Varejo catarinense registra quarta retração consecutiva

29/11/2022 11:08

Guilherme Ronchi Razzini*

A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC-IBGE) divulgada em novembro e com dados referentes ao mês de setembro de 2022 registrou alta de 1,5% no volume de vendas no mês de setembro, após três meses sem registrar expansões. No estado de Santa Catarina, por outro lado, houve registro de retração de -2% no volume de vendas, sendo esse o quarto mês de quedas consecutivas no estado. Da perspectiva da série interanual houve expansão de 1% no cenário nacional e de 2,1% no cenário estadual, evidenciando um setembro com volume de vendas superior a setembro do ano anterior.

Na comparação com o período pré-pandemia, ou seja, na comparação entre fevereiro de 2020 a setembro de 2022, o setor apresenta retração em nível nacional (-1,4%) e expansão no estado catarinense (8,9%).

Nos cenários regionais na comparação mês a mês com ajuste sazonal houve retração em 14 das 27 Unidades da Federação (UFs), as maiores quedas se concentraram nos estados de Goiás (-3,6%), Mato Grosso do Sul (-3,1%) e Santa Catarina (-2%). Em contraste houve expansão em 13 das 27 UFs, de forma mais intensa nos estados do Rio de Janeiro (5,5%), Paraíba (2,5%) e Rio Grande do Norte (2,5%).

Os resultados setoriais demonstram que as atividades mais sensíveis a renda como combustíveis, hipermercados e vestuário e calçados apresentaram desempenho positivo no mês frente as atividades mais sensíveis ao crédito, em parte devido as condições de crédito mais restritas em razão do aumento das taxas de juros e o alto grau de endividamento enfrentado pelas famílias. As vendas de bens sensíveis à renda cresceram 1,5% no 3º trimestre em relação ao 2º trimestre, entre os bens mais sensíveis ao crédito caíram 4,3% no 3º trimestre em relação ao trimestre anterior.

Deste modo, o presente artigo tem como objetivo ilustrar o desempenho do comércio varejista ampliado no Brasil e em Santa Catarina, a partir dos dados disponibilizados pela PMC-IBGE, no contexto do atual estágio da pandemia e da conjuntura macroeconômica.

Atividade comercial do Brasil em setembro de 2022.

A Figura 1 ilustra o desempenho do varejo ampliado desde janeiro de 2010 através de um índice com ajuste sazonal, nesta figura é possível perceber as variações do setor em resposta a atividade econômica do país e os distintos períodos da pandemia da Covid-19, desse modo a abordagem do presente texto se realizará com enfoque no período pós-pandemia.

Após a queda intensa e significativa nos meses que sucederam o início da pandemia no país, no segundo semestre de 2020 houve uma expansão acelerada que recuperou o volume de vendas e registrou expansão na comparação com o período pré-pandêmico, porém tal expansão foi diluída com a queda dos programas de auxilio de renda e a piora no cenário macroeconômico. O movimento na figura ilustra a dificuldade em criar uma sólida tendência de expansão e de recuperar a máxima histórica, ou até mesmo de se manter em patamares acima do pré-pandemia.

Desse modo é possível perceber que após a pandemia existem períodos de crescimento contínuo e quedas sucessivas, que tornam o gráfico volátil, nos últimos meses foram registradas quedas sucessivas ilustradas nos últimos períodos do gráfico, e com a recuperação do último mês.

Figura 1: Variação do volume de vendas no comércio varejista ampliado no Brasil entre janeiro de 2010 e setembro de 2022 (2014=100)

Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

A Tabela 1 apresenta as quatro séries da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) ao longo dos últimos doze meses. No indicador mês a mês com ajuste sazonal, o que melhor caracteriza o ritmo da atividade no curto prazo, foi registrada expansão de 1,5% no volume de vendas, primeira expansão registrada após três meses sem registrar expansão no indicador. Com isso, a variação do mesmo mês do ano anterior variou de   -0,7 para 1% na passagem de agosto para setembro, indicando uma leve melhora no indicador na comparação com o volume de vendas do ano anterior.

Tabela 1: Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado no Brasil (outubro de 2021 a setembro de 2022).

Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

 No índice acumulado no ano, houve variação no índice de -0,8% para -0,6% no volume de vendas. Deste modo, houve uma melhora no indicador, porém o volume de vendas do presente ano ainda está em patamares inferiores ao do ano anterior. No acumulado em doze meses assim como no acumulado no ano, houve variação de -2% para -1,6%, indicando uma melhora no indicador com o resultado do mês de setembro.

Os resultados positivos apresentados refletem a injeção de recursos através da PEC das Bondades, porém devem desacelerar nos próximos meses com a diminuição da renda disponível e com o maior impacto do aperto da política monetária. Além disso, apesar do crescimento em setembro, as vendas no varejo caíram 1,2% no terceiro trimestre de 2022.

A Tabela 2 ajuda a compreender de forma mais detalhada os resultados das atividades do setor, a partir dos resultados mensais com ajuste sazonal. Foram registradas expansões em 7 das 10 atividades do varejo ampliado, com destaque para as expansões nos segmentos de livros, jornais, revistas e papelaria (2,5%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (1,7%) e combustíveis e lubrificantes (1,3%). Por outro lado, houve retração nas atividades de outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1%), veículos, motos, partes e peças (-0,1%) e móveis e eletrodomésticos (0,1%).

O resultado das atividades que registraram retração pode ser explicado pelo encarecimento do crédito, o alto endividamento das famílias e a possibilidade de adiamento da compra de bens duráveis que afetam principalmente as atividades que demandam crédito. A atividade de hipermercados e supermercados teve grande impacto para a manutenção do índice no campo positivo, responsável por 31% do volume do varejo ampliado, a atividade apresentou expansão de 1,2% na comparação com ajuste sazonal.

 

Tabela 2: Variação mês a mês com ajuste sazonal do volume de vendas no comércio varejista ampliado e suas subdivisões no Brasil (janeiro de 2022 a setembro de 2022).

­­Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

A Figura 2 ilustra os resultados regionais na variação do acumulado no ano no Brasil e em suas respectivas UFs, 16 das 27 UFs apresentam saldo de expansão na comparação com o mesmo período do ano anterior, sendo de forma mais intensa nos estados de Roraima (7,5%), Mato Grosso (5,3%) e Tocantins (5%). Em contraste, houve retração em 11 das 27 UFs, sendo as maiores retrações registradas em Pernambuco (-8,3%), Bahia (-5,9%) e Rio de Janeiro (-4,3%).

Figura 2: Variação acumulado no ano no Brasil e suas respectivas UFs em setembro de 2022.

Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

Atividade comercial em Santa Catarina em setembro de 2022

A Figura 3 ilustra o desempenho do comércio varejista ampliado desde 2010 no estado catarinense, é possível visualizar a trajetória do setor ao longo dos anos e traçar diferentes cenários ao longo dos anos, o período compreendido entre 2010 e 2014 foi de expansão moderada, interrompida pela crise econômica. A partir de 2014, o volume de vendas segue em retração até meados de 2016, a partir deste período o saldo segue em expansão em ritmo acelerado até fevereiro de 2020.

Com o início da pandemia no estado, o volume de vendas registra uma intensa retração entre os meses de fevereiro e maio, com uma recuperação gradual até o segundo semestre de 2021, momento em que o volume de vendas atinge seu patamar recorde. A partir de daquele momento a trajetória é vacilante, com quedas e expansões voláteis que dura até os dias atuais, nos últimos meses o setor apresenta um cenário de retração, com quatro quedas consecutivas no volume de vendas, porém ainda apresentando volume de vendas de aproximadamente 8,9% superior a fevereiro de 2020.

Figura 3: Variação do volume de vendas no comércio varejista ampliado em Santa Catarina entre janeiro de 2010 e setembro de 2022 (2014=100)

Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

Os resultados da PMC para o estado catarinense estão ilustrados na Tabela 3, que apresenta as quatro principais séries temporais da pesquisa, onde estão presentes os dados na série mês a mês com ajuste sazonal, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, no acumulado do ano e no acumulado de doze meses.

No estado catarinense houve novamente retração no volume de vendas na comparação com o mês imediatamente anterior com ajuste sazonal, registrando forte retração de -2% na passagem do mês, destoando do resultado nacional que registrou expansão de 1,5%. Com o resultado negativo deste mês, o setor acumula quatro quedas consecutivas neste índice.

Tabela 3: Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado em Santa Catarina (outubro de 2021 a setembro de 2022).

Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior foi registrada expansão de 2,1% no volume de vendas, ilustrando um desempenho levemente superior ao ano anterior. No acumulado do ano houve leve queda no saldo com variação de 3,2% para 3,1%, deste modo o presente ano apresenta volume superior de vendas em comparação ao mesmo período do ano anterior.

O acumulado em doze meses, no entanto acumulado saldo levemente inferior, porém apresentou variação positiva na passagem do mês variando de 2,3% para 2,5%, é esperado que para os próximos meses os índices apresentem menor volatilidade.

A Tabela 4 apresenta os saldos acumulados no ano (janeiro de 2022 a setembro de 2022) em Santa Catarina para os dez grupos de atividade que compõem o comércio varejista ampliado.

Entre as 10 atividades pesquisadas, 6 apresentaram variação positiva no indicador, com destaque novamente para os saldos acumulados nos setores de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (25,8%), livros, jornais, revistas e papelaria (24,8%) e combustíveis e lubrificantes (13,2%). Por outro lado, destaque para as variações negativas nos setores de material de tecidos, vestuário e calçados (-7,8%) e material de construção (-5,6%).

Assim como no cenário nacional, no estado catarinense as atividades com mais sensibilidade ao crédito apresentaram maiores dificuldades frente às atividades mais sensíveis a renda. Atividades de bens duráveis como material de construção e veículos, motocicletas apresentaram retração no volume de vendas no indicador, refletindo a restrição do acesso ao crédito e o alto endividamento das famílias.

Tabela 4: Variação do volume de vendas por grupo de atividades do comércio varejista ampliado em Santa Catarina, acumulado no ano em 2022.

 

Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

Considerações finais

Com os dados da PMC-IBGE divulgados no mês de novembro com dados referente a setembro de 2022, é possível perceber melhora limitada no cenário nacional com a distribuição dos recursos oriundos da PEC das Bondades, que beneficiou principalmente as atividades mais sensíveis à renda. Entretanto, entre as atividades mais sensíveis ao crédito ainda permanece a dificuldade de expandir o volume de vendas, consequência direta da restrição ao acesso ao crédito e do alto endividamento das famílias.

Entretanto, no cenário estadual as perspectivas são de uma trajetória ainda volátil, com os últimos resultados abaixo do cenário nacional que indicam que o varejo catarinense tem apresentado maiores dificuldades frente ao restante do país, cenário que contrasta com os meses anteriores, quando o estado registrava saldos superiores ao cenário nacional.

Com a expansão acima do esperado no mês de setembro, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) revisou a expectativa para uma expansão de 1,3% no presente ano, tal resultado deve ser impulsionado também pelas vendas provenientes da Copa do Mundo e da Black Friday, tais eventos devem promover a expansão do volume de vendas no varejo. As vendas da Black Friday devem se concentrar principalmente nas atividades de móveis e eletrodomésticos, e de eletroeletrônicos e utilidades domésticas deverão responder por quase metade (48%) da movimentação financeira prevista (CNC).

De acordo com acompanhamento mensal do Banco Central, a taxa média de juros das operações com recursos livres nas operações envolvendo pessoas físicas se encontra, atualmente, no maior patamar dos últimos quatro anos e meio, tal fato somado a alta do endividamento das famílias constitui grande obstáculo para obtenção de crédito, fator fundamental para o avanço do varejo no país. Deste modo, mesmo com os grandes eventos e incentivos, os resultados não devem surpreender, e caso haja expansão no presente ano a mesma ainda deve ser considerada ínfima.

REFERÊNCIAS

 G1 GLOBO – Vendas do comércio crescem 1,1% em setembro, diz IBGE [S. l.], 17 nov. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/11/09/vendas-do-comercio-crescem-11percent-em-setembro-primeira-alta-em-5-meses.ghtml. Acesso em: 17 nov. 2022.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal do Comércio. (PMC). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, setembro de 2022.

CNC – CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO. VENDAS DO VAREJO ACELERAM ÀS VÉSPERAS DOS EVENTOS DE FIM DE ANO [S. l.], 17 nov. 2022. Disponível em: https://www.portaldocomercio.org.br/publicacoes/analise-cnc-da-black-friday-e-da-pesquisa-mensal-do-comercio_setembro-2022/450246 Acesso em: 17 nov. 2022.


* Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. E-mail: guilhermerazzini33@gmail.com