Santa Catarina registra retração no varejo e tem menor acumulado em doze meses desde março de 2021.

22/06/2022 15:01

Guilherme Ronchi Razzini*

A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC/IBGE) divulgada no mês de junho e com dados referentes ao mês de abril de 2022 apresentou expansão tímida no cenário nacional (0,7%) e retração no estado catarinense (-0,2%). Apesar da expansão considerada pequena, o setor vem crescendo acima das expectativas da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e continua sem apresentar retração no ano no cenário nacional.

Na comparação com o cenário pré-pandemia, ou seja, no comparativo entre fevereiro de 2020 e abril de 2022, o setor apresenta expansão de 1,6% em âmbito nacional, porém ainda distante do pico histórico de agosto de 2012, Em Santa Catarina, a comparação com o período pré-pandemia revela crescimento de 11,1%.

Nos resultados regionais houve resultados positivos em 18 das 27 Unidades Federativas na série mensal com ajuste sazonal, com destaque para Ceará (6,6%), Amazonas (6,4%) e Rio Grande do Norte (3,4%). Em contraste, pressionaram negativamente, 9 das 27 UFs, sendo os destaques negativos os estados do Espírito Santo (-5,3%), Roraima (-2,5%) e Goiás (-2,3%).

Deste modo, o presente artigo tem como objetivo ilustrar o desempenho do comércio varejista ampliado no Brasil e em Santa Catarina, a partir dos dados disponibilizados pela Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE.

Atividade comercial do Brasil em abril de 2022

A Figura 1 apresenta a trajetória do volume de vendas do comércio varejista ampliado no Brasil desde 2014 até o período atual. A partir desta figura, é possível perceber as variações da atividade comercial em resposta à atividade econômica do país.

O setor apresenta duas trajetórias sólidas que estão ilustradas na Figura. A primeira, uma trajetória de retração entre 2014 e meados de 2016, período no qual o setor sofreu retração de aproximadamente -18% no volume de vendas. Em oposição, a partir do segundo semestre de 2016 há uma tendência de expansão que perdura até fevereiro de 2020, quando há a interrupção em virtude da pandemia do Covid-19. No saldo deste período o setor acumulou expansão aproximada de 21%.

Figura 1 – Variação do volume de vendas no comércio varejista ampliado no Brasil entre janeiro de 2014 e abril de 2022 (2014=100)

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Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração Necat-UFSC.

Com os impactos da pandemia o setor sofreu retração de -30% no período entre fevereiro e abril de 2020. No período posterior a esta queda expressiva foram apresentadas sucessivas expansões até o mês de novembro de 2020, pico do volume de vendas no período pandêmico, no bojo dos programas de auxílio emergencial promovidos pelo Governo Federal. Após esse período, com a diminuição dos programas de incentivo à demanda e com a aceleração da crise macroeconômica, o primeiro semestre de 2021 apresentou retração. No segundo semestre, por fim, se registrou um saldo positivo, porém em níveis muito tímidos.

Desse modo, com os resultados dos primeiros meses de 2022, é possível perceber uma pequena recuperação do setor, ainda longe de alcançar o resultado de novembro de 2020, porém recuperando o volume de vendas perdido durante os últimos meses de 2021.

A Tabela 1 apresenta as quatro séries da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) ao longo dos últimos doze meses. No indicador mês a mês com ajuste sazonal, que melhor o ritmo da atividade no curto prazo, foi registrada a terceira alta do ano, com expansão de 0,7% no volume de vendas. Com isso, o saldo do índice no período, na comparação com o nível de dezembro de 2020, é expansivo, na ordem de 3,22%.

Tabela 1: Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado no Brasil (abril de 2021 a abril de 2022)

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Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior foi registrada expansão de 1,5%, a segunda taxa eminentemente positiva da série, consolidando o resultado de 5,3% registrado em março. Nos meses anteriores a série registrou uma retração, em janeiro (-1,5%), e um resultado de estagnação em fevereiro (0,3%), de modo que ainda não há uma tendência claramente estabelecida.

No acumulado do ano foi registrada a expansão de 1,4%, resultado que repete a variação registrada em março. Com isso, o acumulado do ano esteve positivo em dois dos quatro primeiros meses do ano, revertendo as quedas de janeiro (-1,5%) e fevereiro (-0,6%). A taxa acumulada, ainda que de magnitude modesta, revela uma certa estabilidade do volume de vendas nacional na comparação acumulada. Para os próximos meses o prognóstico é de elevação desse resultado, haja vista que a partir de agosto de 2021 os resultados mensais foram negativos.

O acumulado em doze meses, finalmente, registrou resultado expansivo de 2,2%, configurando a terceira desaceleração seguida do índice, ainda que continue positivo em nível.

Com tais resultados, o setor não apresentou retração na série mensal em 2020, tendo expandido além do esperado pelos agentes do segmento. A continuidade de tal tendência será determinada por setores que têm maior peso no varejo como supermercados, alimentos, bebidas e fumo, veículos e autopeças, móveis e eletrodomésticos e tecidos, vestuário e calçados. O desempenho de tais setores, contudo, depende da capacidade de demanda do consumidor, variável duramente afetada pela crise macroeconômica, de modo que o cenário dos próximos meses ainda aparece eivado de incerteza.

A Tabela 2 apresenta os resultados setoriais na comparação mês a mês com ajuste sazonal, durante os últimos sete meses, como ilustrado abaixo. Foram registradas expansões em apenas 4 dos 10 setores analisados, sendo eles: móveis e eletrodomésticos (2,3%), tecidos, vestuário e calçados (1,7%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,4%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,1%).

Tabela 2: Variação mês a mês com ajuste sazonal do volume de vendas no comércio varejista ampliado e suas subdivisões no Brasil (outubro de 2021 a abril de 2022).

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Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

Em contraste, houve retração em 6 dos 10 setores da PMC, com destaque para equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-6,7%), livros, jornais, revistas e papelaria (-5,6%), material de construção (-2%) e hipermercados e supermercados (-1,1%). As retrações mais intensas são em setores que apresentaram crescimento nos últimos meses, e agora parecem devolver parte do crescimento obtido.

Com tais resultados, é possível atestar que apenas dois grupos de atividades apresentaram aumentos reais das vendas, sendo os setores de tecidos, vestuário (1,7%) e calçados e móveis e eletrodomésticos (2,3%), nestes dois setores houve significativo recuo durante o segundo semestre de 2021 e neste início de ano estão recuperando o volume de vendas perdido.

Atividade comercial em Santa Catarina em abril de 2022

Em Santa Catarina, os resultados da Pesquisa Mensal do Comércio apresentaram retração na comparação mensal com ajuste sazonal, retraindo -0,2%. Com isso, o volume de vendas estadual retraiu em dois dos quatro meses do ano, reforçando a retração de -0,1% registrada em março. Ainda que essas retrações sejam de pouca magnitude, a repetição nos dois meses indica um cenário de estagnação do ritmo produtivo, com leve tendência retrativa.

Os resultados estão ilustrados na Tabela 3, que apresenta as quatro principais series temporais da pesquisa, onde estão presentes os dados na série mês a mês com ajuste sazonal, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, no acumulado do ano e no acumulado de doze meses.

Tabela 3: Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado em Santa Catarina (abril de 2021 a abril de 2022)

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Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

Em relação ao mesmo mês do ano anterior foi registrado expansão de 4,5%, resultado esperado tendo em vista a baixa base de comparação com abril de 2021, momento em que o setor ainda iniciava a recuperação no volume de vendas e que seguiu até julho do mesmo ano.

No acumulado no ano houve desaceleração do ritmo expansivo, de 6,8% em março para 6,3% no mês de abril, resultado que antagoniza com os saldos nacionais. Em doze meses o saldo também retraiu em relação ao mês anterior e agora está em 6,4%, menor resultado desde março de 2021 quando o índice registrava saldo de 4,8%.

A Tabela 4 apresenta os saldos acumulados no ano (janeiro de 2022 a abril de 2022) em Santa Catarina para os grupos de atividades que compõem o comércio varejista ampliado.[1] Houve recuo no saldo em 6 dos 10 setores analisados pela PMC, sendo destaque para: livros, jornais, revistas e papelaria que recuou de 24,4% para 22,2%, e tecidos vestuário e calçados que oscilou de 3,4% para 2,1%. Em contraste houve expansão em 3 dos 10 setores, com destaque para equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação que oscilou de 14,2% para 18,9% de expansão, e no setor de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que variou de 0,6% para 1,2% de expansão no ano.

Tabela 4: Variação acumulada no ano no volume de vendas por grupo de atividades em Santa Catarina (outubro de 2021 a abril de 2022)

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Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

Deste modo, 8 dos 10 setores analisados apresentaram saldo de expansão no ano, sendo as maiores expansões registradas nos setores de livros, jornais, revistas e papelaria (22,2%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (18,9%). Apenas 2 setores registraram retração no ano, sendo móveis e eletrodomésticos (-3,9%) e material de construção (-3,1%).

Diante de tais resultados expostos, a Figura 2 expõe o acumulado no ano para o Brasil e suas respectivas UFs, cabe ressaltar o saldo de expansão em 19 das 27 UFs, com destaque para Roraima (9,6%), Ceará (8,7%) e Mato Grosso do Sul (7,3%). Por outro lado, 8 UFs apresentaram retração no ano até abril, sendo as mais agudas no Paraná (-2,5%), Paraíba (-2,4%) e Pernambuco (-2,3%).

Figura 2: Variação acumulada no ano no Brasil e em suas respectivas UFS em abril de 2022.

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Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

Santa Catarina apresentou o 7º melhor desempenho entre as UFs pesquisadas, e apesar das recentes retrações ainda demonstra o dinamismo e a capacidade do setor no estado em promover um bom desempenho.

Considerações Finais

Com os dados da Pesquisa Mensal do Comércio de abril de 2022 é possível destacar que o crescimento no volume vendas durante o ano vem se apresentando de forma desigual, com apenas alguns setores alavancando o saldo e estabelecendo resultados positivos para o setor num todo. É destaque a queda do setor de supermercados e hipermercados que caiu 1,4% durante abril e em doze meses registra perda de 1,9%, comprovando a corrosão do poder de compra das famílias. Desse modo, o resultado positivo no mês foi puxado principalmente pelo setor de tecidos, vestuário e calçados e móveis e eletrodomésticos, setores que ainda estão abaixo do patamar do volume de vendas pré-pandemia.

Em Santa Catarina, o saldo do ano é de expansão, porém tal saldo vem caindo nos últimos dois meses, ilustrando a desaceleração do setor no estado, e evidenciando a queda no rendimento médio dos trabalhadores, que no primeiro trimestre de 2022 ficou 7,4% menor que o mesmo período do ano passado (HEINEN, 2022). O setor do varejo é dependente do consumo das famílias, que vem sendo corroída pela alta dos juros e a inflação persistente.

Diante deste cenário, e com a tendencia de desaceleração dos preços no atacado, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) revisou a previsão de variação do volume de vendas no varejo em 2022 de +1,5% para +1,7% (CNC, 2022). Apesar do otimismo da CNC, o cenário económico não colabora com as perspectivas positivas, com a manutenção do ciclo de altas da taxa de juros, a persistência de uma alta inflação, e a queda nos rendimentos devem afetar o desempenho do setor e causar dificuldade para a possibilidade de um ciclo de alta sólido e persistente.

Referências

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal do Comércio. (PMC). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, abril de 2022.

HEINEN, Vicente Loeblein. Rendimento médio dos trabalhadores catarinenses no 1º trimestre de 2022 foi 7,4% inferior ao mesmo período de 2021. [S. l.], 15 jun. 2022. Disponível em: https://necat.ufsc.br/rendimento-medio-dos-trabalhadores-catarinenses-no-1o-trimestre-de-2022-foi-74-inferior-ao-mesmo-periodo-de-2021/. Acesso em: 16 jun. 2022.

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO. VENDAS DO VAREJO VOLTAM A SURPREENDER COM 4ª ALTA SEGUIDA. [S. l.], 10 jun. 2022. Disponível em: https://www.portaldocomercio.org.br/publicacoes/analise-cnc-da-pesquisa-mensal-do-comercio-marco-de-2022-duplicate-1/429139. Acesso em: 16 jun. 2022.


* Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. E-mail: guilhermerazzini33@gmail.com

[1] Esse índice é utilizado tendo em vista que o IBGE não disponibiliza o índice mês a mês com ajuste sazonal para os grupos de atividades no estado.