PNADC – Divulgações mensais (2020)
Por: Vicente Loeblein Heinen[1]
Esta página apresenta um acompanhamento dos principais destaques das divulgações mensais (trimestres móveis) da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do IBGE, ao longo de 2020. Um resumo da estrutura da PNADC pode ser conferido neste link. Para um maior detalhamento da metodologia e dos indicadores da Pesquisa, clique aqui.
Out-Nov-Dez/2020
Desocupação:
- A taxa de desemprego ficou em 13,9%, apresentando queda com relação à divulgação anterior. Pela primeira vez desde o início da pandemia essa queda se deve à diminuição da população desocupada que, apesar disso, ainda abrange 13,9 milhões de brasileiros.
Ocupação:
- A população ocupada cresceu em 3,7 milhões no trimestre, indicando a continuidade da retomada do emprego, todavia em um ritmo um pouco mais lento (4,5%, face a 4,8% da última divulgação). Com isso, o Brasil fechou 2020 com um déficit de 8,4 milhões de ocupações, uma vez que as vagas recuperadas desde julho equivalem a apenas 43% da perda acumulada no restante do ano.
Força de trabalho:
- O ritmo de retorno da população ao mercado de trabalho segue acelerado. A força de trabalho aumentou em 3,5 milhões pessoas no 4º trimestre, enquanto a força de trabalho potencial (pessoas que gostariam de trabalhar, mas não procuraram emprego ou não poderiam assumi-lo) diminuiu em 1,5 milhão. Por consequência, a taxa de participação na força de trabalho apresentou novo aumento, atingindo 56,8%.
Subutilização da força de trabalho:
- A taxa de subutilização (medida que engloba desocupados, força de trabalho potencial e subocupados) apresentou leve queda, ficando em 28,7%. Esse resultado se deve principalmente à redução da força de trabalho potencial. Contudo, vale destacar o crescimento significativo da subocupação, que aumentou em 580 mil pessoas. Conforme já vínhamos alertando, a tendência é que a retomada do emprego seja acompanhado elevados índices de subocupação.
Posição na ocupação e categoria no emprego:
- Os postos de trabalho gerados no período foram sobretudo trabalhos por conta própria (saldo de 1,5 milhão de ocupações, majoritariamente sem CNPJ) e empregos sem carteira (1 milhão de ocupações). O emprego com carteira no setor privado retornou a níveis baixos de crescimento (1,8%), com saldo de 500 mil vagas. Dentre os trabalhadores domésticos, houve crescimento expressivo nos sem carteira, mas retração nos com carteira. As demais categorias permaneceram praticamente estagnadas. Esses resultados indicam que a retomada do emprego está se dando mediante um crescimento agudo da informalidade.
Setor de atividade econômica:
- O principal setor responsável pela atual fase de retomada é o comércio, que recuperou 800 mil ocupações no trimestre, impulsionado pelas vendas de final de ano. Esse resultado ainda está longe de compensar as perdas anteriores do setor, que fechou 2020 com um déficit de quase 2 milhões de vagas. Além disso, também houve crescimento expressivo do emprego nos serviços prestados às empresas (600 mil vagas) e no segmento que reúne serviços de saúde, educação e administração pública (500 mil). Com isso, ambos os setores aproximaram-se de seus níveis pré-pandemia. Diferentemente, os serviços de alojamento e alimentação tiveram saldo de 250 mil vagas no trimestre, todavia fecharam o ano com perda de 1,6 milhão de ocupações. O mesmo ocorre, embora em menor intensidade, na indústria e na construção, cujos saldos trimestrais (330 mil e 300 mil, respectivamente) ainda deixam um resultado anual muito negativo (-1,3 milhão e 800 mil)
Rendimentos do trabalho:
- Puxada pelo crescimento da população ocupada, a massa de rendimentos efetivamente recebidos cresceu 5,6% no trimestre, todavia segue 10% abaixo do nível registrado ao final de 2019. O rendimento médio real ficou praticamente estagnado no trimestre, encerrando 2020 com queda de 1%.
Set-Out-Nov/2020
Desocupação:
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A taxa de desemprego ficou em 14,1%, apresentando queda com relação à divulgação anterior. Esse desempenho se deve à retomada da força de trabalho e das ocupações, muito embora a população desocupada siga com crescimento marginal. Ao todo, 14 milhões de brasileiros encontravam-se desempregados entre setembro e novembro.
Ocupação:
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A população ocupada cresceu em 3,9 milhões no último trimestre, indicando a continuidade da retomada do emprego. Ainda assim, os postos de trabalho recuperados desde julho equivalem a apenas 40% da perda acumulada ao longo do ano. Em comparação com o mesmo período de 2019, o país ainda conta com um déficit de 8,8 milhões de ocupações.
Força de trabalho:
-
Os dados de novembro também reforçam o ritmo acelerado de retorno da população ao mercado de trabalho. A força de trabalho aumentou em 4,1 milhões pessoas no trimestre. Por consequência, a taxa de participação na força de trabalho apresentou novo aumento, atingindo 56,6%.
Subutilização da força de trabalho:
- Puxada pela força de trabalho potencial (pessoas que gostariam de trabalhar, mas não procuraram emprego ou não poderiam assumi-lo), que diminuiu em 2,1 milhões, a taxa de subutilização apresentou queda trimestral, ficando em 29%. Nos próximos períodos, a tendência é que essa queda se arrefeça, uma vez que a retomada do emprego deve se dar com elevados níveis de subocupação.
Posição na ocupação e categoria no emprego:
-
Os postos de trabalho gerados no período foram sobretudo trabalhos por conta própria (saldo de 1,4 milhões de ocupações, praticamente todas sem CNPJ) e empregos sem carteira (1 milhão de ocupações). A novidade com relação a divulgação anterior é a reação dos empregos com carteira no setor privado (900 mil vagas), ainda que em ritmo lento (3,1%, contra 4,8% da média das ocupações). Além disso, também houve crescimento expressivos nos trabalhadores domésticos sem carteira (300 mil). As demais categorias permaneceram praticamente estagnadas. Esses resultados indicam que a retomada do emprego está se dando mediante um crescimento agudo da informalidade.
Setor de atividade econômica:
-
O principal responsável pela atual fase de retomada é o comércio, que recuperou 850 mil ocupações no trimestre. Esse movimento deve se estender para os próximos períodos, visto que o setor segue com um déficit 1,9 milhão de vagas no acumulado do ano. Partindo de um patamar extremamente deprimido, os serviços de alojamento e alimentação ensaiam uma retomada, tendo recuperado 400 mil postos de trabalho. Além disso, houve crescimento expressivo na construção (8,4%) e, em menor medida, na indústria (4,4%). Nenhum grupamento apresentou queda no trimestre.
Rendimentos do trabalho:
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Puxada pelo crescimento da população ocupada, a massa de rendimentos efetivamente recebidos cresceu 6% no trimestre. Com a retomada de empregos com menor remuneração contrabalanceando o período final de normalização das jornadas de trabalho, o rendimento médio real cresceu apenas 1,4%.
Ago-Set-Out/2020
Desocupação:
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A taxa de desemprego ficou em 14,6%, apresentando queda com relação à divulgação anterior. Esse desempenho se deve à retomada da força de trabalho e das ocupações, muito embora a população desocupada siga com crescimento marginal. Ao todo, 14 milhões de brasileiros encontravam-se desempregados entre agosto e outubro.
Ocupação:
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O fechamento de postos de trabalho atingiu seu pico em julho. Nos três meses seguintes, a população ocupada cresceu em 2,3 milhões de pessoas, indicando uma aceleração da retomada do emprego no período. Com isso, o nível de ocupação (ocupados/população em idade ativa) subiu para 48%. Ainda assim, o país continua com um déficit de 9,7 milhões de ocupações com relação ao mesmo período do ano passado, quando o nível da ocupação era de 55%.
Força de trabalho:
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O trimestre encerrado em outubro marca o retorno da população ao mercado de trabalho. A força de trabalho aumentou em 3,2 milhões pessoas no trimestre. Com isso, a taxa de participação na força de trabalho voltou a crescer, atingindo 56%.
Subutilização da força de trabalho:
- Puxada pela força de trabalho potencial (pessoas que gostariam de trabalhar, mas não procuraram emprego ou não poderiam assumi-lo), que diminuiu em 1,9 milhão, a taxa de subutilização apresentou leve queda trimestral, ficando em 29,5% (ainda 5,7 p.p. acima do mesmo período do ano anterior).
Posição na ocupação e categoria no emprego:
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A retomada dos postos de trabalho no período concentrou-se em duas categorias: os trabalhadores por conta própria (saldo de 1 milhões de ocupações, praticamente todas sem CNPJ) e os empregados no setor privado sem carteira (800 mil ocupações). Além disso, também houve crescimento expressivos nos trabalhadores domésticos sem carteira (200 mil). Dentre os empregados no setor privado com carteira, foram recuperadas 384 mil vagas, o que representa um crescimento relativamente baixo, de 1,3% (o crescimento médio do conjunto das categorias foi de 2,8%). Nas categorias que seguem em baixa, o destaque são os empregados no setor público. Esses resultados indicam que a retomada do emprego está se dando mediante um crescimento agudo da informalidade.
Setor de atividade econômica:
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Os setores com melhor desempenho no trimestre foram o comércio e a construção, que foram responsáveis pela retomada de 660 mil e 570 mil ocupações, respectivamente. No caso da construção, esse saldo representa um crescimento de 10,7%, que recuperou grande parte das perdas acumuladas no ano. Já no caso do comércio, ainda há um déficit de cerca de 2 milhões de vagas no acumulado do ano. Partindo de um patamar extremamente deprimido, os serviços de alojamento e alimentação finalmente apresentaram reação, mediante a retomada de 170 mil vagas. Além disso, houve crescimento de 3% na indústria e 3,8% na agropecuária. O único setor que registrou queda foi o de Administração pública, educação, saúde e serviços sociais (-140 mil). Nos demais grupamentos, a variação foi positiva, todavia abaixo da média.
Rendimentos do trabalho:
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Com a retomada das ocupações, a massa de rendimentos efetivamente recebidos cresceu 6%. Ainda se valendo da retomada das jornadas de trabalho habituais, o rendimento médio efetivamente recebido cresceu 3,3% no trimestre.
Jul-Ago-Set/2020
Desocupação:
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A taxa de desemprego é a mais alta da história recente do país, atingindo 14,6%. Essa taxa cresceu em 1,3 ponto percentual com relação ao trimestre anterior, devido ao surgimento de 1,3 milhões de novos desempregados (maior aumento trimestral da série histórica). Ao todo, já são 14 milhões de brasileiros desempregados.
Ocupação:
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O Brasil perdeu 800 mil postos de trabalho no trimestre, acumulando o fechamento de 11,4 milhões de ocupações desde o final de 2019. A comparação desse número com as divulgações anteriores corrobora a avaliação de que os desligamentos vem se desacelerando, podendo ter atingido seu pico em julho. Em razão disso, o nível de ocupação (ocupados/população em idade ativa) permaneceu estável, na casa dos 47%. Esse nível era de 55% no mesmo período de 2019.
Força de trabalho:
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O movimento de saída do mercado de trabalho também parece ter atingido seu auge. A população fora da força de trabalho aumentou em 800 mil pessoas no trimestre, apontando para a reversão dessa tendência a partir de setembro. A prova disso é que a força de trabalho potencial (pessoas que gostariam de trabalhar, mas não procuraram emprego ou não poderiam assumi-lo) voltou a cair (-665 mil pessoas), indicando um crescimento gradual na procura por trabalho. Por consequência, a taxa de participação na força de trabalho atingiu seu ponto de inflexão, na casa dos 55%. Sua aceleração mais drástica deve ocorrer com a redução do pagamento do Auxílio Emergencial.
Subutilização da força de trabalho:
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Com o aumento da desocupação e da força de trabalho potencial, a taxa de subutilização atingiu 30,3%, apresentando alta trimestral de 0,4 p.p. e anual de 6,3 p.p.
Posição na ocupação e categoria no emprego:
-
A maioria das categorias permaneceram com saldos negativos no trimestre. As demissões concentraram-se principalmente entre os empregados no setor privado com carteira, que perderam 800 mil postos de trabalho. A novidade do trimestre foram as quedas no setor público, onde houve perda de 8,2% das ocupações dos empregados com carteira; e de 7,7% dos sem carteira. As primeiras categorias que voltaram a apresentar saldos positivos foram os trabalhadores por conta própria sem CNPJ (338 mil ocupações) e, em menor medida, os trabalhadores auxiliares a trabalhos familiares (141 mil) e os empregadores sem CNPJ (18 mil). Esses resultados apontam que a retomada do emprego no país deve contar com uma grave elevação no grau de informalidade do mercado de trabalho.
Setor de atividade econômica:
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O grupamento mais afetado no trimestre foi o que engloba administração pública, saúde e educação, que perdeu cerca de 600 mil vagas. Além disso, houve perdas significativas na indústria e nos serviços em geral. O comércio passou a assumir tendência de retomada, zerando o saldo com relação ao trimestre anterior. De forma um pouco mais lenta, o mesmo movimento é observado nos serviços de alojamento e alimentação. Em termos relativos, o pior resultado do trimestre foi o dos transportes (-5,2%). O melhor, foi o da construção (7,5%), que abriu 400 mil novas vagas. Esse resultado pode estar relacionado com a proximidade do período com as eleições municipais e o aumento no número de obras que o acompanham, além dos investimentos associados às baixas taxas de juros básicas.
Rendimentos do trabalho:
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A massa de rendimentos efetivamente recebidos passou a apresentar uma incipiente retomada, com crescimento trimestral de 2%. Os rendimentos médios cresceram 4% no trimestre. acompanhando a retomada das jornadas de trabalho habituais. Nos próximos períodos, a tendência é que a gradual reincorporação da população ocupada contenha o crescimento desse indicador.
Jun-Jul-Ago/2020
Desocupação:
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A taxa de desemprego no Brasil bateu novo recorde da série histórica, atingindo os 14,4%. Essa taxa cresceu em 1,6 ponto com relação ao trimestre anterior, em razão do aumento em 1 milhão na população desocupada, que já totaliza 13,8 milhões de pessoas. Esses dados indicam que a procura por trabalho começou a acelerar a partir de agosto, embora ainda represente uma parcela reduzida do total de empregos perdidos desde março. Em decorrência disso, a taxa de desocupação ainda não atingiu seu auge, devendo seguir em alta nas próximas divulgações.
Ocupação:
-
O Brasil perdeu 4,3 milhões de postos de trabalho entre junho e agosto. A comparação desse número com as divulgações anteriores indica que o ritmo do fechamento de vagas diminuiu, podendo ter atingido seu pico. Ainda assim, o nível de ocupação (ocupados/população em idade ativa) bateu mais um recorde negativo, chegando aos 46,8%.
Força de trabalho:
-
No mesmo sentido, o movimento de saída do mercado de trabalho também se arrefeceu. Muito em razão dos resultados de junho, a população fora da força de trabalho aumento em 4,2 milhões no trimestre. A maior parte dessa população segue localizada na força de trabalho potencial (pessoas que gostariam de trabalhar, mas não procuraram emprego ou não poderiam assumi-lo) que aumentou em 1,7 milhões. A taxa de participação na força de trabalho ficou em 54,7%, devendo voltar a aumentar nos próximos meses, conforme a procura por trabalho se intensifique.
Subutilização da força de trabalho:
-
Com o aumento da desocupação e da força de trabalho potencial, a taxa de subutilização atingiu os 30,6%. Esse percentual é 3,1 p.p. superior ao do trimestre anterior e o maior já registrado em toda a série histórica.
Posição na ocupação e categoria no emprego:
-
Todas as categorias de ocupação permaneceram com saldos negativos no trimestre. As demissões concentraram-se principalmente entre os empregados no setor privado com carteira, que perderam 2 milhões de ocupações. Em termos relativos, a categoria mais afetada foram os trabalhadores domésticos (-9,4%), os empregados no setor público sem carteira (7,7%) e os trabalhadores autônomos sem CNPJ (7,4%).
Setor de atividade econômica:
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O setor mais afetado no trimestre ainda foi o comércio (-754 mil vagas). A novidade ficou por conta do setor de administração pública, educação e saúde, que fechou 740 mil postos de trabalho entre junho e agosto. O único setor que apresentou crescimento no período foi o da agropecuária (228 mil novas ocupações). Em termos relativos, o pior resultado foi o dos serviços de alojamento e alimentação, que registraram queda de 15% no trimestre.
Rendimentos do trabalho:
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Neste trimestre, houve uma redução no ritmo de queda na massa salarial efetivamente recebida, que, no entanto, ainda declinou 4,7%. Já os rendimentos médios permaneceram estagnados, o que pode indicar que a saída do mercado de trabalho (principalmente entre os autônomos) e as demissões cessaram entre os trabalhadores com menor remuneração. Nos próximos períodos, a tendência é de gradual reincorporação da população ocupada, a qual deve ser acompanhada por quedas no rendimento médio.
Mai-Jun-Jul/2020
Desocupação:
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A taxa de desemprego no Brasil bateu o recorde da série histórica (iniciada em 2012), atingindo os 13,8%. Essa taxa cresceu em 1,2 ponto com relação ao trimestre anterior, em razão do aumento em 319 mil pessoas na população desocupada, que chegou à marca dos 13 milhões. Embora tenha havido um incremento inicial na procura por trabalho a partir de julho, ele ainda é muito inferior ao volume de postos de trabalho perdidos desde abril, o que indica que a taxa de desemprego ainda está longe de seu pico.
Ocupação:
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O Brasil perdeu 7,2 milhões de postos de trabalho entre maio e junho. A comparação desse número com as divulgações anteriores indica que as demissões continuaram, mas que seu ritmo diminuiu. Isso quer dizer que o mercado de trabalho brasileiro esteve próximo ao fundo do poço da atual crise em julho. A profundidade desse poço é revelada pelo nível de ocupação (ocupados/população em idade ativa), que bateu um novo recorde negativo no trimestre, chegando aos 47,1%.
Força de trabalho:
-
Em consequência disso, o movimento de saída do mercado de trabalho também inicia uma tendência de desaceleração. Muito em razão dos resultados de maio e junho, a população fora da força de trabalho aumento em 8 milhões no trimestre. A maior parte dessa população segue localizada na força de trabalho potencial (pessoas que gostariam de trabalhar, mas não procuraram emprego ou não poderiam assumi-lo) que aumentou em 4,2 milhões. Com isso, a taxa de participação na força de trabalho atingiu o piso de 54,7%.
Subutilização da força de trabalho:
-
Com o aumento da desocupação e da força de trabalho potencial, a taxa de subutilização atingiu os 30,1%. Esse percentual é 4,5 p.p. superior ao do trimestre anterior e o maior já registrado na série histórica.
Posição na ocupação e categoria no emprego:
-
As demissões no trimestre foram concentradas entre os empregados no setor privado com carteira (-2,8 milhões de ocupações) e nos trabalhadores por conta própria sem CNPJ (-1,6 milhão). Em termos relativos, a categoria mais afetada foram os trabalhadores domésticos sem carteira e os empregados no setor privado sem carteira, cujo estoque de ocupações caiu em 19% e 14%, respectivamente.
Setor de atividade econômica:
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O setor mais afetado segue sendo o comércio (-1,6 milhão de vagas), seguido por alojamento e alimentação (-1,1 milhão). Com sinais de lenta retomada, a indústria fechou o trimestre com saldo de -916 mil vagas. Em termos relativos, os mais afetados são os serviços pessoais, que registraram queda de 17% no trimestre.
Rendimentos do trabalho:
-
A massa salarial efetivamente recebida caiu 11,8%, e o rendimento médio diminuiu em 4%, reforçando a tendência de que as pessoas que perderam suas ocupações foram sobretudo as com menores salários.
Abr-Mai-Jun/2020
Desocupação:
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A taxa de desemprego segue subindo, já atingindo 13,3%. Ela já cresceu 1,1 ponto percentual com relação ao 1º trimestre, no entanto o número de desocupados (12,8 milhões) permaneceu praticamente estável. Isso se deve principalmente ao fato de que grande parte dos trabalhadores ainda não voltou a procurar emprego, indicando que ainda não estamos na fase mais acelerada do crescimento do desemprego.
Ocupação:
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Pelas próprias características da atual crise, em que a procura por trabalho é retida, o melhor indicador conjuntural é a população ocupada. Nesse sentido, o dado fundamental é que o Brasil perdeu cerca de 9 milhões de postos de trabalho apenas no 2º trimestre de 2020. Isso quer dizer que, em somente 3 meses, o país perdeu 3 vezes mais empregos do que havia perdido nos dois anos mais agudos (2015-2016) da recente crise econômica. Com isso, o nível de ocupação (ocupados/população em idade ativa) também bateu novo recorde negativo, recuando 5,6 pontos percentuais (p.p.) com relação ao trimestre anterior.
Força de trabalho:
- Entre abril e junho de 2020, 10,5 milhões de brasileiros saíram do mercado de trabalho, principalmente por não haver emprego disponível em sua localidade. A maioria dessas pessoas migrou pra força de trabalho potencial (pessoas que gostariam de estar trabalhando, mas que não procuram emprego ou não puderam assumir), que incorporou 5,2 milhões de pessoas no trimestre. Com isso, a taxa de participação na força de trabalho continua cavoucando o fundo do poço, ficando em meros 55,3% neste trimestre.
Subutilização da força de trabalho:
-
Com esse crescimento inédito da força de trabalho potencial, a taxa de subutilização também bateu recorde, atingindo os 29,1%. Esse percentual é 4,8 p.p. superior ao do 1º trimestre.
Posição na ocupação e categoria no emprego:
-
Seguindo as tendências da última divulgação, as demissões no trimestre foram concentradas entre os empregados no setor privado, seja com carteira (-2,9 milhões de ocupações) ou sem carteira (-2,4 milhões) e nos trabalhadores por conta própria sem CNPJ (-2,4 milhões). Em termos relativos, a categoria mais afetada foram os trabalhadores domésticos sem carteira, que diminuíram em cerca de 1 milhão de pessoas, o que representa cerca de ¼ de todas as ocupações dessa categoria.
Setor de atividade econômica:
-
O setor mais afetado segue sendo o comércio (-2,1 milhões de vagas), seguido por alojamento e alimentação (-1,3 milhão). As demissões na indústria desaceleraram com relação ao último trimestre móvel (encerrado em maio), todavia o setor ainda perdeu 1,1 milhão de vagas em comparação com o 1º trimestre do ano.
Rendimentos do trabalho:
-
A massa salarial efetivamente recebida caiu 20,4% e o rendimento médio efetivo diminuiu em 11,8%. Isso indica a forte contração dos rendimentos do trabalho, justificando as compensações por outras fontes, como o Auxílio Emergencial. Como as pessoas que perderam empregos foram sobretudo as com menores salários, o fim do Auxílio Emergencial deve fazer com que a procura por trabalho cresça de forma muito acelerada nos próximos meses.
Mar-Abr-Mai/2020
Desocupação:
- Embora tenha apresentado alta, ficando em 12,9%, a taxa de desocupação ainda não reflete a perda de ocupações, uma vez que ainda não houve um aumento na procura do emprego. A rigor, a população desocupada inclusive caiu no trimestre (-300 mil pessoas), devido ao intenso movimento de saída da força de trabalho.
Ocupação:
-
Assim, o indicador de desemprego contrasta enormemente com os de emprego. Com o agravamento dos efeitos da crise associada à Covid-19, 7,7 milhões de brasileiros perderam suas ocupações, o abrange 8,3% de todos os postos de trabalho do país.
Força de trabalho:
- Como esses trabalhadores que perderam suas ocupações não permaneceram no mercado de trabalho procurando emprego, a força de trabalho reduziu em 7,4 milhões de pessoas. Com isso, a taxa de participação na força de trabalho registrou uma queda inédita, atingindo 56,8% no trimestre (5,3 p.p. abaixo do mesmo período de 2019).
Subutilização da força de trabalho:
-
A maior parte das pessoas que saíram do mercado de trabalho desajaria estar trabalhando. Essa população é captada pela medida da força de trabalho potencial, que aumentou em 3,9 milhões no trimestre. Esse aumento súbito levou a um rápido aumento da taxa de subutilização, que atingiu 27,5%, registrando alta trimestral de 4 p.p.
Posição na ocupação e categoria no emprego:
-
As maiores perdas de postos de trabalho ocorraram entre os empregados no setor privado, seja com carteira (2,5 milhões) ou sem carteira (2,4 milhões). Além disso, foram perdidas 2,2 milhões de ocupações entre os trabalhadores por conta própria sem CNPJ, que tendem a ocupar posições extramemente vulneráveis no mercado de trabalho. A única categoria que registrou alta foi o setor público, devido à sua maior estabilidade e às demandas associadas à pandemia.
Setor de atividade econômica:
-
O setor mais afetado foi o comércio (-2 milhões de vagas), seguido pelos serviços de alojamento e alimentação e pela indústria (ambos com perda de 1,2 milhão de ocupações). O único setor que teve variação positiva foi o que congrega as atividades de administração pública, educação e saúde, tendo sipo puxado por este último segmento.
Fev-Mar-Abr/2020
Desocupação:
-
A taxa de desocupação ainda não refletiu a perda inédita de empregos associada à crise da Covid-19, tendo ficado em 12,6% (praticamente igual ao mesmo trimestre de 2019). Entretanto, já chama a atenção que os desocupados aumentaram 900 mil pessoas com relação ao trimestre anterior, chegando a 12,8 milhões.
Ocupação:
- Na atual fase da crise, a deterioração do mercado de trabalho é percebida principalmente pelos indicadores de ocupação. Com o agravamento dos impactos da pandemia a partir de março, neste trimestre a população ocupada no país já reduziu-se em 4,9 milhões de pessoas, representando a queda inédita de 5,2%. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, a perda de ocupações já chega a 3,1 milhões.
Força de trabalho:
-
A participação na força de trabalho apresentou a maior queda de toda a série histórica, recuando 3 p.p. com relação ao mesmo trimestre de 2019, e atingindo 59%. Isso se deve aos 5,2 milhões de pessoas que saíram da força de trabalho, seja pela quarentena, por afastamentos ou por falta de perspectivas de encontrar emprego.
Subutilização da força de trabalho:
- Grande parte das pessoas que saíram do mercado de trabalho migraram para a força de trabalho potencial (pessoas que gostariam de estar trabalhando, mas que não procuram emprego ou não puderam assumi-lo), o que indica o caráter involuntário desse movimento. Nesse sentido, observa-se que tal medida cresceu em 1,9 milhão de pessoas. Isso só não se refletiu em um aumento tão acelerado da subutilização da força de trabalho neste momento pois os primeiros a perderem seus trabalhos foram os subocupados, que diminuíram em meio milhão de pessoas, justamente por tenderem a ocupar posições mais vulneráveis no mercado de trabalho, com maior flexibilidade e menor grau de proteção social. Com isso, a taxa de subutilização (que agrega as categorias de desocupação, força de trabalho potencial e subocupação) ficou em 25,6%, apresentando alta de 2,5 p.p. com relação ao trimestre imediatamente anterior e de 0,7 p.p. na compação com o mesmo trimestre de 2019.
Posição na ocupação e categoria no emprego:
- As perdas de ocupações do trimestre concentraram-se entre os empregados no setor privado, seja com ou sem carteira (ambos com queda de 1,5 milhão de empregos cada) e os trabalhadores por conta própria sem CNPJ (também com queda de cerca de 1,5 milhão de ocupações). Além disso, o número de empregadores diminuiu em 1,2 milhão, indicando o fechamento de um grande número de pequenos estabelecimentos (que ocupam a maioria deles).
Setor de atividade econômica:
-
Os setores mais atingidos foram aqueles que exigem maior contato pessoal direto. Em termos absolutos, as maiores quedas trimestrais ocorreram no comércio (-1,2 milhao de vagas), seguido por construção (-880 mil), serviço doméstico (-730 mil) e alojamento e alimentação (-700 mil).
Rendimentos do trabalho:
-
A massa de rendimentos efetivamente recebidos caiu 3,3% no trimestre e o rendimento médio aumentou 2%, indicando que as pessoas que perderam suas ocupações foram sobretudo as com menores salários.
[1] Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat. E-mail: vicenteheinen@gmail.com.