Mesmo com aumento em maio, volume de serviços em SC segue com saldo negativo no ano de 2022

02/08/2022 09:55

Matheus Rosa*

Lauro Mattei**

A Pesquisa Mensal dos Serviços (PMS/IBGE), relativa ao mês de maio/22 e divulgada em julho/22, mostrou a continuidade do ritmo expansivo do volume de serviços prestados, tanto no Brasil como em Santa Catarina. No âmbito nacional, a variação de 0,9%, ainda que tímida, registra o terceiro aumento seguido e situa o índice do setor no seu maior nível do ano. Com isso, o setor se encontra no patamar de 8,4% acima do último percentual do período pré-pandemia. De forma similar, Santa Catarina registrou expansão de 3,3% no referido mês, maior patamar do índice desde o início de 2022, mesmo que os meses anteriores tenham apresentado instabilidade nos resultados, especialmente na comparação mês a mês.

Ouro aspecto relevante registrado na pesquisa em apreço foi que todos os grupos de atividades pesquisadas (cinco) apresentaram resultados positivos, fato que indica uma disseminação de avanços em todas as atividades, ou seja, verificou-se um crescimento simultâneo em todos os subgrupos de atividades. Essa é uma característica que demarca o atual momento, comparativamente aos anos de 2020 e 2021.

A manutenção dessa trajetória de bons resultados mostra que o setor de serviços vem superando os impactos decorrentes da pandemia da Covid-19, ainda que se devam destacar os efeitos sobre as bases de comparação, as quais eram muito baixas nos dois primeiros anos da pandemia. Destaca-se, por um lado, o avanço do processo de vacinação da população, que reduziu o isolamento social e possibilitou a retomada de atividades com peso no resultado agregado dos serviços e, por outro, a própria característica de demanda contínua de algumas atividades de serviços (como as atividades de serviços prestados às famílias), que têm contribuído para a consolidação desse movimento positivo. Mais do que uma boa notícia setorial, essa trajetória positiva é muito importante porque as atividades de serviços são intensivas em mão de obra, fato que pode estar influenciando a recuperação do nível de emprego verificada nos últimos meses.

Neste artigo são analisados os principais resultados da PMS/IBGE do mês de maio/22, tanto para o conjunto do país como para o caso particular de Santa Catarina. Para tanto, são consideradas a perspectiva agregada bem como a divisão por grupos de atividades de serviços, com o objetivo de destacar os principais indicadores de desempenho mensal e as tendências e perspectivas para os próximos meses.

O volume de serviços no Brasil no mês de maio de 2022

O Gráfico 1 mostra o comportamento do índice de volume de serviços com ajuste sazonal no período entre os anos de 2011 e 2022. É possível visualizar três momentos distintos na trajetória do índice: no primeiro registrou-se uma etapa expansiva que se consolidou entre 2011 e 2014 embalada pelo ciclo positivo de crescimento econômico e oportunidades de crédito; o segundo momento, referente ao período entre 2014 e 2020, apresentou uma trajetória de quedas sucessivas em função da crise econômica e das recessões do PIB registradas, especialmente entre os anos de 2015 e 2017; por fim, o terceiro momento tem início a partir do estabelecimento da pandemia no país em 2020, cuja dinâmica revelou um período inicial com brusca retração e uma fase seguinte de recuperação. No ano de 2022, após uma leve retração registrada em janeiro, os meses seguintes apresentaram uma tendência expansiva, sendo no mês de maio foi registrado o maior nível do índice desde o início da pandemia.

Gráfico 1: Índice de volume de serviços com ajuste sazonal, Brasil (2011 – 2022)

Gráfico 1

Fonte: PMS/IBGE. Elaboração: Necat-UFSC.

Em complemento à visualização do índice do volume, pode-se acompanhar o desempenho do setor pelas variações do volume de serviços nos distintos períodos adotados pela PMS, conforme apresentado na Tabela 1. Na série mensal com ajuste sazonal, indicador de desempenho do setor no curto prazo, nota-se a tendência expansiva, ainda que com ritmo reduzido: após a retração de -1,7% em janeiro, nos resultados subsequentes prevaleceram as variações positivas, apenas interrompidas brevemente em abril. Com isso, o acumulado do ano de 2022 atingiu o patamar de 3,3%.

A comparação com os mesmos meses do ano anterior também é positiva, com resultado de 9,2% em maio. Em todos os meses do ano os resultados positivos se sucederam, repetindo uma dinâmica que já havia sido a norma em 2021. Os acumulados se comportam de maneira similar, com expansões nas comparações anuais e de doze meses (9,4% e 11,7%, respectivamente). Em âmbito regional a tônica é parecida, com expansões acumuladas no ano em 26 das 27 UFs pesquisadas. Alagoas (25,7%), Ceará (18,1%) e Amapá (16,4%) apresentam os melhores resultados, enquanto o desempenho de Rondônia é o único signatário de retração na comparação com o acumulado do mesmo período de 2021, com variação de -1,0%.

Tabela 1: Variação do volume de serviços no Brasil em diversos períodos

Tabela 1.2

Fonte: PMS/IBGE. Elaboração: Necat-UFSC.

O Gráfico 2 apresenta uma exposição visual dessas mesmas informações, destacando-se a variação do volume agregado de serviços nos últimos 12 meses. No segundo semestre de 2021 nota-se um processo forte de desaceleração entre os meses de junho e outubro, com uma rápida recuperação entre os meses de novembro e dezembro, o que pode ser explicado pela aceleração da demanda de alguns subsetores impulsionada, em parte, pelas datas festivas de final de ano. Tal movimento sofreu uma grande queda no primeiro mês de 2022, tradicionalmente um período de férias e de menor dinamismo das atividades econômicas, as quais se recuperaram nos meses seguintes, mesmo com uma ligeira interrupção pontual no mês de abril.

Gráfico 2: Evolução do volume de serviços nos últimos 12 meses, Brasil

Gráfico 2

Fonte: PMS/IBGE. Elaboração: Necat-UFSC.

Sem sombra de dúvidas, é perfeitamente possível associar esses resultados positivos registrados pelo setor de serviços com o avanço da vacinação da população, a qual colocou um freio no processo de expansão da pandemia a partir da segunda metade de 2021 e permitiu uma maior flexibilização das regras de convívio social durante a pandemia. Com isso, muitas das atividades de serviços, que via de regra exigem contato pessoal entre ofertantes e demandantes, tiveram aumento da demanda que havia sido fortemente contida durante o período pandêmico. Além disso, a migração das atividades que passaram a ser alvo de adaptação ao contexto digital (como serviços de informação e comunicação, por exemplo), parece ter mantido uma dinâmica positiva após a reestruturação imposta pela pandemia. Esse cenário sugere que, não fossem as dificuldades macroeconômicas que têm marcado o ano de 2022, principalmente sob a forma do avanço inflacionário e do ciclo de alta da taxa básica de juros, os resultados do setor de serviços poderiam ser ainda superiores. (IEDI, 2022).

Todavia, deve-se registrar que nem todas as atividades de serviços apresentaram resultados homogêneos ao longo do ano, como mostra a Tabela 2. Em maio, os cinco setores da divisão da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0) registraram expansões pela perspectiva mês a mês, ficando os maiores destaques por conta das atividades de outros serviços (3,1%), serviços prestados às famílias (1,9%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (1,0%). Entre as subdivisões, os melhores resultados apareceram nas atividades de transporte aquaviário (4,8%), serviços de tecnologia e informação (2,4%) e transporte terrestre (2,0%). As atividades de transportes aéreos (-6,4%) e outros serviços prestados às famílias, por sua vez, registraram retrações.

Tabela 2: Variação do volume de serviços por atividades de serviços, mês a mês com ajuste sazonal

Tabela 2.2

Fonte: PMS/IBGE. Elaboração: Necat-UFSC.

No contexto do ano, se destaca o desempenho das atividades de transporte terrestre, as quais registraram expansões em todos os meses do ano, além das atividades de serviços administrativos e complementares, cujas expansões foram interrompidas brevemente apenas no mês de março. Por outro lado, os setores de telecomunicações e de serviços audiovisuais despontam como atividades com ritmos oscilantes ao intercalar momentos de retrações registradas na maior parte dos meses pela perspectiva da comparação mês a mês, com pequenas expansões.

Por fim, o acumulado do ano por grupos de atividades de serviços pode ser conferido por meio do Gráfico 3, que apresenta os cinco grupos de atividades com seus destaques internos. Assim, nota-se que o desempenho do grupamento de serviços prestados às famílias (37,8%), foi puxado pelos serviços de alojamento e alimentação e por outros serviços prestados às famílias, que cresceu 3,1% no último mês. O bom desempenho deste último subgrupo diz respeito à expansão dos serviços financeiros auxiliares (consultorias aos Investimentos, atividades de administração nas bolsas e atividades das corretoras financeiras).

Gráfico 3: Volume de serviços por atividades de serviços, acumulado no ano, Brasil

Gráfico 3

Fonte: PMS/IBGE. Elaboração: Necat-UFSC.

O grupamento de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correios se recuperou dos resultados negativos de abril/22, mantendo um acumulado anual de 14,9%. Neste caso, destacaram-se as atividades de transportes rodoviárias, particularmente puxadas pelo escoamento da produção agrícola e pela expansão do comércio eletrônico.

Já os serviços de informação e comunicação apresentaram um crescimento acumulado da ordem de 3,4%. Tal desempenho foi fortemente influenciado pelo subsetor de tecnologia da informação, cujo crescimento foi da ordem 17,9%. Em grande parte, a pandemia impulsionou serviços digitais associados às atividades de comunicação, de edições e de audiovisuais, bem como das atividades de desenvolvimento de aplicativos e ferramentas para uso na internet.

O volume de serviços de Santa Catarina em maio de 2022

Comparativamente em relação ao cenário nacional, a trajetória do volume de serviços catarinense é muito mais instável, como mostra o Gráfico 4. Ainda que os mesmos três períodos verificados nacionalmente se reproduzam na trajetória do índice no estado, é nítido que as variações no interior dessas tendências se dão de maneira muito mais brusca. Com isso, a partir da vigência da pandemia no início de 2020 essa característica se intensificou, sendo que o setor registrou a mínima histórica exatamente no mês de abril de 2020. Nos meses posteriores teve início uma trajetória de recuperação que atingiu seu auge em dezembro de 2021. Mesmo assim, em maio de 2022 o índice se localizava em -2,17% abaixo do pico de dezembro de 2021.

Gráfico 4: Índice de volume de serviços com ajuste sazonal, Santa Catarina (2011 – 2022)

Gráfico 4

Fonte: PMS/IBGE. Elaboração: Necat-UFSC.

A Tabela 3 aglutina os resultados do índice catarinense nos últimos doze meses, a partir das quatro séries contidas na PMS. Na série mensal com ajuste sazonal o resultado de maio foi expansivo da ordem de 3,3%, configurando a segunda variação positiva nos cinco primeiros meses do ano. Essa expansão, porém, não anula as quedas de janeiro (-4,5%), fevereiro (-2,2%) e abril (-2,6%), de modo que o saldo de variação do índice no ano é negativo. Se comparada regionalmente, a expansão de 3,3% registrada em maio último em SC é o quinto melhor resultado entre as 27 UFs pesquisadas, tendo sido superada apenas pelos desempenhos no Acre (11,7%), Tocantins (6,1%), Mato Grosso do Sul (5,3%) e Amazonas (3,7%), como mostra o Gráfico 5.

Tabela 3: Variação do volume de serviços em Santa Catarina em diversos períodos

Tabela 3.2

Fonte: PMS/IBGE. Elaboração: Necat-UFSC.

Pela perspectiva de comparação com o mesmo mês do ano anterior o resultado também é positivo, sendo que a expansão atingiu 7,8%. No escopo dessa série, o setor registrou quatro expansões entre os primeiros meses do ano, resultado que indica uma melhora relativa na comparação com o desempenho da primeira metade de 2021. Tal assertiva é comprovada pelo desempenho das séries acumuladas, uma vez que ambas são expansionistas, sendo de 4,8%, no acumulado anual e de 10,1% no acumulado de doze meses.

Gráfico 5: Variação do volume de serviços por UF, mês a mês com ajuste sazonal

Gráfico 5

Fonte: PMS/IBGE. Elaboração: Necat-UFSC.

Em termos da divisão por grupos atividades de serviços, o quadro catarinense se apresenta de acordo com a Tabela 4, que elenca os resultados pela ótica do acumulado no ano.[1] Em maio, quatro dos cinco grupos de serviços da divisão da CNAE 2.0 apresentaram expansões na comparação com o acumulado do mesmo período de 2021, sendo os destaques por conta de serviços prestados às famílias (29,8%), que representa boa parte do volume de serviços no estado, e outros serviços (11,1%), os quais registram expansões expressivas. Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correios (7,9%) e serviços de informação e comunicação (5,9%) também registram expansões, porém em menor monta. As atividades de serviços profissionais, administrativos e complementares, por outro lado, contam com uma retração bastante significativa, na magnitude de -19,6%. É de se destacar que o acumulado anual para esse setor permaneceu negativo em todos os meses do ano, estabelecendo uma trajetória retrativa inequívoca e preocupante, consideravelmente aquém do desempenho de 2021[2].

Tabela 4: Variação do volume de serviços por atividades de serviços, acumulado no ano, Santa Catarina

Tabela 4.2

Fonte: PMS/IBGE. Elaboração: Necat-UFSC.

Considerações Finais

Os resultados consolidados no mês de maio/22 mostraram que o setor de serviços manteve uma trajetória bastante expansiva, corroborando os resultados positivos que se estabeleceram com maior estabilidade a partir do segundo semestre de 2021. São indicadores dessa trajetória positiva os resultados acumulados, os quais mostram expansões tanto pela perspectiva anual, com variação de 9,4%, como pela ótica dos doze meses, que apresenta variação positiva de 11,7%. Os resultados de curto prazo, contudo, mostram certas oscilações, principalmente pelas retrações de janeiro (-1,7%) e de abril (-0,1%) e pelo ritmo reduzido registrado em fevereiro (0,5%) e maio (0,9%). Tais comportamentos guardam uma relação direta com as dificuldades econômicas que a população está enfrentando, especialmente em função das políticas macroeconômicas adotadas pelo país que podem estar contribuindo para a desaceleração da trajetória de expansão (IEDI, 2022).

Em nível estadual o movimento do índice segue, em grande medida, os resultados nacionais. Há de se notar, contudo, a maior instabilidade captada pelas variações mês a mês e o fato de o índice com ajuste sazonal representar retração no ano, fatores que dificultam uma previsão para os resultados dos próximos meses. Todavia, em termos desagregados, se destaca a expansão acumulada dos serviços prestados às famílias e a retração de serviços profissionais, administrativos e complementares, ambos os resultados que se descolam da média dos demais grupos de atividades.

Em se mantendo elevada a taxa mensal de inflação e considerando que o ciclo de alta da taxa básica de juros deverá se prolongar nos próximos meses, é possível vislumbrar um cenário de arrefecimento do ritmo expansivo do volume de serviços no segundo semestre, principalmente em decorrência da corrosão do poder de compra da população. Além disso, como é válido também para os demais setores, o fundamental para a manutenção dos bons índices de atividades nos próximos meses continuará sendo o controle da pandemia, tarefa ainda de primeira importância e que não pode ser subestimada pelas autoridades sanitárias do país e do estado.

Referências

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal de Serviços. Rio de Janeiro (RJ): IBGE, maio de 2022.

IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Reação dos serviços: bons ventos para o emprego. Análise IEDI. Disponível em: <https://www.iedi.org.br/artigos/top/analise/analise_iedi_20220712_servicos.html>. Acesso em: 28 de julho de 2022.

IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Destaque IEDIExpansão restrita a serviços. Disponível em: <https://www.iedi.org.br/artigos/destaque/2017/destaque_iedi_20220713.html>. Acesso em: 29 de julho de 2022.


* Estudante de Economia na UFSC e bolsista do NECAT. Email: matheusrosa.contato@outlook.com

** Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador Geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br

[1] A PMS não divulga os resultados desagregados por atividades de serviços pela perspectiva mensal com ajuste sazonal para os UFs. Por isso, se escolheu o destaque dos resultados acumulados.

[2] As atividades de serviços profissionais representam em Santa Catarina, segundo a Pesquisa Anual dos Serviços do IBGE (PAS/IBGE), o maior número de empresas instaladas e a terceira maior receita bruta do estado. Por isso, o movimento negativo que está estabelecido em 2022 é especialmente digno de nota.