Comércio catarinense apresentou saldo de vendas positivo no mês de abril de 2021

06/07/2021 10:51

Por: Matheus Souza da Rosa[1] e Daniel da Cunda Corrêa da Silva[2]

Os dados relativos ao desempenho do comércio divulgados pela Pesquisa Mensal do Comércio (PMC-IBGE) no último mês de junho, com dados referentes a abril, revelam um cenário expansivo para o volume de vendas nacional e estadual. Esse saldo positivo se apresentou através das altas mensais, observadas na série mês a mês com ajuste sazonal, na comparação com o mês de abril de 2020 e também nas séries acumuladas. É digno de destaque, contudo, que ainda se verificam setores com incapacidade de retorno aos níveis de atividade anteriores a pandemia do coronavírus.

Em relação ao desempenho mensal, valem destacar os dados das Unidades da Federação, os quais corroboram esse cenário positivo. Das 27 UFs pesquisadas, 18 registraram um desempenho de expansão considerável, sendo os destaques para Distrito Federal (19,6%), Rio Grande do Sul (14,9%), Amapá (10,8%), Bahia (10,4%) e Tocantins (8,5%). Outras 5 UFs apresentaram desempenho próximo da estagnação (São Paulo, Minas Gerais, Piauí, Espírito Santo e Roraima). As 4 UFs restantes apresentaram retrações de baixa magnitude, sendo as mais expressivas registradas em Mato Grosso (1,4%) e Alagoas (-1,1%).

A partir dos dados divulgados pela pesquisa, esse breve texto se direciona à análise do desempenho geral da atividade comercial no Brasil e em Santa Catarina.

A Atividade Comercial no Brasil em Abril de 2021

A Figura 1 apresenta a trajetória do Volume de Vendas do Comércio Varejista no Brasil de janeiro de 2010 a abril de 2021. Como expressão dos movimentos de ascensão e declínio da economia brasileira na última década, observa-se uma primeira trajetória de crescimento sustentado que se estende até o segundo semestre de 2014, seguida por uma queda brusca, até o segundo semestre de 2016, e uma sequente expansão claudicante, que se mantém até o primeiro semestre de 2020.

A partir de então se apresentam de maneira mais evidente os impactos da pandemia na atividade varejista, sendo a primeira expressão desses impactos a profunda retração que ocorre em março de 2020, levando o índice de atividade aos patamares de janeiro de 2010. Após, e como consequência imediata do programa de auxílio emergencial promovido pelo governo federal, ocorre uma brusca elevação do Volume de Vendas, consolidando inclusive o maior patamar do índice na série histórica, em dezembro de 2020. Com o fim do programa e o consequente cessar do movimento de incentivo à demanda, contudo, o Volume de Vendas retorna ao nível verificado no pré-pandemia, apresentando oscilações ora positivas ora negativas nos primeiros meses de 2021.

Figura 1 – Volume de vendas no comércio varejista do Brasil (índice base fixa com ajuste sazonal, 2010=100, janeiro de 2010 a abril de 2021)

F1

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

A Tabela 1 registra uma síntese desse movimento de oscilações no Volume de Vendas. Em janeiro e fevereiro, a série mensal apresentou variações próximas da estagnação (-0,1 em janeiro e 0,7% em fevereiro), enquanto nos meses seguintes ocorreram variações um pouco mais relevantes (-1,1% em março e 1,8% em abril). A consolidação desse quadro apresenta uma dinâmica bastante similar ao cenário verificado no período pré-pandemia, caracterizado pela alternância entre variações positivas e negativas na série mensal, porém contando com uma leve tendência expansiva.

Já em relação a comparação com os níveis de abril de 2020, nota-se uma expansão considerável, na ordem de 23,8%. Esse desempenho é acompanhado pelas variações estaduais na mesma série: todas as 27 Unidades da Federação apresentaram expansões, sendo de maior magnitude os desempenhos de Amapá (86%), Rondônia (75%) e Amazonas (53,4%). Apenas em Tocantins foi registrada uma expansão tímida, próxima da estagnação, com variação de 0,7%. Em grande medida, esse resultado é esperado, dado que a base de comparação é extremamente baixa em consequência dos impactos da pandemia do coronavírus verificados em abril de 2020.

Da mesma forma, também o acumulado dos quatro primeiros meses do ano apresenta uma variação dentro das expectativas, com alta de 4,5%. Como indicativo, consequentemente, esse dado ilustra que o primeiro quadrimestre de 2021 é mais promissor que os meses iniciais de 2020 para a atividade comercial no Brasil. Parte constitutiva desse resultado são os desempenhos estaduais, que também apresentaram resultados similares, porém com pontos fora da curva que merecem destaque. Das 27 UFs, 22 registraram expansões, com destaque positivo para Amapá (22,8%), Piauí (17,7%) e Rondônia (17,3%). A preocupação, contudo, se estende aos estados de Tocantins (-9,8%), Distrito Federal (-7%), Mato Grosso (-1,4%), Rio Grande do Sul (0,3%) e Ceará (-0,1%), os quais apresentaram resultados negativos mesmo em comparação ao adverso início de ano de 2020.

Por fim, sobre o desempenho registrado na série do acumulado de doze meses, pode-se notar uma expansão relevante, de 3,6%, consolidando as altas de menor expressão registradas nos três primeiros meses do ano. É digno de destaque, ainda, a permanência das variações positivas verificadas nessa série desde abril de 2020, consolidando um cenário de médio prazo que é positivo, a despeito das bruscas variações negativas que ocorreram como consequência da pandemia.

Tabela 1: Variação do volume de vendas do comércio varejista no Brasil (abril de 2020 a abril de 2021)

T1

Fonte: PMC-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Uma compreensão mais concreta sobre o desempenho da atividade comercial pode ser auferida através dos dados setoriais, como mostra a Tabela 2, que traz dados de maio de 2020 até abril de 2021. De pronto, fica nítido que o desempenho mensal é positivamente hegemônico dentre os setores de atividades que compõem o comércio varejista ampliado. Apenas o setor de Hipermercados, Supermercados, Produtos Alimentícios, Bebidas e Fumo[3] apresentou resultado negativo em abril, com retração de -1,7%. Todos os demais registraram expansões, com destaque para os setores de Móveis e Eletrodomésticos (24,8%) e Veículos, Motocicletas, Partes e Peças (20,3%), que apresentaram um desempenho bastante positivo na passagem de março a abril. É digno de nota, contudo, que esses desempenhos são em grande medida explicáveis pelas quedas registradas nesses setores no fraco mês de abril.

Tabela 2: Variação mês/mês imediatamente anterior do volume de vendas no comércio varejista ampliado e suas subdivisões para o Brasil (maio de 2020 a abril de 2021)

T2

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

A Figura 2 complementa a localização do desempenho setorial, apresentando um quadro mais abrangente ao considerar a série de doze meses. Em posse desses dados é possível visualizar um cenário mais adverso do que o verificado apenas pela comparação mensal, principalmente em consideração da disparidade de desempenho que é verificada entre os setores. Dos 10 setores de atividades categorizados nas subdivisões do comércio ampliado, 5 apresentam resultados negativos, com destaque para a profunda retração do setor de Livros, Jornais, Revistas e Papelaria[4], na ordem de -36,3%. Também registraram retrações as atividades de Tecidos, Vestuário e Calçados (-15%), Equipamentos e Materiais para Escritório (-9,3%), Combustíveis e Lubrificantes (-7,4%) e Veículos, Motocicletas, Partes e Peças (-3,7%). Por outro lado, é positivo o desempenho dos setores de Materiais de Construção (21,1%), Móveis e Eletrodomésticos (16,4%), Outros Artigos de Uso Pessoal (13,7%), Artigos Farmacêuticos (12,1%) e Hipermercados e Supermercados (2,7%).

Com isso, a série de doze meses do comércio varejista ampliado apresenta, pelas subdivisões, um quadro no qual setores ainda enfrentam dificuldades para estabelecer uma plena retomada do volume de vendas. A heterogeneidade no comportamento dos setores é a principal marca do setor. A recuperação dessas atividades é decisiva para que uma tendência de expansão seja consolidada no desempenho agregado do comércio varejista, eliminando o atual contexto de desempenho vacilante.

Figura 2 – Variação acumulada em 12 meses no volume das atividades de venda no comércio varejista ampliado e suas subdivisões para o Brasil

F2

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

O Desempenho do Comércio Varejista de Santa Catarina em Abril de 2021

Em Santa Catarina, a dinâmica da atividade comercial tem delineado a trajetória exposta na Figura 3. Numa dinâmica um pouco diferenciada da trajetória nacional, em Santa Catarina observamos uma tendência de alta sustentada desde 2010, com retrocessos localizados apenas durante o segundo semestre de 2014 e o primeiro semestre de 2016, além da queda brusca verificada nos meses de março e abril de 2020, em decorrência da pandemia. Assim como no contexto nacional, o impacto do auxílio emergencial também se fez sentir no segundo semestre de 2020, porém, após seu fim, registraram-se novas quedas no volume de vendas.

Figura 3 – Volume de vendas no comércio varejista de Santa Catarina (índice base fixa com ajuste sazonal, 2010=100, janeiro de 2010 a abril de 2021)

F3

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

A Tabela 3 faz uma síntese dos resultados de abril em Santa Catarina. Se destaca a expansão de 3% na passagem de março a abril de 2021, revertendo a retração de 0,5% no mês anterior. O dado positivo de abril é a segunda expansão mensal do ano e também a de maior magnitude, superando a alta de 1,4% registrada na passagem de janeiro a fevereiro. Cabe ressaltar que a alta de abril é a maior verificada desde o último mês de junho.

Em relação aos dados da série que compara o desempenho do mês com abril de 2020, foi registrada uma expansão de 15,3%. Assim como no cenário nacional, esse é um dado esperado, já que em abril do último ano foi registrada uma retração de -9,1% na série mensal, em decorrência da pandemia.

Tabela 3: Variação do volume de vendas do comércio varejista em Santa Catarina (abril de 2020 a abril de 2021)

T3

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração: NECAT-UFSC

Por fim, a série de doze meses mantém a tendência de expansão que é verificada desde março de 2017, com uma variação de 7,7%, confirmando o cenário positivo da atividade comercial no estado. Esse desempenho enquadra a variação do Volume de Vendas de Santa Catarina em cenário intermediário, como o décimo primeiro mais positivo dentre as UFs, como mostra a Figura 4.

Figura 4 – Variação acumulada em 12 meses do volume de vendas no comércio varejista para o Brasil e suas Unidades Federativas

F4

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Já sobre os dados setoriais, pode-se observar a Tabela 4, que elenca os desempenhos em relação ao mês de abril de 2020. Aqui também se apresentam os resultados expressivos em consequência das baixas bases de comparação, sendo as altas mais importantes verificadas no setor de Livros, Jornais, Revistas e Papelaria (184,2%), Outros Artigos de Uso Pessoal (116,1%), e Veículos, Motocicletas, Partes e Peças (114,2%). Se destaca a retração verificada no setor de Hipermercados e Supermercados, a terceira seguida, na ordem de -2,4%. Uma vez mais, é digno de nota que esse setor sofreu impactos apenas moderados nos primeiros meses da pandemia, já que foi classificado como setor essencial e permaneceu recebendo clientes, de modo que a base de comparação para o dado atual é bem mais alta do que as dos outros setores.

Tabela 4: Variação mensal em relação ao mesmo mês do ano anterior do volume de vendas no comércio varejista ampliado e suas subdivisões em Santa Catarina (maio de 2020 a abril de 2021)

T4

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Por fim, a Figura 5 mostra o desempenho dos setores no acumulado de 12 meses em Santa Catarina. Em 7 dos 10 setores pesquisados, apresentaram-se altas na série, sendo  destaque o ramo de Materiais de Construção, com alta relevante de 25,1%. Também registraram bons resultados os setores de Móveis e Eletrodomésticos (16,9%), Artigos Farmacêuticos (12,6%) e Hipermercados e Supermercados (10,7%). Os três setores negativados foram Combustíveis e Lubrificantes (-5,4%), Livros, Jornais, Revistas e Papelaria (-26,1%) e Equipamentos e Materiais para Escritório, com retração expressiva de -32,3%. Importante destacar que esses dois últimos setores tiveram forte migração para as vendas online durante a pandemia, o que em parte explica os resultados amplamente negativos.

Figura 5 – Variação acumulada em 12 meses no volume das atividades de venda no comérciovarejista ampliado e suas subdivisões em Santa Catarina (volume de abril de 2020 a abril de 2021)

F5

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Considerações Finais

O setor de comércio varejista apresentou recuperação durante este mês de abril de 2021, tanto em seu desempenho nacional quanto em Santa Catarina. Da mesma forma, também o acumulado dos quatro primeiros meses do ano apresenta uma variação dentro das expectativas, com alta de 4,5%.

De qualquer modo, com o intervalo entre o fim do programa de auxílio emergencial e sua retomada, houve depressão no movimento de incentivo à demanda, fazendo com que o volume de vendas retornasse ao nível verificado no pré-pandemia, apresentando atualmente oscilações ora positivas ora negativas para os primeiros meses de 2021.

Em termos subsetoriais, ainda se verificam atividades com incapacidade de retorno ao desempenho anterior à pandemia do novo coronavírus. Alguns deles apontam para o fato de que a Covid-19 acelerou mudanças em hábitos de consumo que já vinham em curso, como por exemplo, no setor de livros, jornais, revistas e papelaria, assim como no ramo de equipamentos e materiais de escritório, informática e comunicação. Sendo assim, a recuperação atual é marcada por dois fatores principais: oscilação e heterogeneidade.

Em Santa Catarina observa-se uma performance histórica mais consistente no setor de comércio. Enquanto nacionalmente dos 10 subsetores do comércio apenas metade deles obteve resultado positivo no acumulado dos últimos 12 meses, em Santa Catarina somente 3 subsetores se encontram nesta condição. Ainda assim, no momento atual, os indicadores do Estado são apenas ligeiramente mais robustos que o desempenho nacional, deixando Santa Catarina em posição intermediária no mapa brasileiro, quando comparada com outras UF.

A ampliação da cobertura vacinal e a gradual eliminação das restrições à circulação de pessoas ao longo dos meses de maio e junho aponta para uma possível retomada mais constante do setor, na expectativa de que datas como o dia das mães e o dia dos namorados possam reaquecer de maneira mais uniforme as vendas e o desempenho do Comércio.

Referência

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal de Comércio – PMC. Rio de Janeiro: IBGE. Disponível em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 02 de jun. 2021  


[1] Graduando em Ciências Econômicas da UFSC e bolsista do NECAT. Email: matheusrosa.contato@outlook.com

[2] Professor do curso de Relações Internacionais da Univali. Economista, mestre em Relações Internacionais e Pesquisador do NECAT/UFSC. danicorreadasilva@gmail.com

[3] Os resultados desse setor são de importante consideração, pois representam a maior participação dentre os setores no agregado do comércio varejista ampliado, no Brasil e em Santa Catarina.

[4] A retração diz respeito apenas ao âmbito das lojas físicas que compõem esse setor de atividades. Como aponta a pesquisa, o resultado é condicionado pela “contínua substituição dos produtos impressos pelo meio eletrônico e redução de lojas físicas, movimento intensificado pela pandemia de Coronavírus.” (ver pg. 5, PMC-Abril2021)