Apesar da queda na atividade econômica, Santa Catarina registra crescimento do emprego formal em março

12/05/2021 17:13

Por: Victor Hugo Azevedo Nass[1]

Dando sequência aos acompanhamentos mensais publicados no blog do NECAT, o objetivo deste texto é analisar o comportamento do mercado formal de trabalho do Brasil e de Santa Catarina em março de 2021, a partir dos resultados do Novo CAGED[2]. Para isso, serão analisados os saldos mensais e variações relativas do emprego formal por grupamento de atividade econômica, gênero, faixa etária, escolaridade e mesorregião geográfica.

De acordo com a Tabela 1, em março o Brasil apresentou saldo positivo de 184.140 vínculos formais de trabalho, registrando alta de 0,5%. Já Santa Catarina criou 20.729 vínculos no mesmo período, com variação mensal de 0,9%. Com isso, ambas as regiões tiveram uma desaceleração no crescimento. Esses resultados contrastam com o nível de atividade econômica do país, que teve queda mensal de 5,9%, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br)[3].

Tabela 1 – Evolução mensal de estoque, admissões, desligamentos, saldo e variação percentual (Brasil e Santa Catarina, março a março de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

No acumulado de 12 meses[4], o Brasil gerou 857.767 novos postos de trabalho formais, o que representa uma variação de 2,2% no estoque de empregos formais. O mercado formal de trabalho catarinense seguiu as tendências nacionais durante todo o período analisado, mas continua apresentando um ritmo de geração de vagas mais intenso após as quedas associadas à pandemia. Dessa forma, o estado acumulou uma variação duas vezes maior do que a nacional, de 4,4% entre março de 2020 e de 2021, com saldo de 173.826 vagas.

Evolução do emprego formal no Brasil

Conforme os dados contidos na Tabela 2, o setor com melhor desempenho em março, em valores absolutos, foi novamente o de serviços. Seu saldo foi de 95.553 vínculos, sendo puxado principalmente pelas contratações nos subsetores de: saúde humana e serviços sociais (39.091 vagas); atividades administrativas e serviços complementares (20.816 vagas); e atividades profissionais, científicas e técnicas (16.304 vagas). Houve uma queda expressiva no subsetor de alojamento e alimentação, que fechou março com saldo negativo em 28.575 vagas, puxado pelo segmento de restaurantes e similares (-17.144 vagas). Em termos relativos, houve alta mensal de 0,5%. No acumulado de 12 meses o setor finalmente se recuperou das perdas observadas na primeira fase da pandemia, obtendo também um crescimento de 0,5%.

Tabela 2 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Brasil, março de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Em termos relativos, a construção teve o melhor desempenho no mês e no acumulado em 12 meses, com crescimento de 1,1% e 8,1%, respectivamente. Seu saldo em março foi de 25.020 vínculos. Esse resultado foi bem distribuído entre os seus subsetores.

A agropecuária cresceu 0,2% em março, com um saldo de 3.535 vínculos, o menor entre os setores. Mas seus subsetores obtiveram um comportamento bastante heterogêneo, com destaque positivo para: produção de sementes e mudas certificadas (2.469 vagas); criação de bovinos (2.171 vagas); cultivo de cana de açúcar (1.812); e negativo para: cultivo de soja (-3.142 vagas); cultivo de laranja (-5.038 vagas); e cultivo de maçã (-5.140 vagas). No acumulado de doze meses o setor obteve a segunda melhor posição, com alta de 6,8%.

Apesar da queda de 2,4% na produção[5], a indústria criou 42.150 empregos formais em março, com destaque para os subgrupos de: fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (5.473); confecção de artigos do vestuário e acessórios (4.699); fabricação de produtos do fumo (4.306); fabricação de máquinas e equipamentos (4.154); e fabricação de produtos minerais não metálicos (4.138). Somados, esses subgrupos acumulam metade das vagas geradas no mês. Tomado em seu conjunto, o crescimento do setor industrial foi de 0,5% no mês, e de 3,4% em comparação com março de 2020.

O setor de comércio criou 17.986 vínculos formais de trabalho em março, o que representou um crescimento de apenas 0,2%. Esse resultado se deve à estagnação do subsetor de comércio varejista, que teve saldo praticamente nulo no mês No  acumulado de um ano, o setor registra crescimento de 2,3%.

A Tabela 3 apresenta o saldo de vínculos formais de trabalho por sexo no Brasil. O resultado de janeiro foi positivo em 109.965 vínculos para os homens e em 74.175 vínculos para as mulheres. Quase 2/3 dos postos gerados foram ocupados por homens. Essa concentração se reafirma no acumulado de 12 meses, período no qual os homens ocuparam quase 3 vezes mais postos de trabalho do que as mulheres.

Tabela 3 – Saldo por sexo (Brasil, março de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A exemplo do que foi observado nas divulgações anteriores, as tendências de concentração dos postos de trabalho entre os trabalhadores mais jovens  e de perdas entre os mais velhos continuam. Conforme indicam os dados da Tabela 4, a faixa etária de 18 a 24 teve saldo de 102.172 vínculos, concentrando mais de 50% de todas as vagas geradas em março. Por outro lado, tanto a faixa de 50 a 64 anos (-13.325), quanto de 65 anos ou mais (-7.128) registraram baixas significativas. Além disso, a faixa etária dos 30 a 39 anos também teve um crescimento importante no mês, com 35.632 novos vínculos.

Tabela 4 – Saldo por faixa etária (Brasil, março de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Quanto ao resultado acumulado em 12 meses, chama a atenção que o saldo da faixa entre 18 e 24 anos chega a ser maior do que o agregado nacional. A faixa dos 50 aos 64 é a que apresenta as maiores perdas, com uma baixa de 364.747 postos. Conforme indicamos nos textos anteriores, esses resultados podem derivar de mudanças metodológicas que estão inchando a base de dados do Novo Caged, como a inclusão dos vínculos de bolsistas, estagiários e aprendizes.

A Tabela 5 apresenta a distribuição do emprego formal por nível de escolaridade. Em março, 2/3 dos postos formais de trabalho criados (130.523) foram ocupados por pessoas que têm ensino médio completo. Outro nível de escolaridade que teve crescimento considerável foi o superior completo, com 38.988 novas vagas. Com crescimento mais contido, encontramos os trabalhadores com: ensino médio incompleto (12.839 vagas); superior incompleto (10.152 vagas); e fundamental completo (4.104 vagas). Com resultado negativo em março, somente aqueles com o fundamental incompleto (-11.088 vagas) e os analfabetos (-1.378 vagas).

Tabela 5 – Saldo por nível de escolaridade (Brasil, março de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

No acumulado de 12 meses, observa-se que as vagas para ensino médio completo são as que carregam o saldo, com 652.119 vagas, tendo um resultado superior inclusive ao total nacional. A maior perda no período analisado foi nos trabalhadores com o fundamental incompleto, que acumulam retração de 101.053 vagas.

Evolução do emprego formal em Santa Catarina

De acordo com os dados da Tabela 6, os principais responsáveis pelo expressivo saldo de vagas em Santa Catarina em março de 2021 foram os serviços. Com um saldo de 9.267 postos formais de trabalho, esse setor cresceu 1,1% em março. O resultado mensal foi novamente puxado pelos subsetores de administração pública, defesa, seguridade social (1.748), educação (1.274) e saúde humana e serviços sociais (4.250 vagas).

Além de representar a totalidade do primeiro desses subsetores, o setor público também é muito expressivo na educação e na saúde, podendo ser enquadrado como o principal responsável por esse resultado. Nesse sentido, vale ressaltar que tal expansão nos serviços pode não representar novos empregos criados, mas apenas refletir as mudanças na metodologia do Novo Caged, que passou a ser captada pelo eSocial. Conforme temos destacado, no Caged tradicional, os servidores da administração pública direta ou indireta, federal, estadual ou municipal, bem como das fundações supervisionadas, não precisavam ser declarados. Já no eSocial, essa declaração da maioria desses vínculos passa a ser obrigatória a partir de abril de 2021, o que pode estar inchando os saldos de emprego formal e compensando o efeito negativo da queda da atividade econômica[6].

No restante das subdivisões do setor, vale destacar o bom resultado das atividades administrativas e serviços complementares (saldo de 2.514 vagas e variação de 1,2%) e de informação e comunicação (1.327  novas vagas e crescimento de 2,1%). Além disso, nota-se que Santa Catarina apresentou o mesmo fenômeno visto nacionalmente de quedas nos serviços de alojamento e alimentação, que fechou 2.658 vagas em março. No acumulado de 12 meses, o  setor de serviços acumulou um bom crescimento, de 4%.

Tabela 6 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Santa Catarina, março de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Em que pese um menor crescimento absoluto (1.549 vagas), a construção registrou novamente o maior crescimento de março, com 1,3%. Esse crescimento  concentrou-se no subsetor de construções de edifícios, que abriu 1.129 vagas. No acumulado de um ano o setor teve um aumento de 3,8% no número de empregos formais.

A indústria catarinense criou 9.063 vínculos no mês, o que lhe conferiu uma alta de 1,2%. Esse resultado contrasta com o comportamento da produção no setor, que segundo a PIM-PF caiu 1% em março, o que também pode indicar um certo inchaço dos dados oficiais de emprego no setor. De toda forma, o crescimento do emprego na indústria foi bem distribuído, com possíveis destaque aos subsetores de: confecção de artigos de vestuário e acessórios (1.601); fabricação de produtos de madeira (904); fabricação de produtos alimentícios (873); e metalurgia (831). No acumulado em 12 meses, o setor industrial tem o maior crescimento do estado, com 5,7% de aumento das contratações formais.

O comércio apresentou uma alta relativamente menor, de 0,7% em março, com criação de 3.123 vínculos. Esse saldo divide-se em: comércio por atacado, exceto veículos automotores e motocicletas (1.464); comércio varejista (996); e reparação de veículos automotores e motocicletas (663). Em 12 meses, o crescimento do setor comercial foi de 3,5%.

O único setor com saldo negativo em março foi o da agropecuária, com perda de 2.273 vagas e retração de 5% no mês. Essa queda foi puxada basicamente pelo fim da safra da maçã, cultivo este que havia gerado um grande volume de vagas temporárias nos meses anteriores e que fechou 2.402 vagas de emprego em março. No acumulado de 12 meses o setor tem uma alta de 2%.

Conforme a Tabela 7, podemos observar que, em março, as novas vagas de emprego estão bem equilibradas entre os sexos, com pequena vantagem para os homens (10.769 vagas) em relação às mulheres (9.960). O saldo de doze meses, mesmo que com uma diferença um pouco maior, também está relativamente equilibrado, com 51.404 vagas masculinas e 43.829 femininas.

Tabela 7 – Saldo por sexo (Santa Catarina, março de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Quanto à faixa etária, a Tabela 8 indica que o emprego formal também continua se concentrando entre os mais jovens no estado. Em março de 2021, 8.688 das vagas criadas ficaram apenas na faixa etária de 18 a 24 anos. A tendência de participação cada vez menor no emprego formal entre os idosos se mantém. Em março, a faixa etária de 65 anos ou mais se retraiu em 260 postos de trabalho.

Tabela 8 – Saldo por faixa etária (Santa Catarina, março de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

No acumulado de um ano os melhores saldos ficaram na faixa de 18 a 24 anos (35.030) e de até 17 anos (30.242). Os piores foram registrados nas faixas entre 50 e 64 anos (-17.258) e de 65 anos ou mais (-3772).

Conforme indicam os dados contidos na Tabela 9, mais da metade dos empregos gerados em março de 2021 foram ocupados por trabalhadores com ensino médio completo (12.575 vagas). Outros níveis de escolaridade que tiveram crescimento considerável foram: ensino superior completo e médio incompleto, com 3.261 e 3.065 vagas, respectivamente.

Tabela 9 – Saldo por escolaridade (Santa Catarina, março de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

No acumulado de 12 meses podemos observar a concentração de postos nos níveis médio completo e incompleto, que juntos ocupam 90% das vagas criadas. O único nível que ainda apresenta perdas nesse acumulado é o fundamental incompleto, com um saldo negativo de 3.284 vagas.

Com relação à distribuição mesorregional dos empregos formais (Tabela 10), podemos observar que o Norte apresentou o melhor desempenho em março, tanto em termos absolutos, quanto relativos. Puxada pela indústria de transformação (particularmente metalurgia), a região registrou alta da ordem de 1,5%, correspondente ao saldo de 6.804 novos postos de trabalho formais. Em 12 meses, o Norte catarinense acumula um crescimento de 5,2%.

Tabela 10 – Saldo por mesorregião (Santa Catarina, março de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A região do Vale do Itajaí, com um saldo de 6.209 vagas no mês, teve o segundo melhor desempenho em termos absolutos, registrando uma alta de 1% no estoque de postos formais de trabalho. No acumulado de 12 meses, a região teve um crescimento de 3,9%. Já em termos relativos, o segundo melhor desempenho ocorreu no Sul do estado, cujo saldo de 3.678 vagas em março correspondeu a um crescimento de 1,3%. No acumulado de 12 meses, a região sul também obteve a segunda maior alta, com 5,8%.

Com o maior crescimento em 12 meses, temos a região Oeste (6,1%). No mês de março, no entanto, a região apresentou um saldo de 1.307 vagas, o que lhe conferiu um crescimento relativamente baixo, de 0,3%.

A Grande Florianópolis apresentou um saldo de 2.783 vagas, correspondendo a um crescimento de 0,7% no estoque de empregos formais. No acumulado, a região apresenta um crescimento de 2,3%, o que lhe coloca na pior posição entre as mesorregiões do estado.

Principalmente em razão das perdas no cultivo de maçã, a região Serrana é a única que apresenta um decrescimento (0,1%) no emprego formal, com perda de 52 vagas. No acumulado em 12 meses, a região apresenta um crescimento de 2,8%, sendo o segundo pior do estado.


[1] Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat.

[2] Todos os dados apresentados neste texto foram coletados junto à base de dados do Ministério da Economia em 3 de maio de 2021. Em razão das declarações fora do prazo e das revisões periódicas dessa base de dados, os dados podem divergir dos divulgados nas análises anteriores.

[3] BANCO CENTRAL DO BRASIL. Índice de atividade econômica. 2021.

[4] A variação acumulada em 12 meses refere-se ao crescimento do estoque de empregos formais entre março de 2020 e março de 2021.

[5] IBGE. Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física. Março de 2021.

[6] Para mais detalhes, ver: ALMEIDA et al. Substituição da captação dos dados do Caged pelo eSocial: implicações para as estatísticas do emprego formal. 2020.