Déficit em conta corrente de março de 2016 é o menor desde agosto de 2009

28/04/2016 12:57

Por: Igor Rocha

Desde o inicio de 2015, tem ocorrido uma melhora significativa das transações correntes do país, que representam o saldo final das operações comerciais de produtos e serviços negociados pelo Brasil com outros países, e inclui ainda o saldo da balança comercial, balança de serviços e transferências unilaterais. Analisando os dados do Banco Central, a redução do saldo deficitário é resultado particularmente da alta do dólar e queda da atividade econômica que reduziu fortemente as importações por bens e serviços.

Em março, o déficit em transações correntes ficou em US$ 855 milhões. Tal número apresenta uma evolução positiva ante o resultado negativo de US$ 1,9 bilhão de fevereiro. Mais do que isso, este foi o melhor resultado desde agosto de 2009 (US$ 828 milhões). Analisando o acumulado dos últimos 12 meses, o saldo negativo das transações correntes passou de US$ 46,2 bilhões para US$ 41,4 bilhões – o que representa 2,39% do Produto Interno Bruto (PIB).

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Neste cenário, as exportações brasileiras chegaram a US$ 15,9 bilhões, enquanto as importações ficaram US$ 11,6 bilhões, registrando um saldo positivo de US$ 4,3 bilhões. No trimestre, o saldo da balança comercial registra um superávit de US$ 7,7 bilhões. O saldo comercial acumulado em 12 meses passou de US$ 27,1 bilhões para US$ 31,2 bilhões.  Outras contas ficaram negativas, como a de serviços em US$ 2,9 bilhões e a de renda primária em US$ 2,4 bilhões. Ademais a conta financeira também ficou no vermelho em US$ 355 milhões.

No que tange as despesas com viagens no exterior, os dados divulgados pelo BC mostraram que o reflexo da alta do dólar vista no ano passado foi significativa. Em números, os brasileiros gastaram no exterior US$ 1,3 bilhão em março. Para o mesmo mês no ano passado, este valor havia ficado em US$ 1,5 bilhão. Em 12 meses, a conta liquida de viagens acumula saldo negativo de US$ 9,0 bilhões. Quanto à entrada de investimento direto no país (IDP), este ficou em US$ 5,5 bilhões. O IDP tem sido a principal fonte de dólares para o país, e a entrada de recursos foi mais que suficiente para cobrir o déficit em conta corrente em março. No primeiro trimestre, o IDP totalizou US$ 16,9 bilhões, contra US$ 13,1 bilhões um ano antes. Em 12 meses (até março), o ingresso de IDP foi de US$ 78,8 bilhões (4,56% do PIB), em comparação com os 4,45% do PIB observados no acumulado até fevereiro.

Tais dados trazem um alento para o difícil momento da economia brasileira. Nos últimos 10 anos o país vivenciava uma situação delicada no balanço de pagamentos, fruto de uma balança comercial pautada pela baixa diversificação das exportações – baseada em grande medida em matérias primas – e forte dependência de insumos importados para produção e bens finais intensivos em tecnologia. Nesta perspectiva, o ajuste nas transações correntes, que compõem o balanço de pagamentos, permite afastar uma crise nas contas externas. No entanto, a despeito disso, ao se pensar em uma estratégia de crescimento sustentável é imprescindível que ocorram políticas voltadas à redução das taxas de juros e manutenção da taxa de cambio em um patamar que favoreça a diversificação das exportações brasileiras e a incorporação de setores mais sofisticados – intensivo em tecnologias – a estrutura produtiva e exportações da economia.