Setor de serviços de Santa Catarina apresentou fraco desempenho no mês de março de 2021

23/06/2021 12:09

Por: Daniel da Cunda Corrêa da Silva[1]

A situação do setor de serviços no Brasil

Depois de ter registrado alta de 3,7% em fevereiro, o setor de serviços apresentou queda de 4,0% no mês de março de 2021. O resultado negativo devolve o volume do setor de serviços no Brasil a um patamar 2,8% inferior ao do início da pandemia, cuja superação havia sido celebrada na pesquisa anterior. Na comparação com março do ano passado, por sua vez, o resultado do terceiro mês de 2021 foi 4,5% superior. Resultado bastante compreensível, visto que março e abril de 2020 marcam os meses de maior restrição às atividades econômicas decorrentes da Covid-19.

No último relatório apresentado, referente a fevereiro de 2021, apontava-se a necessidade de tomar os dados do mês (com serviços em alta) com cautela. Este mês de março confirmou a necessidade de prudência: para a série que leva em consideração os ajustes sazonais, o desempenho é constantemente decrescente. A Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE revela que o desempenho de março de 2021 posiciona o Brasil próximo dos indicadores válidos para o início de 2020, com número índice 86, quando a economia brasileira iniciava seu acentuado declínio em função da pandemia. Tomando-se como parâmetro o ano de 2014, a linha de tendência do Gráfico 1 denota que economia brasileira já acumula quase 7 anos consecutivos de redução no volume de serviços prestados[2].

Gráfico 1: Volume de serviços desde novembro de 2014

(índice base fixa com ajuste sazonal, nov/2014=100)

G1

Fonte: PMS (2021); Elaboração: Necat/UFSC

O mês de março de 2021 representou a interrupção de uma sequência de resultados positivos que vinha sendo registrada ao longo de todo o segundo semestre de 2020 e também no início de 2021, quando as comparações eram realizadas com os meses imediatamente anteriores. O crescimento de 3,7% em fevereiro representou o nono mês seguido de alta na Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE nas comparações feitas com os meses imediatamente anteriores. Quando observados os dados relativos ao mesmo mês do ano anterior, os doze meses consecutivos de desempenhos inferiores ao que havia sido registrado em 2020 foram finalmente superados, pois março de 2021 apresentou resultado 4,5% superior a março de 2020. Não obstante, é importante ressaltar que a base de comparação com março de 2020 é excepcional, pois somado a abril, estes foram os meses de maior restrição às atividades econômicas por conta da pandemia. Tal como se pode observar na Tabela 1, o acumulado em 12 meses das atividades de serviços no Brasil está com queda de 8,0%, enquanto para o ano, por ora, o primeiro trimestre de 2021 apresenta retração de 0,8%.

Três dos cinco grupos de atividades que compõem o estudo dos serviços no Brasil tiveram desempenho negativo neste mês de março de 2021. Em especial, o ramo de serviços prestados às famílias continua sendo duramente atingido, uma vez que, após o resultado positivo de fevereiro de 2021, com alta de 8,8%, foi contrastado com uma expressiva retração de 27% em março, sendo o principal setor responsável pela queda geral dos serviços no país[3]. Também registraram queda os setores de serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,4%), bem como a área de serviços de transporte, auxiliares ao transporte e correio (-1,9%). Por outro lado, tiveram índices positivos os setores de serviços de informação e comunicação (+1,9%) e a categoria de outros serviços (+3,7%). Importante ainda registrar que nenhum subsetor dos serviços brasileiros conseguiu acumular altas consecutivas nos três primeiros meses do ano.

Tabela 1: Variação do volume de serviços no Brasil em % (1º trimestre de 2021)

 T1

Fonte: PMS 2021 (IBGE)

Nota 1: com ajuste sazonal

Nota 2: base igual ao mesmo mês do ano anterior

Nota 3: base igual ao mesmo período do ano anterior

O mês de março de 2021 foi o mês de maior contaminação, mortalidade e letalidade do SARS-COV-2 desde que a pandemia se instalou no país, com média de registro de novos casos próxima de 80.000/dia e com óbitos em patamar superior a 2.000/dia[4]. Com isso, novas medidas de restrição às atividades econômicas foram adotadas em diversas unidades da federação, afetando frontalmente o setor de serviços. Diante deste quadro, os serviços prestados às famílias executados por bares, restaurantes, academias, cabeleireiros, manicures, hotéis e atividades correlatas foram duramente afetados, registrando, conforme apresentado anteriormente, uma retração da ordem de 27%.

As medidas restritivas foram realizadas em praticamente todos os Estados do Brasil, à exceção do Estado do Amazonas, que já tinha enfrentado seus momentos mais críticos entre os meses de janeiro e fevereiro. A segunda quinzena do mês de março concentrou a maior parte das restrições às atividades econômicas do período. Mesmo que diferentes em alguns detalhes e regiões, as medidas geralmente envolveram: toques de recolher durante a noite e restrição às atividades consideradas não essenciais, especialmente nos finais de semana. Esta questão justifica especialmente a queda registrada nas atividades de transportes, serviços auxiliares de transporte e correios, bem como nos serviços profissionais, administrativos e complementares. Ambos os resultados reverteram o crescimento que vinha sendo registrado desde o início do ano.

Por sua vez, as atividades dos serviços de informação e comunicação mantiveram alta pela segunda vez consecutiva no ano de 2021, somando 2,0% no acumulado do ano (0,1% em fevereiro e 1,9% em março). Os principais ramos que contribuíram para este resultado foram os segmentos de portais, provedores de conteúdo e outros serviços de informação na Internet; outras atividades de telecomunicações; desenvolvimento e licenciamento de softwares; e suporte técnico, manutenção e outros serviços em tecnologia da informação.

De todas as classes de atividades avaliadas pelo IBGE, o maior destaque positivo ficou por conta da categoria de outros serviços. O desempenho destacado na economia brasileira dos setores vinculados à bolsa de valores e ao agronegócio no primeiro trimestre de 2021 foi decisivo para o comportamento desta área, com especial destaque para os segmentos de administração de bolsas e mercados de balcão organizados; corretoras de títulos e valores mobiliários; administração de fundos por contrato ou comissão; e atividades de apoio à produção florestal, além de recuperação de materiais plásticos. Foi a segunda alta consecutiva no ano deste grupo de atividades, representando os indicadores mais sólidos de todo o conjunto do setor de serviços no Brasil.

Gráfico 2: Distância em % do patamar pré-pandemia por atividade de serviços em março de 2021

G2

Fonte: Elaboração Economia G1 com dados da Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE[5].

Das 166 atividades de serviços avaliadas regularmente pelo IBGE, 39,2% apresentaram elevação. Reunidas em 5 subgrupos do setor de serviços, as atividades são detalhadas nos números apresentados pela Tabela 2:

Tabela 2: Evolução do volume de serviços no mês de março de 2021, segundo grupos de atividades

T2

Fonte: Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria (IBGE)

Nota 1: mês anterior com ajuste sazonal

Nota 2: base igual ao mesmo mês do ano anterior

Nota 3: base igual ao mesmo período do ano anterior

Nota 4: acumulado dos 12 meses anteriores

Em termos regionais, 14 das 27 unidades da federação registraram resultados negativos na comparação com o mês anterior, conforme informações na Tabela 3. As quedas mais representativas pelo país ocorreram especialmente em São Paulo (-2,6%), Minas Gerais (-1,6%) e Rio de Janeiro (-0,8%). Entretanto, indicadores ainda mais recessivos foram registrados no Distrito Federal (-6,1%) e em Santa Catarina (-3,4%), além do estado do Piauí (-5,6%). O principal resultado positivo foi registrado em Mato Grosso do Sul, com alta de 11,8%.

É possível afirmar que os resultados mais negativos na região Sudeste remetem aos altos índices de urbanização e, consequentemente, maiores efeitos recessivos provocados pelas medidas de restrição das atividades econômicas realizadas pelas autoridades regionais. De outro lado, o escoamento da safra de soja na região Centro-Oeste potencializa os resultados relacionados a transportes e outros serviços, justificando as altas expressivas não só de Mato Grosso do Sul, mas também do próprio Mato Grosso (2,7%). Outras áreas mais destacadas da fronteira agrícola brasileira também tiveram bom desempenho no período, tal como revelam os dados de Tocantins (+9,9%), Rondônia (+4,0%) e Bahia (+2,9%).

Quando se toma por base a comparação o mês de março de 2020, bastante estrito com relação às atividades econômicas, a situação é oposta, com crescimento no setor de serviços em 19 das 27 unidades da federação. As altas mais significativas, neste caso, ficam a cargo de São Paulo (+4,4%), Minas Gerais (10,7%), Mato Grosso (+38,1%) e Santa Catarina (+13,2%). O destaque negativo é, uma vez mais, o Distrito Federal (-4,9%), e também o Piauí (-6,7%). Novamente, unidades da federação ligadas às atividades primário-exportadoras obtiveram altas expressivas, tais como Mato Grosso do Sul (+19,5%), Tocantins (+15,9%), Pará (+14,4%) e Goiás (+13,3%).

No acumulado do ano, os estados de Mato Grosso (+10,3%), Mato Grosso do Sul (+6,7%), Santa Catarina (+9,4%) e Minas Gerais (+6,3%) são os mais destacados, ao passo que os principais resultados negativos ficam por conta de Bahia (-9,8%) e Pernambuco (-8,5%). Ao se observar o acumulado dos últimos 12 meses, à exceção do Maranhão (-3,7%), todos os outros estados da região nordeste possuem dados negativos acima de dois dígitos. As outras unidades da federação que acumulam os piores resultados em 12 meses são o Rio Grande do Sul (-12,7%) e o Paraná (-10,2%). Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Amazonas são os únicos estados brasileiros que logram registrar alta no acumulado entre março de 2020 e março de 2021.

Tabela 3: Variação (%) do volume de serviços entre os estados brasileiros no mês de março de 2021

T3

Fonte: PMS 2021 (IBGE)

Nota 1 – Base: mês imediatamente anterior – com ajuste sazonal

Nota 2 – Base: igual mês do ano anterior

Nota 3 – Base: igual período do ano anterior

Nota 4 – Base: 12 meses anteriores

Já na comparação do primeiro trimestre de 2021 com o mesmo período de 2020 os resultados negativos mais impactantes foram registrados por Rio de Janeiro (-3,0%), Bahia (-9,8%), Paraná (-4,4%), São Paulo (-0,5%), Distrito Federal (-7,5%) e Rio Grande do Sul (-4,9%). Entretanto, Minas Gerais (+6,3%), Mato Grosso (+10,3%) e Santa Catarina (+9,4%) obtiveram as altas mais expressivas nos três primeiros meses de 2021 em relação a 2020.

O desempenho do setor de serviços em Santa Catarina em março de 2021

No mês de março de 2021 os serviços em Santa Catarina[6] permaneceram em patamares equivalentes aos do 1º semestre de 2016, tal como se observa no Gráfico 3. Portanto, tal como aponta a tendência nacional, o ano se inicia no estado rompendo a trajetória de recuperação do 2º semestre de 2020. Santa Catarina se encontrava 11 pontos atrás do número-índice calculado com base 100 em novembro de 2014, momento em que o nível de atividade econômica brasileira iniciava sua duradoura retração, sem ter se recuperado até o momento.

Gráfico 3: Volume de serviços em Santa Catarina até março de 2021

(índice base fixa com ajuste sazonal, nov 2014=100)

G3

Fonte: PMS (2021); Elaboração: Necat/UFSC

A tabela 4 apresentam as diferentes informações temporais sobre o comportamento do setor de serviços em Santa Catarina. Diante dos indicadores é possível perceber que, em relação ao mês de fevereiro de 2021, o setor de serviços no estado sofreu uma retração de 3,4%. São indicadores que traçam um desempenho relativamente melhor em Santa Catarina do que a média nacional (-3,4% no estado contra -4,0% no país), ainda que os dois desempenhos estejam próximos e tenham sido igualmente negativos. De outra parte, a comparação entre o desempenho de março de 2021 e o mesmo mês do ano passado demonstra uma diferença bastante importante: foram 13,2% de crescimento no setor de serviços. Resultado bastante impactado, obviamente, pelo fato de que março de 2020 representa o início das restrições econômicas mais contundentes adotadas no ano passado. No que se refere ao acumulado do primeiro trimestre de 2021, o desempenho dos serviços em Santa Catarina é 9,4% superior ao primeiro trimestre de 2020. Já em termos de variação acumulada nos últimos 12 meses, Santa Catarina ainda não conseguiu atingir um indicador positivo, registrando -1,4% de retração.

Tabela 4: Variação (%) do volume de serviços em Santa Catarina (primeiro trimestre de 2021)

T4

Fonte: PMS 2021 (IBGE)

Nota 1 – Base: mês imediatamente anterior – com ajuste sazonal 

Nota 2 – Base: igual mês do ano anterior 

Nota 3 – Base: igual período do ano anterior 

Nota 4 – Base: 12 meses anteriores

Um elemento preocupante neste início de 2021 é que Santa Catarina perde a vantagem larga que tinha em relação aos demais estados da região Sul, sustentando desempenho superior ao de seus vizinhos apenas nos quesitos que consideram comparações diretas com o ano passado ou o acumulado de períodos mais longos. No curto prazo, ou seja, na comparação do desempenho de março em relação a fevereiro de 2021, ao mesmo tempo em que Santa Catarina registrou retração de 3,4%, o Rio Grande do Sul registrou resultado negativo da ordem de -1,4%, enquanto o estado do Paraná teve uma alta de 0,8% em seu setor de serviços.

Na tabela 5, a seguir, é possível identificar estes dados imediatos e também os que possuem mais longa duração. Por exemplo, ao comparar o desempenho do setor de serviços em Santa Catarina com o mesmo mês do ano de 2020, observam-se os já mencionados 13,2% de expansão, enquanto a média nacional é de apenas 4,5% sendo que no Paraná este valor é de 3,0% e no Rio Grande do Sul foram míseros 1,6%. Na variação do primeiro trimestre do ano em relação ao primeiro trimestre de 2020, Santa Catarina é o único estado do Sul do país com variação positiva, contrariando inclusive a tendência nacional, que é de -3,5%. Rio Grande do Sul e Paraná, por sua vez, registraram quedas de 8% cada um neste quesito. Já na variação acumulada em 12 meses, a média nacional está positiva em 8,0% neste mês de março de 2021, mas tanto Santa Catarina (-1,4%), quanto o Rio Grande do Sul (-12,7%)  como o Paraná (-10,2%) seguem com números muito preocupantes no que concerne a este tema.

Tabela 5: Comparação da variação (%) do volume de serviços na região sul e no Brasil

(dezembro de 2020 a fevereiro de 2021)

T5

Fonte: PMS 2021 (IBGE)

Nota 1 – Base: mês imediatamente anterior – com ajuste sazonal

Nota 2 – Base: igual mês do ano anterior

Nota 3 – Base: igual período do ano anterior

Nota 4 – Base: 12 meses anteriores

Tornando a análise mais minuciosa, observa-se a partir deste momento o desempenho discriminado por grupo de atividades no estado, conforme Tabela 6. Inicialmente pode-se perceber que houve aumento expressivo no setor de serviços em Santa Catarina quando os dados se comparam ao mesmo mês de março de 2020 (+13,2%). Entretanto, o desempenho por grupo de atividade tem uma expressiva marca de heterogeneidade.

Tal como nos dois primeiros meses do ano, o setor que registrou a maior alta em relação ao mesmo mês do ano passado foi o de serviços profissionais, administrativos e complementares, agora com aumento da ordem de 28,4%. No primeiro trimestre de 2021 este grupo de atividades acumulou uma alta de 27,6%, enquanto o desempenho somado dos últimos 12 meses aponta para consistentes 17,2%. Podem ser apontadas como responsáveis por estes indicadores a retomada de muitos serviços públicos e privados de natureza presencial, em escritórios e serviços administrativos em geral, todos estes com restrições notadamente menores que as que vigoravam há um ano atrás. Segue consistente também o aquecimento do setor de construção civil, bem como as atividades de serviços ligados a engenharia e arquitetura. O período intenso de colheita agrícola movimenta os contratos de aluguéis de máquinas e equipamentos, assim como os serviços de apoio a estas atividades.

Tabela 6: Variação (%) das atividades de serviços em Santa Catarina entre janeiro e março de 2021

T6

Fonte: PMS 2021 (IBGE)

Nota 1 – Base: igual mês do ano anterior – sem ajuste sazonal

Nota 2 – Base: igual período do ano anterior

Nota 3 – Base: 12 meses anteriores

Outro subsetor que merece destaque em seu desempenho é aquele que se refere aos serviços de transporte, auxiliares de transporte e correio. Em comparação com 2020, suas atividades registraram alta de 17,2%. No acumulado do primeiro trimestre de 2021 são 11,9% de aumento, enquanto nos últimos 12 meses o setor permaneceu no limiar de crescimento, ainda com alta de 0,7%. Os novos hábitos de consumo mediante compras pela internet, bem como a baixa fiscalização nos transportes públicos (municipal e estadual), bem como a manutenção das aulas presenciais em muitas escolas particulares do estado, sob sistema de rodízio, contribuem para o bom desempenho deste subgrupo.

Na escala decrescente de desempenhos positivos ainda são dignos de menção os serviços de informação e comunicação. No mês de março de 2021 o setor cresceu 8,6% em relação a março de 2020, totalizando um aumento de 9,3% no primeiro trimestre do ano. Nos últimos 12 meses, entretanto, o grupo de atividades aponta para retração de 2,9%. As atividades que mais pesam neste subgrupo são os serviços de telecomunicações, consultoria em tecnologia da informação, suporte técnico e tratamento de dados, bem como serviços de hospedagem na internet. A realização de cursos e atividades em modalidade híbrida, combinando serviços remotos e presenciais, também representa impactos importantes para este conjunto de atividades.

Após ter tido expressiva alta de 12,9% em fevereiro de 2021, na comparação com 2020, as atividades vinculadas ao grupo de outros serviços voltaram a patamares mais modestos em seu desempenho comparado do mês de março de 2021 em relação ao mesmo mês de 2020, registrando 4,8% de expansão. Destaca-se que este último resultado fez com que o acumulado do primeiro trimestre de 2021 tenha sido de importantes 6,1%, ainda que o somatório dos últimos 12 meses aponte para uma rigorosa estagnação, com crescimento nulo (0,0%). Das atividades que mais movimentam este ramo destacam-se a intermediação de títulos e valores mobiliários, a intermediação de compra, venda ou aluguel de imóveis, serviços de manutenção e reparo, bem como atividades de apoio à agricultura, pecuária e produção florestal.

Uma vez mais, o grande destaque negativo da pesquisa segue sendo o grupo de serviços prestados às famílias. Se algo de positivo pode ser encontrado neste indicador, ele remete ao fato de que, no estado, as quedas vêm acontecendo a taxas decrescentes quando se compara com os mesmos períodos do ano passado. Por exemplo, em março de 2021 os serviços desta natureza foram 11,4% menores que em março de 2020, mas os outros dois resultados do ano haviam sido -22,1% e -19,4%, respectivamente. No primeiro trimestre de 2021, o desempenho do setor está negativo em 18,7% abaixo dos patamares do primeiro trimestre de 2020. Nos últimos 12 meses a queda acumulada é de -29,6%, sem grandes sinais de que o desastre poderia arrefecer. Dentre as atividades que seguem afetando negativamente o desempenho do setor, destacam-se as atividades de alojamento e alimentação, além de atividades culturais, de recreação e lazer. Portanto, restaurantes, salões de beleza e hotéis/pousadas seguem em estado crítico.

Considerações Finais

Se os dois primeiros meses de 2021 haviam indicado uma recuperação ainda que lenta, porém consistente, do setor de serviços no Brasil, o mês de março serviu para que os envolvidos com o setor reacendessem os sinais de cautela. Os resultados negativos de março interromperam de maneira mais contundente a trajetória de tímida recuperação que vinha se desenhando no país. Após o forte impacto de uma segunda onda da Covid-19 na região Norte do país, especialmente em Manaus, seus efeitos mais adversos chegaram ao Centro-Sul do Brasil, ofuscando qualquer correlação possível entre uma relativa melhora da atividade econômica e o calendário nacional de imunização para combate à pandemia. Se no relatório anterior a recomendação havia sido de cautela, a presente análise revela que a prudência era mais do que justificada, revelando as dificuldades para a retomada da atividade econômica no país, especialmente na esfera do setor de serviços.

Como esperado, as comparações de 2021 passam a ocorrer com os piores meses de restrição das atividades econômicas de 2020, o que faz com que haja supervalorização dos índices. Desta maneira, nota-se que muitas avaliações referentes aos meses de março e abril estão fortemente impactadas por esta circunstância, podendo ofuscar a realidade dos fatos, inclusive gerando falsas expectativas. Prova disso é que o mês de março e as novas restrições econômicas decorrentes da força da segunda onda de Covid-19 pelo país, potencializada pela variante manauara da doença (P1) foi suficiente para fazer retroceder os indicadores de serviços da pesquisa anterior, ou seja, após efusivas celebrações por ter retomado os patamares pré-pandemia na pesquisa de fevereiro, os resultados atuais devolveram parcialmente o setor de serviços no país aos níveis agonizantes vigentes durante os últimos 12 meses. Mais uma vez, destaca-se o caráter absolutamente heterogêneo do desempenho das atividades do setor, sendo crônica a situação negativa dos serviços prestados às famílias.

Especificamente em Santa Catarina, o desempenho setorial segue com algumas dissonâncias em relação às tendências nacionais. Enquanto no país os serviços profissionais, administrativos e complementares foram apenas 0,7% superiores ao mesmo período do ano passado, no estado este indicador foi 28,4% superior; além disso, ao passo que os serviços de transporte, auxiliares ao transporte e encomendas foram nacionalmente 8,8% superiores a março de 2020, em Santa Catarina o resultado foi 17,2% superior. A explicação para estes números encontra-se, provavelmente, no fato de que o estado foi pioneiro na aplicação de medidas de isolamento e distanciamento radical, que perduraram entre 17 de março e 11 de abril de 2020. A tendência é de que esta grande disparidade se reduza já a partir das comparações no mês de abril e seja diluída nos meses subsequentes.

Observando o estado de Santa Catarina em perspectiva, diante do desempenho das demais unidades da federação, é possível afirmar que há outros estados em posições muito piores, sobretudo na região Nordeste. No entanto, faz-se mister destacar que o descolamento positivo que Santa Catarina vinha registrando com relação ao Brasil e aos demais estados vizinhos dá sinais de esgotamento, fazendo com que o estado passe a acompanhar de maneira mais fiel o desempenho médio do restante do país e se descole da performance destacada que se somava aos estados do Centro-Oeste e demais unidades da federação com destacado desempenho relacionado à atividade agroexportadora.

Tal como no relatório anterior, ressalta-se uma vez mais a declaração dada pelo gerente da Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE, Rodrigo Lobo, sobre os ajustes sazonais. É de reconhecimento público do IBGE que os ajustes sazonais não estão sendo fieis para representar a realidade atual da economia brasileira para o setor. Entretanto, não é prudente cientificamente abrir mão desta metodologia. Desta forma, deve-se seguir considerando a devida ponderação até que as análises possam se normalizar e retornar à compatibilidade habitual. Finalmente, o mês de março de 2021 já revelou os drásticos efeitos da nova onda da pandemia. Como seus efeitos atravessam também o mês de abril, é bastante possível que estas consequências também apareçam na próxima pesquisa.


[1] Professor do curso de Relações Internacionais da Univali. Economista, mestre em Relações Internacionais e Pesquisador do NECAT/UFSC. danicorreadasilva@gmail.com

[2] Tal como na publicação anterior, é importante destacar a declaração feita ao final de abril de 2021 pelo gerente da Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE, Rodrigo Lobo, a respeito dos ajustes sazonais. Segundo Lobo, “o sistema de ajustamento sazonal está preparado para a inclusão de determinados pontos – como o carnaval, a páscoa e o número de dias úteis”. No entanto, “o contexto absolutamente atípico da pandemia trouxe impacto para a série com ajuste sazonal da pesquisa de serviços e pode significar uma quebra estrutural importante do próprio modelo de ajustamento sazonal”. Sendo assim, o gerente recomenda que sejam observados de forma mais atenta os indicadores de comparação com o mesmo período do ano anterior e a média móvel trimestral como indicadores conjunturalmente mais correspondentes à realidade atual. Disponível em: <https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/04/15/volume-de-servicos-cresce-37percent-em-fevereiro-aponta-ibge.ghtml>. Acesso em: 23 abr 2021.

[3] Trata-se da queda mais expressiva desde abril de 2020, que havia registrado retração de 45,6%.

[4] De fevereiro para março houve um aumento superior de 63,9% no número de casos e de 204,9% no número de mortes por Covid-19 no Brasil, indicadores decorrentes da circulação da variante P1 do vírus por praticamente todo o território nacional. Fonte: <https://coronavirus.jhu.edu/map.html>

[5] Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/05/12/setor-de-servicos-tem-queda-de-4percent-em-marco-e-fecha-1o-trimestre-no-vermelho-aponta-ibge.ghtml>

[6] Indicadores que levam em conta o ajuste sazonal.