráfico 2.

Gráfico 2 – Taxas de crescimento trimestral da população ocupada, desocupada e da força de trabalho, série com ajustes (2017-2020, em %).

G2set

Fonte: PNADC/T (2020); Elaboração: Necat/UFSC.

Em comparação com a média nacional, a queda nas ocupações em Santa Catarina foi mais severa em março, mas relativamente menos intensa nos meses seguintes, a despeito da continuidade do cenário adverso. Descontados os efeitos sazonais, a população ocupada no estado caiu 1,6% no 1º trimestre de 2020 e 3,1% no 2º trimestre. No Brasil, essas retrações foram de 0,8% e 10,3%, respectivamente, representando a perda de aproximadamente 10 milhões de postos de trabalho.

Ainda que tenha fechado relativamente menos vagas comparativamente à média nacional, Santa Catarina perdeu cerca de 110 mil postos de trabalho no 2º trimestre de 2020. Somando essas perdas àquelas registradas no 1º trimestre (basicamente em março), já foram fechadas 163 mil vagas no estado. Para se ter noção da dimensão dessa queda, é importante registrar que essas perdas são quatro vezes maiores daquelas acumuladas no biênio 2015-2016, ou seja, no período mais intenso da recente crise econômica nacional.

Diante desse cenário, grande parte dos trabalhadores catarinenses que foram demitidos voltaram a procurar emprego no mesmo trimestre, de modo que a população desocupada[3] cresceu 18% em relação ao trimestre anterior. Com isso, 257 mil catarinenses estiveram desocupados no 2º trimestre, o que representa um aumento de 37 mil pessoas em relação ao trimestre anterior, descontados os efeitos sazonais.

Tal fenômeno, entretanto, não foi observado no conjunto do Brasil, uma vez que a perda de empregos ainda não se refletiu em um grande aumento da procura por trabalho. Em função disso, a população desocupada no país cresceu relativamente menos (2,3%), aumentando em 284 mil pessoas em relação ao trimestre anterior.

Dessa forma, no 1º trimestre de 2020 a população na força de trabalho decresceu 1,7% em Santa Catarina, mas permaneceu praticamente estável na média nacional. Já no 2º trimestre, a queda na força de trabalho foi muito mais intensa no Brasil (-8,8%), comparativamente a Santa Catarina (-1,9%).

Considerando a série com ajustes sazonais, estima-se que aproximadamente 140 mil catarinenses saíram do mercado de trabalho desde o início do ano. Isso fez com que a taxa de participação na força de trabalho também atingisse seu menor nível na série histórica, ficando em 60,6% no 2º trimestre de 2020.

A maioria desses trabalhadores migrou para a força de trabalho potencial (pessoas que desejariam estar trabalhando, mas que não procuraram emprego ou que não puderam assumir), que já abrange 183 mil catarinenses. Com relação ao 1º trimestre, houve um aumentou de 85 mil pessoas na força de trabalho potencial, sendo que 23 mil delas passaram à condição de desalento (não procuraram trabalho por julgarem que não encontrariam). Com isso, o total de desalentados no estado subiu para 54 mil. No conjunto do país, a força de trabalho potencial aumentou em 5,2 milhões de pessoas e os desalentados em 913 mil.

Esses resultados se converteram em uma aceleração do crescimento da taxa composta de subutilização da força de trabalho. Essa taxa atingiu 13,8% em Santa Catarina, avançando 3,8 p.p. em relação ao trimestre anterior. No Brasil, essa taxa de subutilização já atingiu 29,1%, com crescimento trimestral de 4,8 p.p.

Quadro 1 – Distribuição da população, Brasil e Santa Catarina (2º trimestre de 2020, mil pessoas).

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Fonte: PNADC/T (2020); Elaboração: IBGE (com edições).


[1] Vicente Loeblein Heinen é estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat. E-mail: vicenteheinen@gmail.com.

[2] Lauro Mattei é professor titular do curso de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador geral do Necat e pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. E-mail:l.mattei@ufsc.br.

[3] Vale lembrar que na PNAD Contínua são consideradas desocupadas as pessoas que não estão trabalhando, porém procuraram trabalho no mês de referência da pesquisa e estão disponíveis para assumi-lo, caso encontrem. Para mais detalhes, cf. IBGE. O que é desemprego.