Desempenho atual da produção industrial de SC é superior ao verificado em 2020, mas perda de ritmo se mantém

01/06/2021 14:05

Por: Matheus Rosa[1]

A Pesquisa Industrial Mensal do IBGE (PIM-PF) divulgada no início de maio, com dados referentes ao último mês de março, apresentou um novo cenário de quedas nos níveis de Produção Física Industrial. De modo geral, pode-se observar uma continuidade do baixo desempenho oriundo da crise econômica e das dificuldades advindas da pandemia do novo coronavirus. Esse baixo desempenho se expressou de forma mais aguda em alguns dos setores pesquisados e também em 9 das 14 Unidades das Federação estudadas na pesquisa, as quais apresentaram resultados negativos na série do acumulado de 12 meses. Os acumulados positivos nessa série foram, em grande maioria, modestos e foram registrados em Pernambuco (3,4%), Pará (0,9%), Santa Catarina (0,9%), Goiás (0,8%) e Minas Gerais (0,7%).

Quando se utiliza como referência o mês de março do ano anterior, nota-se um quadro inverso, com a maioria das UFs apresentando resultado positivo e de grande magnitude (SC, AM, RS, SP, MG e PR com destaque). Esse desempenho não deve impressionar, uma vez que março de 2020 foi o primeiro mês dos impactos mais graves da pandemia do novo coronavirus na Produção Industrial, fazendo com que a baixa base comparativa seja o principal determinante dos atuais resultados positivos.

Por fim, no quadro geral do Brasil observou-se uma nova retração da ordem de -2,4%, dando continuidade ao movimento de queda que se iniciou no mês anterior. Importante notar que essas retrações verificadas nos dois últimos meses se situam no contexto de queda do ritmo da produção industrial já observada por meio de taxas que foram registradas desde junho de 2020.

A Produção Industrial do Brasil em Março de 2021

A Tabela 1 sintetiza os principais dados agregados da Produção Industrial no Brasil, com destaque para a queda de -2,4% na série mês-a-mês com ajuste sazonal, reafirmando a tendência de redução do ritmo da produção que já está em curso desde a segunda metade de 2020. Essa perda de ritmo se afirmou com maior intensidade a partir de outubro do mesmo ano, quando os níveis de produção industrial começaram a apresentar taxas próximas da estagnação.

Tabela 1: Atividade Industrial no Brasil, 12 meses

Tabela 1

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Com isso, se verifica que 8 das 14 UFs pesquisadas apresentaram retração na série mês-a-mês com ajuste sazonal, sendo os destaques negativos referentes aos níveis de produção do Ceará (-15,5%), Rio Grande do Sul (-7,3%), Bahia (-6,2%) e Rio de Janeiro (-4,7%). Como destacado pela pesquisa, a retração verificada no Ceará é a maior desde abril de 2020, mês em que ocorreram os maiores impactos da pandemia. Já no caso do Rio Grande do Sul, observa-se que a retração decorre da sequência de queda verificada em fevereiro, com acentuação das perdas. Por fim, na Bahia a retração é a quarta taxa negativa consecutiva, consolidando uma perda acumulada de -20,2%. A retração nesses estados – que representam parcelas importantes da Produção Industrial Nacional – é um dos principais vetores da retração verificada na produção agregada do país. Em sentido oposto, as UFs que apresentaram expansão nos níveis de produção foram Amazonas (7,8%), Pará (2,1%), Minas Gerais (1,7%), Goiás (1,6%), Espírito Santo (1,5%) e São Paulo (0,6%).

A comparação com março de 2020, por sua vez, revela um quadro de relevante expansão dos níveis de produção. No agregado, a taxa verificada é de 10,5%, enquanto nas UFs verificamos um quadro de 11 taxas positivas e 3 negativas. Os destaques positivos são Santa Catarina (36,5%), Amazonas (22,5%), Rio Grande do Sul (21%), São Paulo (16%) e Minas Gerais (12,5%). Já os maiores os resultados negativos ocorreram na Bahia (-18,3%) e no Rio de Janeiro (-4,8%), que continuaram apresentando resultados negativos.

Já na série do acumulado do ano, que compara o desempenho do primeiro trimestre de 2021 com o primeiro trimestre de 2020, nota-se a expansão de 4,4%. Esse dado se apresenta também nas UFs, que registraram resultados positivos em 9 das 14 pesquisadas. Neste caso, as expansões mais relevantes ficaram por conta de Santa Catarina (17,8%), Rio Grande do Sul (12,3%), Minas Gerais (9,1%), São Paulo (9,0%) e Paraná (9,0%). Mesmo que de forma incipiente, esses dados ganham importância por demonstrar que o início do ano de 2021 é mais promissor, comparativamente ao primeiro semestre de 2020.

Por fim, o acumulado de 12 meses também é importante para acompanhar o desempenho da produção industrial ao longo dos meses da pandemia. Tal indicador registrou uma retração de -3,1% no agregado nacional, convertendo-se em mais um dado negativo na série que registra retrações desde março de 2020. No âmbito das UFs, 9 delas apresentaram retrações nessa série em março de 2021, sendo os piores dados registrados no Espírito Santo (-12,7%) e na Bahia (-11,2%), estados cuja produção foi fortemente impactada durante a pandemia. O melhor resultado da série ficou por conta do estado de Pernambuco, com expansão de 3,4%.

Assim, nos dados agregados sobre a produção industrial revela-se ainda uma permanência dos impactos da pandemia, perceptível, principalmente, através dos dados acumulados nos últimos doze meses. Da mesma forma, continua evidente a diminuição de ritmo mensal da atividade industrial, tendência que desde o ano passado já se demonstrava e que novamente se confirma nos dados de março.

O Gráfico 1 apresenta o comportamento dos dados setoriais da série de 12 meses. Inicialmente, verifica-se a continuidade da disparidade setorial que caracterizou o período de pandemia. Em relação aos grupos agregados, foram registradas retrações nas Indústrias Extrativas (-2,5%), Indústrias de Transformação (-3,2%) e Indústria Geral (-3,1%). Nos setores com menor nível de desagregação, o quadro majoritário apresenta pequenas expansões, próximas da estagnação. Contudo, alguns setores apresentaram retrações expressivas, como são os casos da Impressão e Reprodução de Gravações (-31,7%), Outros Equipamentos de Transporte (-30,1%), e Veículos Automotores (-25,7%). Essas fortes retrações foram as principais responsáveis pelas taxas agregadas negativas. O setor de Produtos de Fumo, por outro lado, destacou-se por apresentar forte expansão (13,5%) nessa série durante o período da pandemia.

Gráfico 1: Produção Física Industrial por setores de atividade, acumulado 12 meses (Brasil, 2021)

Gráfico 1

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC

A Produção Industrial de Santa Catarina em Março de 2021

De maneira geral, os dados da produção industrial em Santa Catarina seguem a mesma tendência verificada nacionalmente. O Gráfico 2 registra as variações mensais ao longo dos 24 meses, ilustrando um quadro de crescimento e retração alternados até fevereiro de 2020, seguido pelas duas grandes quedas de março e abril de 2020, em consequência da pandemia, e pelas expansões a partir de maio do ano passado. Desde julho, contudo, a tendência é de diminuição paulatina do ritmo das expansões, o que se concretizou a partir do primeiro dado de retração verificado em fevereiro desse ano. Em março de 2021 ocorreu nova repetição de retração, ainda que em um percentual inferior ao verificado no mês anterior.

Gráfico 2: Variação percentual mensal da produção física da indústria catarinense nos últimos 24 meses, com ajuste sazonal.

Gráfico 2

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC

A Tabela 2 apresenta uma síntese do desempenho industrial catarinense, destacando-se a queda mensal de -1% em relação ao mês imediatamente anterior. Ainda que essa variação seja inferior ao resultado da indústria nacional, ela não deixa de ser preocupante, uma vez que indica uma possível perda de dinamismo da produção industrial também no estado catarinense no início de ano.

Já a comparação em relação ao mesmo mês do ano anterior mostra uma forte expansão, da ordem de 36,5%. Essa grande expansão se deve, em grande medida, ao grande tombo da produção industrial verificado em março de 2020, de modo que a magnitude da taxa se explica mais pelos péssimos dados da base de comparação do que por um desempenho expressivo no corrente período. Da mesma forma, em relação ao acumulado do ano, verificamos uma expansão de 17,8%. Esse dado ilustra que o primeiro trimestre de 2021 é amplamente favorável em relação aos níveis verificados em 2020. Obviamente que não se poderia imaginar um cenário diferente diante da forte retração verificada no primeiro trimestre do ano passado, o qual claramente é um ponto fora da curva ocasionado pela pandemia de Covid-19.

Por fim, ao se considerar o acumulado de doze meses, verifica-se uma ligeira expansão, sendo que em março de 2021 ocorreu uma variação de 0,9%. Em parte, esse dado positivo também diz respeito à entrada do mês de março de 2020 na base de comparação. Contudo, sua efetivação dá continuidade à tendência de ligeira recuperação na série de doze meses que já poderia ser identificada nos meses anteriores. Ainda que negativos, esses dados já demonstravam desde agosto do ano passado uma freada no ritmo das retrações. Essa tendência agora se concretiza no resultado positivo. Como se mencionou anteriormente, apenas 5 UFs das 14 pesquisadas apresentaram dados positivos nessa série, fato que coloca o desempenho de Santa Catarina, ainda que de pouca expressão, em melhor posição comparativamente ao quadro nacional.

Tabela 2: Atividade Industrial em Santa Catarina, 12 meses

Tabela 2

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

É possível se ter uma melhor compreensão sobre esse quadro a partir dos dados distribuídos setorialmente, conforme Gráfico 3. De pronto, nota-se que 7 dos 12 setores pesquisados apresentaram expansões, o que se consolidou na taxa agregada de 0,9% na série. Os setores que mais fortemente contribuíram para essa consolidação foram Máquinas e Equipamentos (25%), Máquinas Aparelhos e Materiais Elétricos (15,8%), Produtos de Borracha (8,1%) e Produtos Têxteis (6,7%). Por outro lado, os setores de Veículos Automotores (-14,2%) e de Produtos Minerais não-metálicos (-9,8%) foram responsáveis por puxar para baixo o desempenho agregado.

De maneira geral, esses dados demonstram a manutenção da disparidade setorial que tem caracterizado o setor industrial durante o período de pandemia. Apresentaram dados positivos setores que, em alguma medida, puderam se proteger contra os impactos mais potentes da pandemia na demanda dos consumidores. Por outro lado, tiveram desempenho negativo os setores que mais diretamente se relacionam com o consumidor final, como Produtos Alimentícios, Artigos de Vestuário e Veículos Automotores.

Gráfico 3: Produção Física Industrial por setores de atividade, acumulado 12 meses (Santa Catarina, 2021)

Gráfico 3

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC

Considerações Finais

A análise dos dados agregados demonstrou certa superioridade em relação ao desempenho do ano passado, ainda que tenha sido observada uma perda de ritmo da produção estadual. Essa tendência é corroborada pelos dados da série mês-a-mês e também pelo acumulado dos 12 meses.

No âmbito geral das UFs pesquisadas pelo IBGE continua sendo verificado um quadro negativo, sendo majoritárias as retrações na série de doze meses e também na queda dos desempenhos mensais. Todavia, apenas algumas UFs se destacaram, ao manter um desempenho ligeiramente positivo, como são os casos de Pernambuco, Santa Catarina e Pará.

Do ponto de vista setorial, verificou-se que a disparidade de desempenho continua presente em muitas atividades. Os casos mais sintomáticos são de Impressão e Reprodução de Gravações, Outros Equipamentos de Transporte e Veículos Automotores, os quais desde os primeiros impactos da pandemia demonstram baixos desempenhos e pouca incapacidade de reação.

Do ponto de vista do desempenho industrial catarinense, ficou evidente a dificuldade para se estabelecer uma tendência de manutenção de crescimento. Os dados mensais seguem reafirmando a perda de ritmo da atividade industrial e a série de 12 meses mostrou uma expansão muito tímida, ainda que de magnitude superior ao verificado nacionalmente. Setorialmente, em Santa Catarina o destaque negativo ainda é o setor de Veículos Automotores, reboques e carrocerias, enquanto o destaque positivo foi o bom desempenho de Máquinas e Equipamentos no acumulado de doze meses.

Em síntese, é notório que uma dinâmica de crescimento sustentável para o setor industrial, tanto no Brasil como em Santa Catarina, depende de fatores conjunturais, especialmente do controle da crise sanitária, qual somente será atingido a partir de uma vacinação da população em larga escala. Assim, somente com a pandemia controlada haverá condições para a retomada econômica, com garantia de emprego e renda para o conjunto da população.

Referências Bibliográficas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal da Indústria. Produção Física Regional (PIM Regional). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, março de 2021.


[1] Graduando em Ciências Econômicas da UFSC e bolsista do NECAT. Email: matheusrosa.contato@outlook.com