Volume de serviços catarinense cresce 0,3%, dando sinais de estagnação após trimestre de resultados inexpressivos

01/12/2021 09:18

Por: Andrey Ide[1] e Matheus Rosa[2]

Breves notas sobre o setor de serviços no Brasil em setembro de 2021

Após cinco meses consecutivos de crescimento, o volume de serviços brasileiros registrou retração de -0,68% de agosto para setembro. É o que mostram os resultados da Pesquisa Mensal de Serviços divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PMS-IBGE) em 11 de novembro. Logo após a expressiva retração de -3% em março deste ano, que antecedeu o pico de mortes por Covid-19 registrado em abril, o setor de serviços iniciou uma trajetória de recuperação, tendo inclusive ultrapassado em maio o índice pré-pandêmico de fevereiro de 2020.

Ao analisar o Gráfico 1, é visível que a partir de junho de 2020 houve uma recuperação do setor, em reação direta às bruscas quedas ocorridas em março, abril e maio decorrentes da pandemia; ela perdurou por nove meses e foi interrompida pelo recrudescimento da pandemia no primeiro semestre de 2021 e pelo enfraquecimento dos programas emergenciais de auxílio que deram sustentação para a demanda do consumidor. Em março deste ano, com o aumento da ameaça inflacionária e a consequente elevação das incertezas sobre a estabilidade da atividade econômica no curto prazo, visualiza-se a interrupção na sequência de resultados positivos que vinha sendo registrada desde o segundo semestre de 2020.

Gráfico 1: Índice do volume de serviços, Brasil (2018=100, com ajuste sazonal)

G1

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

A Tabela 1 apresenta uma síntese da variação do volume de serviços no Brasil, em diversos períodos. Na série mensal com ajuste sazonal, registrou-se a citada variação de -0,6% na passagem de agosto para setembro, consolidando o segundo resultado retrativo no ano. Nos 7 meses restantes, foram registradas expansões, resultando num saldo agregado expansivo de 6,5% no período entre janeiro e setembro de 2021. Em relação ao nível pré-pandemia, da mesma forma, também ocorre expansão, com variação positiva de 3,6% no comparativo com fevereiro de 2020.

Na comparação com setembro do ano passado, o acréscimo foi de 11,4% no volume de serviços prestados por empresas formalmente constituídas, registradas no CNPJ, com 20 ou mais pessoas ocupadas que desempenham atividades de serviços não-financeiros, excluídas as áreas de saúde e educação. Um resultado bastante expressivo quando considerados o crescimento anual (11,4%) e o acumulado de doze meses (6,8%). Tal resultado no mês de setembro segue confirmando a recuperação vista a partir de junho/2021 quando o volume de serviços no brasil cresceu 0,4% após seguidos períodos de resultados negativos com um pico negativo de -8,6% em fevereiro/2021. Contudo, é válido ressaltar que a magnitude das taxas acumuladas se deve, primariamente, às fortes retrações presentes nas suas bases de comparação. Além disso, espera-se para os próximos meses uma redução paulatina no ritmo das expansões na série que compara o resultado do mês com o mesmo mês do ano anterior, dado que os resultados mensais de 2020 se elevam continuamente até dezembro.

Tabela 1: Variação (%) do volume de serviços no Brasil em diversos períodos

T1

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

O índice geral reflete o desempenho dos cinco setores de atividades que compõem a PMS. Quatro dentre eles diminuíram seu volume em comparação com agosto e apenas os serviços prestados às famílias apresentaram crescimento (1,3%). Tal categoria é composta pelos negócios de alojamento e alimentação, atividades culturais, de recreação e lazer, atividades esportivas e serviços pessoais como salões de beleza e estética, lavanderias, funerárias, consultoria, assessoria e de educação não continuada como ensino de idiomas, artes e cultura, esportes, entre outros.

O destaque negativo foi nos serviços de transporte e correios com queda de – 1,9%, seguida pelos serviços profissionais, administrativos e complementares que caíram -1,1% e pelos serviços de informação e comunicação (-0,9%). Os serviços profissionais compreendem as atividades jurídicas, contábeis, de consultoria empresarial, de publicidade e pesquisa de mercado, arquitetura, engenharia, design, fotografia entre outras atividades técnico-científicas. Já os administrativos abrangem locações de automóveis e aluguéis (não imobiliários), seleção de mão-de-obra e apoio às empresas, além dos relacionados às agências de viagens e operadores turísticos. E, considerando um universo mais amplo de compra, venda e aluguel de imóveis, administração de condomínios, de cartões de crédito, corretagem e seguros, reparação de automotivos, administração de bolsas de mercado, reciclagem, coleta e gestão de resíduos, atividades de apoio à agricultura, pecuária e colheita, produção florestal, entre outros, pode-se observar na Tabela 2 uma retração de -4,7% em comparação com agosto.

Tabela 2: Evolução do volume de serviços no mês de setembro, segundo grupos de atividades no Brasil

T2

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Já em relação ao mesmo período do ano anterior, apenas “outros serviços” evidenciaram uma retração, com variação de -1,5%, enquanto os demais setores cresceram, com destaque novamente para os serviços prestados às famílias (32,2%). Estes últimos foram beneficiados pelo avanço da vacinação contra a Covid-19 e consequente flexibilização das regras de isolamento social. Uma vez que dependem da presença do público, muitas vezes em locais fechados, serviços como os de restaurantes, bares e hospedarias, que dependem da presença de público puderam crescer de forma mais consistente com o aumento da demanda.

Se observados os resultados do acumulado anual até setembro e o acumulado dos últimos doze meses, todas as atividades expressaram crescimento, totalizando de 11,4% e 6,8% respectivamente, com ênfase para os serviços de transportes e correios com expansão de 15,9% no ano e 10,1% no acumulado entre setembro de 2020 e setembro de 2021. Novamente, esse resultado é bastante natural quando considerado o péssimo desempenho registrado em 2020.

Segundo a PMS, as contribuições positivas mais relevantes que explicam o crescimento total em relação a setembro de 2020 advieram de: portais e provedores de conteúdo, serviços na Internet, desenvolvimento e licenciamento de softwares; transportes; gestão de portos; hotéis e restaurantes. E as que mais influenciaram negativamente no mesmo período foram: atividades de vigilância e segurança privada, de telecomunicações, de TV por assinatura e de administração de fundos por contrato ou comissão (IBGE, 2021).

Na média trimestral comparada com 2020, o volume de serviços avançou 15,2% no período julho-setembro de 2021. Um bom resultado, mas abaixo dos 21,5% do trimestre anterior, abril-junho/2021. Este último que havia interrompido cinco trimestres seguidos de retração: 1º tri/2020 (-0,2%), 2º tri/2020 (-16,3%), 3º tri/2020 (-9,7%), 4º tri/2020 (-5,1%) e 1º tri/2021 (-0,8%) (IBGE, 2021).

Na comparação com os índices registrados antes da pandemia, as atividades de serviços prestados às famílias e as atividades de serviços profissionais, administrativos e complementares não se recuperaram. Fixando 2018 como ano base, o índice destas últimas era de 98,53 em fevereiro/2020; patamar ainda não restaurado, apesar do desempenho de 96,94 em setembro deste ano, uma diminuição de -1,6%. Em relação às primeiras, o índice era de 105,17 e agora em setembro alcançou 88,16, um encolhimento de -17% no mesmo período. Já os serviços de informação e comunicação[3] apresentaram saldo positivo de 10,32%, os de transportes e correios cresceram 5,54% e os outros serviços cresceram 3,77%.

Em termos regionais, 20 das 27 unidades da federação registraram resultados negativos na comparação com agosto, conforme informações na Tabela 3. As quedas com maior impacto no volume de serviços vieram de São Paulo (-1,6%), Minas Gerais (-1,3%), Rio Grande do Sul (-1,3%), Pernambuco (-2,2%) e Goiás (-2,2%). Em termos percentuais ocorreram quedas mais expressivas em Sergipe (-5,7%), no Acre (-4,8%) e Alagoas (-3,0%).  Já Rio de Janeiro (2,0%), Distrito Federal (2,9%) e Mato Grosso do Sul (3,6%) tiveram as maiores altas. Percentualmente, apesar de ser uma economia com menor volume de transações, Roraima se destacou com crescimento de 10,6%.

Contrastando com setembro do ano passado, somente Rondônia e Piauí recuaram, -2,3% e -1,9% respectivamente. A ênfase positiva fica com os estados de Alagoas (29,7%), Roraima (26%) e Bahia (19,7%); além das economias pujantes do Rio Grande do Sul (18,8%), Pernambuco (17,7%), Rio de Janeiro (12,2%), Santa Catarina (11,9%) e Minas Gerais (11,8%).

No acumulado de janeiro a setembro de 2021 todos os estados avançaram crescendo em média 11,4%, sendo que na região Sul apenas Santa Catarina cresceu acima da média (16,6%). Em termos de impacto, destacam-se também São Paulo (11,6%), Minas Gerais (16%), Rio de Janeiro (8,2%) e Rio Grande do Sul (12,3%). Adiante, no acumulado dos últimos doze meses, a média de crescimento foi menor, 6,8%. Um reflexo dos resultados retraídos dos últimos meses de 2020. A tabela 3 também apresenta Santa Catarina se destacando novamente, com um dos crescimentos percentuais mais relevantes no período, 13,1%.

Tabela 3: Variação (%) do volume de serviços entre os estados brasileiros no mês de setembro de 2021

T3

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

O desempenho do setor de serviços de Santa Catarina em setembro

O Gráfico 2 apresenta a trajetória do volume de serviços em Santa Catarina a partir de janeiro de 2018, muito semelhante à evolução do Brasil vista no gráfico 1. Imediatamente após o início da crise do Covid-19, o volume de serviços prestados despenca e seu pior resultado se dá em abril de 2020, seguido de uma recuperação desacelerada entre novembro e dezembro e uma retração entre março e abril de 2021. Na sequência, maio e junho retomam crescimentos acima do patamar pré-pandêmico e superiores ao resultado nacional. Em seguida, julho foi um mês de estagnação, agosto de crescimento pouco expressivo (0,4%) e setembro segue patinando com um resultado positivo de 0,3%. Enquanto a curva de Santa Catarina se estabilizou, a do agregado nacional cresceu consecutivamente por cinco meses com recuo de -0,6% em setembro. Os primeiros oito meses de 2021 do setor de serviços em Santa Catarina indicam um comportamento instável e incerto, mas setembro se manteve com índices bastante superiores aos do início do ano.

Gráfico 2: Índice do volume de serviços, Santa Catarina (2018=100, com ajuste sazonal)

G2

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Na relação mês a mês, a Tabela 4 apresenta uma desaceleração do ritmo de crescimento no volume de serviços iniciado em janeiro e fevereiro deste ano. Esse ritmo fora interrompido pelos resultados negativos de março e abril e, posteriormente, retomado em maio e junho, voltando a cair no último trimestre. O resultado de julho foi nulo, em agosto houve um crescimento pífio de 0,4% e em setembro de 0,3%. Com isso, o saldo do índice no período entre janeiro e setembro registra variação de 5,9%.

Para analisar os resultados do mês em relação ao ano anterior é imprescindível considerar a evolução da curva no gráfico 2, ela revela o forte tombo do ano de 2020. Portanto, na confrontação com seguidos resultados negativos, Santa Catarina se encontra claramente em uma situação melhor em 2021. Exatamente pela comparação com um período tão excepcional de restrições à oferta de serviços, de isolamento social e de arrefecida atividade econômica. Tal afirmação também pode ser observada no acumulado do ano: a repercussão positiva se inicia apenas em janeiro/2021, já no acumulado dos últimos doze meses os efeitos aparecem de forma tímida apenas em abril, em um crescente contínuo que chegou a marcar 13,1% em setembro.

Tabela 4: Variação do volume de serviços de Santa Catarina em diversos períodos

T4

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Quando comparado com os demais estados do Sul, Santa Catarina obteve o pior desempenho médio no último trimestre, como mostra a Tabela 5, com estagnação em julho e desempenhos fracos em agosto (0,4%) e setembro (0,3%), resultado que levanta preocupações. Em relação a setembro do ano anterior, o estado desempenhou positivamente, um pouco acima da média nacional de 11,4% e quase 7% abaixo do resultado do Rio Grande do Sul (18,8%). Em contrapartida, nas variações acumuladas Santa Catarina obteve as performances percentuais mais significativas da região sul, ambas acima de média nacional. De janeiro até setembro deste ano cresceu 16,6% e no acumulado dos últimos doze meses cresceu 13,1%.

Tabela 5: Comparação da variação (%) do volume de serviços na região sul e no Brasil

T5

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Uma análise mais minuciosa pode ser observada na Tabela 6, no desempenho discriminado por grupo de atividades no estado. Inicialmente percebe-se aumento de 11,9% no setor de serviços em Santa Catarina quando os dados se comparam ao mesmo mês de setembro de 2020. Entretanto, o desempenho setembrino confrontado com os dois meses precedentes é inferior em todas as cinco subcategorias, sobretudo nos serviços prestados às famílias, -12% em relação a agosto e -40,3% em relação a julho, e também em outros serviços, -22,4% em relação a agosto e -16,7% em relação a julho.

No acumulado do ano, a única categoria que desempenhou melhor que os meses imediatamente anteriores foi a de serviços prestados às famílias (13,2%). A maior alta está registrada nas atividades de transporte, serviços auxiliares aos transportes e correios (20,5%). É notável o bom desempenho deste ramo de atividades em todos os comparativos. As razões responsáveis por estes indicadores são oriundas da retomada de serviços públicos e privados, as atividades laborais em escritórios, ambientes fechados e serviços administrativos em geral, todas com restrições notadamente menores que as que vigoravam em 2020.

Ao analisar os acumulados é perceptível que nos últimos doze meses o crescimento dos serviços prestados às famílias é ainda instável e pouco robusto (1,2%), bem como o dos serviços profissionais, administrativos e complementares que cresce cada vez menos, 19,5% no ano e 22,5% em doze meses – todos em uma decrescente abaixo dos patamares de julho e agosto.

Tabela 6: Variação (%) do volume das atividades de serviços em Santa Catarina entre julho e setembro de 2021

T6

Fonte: PMS-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Com isso, é possível dizer que o cenário para o setor de serviços em Santa Catarina é ligeiramente positivo na comparação com o agregado nacional. Contudo, as vacilâncias captadas pela série mensal com ajuste sazonal colocam certos temores quanto ao desempenho do setor até o final do ano, principalmente tendo-se em conta os entraves macroeconômicos atuais e sua difícil resolução no curto prazo.

Considerações Finais

De modo geral, é válido afirmar que o desempenho do setor de serviços no ano é bastante positivo, como mostra eloquentemente a trajetória do índice. Desse modo, a variação do saldo anual consolidada pelo resultado de setembro é de 6,5%, em nível nacional, e de 5,9% no escopo de Santa Catarina. Contudo, a repetição de expansões muito tímidas em agosto e setembro acende um primeiro sinal amarelo para o desempenho do setor no restante do ano.

Isso porque esses primeiros indícios de estagnação são reflexos dos impasses macroeconômicos que marcam a atual conjuntura brasileira. Da mesma forma como os bons resultados da primeira parte do ano refletiram o melhor cenário oriundo do avanço da vacinação e do parcial controle sobre a evolução da covid-19, a atual estagnação é consequência do avanço do problema inflacionário, da permanência da taxa de desemprego elevada e do forte aumento de incertezas no curto prazo. Corrobora essa asseveração o registro do Índice de Confiança dos Serviços calculado pela FGV (ICS/FGV), que em setembro registrou recuo de -2%. (FGV, 2021).

Para os próximos meses será decisivo o acompanhamento dos serviços relacionados às atividades de transporte, dado que a reversão na tendência de fracos resultados que está consolidada na série mensal desse subsetor será bastante relevante para o retorno de expansões de maior magnitude no agregado. Da mesma forma, será necessário um impulso nos resultados da ampla gama de atividades acopladas no subsetor de “outros serviços” para que o desempenho na reta final do ano seja positivo.

Referências Bibliográficas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal de Serviços. (PMS). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, setembro de 2021.

FGV – Fundação Getúlio Vargas. Índice de Confiança de Serviços (ICS). São Paulo (SP): FGV, setembro de 2021.


[1] Graduando em Ciências Econômicas na UFSC, bolsista do NECAT. Email: ide.andrey@gmail.com

[2] Graduando em Ciências Econômicas na UFSC, bolsista do NECAT. Email: matheusrosa.contato@outlook.com

[3] Vale destacar que o setor de serviços de comunicação foi um dos menos afetados pelo impacto da pandemia, já que suas atividades ganharam importância no contexto do isolamento social, trabalho remoto etc.