Volume de serviços em Santa Catarina atinge maior nível da pandemia em julho/22

04/10/2022 13:03

Matheus Rosa*

Guilherme Ronchi Razzini**

Os dados recentemente divulgados pela Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE (PMS-IBGE) sobre o desempenho das atividades de serviços em julho de 2022 mostram a manutenção da tendência expansiva que tem caracterizado o setor desde a superação dos choques iniciais da pandemia. Nacionalmente, se verificou a expansão de 1,1% frente o nível de junho, reeditando a terceira alta mensal consecutiva. Já em Santa Catarina a expansão de 3,1% reverteu a breve queda de junho e consolidou a terceira expansão mensal do ano. Em ambos os casos o resultado de julho faz com que o índice de volume de serviços se encontre no nível mais alto desde o início da pandemia.

Em termos regionais, a tônica positiva se expressa pela expansão do índice na maior parte das Unidades da Federação (UFs), ainda que registros negativos também tenham sido auferidos, fechando um quadro de 17 expansões e 10 retrações. Dentre os resultados positivos, destacaram-se as expansões em Goiás (4,7%), Pernambuco (4%) e Santa Catarina (3,1%). Entre as retrações, foram de maior magnitude as registradas no Distrito Federal (-2,8%), no Ceará (-2,5%) e no Mato Grosso do Sul (-2,4%).

Esse cenário predominantemente positivo para o volume de serviços reflete a liderança econômica do setor na retomada posterior a eclosão da Covid-19. A ligeira melhora dos indicadores macroeconômicos que se verificou em julho, além disso, contribuiu também para o resultado mensal positivo, ainda que numa perspectiva mais ampla a manutenção do desemprego elevado e a inflação acelerada nas atividades relacionadas ao setor de serviços continue limitando o potencial expansivo do setor. Ainda assim, é seguro dizer que a demanda represada que se verificou durante a maior parte do período da pandemia definitivamente encontrou vazão, sendo positiva a tendência instaurada para o volume de atividades, mesmo num cenário de arrefecimento da atividade econômica em decorrência dos juros elevados. (IEDI, 2022)

No texto que se segue serão analisados os resultados da PMS-IBGE para o mês de julho, tanto pela perspectiva nacional como estadual. Para além dos resultados agregados, serão também observadas as desagregações por atividades de serviços, com o objetivo de escrutinar os resultados consolidados no setor e as perspectivas que se formam para os próximos meses.

A atividade de serviços no Brasil em julho de 2022

O Gráfico 1 apresenta a trajetória do índice de volume de serviços ao longo do período de vigência da pandemia. Assim como nos demais setores, os meses de março e abril de 2020 foram responsáveis pelas maiores quedas nos níveis de atividade, o que se relaciona com a aplicação das medidas de isolamento social e com os impactos diretos que o elevado nível de incerteza ocasionou no mercado de trabalho. Na sequência, um movimento de recomposição das perdas se instalou e durou até janeiro/21. A superação efetiva do patamar pré-pandemia, porém, só foi se verificar em junho/21, quinze meses após a deflagração da pandemia e posterior à retomada da indústria (set/20) e do comércio (jul/20), o que indica que a demanda das atividades de serviços ficou represada durante um período relativamente longo, sendo a disseminação das vacinas o elemento viabilizador da retomada a partir do segundo semestre de 2021. Passo seguinte, a tendência foi de crescimento contínuo, ainda que com ritmo relativamente menor nas variações de curto prazo.

Gráfico 1: Índice de volume de serviços, Brasil, jan-20/jul-22 (fev/20 = 100)

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Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

Em relação ao desempenho nos últimos doze meses, a Tabela 1 apresenta um sumário dos resultados a partir das bases de comparações presentes na pesquisa. Pela perspectiva mês a mês, o resultado de 1,1% representa a quarta variação positiva no ano, reforçando as ligeiras variações de maio (0,4%) e junho (0,8%), meses imediatamente anteriores. No saldo do ano fica o registro de um crescimento lento, ainda que positivo, sendo de 3,5% a expansão do índice na comparação com o volume de serviços em dezembro de 2021. Uma representação visual dessas variações mensais é exposta no Gráfico 2.

Tabela 1: Variação do volume de serviços no Brasil em diversos períodos

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Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

A comparação com os resultados mensais de 2021 também retorna resultados positivos. Em julho, a expansão de 6,3% na comparação com o mesmo mês do ano anterior mantém a tônica positiva nessa série que registrou expansões em todos os meses. É de se destacar, contudo, que o ritmo dessas expansões reduz paulatinamente desde março, tendência que deve se manter ao longo do restante do segundo semestre. Em nível regional, o saldo entre as UFs por essa perspectiva também é positivo, com expansões registradas em 25 das 27 UFs. Apenas no Acre (-7,8%) e no Distrito Federal (-8,5%) registraram-se perdas. Positivamente, se destacaram os desempenhos do Amapá (19,5%), Tocantins (15,%) e Goiás (13,2%).

Os acumulados também revelam um cenário positivo, com expansões pela ótica do ano e de doze meses. Em relação ao acumulado no ano, a expansão registrada é de 8,5% na comparação com o acumulado do mesmo período do ano passado, o que indica que, mesmo com o ritmo lento registrado na série mensal de curto prazo, há ganhos na comparação com o volume de serviços registrado em 2021. Pela ótica dos doze meses, a expansão é 9,6%, mantendo o quadro de expansões positivas em todos os meses do ano nessa série, ainda que a velocidade dessas expansões também esteja diminuindo.

Gráfico 2: Evolução do volume de serviços nos últimos 12 meses, Brasil, série mensal com ajuste sazonal

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Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

A distribuição setorial dos resultados é ilustrada pela Tabela 2, a partir da série mensal com ajuste sazonal. Entre os cinco macrossetores de serviços foram registradas 3 variações positivas e 2 retrações, sendo positivos os destaques de serviços auxiliares aos transportes e correios (2,3%), serviços de informação e comunicação (1,1%) e serviços prestados às famílias (0,6%). Negativamente despontaram as atividades de outros serviços (-4,2%) e de serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,1%).

É possível também observar os resultados das atividades de serviços pela desagregação dos macrossetores. Por essa perspectiva, aparecem como destaques positivos de julho os desempenhos de transporte aéreo (6,8%), serviços de tecnologia da informação (6,6%) e armazenagem, serviços auxiliares aos transportes e correios (5,4%), conforme mostra a Tabela 2. Serviços técnico-profissionais (-3,1%), telecomunicações (-2,1%) e serviços audiovisuais, de edição e agências de notícias (-0,9%), por outro lado, apresentaram os piores resultados. A correspondência de cada uma dessas atividades com os macrossetores do setor de serviços está também presente na Tabela 2. 

Tabela 2: Variação do volume de serviços por atividades de serviços, mês a mês com ajuste sazonal

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Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

Por fim, a síntese da dinâmica setorial das atividades de serviços é exposta no Gráfico 3, a partir dos acumulados anuais. Entre os macrossetores, o registro é de 4 expansões e uma retração, sendo os resultados: serviços às famílias (33,9%, o que puxa, em larga medida, o resultado positivo do acumulado agregado do setor), serviços auxiliares aos transportes e correio (13,8%), serviços profissionais, administrativos e complementares (7,7%), informação e comunicação (2,8%) e outros serviços (-5,3%). Vale destacar que a expansão de serviços às famílias se repousa numa expansão conjunta das atividades de alojamento e alimentação (35,3%) e de outros serviços às famílias (25,9%). A expansão nos serviços de transporte também conta com dinâmica similar, porém o empuxe positivo se dá principalmente pelo acumulado expressivo das atividades de transporte aéreo (46,6%).

Gráfico 3: Volume de serviços por atividades de serviços, acumulado no ano, Brasil

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Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

A atividade do setor de serviços de Santa Catarina em julho de 2022

O índice de volume de serviços prestados em Santa Catarina segue a trajetória exposta no Gráfico 4. Bastante semelhante ao índice nacional, a recuperação do volume de serviços se inicia imediatamente após as quedas combinadas de março/20 e abril/20, com expansões sucessivas registradas em maio, junho, julho e agosto. À diferença do registrado nacionalmente, a recuperação do nível pré-pandemia acontece ainda em 2020, em setembro, antecipando em 10 meses a retomada do agregado nacional. Na comparação desvantagem, sendo a retomada do comércio varejista ainda em maio/2020 e da indústria também em setembro/20. A partir de janeiro de 2021 a tendência consolidada é eminentemente expansiva, ainda que com pequenos intervalos retrativos. Com o resultado de julho de 2022, o índice de volume de serviços prestados em Santa Catarina se encontra no maior nível registrado desde o início da pandemia.

Gráfico 4: Índice de volume de serviços, Santa Catarina, jan-20/jul-22 (fev/20 =100)

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Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

Em relação aos resultados dos últimos doze meses, pode-se conferir o exposto na Tabela 3. Na série mensal com ajuste sazonal o resultado consolidado foi de 3,1%, revertendo a retração de junho/22 e configurando a terceira expansão do ano nesse indicador. Ainda que a série tenha apresentado consistente instabilidade, o saldo do ano na comparação com dezembro de 2021 é levemente positivo, com variação de 0,20%. A localização regional do resultado mensal pode também ser conferida no Gráfico 5, que destaca o resultado catarinense em julho como o terceiro mais expansivo entre as UFs, atrás apenas de Goiás (4,7%) e Pernambuco (4%).

Tabela 3: Variação do volume de serviços em Santa Catarina em diversos períodos

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Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

A comparação com julho de 2021 também retorna uma variação positiva, na ordem de 6,3%. Com isso, a série mensal interanual registrou expansões em 6 dos 7 primeiros meses do ano, sendo a leve perda de 0,1% registrada em fevereiro o único resultado negativo, o que demonstra que o desempenho do volume de serviços prestados em Santa Catarina é consideravelmente superior em 2022 em relação aos meses do ano passado. Também é de se destacar que a variação de julho interrompe a tendência de redução das expansões que se verificava nessa série a partir dos resultados de maio e junho.

Gráfico 5: Variação do volume de serviços por UF, mês a mês com ajuste sazonal

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Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

O mesmo cenário positivo também aparece nas taxas acumuladas, destacando a superioridade do desempenho atual em relação a 2021. Pela perspectiva do acumulado do ano, a qual compara o desempenho acumulado de jan-jul/22 com o acumulado de jan-jul/21, a expansão é de 4,6%, mantendo o quadro de expansões em todos os meses por essa ótica. Já no acumulado de doze meses, que compara o acumulado de ago/21-jul/22 com o acumulado de ago/20-jul/21, o registro é de 7,5%, também perpetuando os resultados positivos da série, ainda que com ritmo crescentemente menor.

Setorialmente, o desempenho do volume de serviços catarinense aparece ilustrado na Tabela 4, a partir da série do acumulado anual. Em julho, os acumulados mantém o mesmo quadro registrado nos meses anteriores, desde março: 4 expansões e 1 retração. Positivamente se destacam os resultados de serviços prestados às famílias (29,5%), outros serviços (8,4%), transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (7%) e serviços de informação e de comunicação (5,9%). Na contramão, as atividades de serviços profissionais, administrativos e complementares apresentaram relevante regressão, com saldo de -18,3% na comparação com o acumulado do mesmo período do ano passado. Ressalte-se, ainda, que há uma diferença na disposição dos acumulados setoriais em relação ao verificado nacionalmente: ainda que a liderança também seja por conta dos serviços prestados às famílias, se destaca que o setor que puxa o índice catarinense para baixo é o de serviços profissionais, administrativos e complementares, o qual apresenta acumulado positivo na série nacional, demonstrando que no particular dessas atividades a dinâmica catarinense é contrária ao quadro das demais UFs.

Tabela 4: Variação do volume de serviços por atividades de serviços, acumulado no ano, Santa Catarina

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Fonte: PMS/IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

Considerações Finais

Por fim, a tônica que se extrai dos resultados de julho da PMS/IBGE é positiva, com expansões mensais registradas nacionalmente, em Santa Catarina e na maioria das UFs. Há diferenças entre o comportamento do índice nacional e estadual, contudo, sendo a principal relacionada a dinâmica de estabilidade dos resultados, uma vez que nacionalmente a tendência expansiva é estável e de menor ritmo e em Santa Catarina os resultados são mais expressivos no mês a mês, porém com maior instabilidade. Mesmo assim, em ambos os casos o volume de serviços está no maior nível desde o início da pandemia, se situando consideravelmente acima do patamar de fevereiro de 2020.

Setorialmente, continua evidente a liderança do setor de serviços prestados às famílias na recuperação das atividades do setor na pandemia. Com acumulados amplamente positivos no Brasil e em Santa Catarina, essas atividades delinearam uma tendência expansiva que se amparou, principalmente, na retomada do subsetor de alojamento e alimentação a partir do empuxe do consumo das famílias ocasionado pela (tardia) cobertura vacinal. Nacionalmente, por outro lado, as atividades de outros serviços continuam em queda acumulada, mesmo na comparação com acumulado deprimido de 2021. Em Santa Catarina, a liderança das perdas dentre os setores de atividades é de serviços profissionais, administrativos e complementares, o qual certamente merecerá atenção nos próximos meses para que o índice consiga desenhar uma trajetória de crescimento sustentado no estado.

Em termos macroeconômicos, o horizonte que está delineado de manutenção dos juros elevados certamente contribuirá para o arrefecimento da atividade no setor. Da mesma forma, a persistência da inflação de serviços se manterá como um efeito desestimulante ao reduzir o poder de compra da população no que concerne ao consumo relacionado às atividades de serviços. (FGV-IBRE, 2022). Em compensação, o estímulo de demanda que se formou nos últimos meses a partir de programas governamentais deverá afetar positivamente a trajetória do índice, principalmente em se considerando que os resultados do PIB têm mostrado um crescimento intensivo a partir do consumo das famílias, o que deve se manter, ao menos, até o fim do ano.

Referências

FGV-IBRE – Fundação Getúlio Vargas. Instituto Brasileiro de Economia. Boletim Macro, setembro de 2022. Disponível em: < https://www18.fgv.br/mailing/2022/ibre/boletim-macro-setembro/>. Acesso em: 27 de setembro de 2022.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal de Serviços. Rio de Janeiro (RJ): IBGE, julho de 2022.

IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Análise IEDI: expansão robusta. Disponível em: < https://www.iedi.org.br/artigos/top/analise/analise_iedi_20220913_servicos.html>. Acesso em: 20 de setembro de 2022.


* Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat/UFSC). Email: matheusrosa.contato@outlook.com

** Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista no Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat/UFSC). Email: guilhermerazzini33@gmail.com