Setor público e indústria alavancam crescimento do mercado formal de trabalho catarinense em fevereiro

15/04/2021 11:49

Por: Victor Hugo Azevedo Nass[1]

Dando sequência aos acompanhamentos mensais publicados no blog do NECAT, o objetivo deste texto é analisar o comportamento do mercado formal de trabalho do Brasil e de Santa Catarina em fevereiro de 2021, a partir dos resultados do Novo CAGED[2]. Para isso, serão analisados os saldos mensais e variações relativas do emprego formal por grupamento de atividade econômica, gênero, faixa etária, escolaridade e mesorregião geográfica.

De acordo com a Tabela 1, no mês de fevereiro o Brasil apresentou saldo positivo de 401.939 vínculos formais de trabalho, registrando alta de 1,0%. Já Santa Catarina criou 33.994 vínculos no mesmo período, com variação mensal de 1,6%. Com isso, ambas as regiões continuam em tendência de crescimento.

Tabela 1 – Evolução mensal de estoque, admissões, desligamentos, saldo e variação percentual (Brasil e Santa Catarina, fevereiro a fevereiro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

No acumulado de 12 meses[3], o Brasil gerou 254.900 novos postos de trabalho formais, o que representa uma variação de 1,1% no estoque de empregos formais. O mercado formal de trabalho catarinense seguiu as tendências nacionais durante todo o período analisado, mas continua apresentando um ritmo de recuperação mais intenso após as quedas associadas à pandemia. Dessa forma, o estado acumulou uma variação de 3,1% entre fevereiro de 2020 e de 2021, com saldo de 87.861 vagas.

Evolução do emprego formal no Brasil

Conforme os dados contidos na Tabela 2, o setor com melhor desempenho em fevereiro, em valores absolutos, foi o de serviços. Seu saldo foi de 173.547 vínculos, sendo puxado principalmente pelas contratações nos subsetores de: atividades administrativas e serviços complementares (42.053 vagas); educação (27.527 vagas); saúde humana e serviços sociais (25.817 vagas). Em termos relativos, esse saldo representou um bom crescimento mensal de 0,9%. No acumulado de 12 meses o setor ainda não se recuperou das perdas observadas na primeira fase da pandemia, obtendo um decrescimento de 0,6%, particularmente em razão dos resultados do segmento de alojamento e alimentação.

Tabela 2 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Brasil, fevereiro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Em termos relativos, a construção teve o melhor desempenho no mês. Seu saldo de 43.469 vínculos formais de trabalho representou um crescimento de 1,9% em fevereiro. Esse resultado foi bem distribuído entre os seus subsetores, que são: serviços especializados para construção (15.325); construção de edifícios (14.254); e obras de infraestrutura (13.890). No acumulado de 12 meses o setor divide o maior crescimento (6%) com o setor agropecuário.

A agropecuária, por sua vez, cresceu 1,4% em fevereiro, com um saldo de 23.055 vínculos. Esse crescimento ocorreu muito por causa de lavouras temporárias, como: soja (6.108); cana-de-açúcar (1.822); e cereais (1.376). Também houve crescimento de empregos na criação de bovinos, com um saldo de 4.342 vagas.

A indústria criou 93.621 empregos formais em fevereiro, com destaque para os subgrupos de: confecção de artigos do vestuário e acessórios (13.387); preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (9.072); fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (7.736). Somados, esses subgrupos acumulam ⅓ das vagas geradas no mês.  Tomado em seu conjunto, o crescimento do setor industrial foi de 1,2% no mês, e de 2,3% em comparação com fevereiro de 2020.

O setor de comércio criou 68.051 vínculos formais de trabalho em fevereiro, com um crescimento bem uniforme dentro dos seus subsetores, tendo como único destaque o comércio varejista de material de construção, que criou 10.402 vagas. No mês, o setor obteve crescimento da ordem de 0,7%, enquanto no acumulado de um ano, de 1,3%.

A Tabela 3 apresenta o saldo de vínculos formais de trabalho por sexo no Brasil. O resultado de janeiro foi positivo em 223.164 vínculos para os homens e em 178.475 vínculos para as mulheres. Um pouco mais da metade dos postos gerados se concentraram nos homens, representando uma leve concentração com relação ao mesmo mês de 2020. No acumulado de 12 meses percebe-se que a geração de postos de trabalho está concentrada nos homens, que ocupam mais de 90% das novas vagas.

Tabela 3 – Saldo por sexo (Brasil, fevereiro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A exemplo do que foi observado nas divulgações anteriores, a tendência de concentração dos postos de trabalho na faixa de 18 a 24 anos continua. Conforme indicam os dados da Tabela 4, essa faixa etária teve saldo de 159.359 vínculos, concentrando 40% de todas as vagas geradas no mês.

Tabela 4 – Saldo por faixa etária (Brasil, fevereiro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A faixa etária dos 30 a 39 anos também teve um crescimento importante no mês, com 64.381 novos vínculos. Além disso, vale também notar que cada vez mais as pessoas de 65 anos ou mais perdem espaço ou saem do mercado formal de trabalho, uma vez que essa faixa etária obteve  um decrescimento de 4.988 vínculos neste mês.

Quanto ao resultado acumulado em 12 meses, chama a atenção que o saldo da faixa entre 18 e 24 anos chega a ser o dobro do agregado nacional. Além dos efeitos decorrentes da pandemia, que afastaram os trabalhadores mais velhos do mercado de trabalho, esse resultado pode derivar de mudanças metodológicas que estão inchando a base de dados do Novo Caged, como a inclusão dos vínculos de bolsistas, estagiários e aprendizes.

A Tabela 5 apresenta a distribuição do emprego formal por nível de escolaridade. Em fevereiro, mais da metade dos postos formais de trabalho criados (258.975) foram ocupados por pessoas que têm ensino médio completo.

Tabela 5 – Saldo por nível de escolaridade (Brasil, fevereiro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Os níveis de escolaridade que também tiveram crescimento considerável foram: superior completo (46.642); médio incompleto (36.601); e fundamental completo (28.681). Com crescimento mais contido, encontramos os trabalhadores com ensino médio incompleto (16.483) e superior incompleto (14.581). Apenas os analfabetos tiveram resultado negativo em fevereiro, com perda de 324 vínculos.

No acumulado de 12 meses observa-se que as vagas para ensino médio completo são as que mais cresceram (652.119), tendo um saldo superior inclusive ao total estadual. Além deste, somente outros dois níveis de escolaridade não regrediram os postos durante o período, que foram:  analfabeto (3.788) e trabalhadores com ensino superior incompleto (41.401).

Evolução do emprego formal em Santa Catarina

De acordo com os dados da Tabela 6, os principais responsáveis pelo expressivo saldo de vagas em Santa Catarina em fevereiro de 2021 foram os serviços.. Com um saldo de 14.883 postos formais de trabalho, esse setor cresceu 1,8% em fevereiro, acumulando alta de 2,4% nos últimos 12 meses.

Quanto ao resultado de fevereiro, vale destacar que três subsetores agrupam metade dos postos criados, sendo eles: administração pública, defesa e seguridade social (3.499); educação (2.481); e atividades administrativas e serviços complementares (2.088). Além de representar a totalidade do primeiro desses subsetores, o setor público também é muito expressivo na educação e na saúde, podendo ser enquadrado como o principal responsável por esse resultado. Nesse sentido, vale destacar que tal expansão nos serviços pode não representar novos empregos criados, mas apenas refletir as mudanças na metodologia do Novo Caged, que passou a ser captada pelo eSocial. No Caged tradicional, os servidores da administração pública direta ou indireta, federal, estadual ou municipal, bem como das fundações supervisionadas, não precisavam ser declarados. Já no eSocial, essa declaração da maioria desses vínculos passa a ser obrigatória a partir de abril de 2021, o que pode estar influenciando os dados desde já[4]. O setor de serviços acumulou um crescimento de 2,4% nos últimos 12 meses.

Tabela 6 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Santa Catarina, fevereiro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Em que pese um menor crescimento absoluto (2.389 vagas), a construção registrou  o maior crescimento em fevereiro, com 2% de aumento. Diferentemente do cenário nacional, esse crescimento se concentrou na construção de edifícios (1.387 vagas). No acumulado de um ano o setor teve um aumento de 2,5% no número de empregos formais.

A indústria catarinense criou 14.106 vínculos no mês, o que lhe conferiu uma alta de 1,9%.  Seus destaques foram os subsetores de: confecção de artigos de vestuário e acessórios (3.226); fabricação de produtos têxteis (1.466); fabricação de produtos alimentícios (1.394); fabricação de produtos de borracha e de material plástico (910); e a fabricação de produtos de madeira (910). No acumulado em 12 meses, o setor industrial tem o maior crescimento do estado, com 4,5% de aumento das contratações formais.

O comércio apresentou uma alta relativamente menor, de 0,5% em fevereiro, com criação de 2.268 postos. O comércio varejista foi muito inexpressivo para o crescimento do mês, com apenas 261 novas vagas. Os dois subgrupos que carregaram o saldo do mês foi o comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas, com 1.195 vagas. Em 12 meses, o crescimento do setor comercial foi de 2,3%.

Com o menor saldo do mês temos a agropecuária, com apenas 348 novos postos de trabalho formais, o que corresponde a um crescimento de 0,8% no mês. Esse crescimento foi puxado principalmente pelas atividades de: apoio à agricultura e à pecuária (223 vagas); produção florestal (106 vagas); e a pesca em água salgada (107 vagas). O cultivo de maçã foi onde ocorreu a maior queda de postos de trabalho no mês (-203 vagas), indicando o caráter temporário desses vínculos.

Conforme a Tabela 7, podemos observar que em fevereiro, aproximadamente 55% dos postos formais de trabalho gerados foram ocupados por mulheres. Com o crescimento mais acentuado dos setores de educação, saúde e do ramo têxtil-vestuário, no último mês, elas ocuparam 18.834 novos postos formais de trabalho, enquanto os homens tiveram crescimento menor, de 15.160 postos.

Tabela 7 – Saldo por sexo (Santa Catarina, fevereiro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Quanto à faixa etária, a Tabela 8 indica que o emprego formal também continua se concentrando entre os mais jovens no estado. Em fevereiro de 2021, ⅓ das vagas ficou apenas na faixa de 18 a 24 anos, que apresentou saldo de 11.810 vínculos.

Tabela 8 – Saldo por faixa etária (Santa Catarina, fevereiro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A tendência se inverte com os mais velhos, com uma participação cada vez menor no emprego formal. Em fevereiro de 2021, a faixa etária de 65 anos ou mais se retraiu em 137 postos de trabalho.

Conforme indicam os dados contidos na Tabela 9, quase metade dos empregados gerados em fevereiro de 2021 foram ocupados por trabalhadores com ensino médio completo (16.565 vagas). Outros níveis de escolaridade que tiveram crescimento considerável foram: ensino superior completo; médio incompleto; e fundamental completo, com 5.672, 4.349 e 3.171 vagas, respectivamente.

Tabela 9 – Saldo por escolaridade (Santa Catarina, fevereiro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Diferentemente do cenário nacional, em Santa Catarina o único nível de escolaridade que regrediu no acumulado de 12 meses foi o fundamental incompleto. Entretanto, a concentração de postos para ensino médio completo também é notável.

Com relação à distribuição mesorregional dos empregos formais (Tabela 10), podemos observar que a região do Vale do Itajaí apresentou o melhor desempenho em fevereiro, com uma alta da ordem de 1,9%, correspondente ao saldo de 11.051 novos postos de trabalho formais. Em grande medida esse resultado decorre do crescimento das indústrias têxtil e de vestuário, que são muito expressivas na região.

Tabela 10 – Saldo por mesorregião (Santa Catarina, fevereiro de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Com variações de 1,6% cada, as regiões Norte e Serrana apresentam saldos mensais de 7.141 e 1.449 vagas, respectivamente. No acumulado de 12 meses a região Norte obteve um crescimento de 3,4% e a Serrana de 2,5%.

Outro empate na variação mensal, desta vez com 1,5% de crescimento, ocorreu nas regiões Oeste (saldo de 5.272 vagas) e Sul (saldo de 4.081). Essas regiões também obtiveram os melhores resultados no acumulado, sendo o crescimento do Oeste de 6,1% e do Sul de 4,2%.

Apesar do expressivo saldo de 5.162 vagas em fevereiro, a Grande Florianópolis registrou a menor variação mensal, com um aumento de 1,3% nos postos formais de trabalho. A região também tem a menor variação em 12 meses do estado, com crescimento de apenas 0,7%.


[1] Estudante de Economia na UFSC e bolsista do NECAT.

[2] Todos os dados apresentados neste texto foram coletados junto à base de dados do Ministério da Economia em 30 de março de 2021. Em razão das declarações fora do prazo e das revisões periódicas dessa base de dados, os dados podem divergir dos divulgados nas análises anteriores.

[3] A variação acumulada em 12 meses refere-se ao crescimento do estoque de empregos formais entre fevereiro de 2020 e fevereiro de 2021.

[4] Para mais detalhes, ver: ALMEIDA et al. Substituição da captação dos dados do Caged pelo eSocial: implicações para as estatísticas do emprego formal. 2020.