Caiu o ritmo de recuperação da Indústria Catarinense no mês de agosto e acumulado do ano ainda é negativo

19/10/2020 18:35

Por: Matheus Rosa [1] Lauro Mattei [2]

Breves notas sobre a produção industrial no país

O crescimento da produção industrial do país no mês de agosto (3,2%) caiu em relação ao mês de julho, quando essa taxa de crescimento foi de 8,3%. Essa desaceleração atingiu onze das 15 unidades da federação pesquisadas, sendo que apenas sete delas cresceram acima da média nacional. Chama atenção que três unidades da federação apresentaram resultados negativos em relação mês anterior: PE (-3,9%); ES (-2,7%) e MG (-0,4%).

Quando se analisa a produção de agosto de 2020 em relação ao mesmo mês do ano anterior, verifica-se que o agregado do país permaneceu negativo da ordem de 2,7%. Apenas cinco unidades da federação apresentaram resultados positivos: PE (+10%); CE (+5,3%); RJ (+4%); GO (+3,1%) e AM (+0,7%). Já Santa Catarina apresenta um desempenho negativo da ordem de 1,3%.

Do ponto de vista do acumulado do ano (jan-ago/20) em relação a igual período do ano anterior, apenas três das quinze unidades da federação pesquisadas apresentaram resultados positivos: Rio de Janeiro (2,4%), GO (1,8%) e PE (0,9%). Todas as demais unidades da federação apresentaram resultados negativos expressivos, com destaque para os casos de ES (-18,9%), CE (-14,8%), AM(-13,7%), RS (-12,4%), SC (-11,9%) e São Paulo (-11,1%), todas com taxas acima de dez pontos percentuais. Já o percentual do país ficou próximo a 9%.

Essas informações são bastante reveladoras do quadro dramático presente na indústria brasileira, o qual foi apenas agravado pela pandemia, uma vez que desde o início da crise econômica em 2015 a produção física da indústria do país vinha dando demonstrações de crises sistêmicas.

A Indústria catarinense nesse cenário no mês de Agosto de 2020

Assim como no país, os dados de variação da Produção Industrial de Santa Catarina mantiveram uma trajetória de recuperação em relação aos três últimos meses anteriores (maio, junho e julho). A particularidade revelada pelos dados do mês de agosto é a queda do ritmo dessa recuperação verificada também no âmbito estadual. Como aponta o Quadro 1, a Produção Industrial de SC variou 6% em agosto, dando continuidade à retomada da produção, porém a um ritmo 10% menor em relação à variação positiva obtido nos meses de junho e julho.

Quadro 1: Atividade Industrial em Santa Catarina, 2020

 

Fonte: PIM-PF/IBGE; Elaboração: Necat/UFSC

É importante destacar que essa perda de ritmo ocorreu antes mesmo de se completar a produção aos níveis pré-pandemia, o que pode ser verificado tanto pela comparação em relação ao mês de agosto de 2019 (-1,3%), quanto pelo acumulado de 2020, em relação ao acumulado do mesmo período de 2019 (-11,9%). Em parte, essa desaceleração no mês a mês é consequência das bases maiores de comparação, porém nela também influem fatores como demanda desaquecida em vários setores e dificuldades de obtenção de insumos. Ainda, é preciso também considerar os impactos resultantes da incerteza sobre a variação do nível de demanda no período posterior à redução do valor do auxílio emergencial.[3] O Gráfico 1 situa a trajetória dessa variação mensal no período de 24 meses.

Gráfico 1: Produção Física Industrial de SC, variação mês a mês (com ajuste sazonal) – 24 meses

Fonte: PIM-PF/IBGE; Elaboração: Necat/UFSC.

Em relação ao quadro nacional, o desempenho da indústria catarinense continua abaixo do esperado. Ainda que no mês a mês a variação tenha apresentado maior magnitude, comparativamente ao verificado nacionalmente (3,2% em nível nacional, 6% em nível estadual), no acumulado de 2020, como pode ser verificado pelo Gráfico 2, Santa Catarina se mantém como o quinto estado com os piores resultados, com uma variação de -11,9%. Resultados piores foram encontrados apenas no Espírito Santo (-18,9%), Ceará (-14,8%), Amazonas (-13,7%) e Rio Grande do Sul (-12,4%). O nível catarinense também é inferior ao acumulado nacional, de -8,6%.

Gráfico 2: Produção Física – Resultados Regionais Acumulados no Ano – Agosto/2020 (base: igual período do ano anterior)

Fonte: PIM-PF/IBGE; Elaboração: Necat/UFSC.

Esse fraco desempenho acumulado é consequência dos fortes impactos da pandemia e da baixa capacidade de retomada que podem ser observadas em diversos setores da indústria catarinense. Isso fica nítido ao se analisar os dados setoriais, que apresentam um quadro majoritariamente negativo, exceção apenas para o setor de Produtos Alimentícios que apresentou uma variação positiva de apenas 0,1% no acumulado de 2020. Todos os demais setores apresentam retração, com destaque para Veículos Automotores (-31,9%), Metalurgia (-28,5%), Vestuário e Acessórios (-27,6%) e Produtos de Minerais não metálicos (-18,7%).

Corroborando a tendência nacional, esses dados do acumulado setorial do estado mostram que os setores com os piores desempenhos são justamente aqueles concentrados nos macrossetores de Bens de Capital e de Consumo Duráveis, consolidando-se uma trajetória que já estava presente antes mesmo do início da pandemia. Também é importante registrar que parte dessas perdas ocorreram em setores com expressiva participação na produção industrial catarinense, como são os casos de Veículos Automotores, Metalurgia e Vestuário, tendo como consequência, inclusive, impactos negativos sobre a dinâmica econômica geral do estado.

Gráfico 3: Produção Física de SC, por seções e atividades industriais – acumulado no ano – Agosto 2020 – (Base: igual período do ano anterior)

Fonte: PIM-PF/IBGE; Elaboração: Necat/UFSC.

Os dados da variação mensal, em relação aos meses de 2019, mostram que para muitos setores ainda há um longo caminho até a plena retomada dos níveis “normais” de produção. Como pode ser verificado no Quadro 2, é o caso de Veículos Automotores, que em todos os meses do ano apresentou retrações expressivas em relação aos níveis observados em 2019 e que, particularmente no mês de agosto de 2020, apresentou variação de -15,8% em relação ao mesmo mês de 2019. O mesmo ocorreu no setor de Metalurgia, cuja variação de -15,8% entre os dois períodos. Ainda é digna de nota a retração de -10,4% no setor de Produtos Alimentícios verificada em agosto de 2020 em relação ao mês do ano anterior, o que contrasta com os dados positivos apresentados nos meses anteriores e com o próprio desempenho acumulado do setor no ano de 2020.

Os destaques positivos são os setores de Máquinas e Equipamentos, que reafirmam uma trajetória de expansão que apresentara já em julho, registrando variação de 23,6%, Produtos Têxteis, com variação de 11,9% e Máquinas e Aparelhos Elétricos, com expansão de 11% em relação a agosto de 2019.

Quadro 2: Produção Física Industrial de Santa Catarina, variação dos meses de 2020 em relação ao mesmo mês do ano anterior (2019), por seções e atividades industriais

Fonte: PIM-PF/IBGE; Elaboração: Necat/UFSC.

Considerações finais

Os dados da Produção Industrial de Santa Catarina no mês de agosto reafirmaram uma tendência de recuperação em relação aos impactos registrados nos primeiros meses de pandemia, particularmente em março e abril, porém essa recuperação ainda é muito incerta, fato que pode ser constatado tanto pela perda de ritmo revelada em agosto quanto pela incapacidade de recuperação de diversos setores.

O dado mais preocupante é o fraco desempenho de setores importantes para a dinâmica econômica estadual, como Veículos Automotores e Metalurgia, que desde os primeiros impactos da pandemia apresentam sucessivas variações negativas. Da mesma forma, preocupa o desempenho acumulado dos setores mais expressivos em mão de obra no estado, como Vestuário e Produtos Têxteis, que juntos representam 21% dos empregos de Santa Catarina.

É preciso destacar, ainda, que a trajetória industrial do estado tem acompanhado as variações da indústria nacional, as quais estão diretamente condicionadas pelo desempenho das ações do governo federal para o setor. Se essas ações fossem no sentido de impulsionar a demanda por meio de uma política de emprego mais expansiva, bem como adoção de políticas específicas para setores estratégicos da indústria nacional, provavelmente seria possível visualizar uma retomada dos níveis de produção, mesmo que em um cenário ainda dominado pela pandemia. Todavia, até o presente momento não foram essas as ações desempenhadas pela atual política econômica do governo federal. As consequências já parecem claras no momento: dificuldade crescente para recuperar os níveis de produção anteriores ao início da pandemia e, ao mesmo tempo, o aprofundamento do processo de reprimarização da própria economia nacional.


[1] Estudante de Economia na UFSC e Bolsista do NECAT. E-mail: matheusrosa.contato@outlook.com

[2] Professor titular do curso de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador geral do NECAT-UFSC e pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. E-mail: l.mattei@ufsc.br

[3] Como aponta a edição 1035 da Carta IEDI, 2020.