Indústria catarinense mantém ritmo expansivo em maio

26/07/2022 15:36

Matheus Rosa*

Os resultados da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE (PIM-PF/IBGE), divulgados em julho e referentes ao desempenho de maio, revelaram um cenário de manutenção do ritmo de estagnação nacional e a consolidação da expansão catarinense na série mensal com ajuste sazonal. No primeiro caso, o resultado de 0,3% é a quarta variação estagnativa seguida na série mensal, configurando um quadro anual no qual nenhuma expansão de curto prazo foi registrada. No caso catarinense, a expansão de 1,6% consolida a expansão de 3,9% registrada em abril e delimita um horizonte positivo para a atividade industrial catarinense no curto prazo, ainda que a comparação interanual continue ligeiramente negativa.

Nas demais Unidades da Federação (UFs) presentes na pesquisa, o resultado foi disforme. Das 14 UFs, sete delas apresentaram resultados expansivos, com destaque para Amazonas (6,6%), Mato Grosso (4,6%) e Paraná (3,5%). Outras quatro registraram saldos estagnativos, incluindo São Paulo (0,3%), cujo resultado possui elevada participação na consolidação da variação nacional. Pernambuco (-2,4%), Rio de Janeiro (-4,1%) e Pará (-13,2%), por fim, registraram retrações na comparação com o desempenho de abril, influenciando negativamente o resultado nacional.

São fatores explicativos desse cenário de pouca robustez no ritmo produtivo a contínua aceleração da inflação, a manutenção do desemprego elevado e o ciclo de alta da taxa básica de juros, todos fatores que deprimem a demanda interna. Em nível internacional, similarmente, a instabilidade decorrente da guerra ucraniana, da crescente crise alimentar, da alta nos preços do petróleo e da inflação que atinge os Estados Unidos e a União Europeia, desestimula a demanda mundial e gera uma fuga de recursos para os ativos vinculados às taxas de juros em ascendência. Como saldo, há uma forte limitação de demanda interna e externa, configurando uma conjuntura que reduz a confiança do empresário industrial e desestimula a atividade produtiva. (IEDI, 2022)

Neste texto são analisados os resultados da atividade industrial no mês de maio/22 em nível nacional e estadual, com destaque para as conjunturas setoriais e para as principais tendências que estão sendo estabelecidas.

A atividade industrial do Brasil em maio de 2022

A Tabela 1 apresenta os resultados da produção física industrial nos últimos doze meses, a partir da perspectiva das quatro séries históricas presentes na PIM-PF/IBGE. Em maio os dados registraram a variação de 0,3% na série mensal com ajuste sazonal, consolidando o quarto resultado seguido característico de estagnação. O saldo desses quatro meses, ainda que positivo, não foi suficiente para reverter a retração de -1,9% registrada em janeiro/22, de modo que a variação líquida do índice de produção física com ajuste sazonal no ano é de -0,1%. No escopo dos doze meses, apenas em dezembro pode-se falar de uma efetiva expansão, sendo os demais resultados retrações ou estagnações, quadro que é sintomático das dificuldades do período.

Tabela 1: Variação da atividade industrial do Brasil em vários períodos

TABELA 1

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

A comparação com o mesmo mês do ano anterior, por sua vez, apresentou o primeiro resultado positivo desde julho do ano passado. A variação de 0,5% na comparação com maio de 2021, contudo, é também digna de um ritmo de atividade bastante débil, equivalente ao fraco ritmo consolidado ao longo de todos os meses do ano passado. Para os próximos meses, espera-se que resultados de magnitude similar sejam registrados nessa série, uma vez que as restrições de demanda decorrentes do ciclo de alta das taxas de juros devem se agravar no segundo semestre.

Já o acumulado no ano mantém o resultado negativo, com retração de -2,6% registrada em maio. Com esse dado todos os meses do ano apresentaram resultados acumulados negativos na comparação com os acumulados dos mesmos períodos do ano anterior, confirmando o descompasso do nível produtivo entre os dois anos. A tendência consolidada desde janeiro, porém, é de diminuição do ritmo das retrações, movimento que condiz com o comportamento da série mensal em relação aos meses do ano anterior.

O movimento do acumulado de doze meses, porém, se dá em oposição. Em maio registrou-se resultado de -1,9%, aprofundando a variação negativa de -0,3% que já havia sido registrada em abril. O resultado é consequência da tendência de desaceleração registrada por essa série desde agosto de 2021, o que configura um prognóstico negativo para a atividade industrial do país no médio prazo.

Com isso, o que se apresenta para o setor industrial brasileiro é uma conjuntura de desaceleração de curto e médio prazo, como mostram as séries mensais com ajuste sazonal e o acumulado de doze meses. A comparação interanual – seja pela perspectiva da comparação com os meses do ano passado ou pelo acumulado no ano – mostra uma leve recuperação, contudo essa se deve, em larga medida, ao fraco desempenho registrado em 2021. Tal quadro decorre, em termos gerais, da manutenção das dificuldades macroeconômicas e da pouca perspectiva de reversão conjuntural no curto prazo, o que desestimula os investimentos e a atividade produtiva. A desorganização dos mercados mundiais ainda vigente em decorrência da pandemia, e agravada após a deflagração da guerra na Ucrânia, da mesma forma, afeta a produção interna ao desestimular a demanda por bens industriais típicos da pauta de exportações brasileira.

A análise dos resultados setoriais da indústria auxilia na compreensão da conjuntura. Nesse sentido, a Tabela 2 elenca os resultados de maio pela Classificação por Grandes Categorias Econômicas (CGCE-IBGE), na perspectiva das mesmas quatro séries históricas antes visualizadas.

Em maio, o macrossetor de bens de capital obteve a maior expansão, com variação de 7,4% em relação ao resultado de abril. Ainda que o resultado seja expressivamente positivo, vale destacar que sua magnitude se dá em resposta à retração de -9,2% que se registrou em abril. Bens intermediários, macrossetor de maior participação na produção industrial nacional, apresentou retração de -1,3%, resultado negativo que se repete nas demais séries. O setor de Bens de consumo duráveis, por sua vez, registrou expansão na série mensal, porém em ritmo insuficiente para reverter a queda de -5,5% auferida em abril. No quadro do acumulado no ano, todos os macrossetores apresentam retrações consideráveis, ilustrando o contexto preocupante que está disseminado entre os setores da indústria nacional.

Tabela 2: Variação da atividade industrial do Brasil em vários períodos, por Grande Categoria Econômica, em maio de 2022

TABELA 2

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

Em tônica similar, a Tabela 3 mostra os resultados dos setores de atividades pela ótica mensal e segundo a classificação da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0). As indústrias extrativas registraram a segunda retração do ano, com variação de -5,6% na comparação com o desempenho de abril. O agregado das indústrias de transformação, por sua vez, apresentou resultado de 0,8%. Nos meses anteriores, o quadro consolidado para a indústria de transformação foi de ritmo oscilante, com variações positivas, porém de magnitude reduzida. O resultado de maio dá continuidade a esse cenário.

Entre os 25 subsetores da indústria de transformação, o saldo foi de 19 variações positivas e 6 negativas. O subsetor de outros equipamentos de transporte liderou o movimento expansivo, com variação de 10,3%. Em abril esse subsetor registrou queda de -7,9%, de modo que a expansão atual se caracteriza como uma recomposição com leve excedente positivo. Também tiveram expansão expressiva as atividades de preparação de couros e artefatos de couros (9,4%), produtos diversos (9,0%), e manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (7,5%).[1] Por outro lado, as atividades de outros produtos químicos (-8%), produtos de fumo (-3,7%), bebidas (-1,2%) e celulose, papel e produtos de papel (-1,2%) apresentaram os piores resultados. A retração de produtos químicos chama especial atenção, visto que o setor apresentou uma trajetória positiva e relativamente uniforme nos meses anteriores.

Tabela 3: Produção Física Industrial do Brasil por Setores de Atividades, mês a mês com ajuste sazonal

TABELA 3

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

Por fim, os resultados acumulados no ano garantem uma comparação com o ritmo setorial registrado em 2021, como mostra o Gráfico 1. Tanto as indústrias extrativas como as de transformação registraram retrações, com quedas de -2,8% e -2,6%, respectivamente. Entre os subsetores, apenas 7 dos 25 não regrediram, sendo os piores resultados concentrados nas atividades de fabricação de móveis (-21,8%, produtos têxteis (-16,6%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-16,2%) e produtos de metal (-13,3%), configurando uma conjuntura preocupante para o ritmo produtivo dos setores, especialmente quando se coloca em perspectiva o fraco desempenho do ano passado, base de comparação da série. Acumulam os maiores resultados expansivos as indústrias de produtos derivados do petróleo (10,6%), outros equipamentos de transporte (7,3%), produtos de fumo (7,2%).

Gráfico 1: Produção física industrial do Brasil por setores de atividade, acumulado no ano

GRÁFICO 1

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

 

A atividade industrial de Santa Catarina em maio de 2022

A produção física industrial catarinense registrou nova expansão em maio, no patamar de 1,6%. O resultado consolida a expansão de 3,9% registrada em abril e, de certa forma, é ponto fora da curva no contexto da trajetória recente: desde janeiro de 2021, apenas em duas ocasiões a indústria catarinense apresentou expansões reincidentes, sendo a primeira no bimestre entre janeiro e fevereiro de 2022 e a segunda agora, com os meses de abril e de maio. Esse movimento das variações mensais da produção física catarinense é ilustrado pelo Gráfico 2.

Gráfico 2: Produção Física industrial em Santa Catarina, mês contra mês imediatamente anterior com ajuste sazonal

GRÁFICO 2

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Os resultados dos últimos doze meses podem ser conferidos na Tabela 4. A expansão de 1,6% na série mensal com ajuste sazonal é quarta expansão de curto prazo no ano. Apenas em março o registro foi de retração, com variação de -3,6%. Com isso, o saldo do índice de produção física com ajuste sazonal no ano é de 4,9%, variação que supera o indicador correspondente em nível nacional. No período de doze meses, contudo, a série mensal apresentou retrações em metade dos meses, mostrando que ainda há carrego de resultados negativos concentrados no segundo semestre do ano passado.

Já a comparação com o desempenho de maio de 2021 mostra leve retração da ordem de -0,1%. O resultado, próximo da estagnação, é o primeiro no ano que não apresenta uma retração efetiva, sendo a tendência dos últimos meses de diminuição do ritmo de quedas nessa série. Em todos os meses anteriores a comparação com 2021 registrou retração, contudo, para os próximos meses é de se esperar que a série retome os resultados positivos, uma vez que as bases mensais de comparação se reduzirão a partir do segundo semestre.

A série acumulada, por outro lado, continua mostrando o descompasso entre o ritmo de desempenho de 2021 e do ano atual. Em maio, a série registrou acumulado de -6,6%, mostrando que, a despeito dos resultados positivos de curto prazo, o desempenho de 2022 é sensivelmente inferior aos níveis de 2021. Desde janeiro/22, a série acumulada registrou retrações em todos os meses, reforçando esse diagnóstico de perda de desempenho na comparação com 2021. Vale destacar, ainda, que o acumulado catarinense é o segundo pior entre as UFs, superior apenas ao resultado paraense, que apresentou acumulado retrativo de -11,9%, e inferior ao resultado nacional, de -2,6%.

O acumulado dos últimos doze meses, por fim, mostra retração de -2,3%. Desde janeiro, os resultados nessa série apresentaram visível perda de ritmo, fato que agora se consolida pelo primeiro resultado negativo da série no ano. Num escopo mais amplo, a retração de maio configura o fraco dinamismo da indústria catarinense no médio prazo, uma vez que essa série compara o acumulado dos últimos doze meses (junho de 2021 até maio de 2022) com a base acumulada nos doze meses imediatamente anteriores (junho de 2020 até maio de 2021). Como interpretação, portanto, fica claro que o resultado negativo se dá, em grande medida, pelos resultados positivos que foram obtidos no segundo semestre de 2020, que à época representaram o fôlego de curto prazo da reação após as quedas dos meses iniciais da pandemia, em março e abril de 2020.

Tabela 4: Variação da atividade industrial de Santa Catarina em vários períodos

TABELA 4

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

O desempenho setorial da indústria catarinense é ilustrado pela Tabela 5. Em maio, sete dos 12 subsetores de atividade registraram retrações, sendo as mais expressivas localizadas nas atividades de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-22,1%), produtos têxteis (-13,6%), e produtos de minerais não-metálicos (-10,6%). O resultado de máquinas, aparelhos e materiais elétricos é especialmente preocupante, visto que o setor registrou retrações consideráveis em todos os meses do ano, numa tendência retrativa que se mantém inalterada desde o segundo semestre de 2021. Produtos têxteis, setor importante para a indústria catarinense, da mesma forma registrou retrações de grande magnitude em todos os meses de 2022. Por outro lado, foram destaques positivos os resultados de máquinas e equipamentos, com variação de 15,8%, e produtos alimentícios (15,1%), este último que, por sua representatividade no estado, puxa consideravelmente o resultado agregado para cima.

Tabela 5: Produção Física Industrial de Santa Catarina por Setores de Atividades, variação mensal em relação ao mesmo mês do ano anterior

TABELA 5

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

O Gráfico 3 ilustra o acumulado dos setores no ano. Dos 12 presentes na pesquisa, apenas dois conseguem se situar com desempenho superior ao acumulado do mesmo período do ano anterior: produtos alimentícios, com variação de 3,3%, e produtos de madeira, com a modesta expansão de 1,2%. Negativamente se destacam produtos têxteis (-22,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-16,6%) e produtos de borracha e de material plástico (-14,1%), resultados que corroboram o desempenho negativo verificado pela série mensal.

Gráfico 3: Produção física industrial de Santa Catarina por setores de atividade, acumulado no ano

GRÁFICO 3

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: Necat-UFSC.

Considerações Finais

Os resultados de maio da PIM-PF mostram que a atividade industrial nacional segue apresentando resultados com baixo ritmo de crescimento. A série mensal com ajuste sazonal, por um lado, mantém a tônica de resultados estagnativos que se repete desde fevereiro, de modo que ainda está por se registrar o primeiro resultado expansivo do ano. Por outro lado, a série acumulada mostra que o descompasso em relação ao ano anterior se mantém, mesmo que numa tendência de diminuição que se reafirma desde janeiro/22.

Em nível estadual, se faz notório o ritmo positivo da série mensal com ajuste sazonal, que apresentou a quarta expansão do ano em maio. A comparação interanual, contudo, mostra um desnível considerável em relação ao acumulado do mesmo período do ano passado, numa retração de –6,6%, o que demonstra que, a despeito das expansões de curto prazo, o ritmo ainda é débil e inferior, inclusive, aos resultados negativos obtidos em 2021.

Tal conjuntura se comporta como o esperado diante das dificuldades macroeconômicas do país e do cenário externo que se complexifica. Internamente, as dificuldades se somam a partir da aceleração da inflação, da manutenção do desemprego elevado e do ciclo de alta das taxas de juros. Externamente, os resquícios da pandemia sobre as cadeias produtivas dificultam a obtenção de insumos. A relativa paralisação da economia chinesa, por um lado, e o avanço inflacionário na Europa e nos Estados Unidos, por outro, também se inserem nessa conjuntura como fatores desestimulantes para a produção industrial.

Para os próximos meses a expectativa é de manutenção do cenário, uma vez que os fatores citados não possuem perspectiva de solução no curto prazo. Pelo contrário, paira no horizonte um forte clima de incerteza em relação à capacidade de demanda do setor externo nos próximos meses. Em nível interno, apenas a reativação do crescimento econômico em conjunto com o reestabelecimento do poder de compra dos consumidores pode alavancar a demanda ao ponto de ativar um forte ritmo produtivo, porém esse também não é um prognóstico provável para o segundo semestre do ano.

Referências

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal da Indústria. Produção Física (PIM). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, maio de 2022.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal da Indústria. Produção Física Regional (PIM Regional). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, maio de 2022.

IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Maio de 2022: mês de pouco dinamismo. Carta IEDI: edição 1152. Disponível em: <https://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_1152.html>. Acesso em: 18 de julho de 2022.


* Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do Necat. E-mail: matheusrosa.contato@outlook.com

[1] Todos esses setores possuem baixa representatividade na planta industrial nacional, o que faz com que suas variações influenciem muito pouco a variação agregada.