Atividade industrial catarinense apresentou nova retração no mês de junho de 2021

15/09/2021 08:57

Por: Matheus Souza da Rosa[1] e Lauro Mattei[2]

A Pesquisa Industrial Mensal, Produção Física Regional (PIM-PFR) relativa ao mês de junho mostrou um cenário de estagnação da atividade industrial, tanto no âmbito do país como no estado de Santa Catarina. No caso do conjunto do país, os dados nacionais revelaram o segundo indicador de estagnação do ano na série mensal, enquanto os registros estaduais mostram a quinta variação negativa seguida no ano. Com isso, o índice nacional de atividade industrial continua oscilando em torno dos mesmos níveis verificados em março de 2021, enquanto o índice estadual estava no patamar de setembro de 2020.

Nas UFs pesquisadas foi registrado um desempenho desigual, com 10 das 14 UFs consideradas apresentando variações negativas na série mês a mês. Os piores dados ficaram por conta de Paraná (-5,7%), Pará (-5,7%) e Pernambuco (-2,8%), os quais já vinham apresentando quedas nos meses anteriores. Já Bahia (10,5%), Amazonas (4,4%) e Ceará (3,8%) configuraram-se como destaques positivos. Vale registrar que a forte expansão na Bahia deve-se, em grande parte, aos expressivos resultados negativos registrados em todos os meses anteriores do ano.

Neste texto, analisam-se os resultados da PIM-PRF com o objetivo de compreender a atual dinâmica da atividade industrial no país e em Santa Catarina, contextualizando esses resultados com a atividade econômica geral e as particularidades decorrentes do estágio atual da pandemia.

A Produção Industrial do Brasil em Junho de 2021

A Tabela 1 apresenta uma síntese das séries que buscam ilustrar a atividade industrial nacional. Em primeiro lugar, chama atenção a estagnação registrada na série mês a mês, com variação nula, o que coloca o Índice de Produção Física Industrial no mesmo patamar do último mês de março. Este dado atual insere-se no contexto anual que já registrou três retrações, uma estagnação e uma expansão na série mensal, configurando um quadro de instabilidade na série com leve tendência de queda.

Na comparação com junho de 2020, contudo, há o registro de expansão, com variação de 12%. Essa expansão pode ser compreendida em decorrência das dificuldades então enfrentadas em junho de 2020, mês no qual os impactos da pandemia sobre a dinâmica se mostravam mais presentes, atravancando a produção e dificultando a formação de expectativas. Nos estados também se verifica esse contraste positivo, tendo sido registradas 9 expansões dentre as 14 UFs pesquisadas. Os melhores saldos no Espírito Santo (34,3%), Ceará (31,1%) e Amazonas (24%).

Tabela 1: Variação da atividade industrial no Brasil em diversos períodos

T1

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

A série do acumulado do ano, que compara o desempenho dos primeiros seis meses de 2021 com o quadro dos primeiros seis meses de 2020, também registra expansão, com variação de 12,9%. O dado de junho é o sexto positivo do ano, concretizando um cenário no qual o desempenho industrial de 2021 é mais promissor do que em 2020, ainda que os dados mensais, como vimos, mostrem que esse desempenho ainda é bastante oscilante. Nos estados, a série registrou altas em 11 localidades, sendo os destaques por conta de Ceará (26,8%), Amazonas (26,6%) e Santa Catarina (26,1%). Por outro lado, registrou-se novamente retração considerável na Bahia (-15%)[3], além dos resultados negativos de Mato Grosso (-5,5%) e Goiás (-4,2%).

Por fim, a série do acumulado de doze meses registra a expansão de 6,6% em junho, consolidando a terceira expansão seguida após os dados negativos entre janeiro e março. Nas UFs o cenário também é similar, sendo novamente os destaques positivos por conta de Amazonas (16,1%), Ceará (15,2%) e Santa Catarina (15%).

Com isso, os indicadores de Atividade Industrial cujas bases de comparação se relacionam com os desempenhos de 2020 revelam um cenário positivo, porém essa primeira impressão é superada pela análise dos dados mensais, os quais caracterizam um contexto de estagnação. Essa “ilusão” gerada pelos dados acumulados decorre de uma base de comparação extremamente deprimida, além do carregamento estatístico provocado pelos resultados do segundo semestre de 2020, quando ocorreu uma breve melhora nas condições sanitárias e foram efetivadas medidas mais robustas para combater os efeitos da pandemia (IEDI, 2021).

Por meio do Gráfico 1 é possível verificar o desempenho de doze meses dos setores de atividades que estruturam a produção industrial do país. Em relação às categorias gerais, nota-se a expansão de 7,7% da indústria de transformação, bem como a alta de 6,6% da indústria geral. Já as indústrias extrativas apresentaram queda de 1,1%.

Decompondo esses dados é possível observar o desempenho setorial em maior grau de desagregação. Assim, nota-se que no mês de junho os setores com melhor desempenho no acumulado de doze meses foram máquinas e equipamentos (22,7%), produtos têxteis (19,9%), produtos do fumo (19,5%) e produtos minerais não-metálicos (19%). A alta desses setores e dos demais que também se expandiram pode ser considerada um indicativo de uma capacidade de resposta aos impasses da pandemia nos meses posteriores a junho de 2020. Por outro lado, continuam apresentando resultados negativos os setores de impressão, reprodução e gravações (-25%), manutenção, reparação e instalação de equipamentos (-11%) e outros equipamentos de transporte (-2,2%). Registre-se que tais resultados vêm ocorrendo após diversos meses, sem que ocorra qualquer sinal de reversão do ritmo de quedas mensais.

Com isso, agrega-se ao cenário de estagnação uma importante disparidade setorial, uma vez que o contexto atual é muito dispare, tendo em vista que alguns setores conseguem responder melhor do que outros aos impactos da crise econômica e da pandemia. Como destaca o IEDI, os principais problemas enfrentados por esses setores que apresentam retrações se relacionam aos “persistentes gargalos na obtenção de insumos nacionais e importados, devido ao desarranjo das cadeias produtivas provocados pelos sucessivos surtos de Covid-19 no Brasil e no mundo.” (IEDI, 2021). A reversão de tendência desses setores, contudo, é fator fundamental para que o setor industrial supere o atual cenário de estagnação.

Gráfico 1: Produção física industrial do Brasil por setores de atividade, acumulada em 12 meses

G1

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

A produção industrial de Santa Catarina em junho de 2021

Inicialmente destaca-se que o desempenho catarinense apresenta grande semelhança com os resultados da industrial nacional, uma vez que a trajetória de ambos é praticamente idêntica, ainda que haja pequenas variações de magnitudes. Como mostra o Gráfico 2, a produção industrial de Santa Catarina apresentou fortes oscilações positivas após os impactos da pandemia da Covid-19, especialmente entre os meses de maio e outubro de 2020. Todavia, já no início de 2021 notou-se uma desaceleração do ritmo do ano anterior, sendo que a partir de fevereiro do referido ano as variações passaram a ser negativas. Com isso, ao longo do primeiro semestre de 2021 apenas um único mês (janeiro) apresentou resultado positivo, ainda que pífio. A partir daí observam-se seguidas retrações, sendo que no último mês considerado (junho) a variação de foi -0,3%, o que pode ser considerado um desempenho estagnado.

Gráfico 2: Produção Física Industrial em Santa Catarina, mês contra mês imediatamente anterior com ajuste sazonal (Brasil, 2021)

G2

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

A Tabela 2 faz a síntese das variações da atividade industrial catarinense em diversos períodos. No primeiro casos (mês de junho em relação ao mês anterior) novamente foi registrado um resultado negativo da ordem de 0,3%, demonstrando mais uma vez a estagnação da atividade. Já no mês em relação ao mesmo mês do ano anterior observou-se uma expansão de 23,2%, ressaltando-se, porém, que a base de comparação encontrava-se fortemente retraída no ano anterior. Neste caso particular, a variação catarinense é superior ao resultado nacional, além da expansão catarinense ser a quarta com maior magnitude na comparação com as demais UFs pesquisadas.

Tabela 2: Variação da Atividade Industrial em Santa Catarina em diversos períodos

T2

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Da mesma forma, a série do desempenho acumulado do ano apresenta mais uma alta expressiva, com variação de 26,1%. Com esse dado todos os meses do ano apresentaram expansões na série acumulada, confirmando o cenário esperado. Da mesma forma, a série do acumulado dos doze meses registra nova expansão, com alta de 15%. Nessa série foram registradas quatro expansões e duas retrações nos meses de janeiro e fevereiro. É digno de nota, contudo, que todas as expansões dizem respeito aos meses nos quais as bases de comparação abrangem os meses de bruscas quedas da pandemia. Nos meses de janeiro e fevereiro, quando a base de comparação tem como referência os meses anteriores ao início da pandemia, são registradas retrações. Assim, excluindo-se os efeitos da Covid-19, nota-se que o início do corrente ano teve um desempenho pior que aquele registrado nos dois meses iniciais de 2020.

Com isso, o quadro geral da produção industrial catarinense no primeiro semestre de 2021 apresenta-se estagnado, inclusive com leve tendência de queda, tendo em vista que nos últimos cinco meses as variações da produção foram todas negativas. Neste caso, ressalta-se que os dados acumulados, ainda que possam ser utilizados como fontes de comparação com as outras UFs, são pouco representativos e fortemente influenciados pela situação estatística das bases de comparação.

O Gráfico 3 apresenta as variações setoriais da indústria catarinense, mostrando um cenário majoritariamente positivo no acumulado dos últimos doze meses. Os destaques positivos se localizam nos setores de máquinas e equipamentos (45,3%), metalurgia (38,7%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (32,6%), produtos têxteis (26,9%), produtos de borracha (19,9%) e veículos automotores e reboques (17,9%), destacando-se que tais setores apresentaram resultados positivos durante todo o período a partir do mês de março. O destaque negativo ficou por conta do desempenho do setor de produtos alimentícios – setor de grande importância para o desempenho industrial catarinense[4] – com retração de -8,4%.

Destaca-se que o setor de produtos alimentícios guarda uma estreita relação com o desempenho das atividades do comércio varejista, implicando que possíveis variações positivas dependerão diretamente da retomada das atividades econômicas que sejam capazes de expandir o emprego e a renda de diversos segmentos sociais, particularmente das camadas mais vulneráveis.

Gráfico 3: Produção física industrial de Santa Catarina por setores de atividades, acumulada em 12 meses

G3

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Considerações Finais

Os dados da produção industrial de junho de 2021 revelam um cenário bastante preocupante, cujas marcas principais são as quedas sequenciais, além de uma tendência de estagnação continuada, especialmente nos últimos meses. Segundo a gerência de pesquisa do IBGE, “esses dados mostram que há certa instabilidade em relação à compensação [das perdas da pandemia] e se observa um ambiente ainda muito cauteloso na indústria nacional”[5].

Do ponto de vista setorial há evidentes disparidades setoriais no escopo da série dos últimos doze meses. No âmbito nacional, alguns setores determinantes para a dinâmica industrial permanecem retraídos, de modo que uma recuperação agregada depende fortemente da reversão do cenário que está instalado nesses setores-chave.

Particularmente em Santa Catarina, é imperativa a recuperação do desempenho do setor de produtos alimentícios diante de seu dinamismo e de sua importância para a produção agregada estadual.

Por isso, recomenda-se cautela nas análises comparativas que tomam como referência o desempenho atual com períodos do ano de 2020, uma vez que os mesmos podem acabar distorcendo situações inerentes ao desempenho da atividade industrial no presente.

Em síntese, é importante registrar que a recuperação das atividades industriais, tanto no país como em santa Catarina, depende de mudanças expressivas nas políticas econômicas em curso que sejam capazes de estimular os investimentos produtivos e, com isso, retomar o nível de emprego e de renda da população brasileira.

Referências Bibliográficas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal da Indústria. Produção Física (PIM). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, junho de 2021.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal da Indústria. Produção Física Regional (PIM Regional). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, junho de 2021.

IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Carta IEDI. Edição 1098. Disponível em: https://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_1098.html.

JORNAL VALOR ECONÔMICO – Indústria recua e ritmo ainda é inferior ao pré-pandemia. Disponível em: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/08/12/industria-recua-e-ritmo-ainda-e-inferior-ao-pre-pandemia.ghtml. Agosto de 2021.


[1]Graduando em Ciências Econômicas da UFSC e Bolsista do NECAT. Email: matheusrosa.contato@outlook.com.

[2] Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador Geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br

[3] O estado baiano registrou retrações expressivas na série acumulada em todos os meses de 2021, caracterizando um desempenho muito pior em 2021 do que em 2020. Ano passado, mesmo com as dificuldades da pandemia mais presentes, o estado teve desempenho positivo puxado pelos setores da indústria de Celulose e de Produtos Derivados do Petróleo.

[4] O setor de produtos alimentícios corresponde a maior participação no valor de transformação industrial de Santa Catarina, com 21,1% no ano de 2017.

[5] Entrevista de Bernardo de Almeida, gerente da Pesquisa Industrial Mensal (PIM-PF IBGE), ao Valor Econômico.