Produção industrial catarinense recuou 0,8% em junho/2025

22/09/2025 08:52

Gabriel Schwalbe Hoffmann*

A pesquisa sobre a Produção Industrial Mensal – PIM Regional é realizada pelo IBGE desde a década de 1970 sintetizando um conjunto de indicadores de curto prazo relativos ao comportamento da produção real da indústria extrativa e de transformação. Para tanto, são produzidos índices mensais para 17 unidades da federação segundo o critério de que tais unidades federativas tenham participação de, no mínimo, 0,50% do total do valor da transformação nacional. Ressalta-se que no caso da região Nordeste é realizado um agregado regional, razão pela qual tal região figura junto com as unidades federativas na divulgação das informações, conformando o horizonte de 18 localidades pesquisadas.

Sobre essa pesquisa é importante levar em consideração o alerta de Bernardo Almeida, analista de pesquisa do IBGE, o qual esclarece que a soma dos resultados regionais não resulta automaticamente no resultado nacional, que é divulgado pela PIM Brasil, sempre na semana anterior. Isto porque uma parte da produção nacional não é vista pelos resultados regionais, uma vez que são pesquisadas apenas 15 localidades. Como as séries locais são formadas independentemente, o resultado nacional atua como parâmetro para a análise regional.

O mês de junho de 2025 apresentou um aumento de (+0,1%) na produção industrial nacional em comparação com o mês imediatamente anterior, tomando como base a série com ajustes sazonais. O resultado tímido embora positivo obtido em junho deixa evidente a dificuldade de crescimento da produção industrial nos primeiros seis meses de 2025. Na comparação com o mês anterior, sete dos 15 locais pesquisados pelo IBGE apontaram taxas positivas. Os avanços mais intensos foram em Pernambuco, Região Nordeste, Minas Gerais e Bahia, enquanto Amazonas, Paraná e Rio de Janeiro também registraram taxas positivas. Por outro lado, houve recuos no Espírito Santo, Mato Grosso, Pará, Goiás, Ceará, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Dentre as grandes categorias econômicas, considerando a comparação mensal na série com ajuste sazonal, os segmentos de bens de capital e de bens de consumo duráveis apresentaram crescimento em junho, após retração no mês anterior. Em contrapartida, os setores de bens de consumo semi e não duráveis, assim como o de bens intermediários, encerraram o mês com desempenho negativo. O primeiro acumulou sua terceira queda consecutiva, somando retração de 5,7% nesse período, enquanto o segundo voltou a repetir a perda já observada em maio de 2025.

Segundo o gerente da Pesquisa Industrial Mensal, André Macedo, a reversão do desempenho negativo da indústria em junho de 2025 foi acompanhada por uma ampliação no número de setores em crescimento, alcançando o nível mais disseminado desde junho de 2024, quando 22 atividades registraram taxas positivas. Nesse mesmo mês, ele também ressalta o destaque da indústria automobilística, que avançou (+2,4%), resultado fortemente impulsionado pelo aumento na produção de automóveis.

O presente texto analisa o comportamento da produção física industrial no âmbito nacional no mês de junho/25 para, posteriormente, fazer as análises específicas para o estado de Santa Catarina. O trabalho em questão, de periodicidade mensal, acompanha a evolução do setor industrial, segundo as estratificações territoriais (UFs) e por atividades econômicas (grandes categorias/indústria geral) definidas pela PIM/IBGE segundo os parâmetros adotados na CNAE 2.0.

Indústria nacional cresce 0,1% no mês de junho de 2025

O Gráfico 1 evidencia a evolução do índice de produção física industrial no Brasil desde janeiro de 2020, destacando os impactos econômicos da pandemia de Covid-19. O primeiro semestre de 2020 foi marcado por uma queda abrupta na produção industrial, que, mesmo com uma recuperação inicial impulsionada por políticas públicas como o auxílio emergencial e o saque do FGTS, permaneceu distante dos melhores patamares registrados na década anterior. Esse quadro refletiu um período prolongado de estagnação, agravado pela política monetária restritiva vigente até 2023, que elevou o custo do crédito e desestimulou os investimentos produtivos. Embora 2024 tenha sido marcado por certa resiliência na atividade industrial, os resultados ainda mostram oscilações significativas: a produção industrial nacional acumulou alta de (+3,1%) no ano, mas encerrou dezembro com nova retração de (-0,3%) frente ao mês imediatamente anterior, consolidando a desaceleração observada no último trimestre. Esse desempenho reflete o impacto do crédito caro, especialmente sobre os investimentos, além das incertezas fiscais que limitaram uma recuperação mais robusta do setor.

Ao longo de 2024, a produção industrial apresentou oscilações entre pequenos avanços e recuos. Um exemplo marcante foi o forte crescimento de junho (+4,3%), seguido por queda em julho (-1,5%) e estabilidade em agosto (+0,2%). Essa trajetória instável continuou com leve alta em setembro (+0,9%), retração em outubro (-0,2%), nova queda em novembro (-0,7%) e recuo em dezembro (-0,3%), resultando em um desempenho negativo no último trimestre do ano.

O primeiro semestre de 2025 manteve o padrão de instabilidade, com taxas de crescimento próximas de zero nos dois primeiros meses do ano. Em março, no entanto, a produção industrial registrou uma alta expressiva de (+1,2%), sinalizando uma possível retomada do dinamismo. Já em abril e maio, o setor apresentou quedas de (- 0,2%) e (-0,5%) respectivamente. Contudo, no mês de junho a produção industrial obteve um resultado apesar de tímido, positivo (+0,1%). O que novamente aponta para essa dificuldade incessante de crescimento da indústria para o ano de 2025 que desde 2024 não apresenta uma taxa de avanço realmente significativa. A questão do crédito alto aparece novamente como impeditivo para o crescimento contínuo e robusto, acompanhada de baixas expectativas no decréscimo da taxa Selic.

Gráfico 1 – Índice de produção física com ajuste sazonal, Brasil, junho de 2025 (jan/2020 = 100)

Fonte: IBGE, Pesquisa Industrial Mensal – PF. Elaboração: NECAT/UFSC

A Tabela 1 apresenta o acompanhamento temporal da evolução da produção industrial do país, segundo os diversos períodos considerados pelo IBGE. Na análise da variação mês/mês anterior é possível notar a dificuldade da estabilização de crescimento da indústria, visto que, o mês de março de 2025 (+1,6%) foi o único mês de crescimento relevante desde setembro de 2024 (+0,8%), impulsionado pelas taxas positivas em 3 dos 4 das grandes categorias econômicas. Os outros meses obtiveram quedas ou taxas positivas inexpressivas. O caso de junho de 2025, na comparação com o mês imediatamente anterior, não é exceção (+0,1%). O que novamente levanta a questão abordada anteriormente da dificuldade evidente da estruturação e crescimento industrial nacional.

Na comparação com junho de 2024, a indústria registrou queda de (-1,3%) em junho de 2025, com recuos em duas das quatro grandes categorias econômicas, em 12 dos 25 ramos, em 37 dos 80 grupos e em 48,2% dos 789 produtos analisados. O mês de junho de 2025 contou com 20 dias úteis, mesmo número observado no mesmo mês do ano anterior. Ainda na comparação com junho de 2024, 13 atividades registraram expansão, com destaque para as indústrias extrativas (+3,8%), impulsionadas pela maior produção de petróleo, minério de ferro e gás natural. Também contribuíram positivamente setores como manutenção e reparação de máquinas (+14,2%), metalurgia (+4,0%), produtos de borracha e plástico (+5,0%), químicos (+1,9%), têxteis (+9,4%), outros equipamentos de transporte (+10,0%), veículos (+1,4%), fumo (+13,7%) e máquinas e equipamentos (+1,9%).

O resultado fica um pouco diferente quando se analisa o acumulado anual, uma vez que a indústria nacional registrou crescimento de (+1,2%) entre janeiro e junho de 2025, mantendo trajetória de expansão na produção, apesar de ter decaído no acumulado de janeiro a maio que se somava (+1,8%). No acumulado dos últimos doze meses, ao progredir (+2,4%) em junho de 2025, a indústria regrediu ao mesmo patamar de abril, logo após ter apresentado um bom resultado em maio (+2,8%). Em termos regionais, onze dos 18 locais pesquisados registraram taxas positivas em junho de 2025, mas dez apontaram menor dinamismo frente aos índices de maio último. Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Pará, Maranhão, Ceará e Mato Grosso assinalaram as principais perdas entre maio e junho de 2025, enquanto Espírito Santo, Amazonas e Pernambuco mostraram os ganhos mais acentuados entre os dois períodos.

Tabela 1 – Variação da produção física industrial no Brasil em diversos períodos

Mês Mês/Mês

anterior (1)

Mês/Mês ano anterior (2) Acumulado

anual (3)

Acumulado

12 meses (4)

jul/24 -1,5 6,1 3,2 2,2
ago/24 0,1 2,3 3,1 2,4
set/24 0,8 3,3 3,1 2,6
out/24 -0,1 6 3,4 3
nov/24 -0,7 1,6 3,2 3
dez/24 -0,4 1,4 3,1 3,1
jan/25 0,1 1,3 1,3 2,9
fev/25 0 1,3 1,3 2,6
mar/25 1,6 3,4 2,1 3,1
abr/25 -0,6 -0,5 1,4 2,4
mai/25 -0,6 3,3 1,8 2,8
jun/25 0,1 -1,3 1,2 2,4
  Fonte: PIM-PF/IBGE. Elaboração: NECAT/UFSC

No grupo das grandes categorias econômicas (gráfico 2), os destaques de junho foram os bens de capital (+1,2%) e os bens de consumo duráveis (+0,2%), ambos retomando crescimento após as quedas registradas em maio, de (-1,6%) e (-3,3%), respectivamente. Esse desempenho positivo esteve associado, sobretudo, ao avanço da produção de veículos automotores, reboques e carrocerias (+2,4%), que voltou a crescer depois da retração de (-4,0%) no mês anterior. Esse setor havia interrompido, em maio, uma sequência de dois meses de alta, período em que acumulou ganho de (+4,2%). Também contribuíram para o resultado de junho as atividades de metalurgia (+1,4%), celulose, papel e produtos de papel (+1,6%), produtos de borracha e de material plástico (+1,4%), outros equipamentos de transporte (+3,2%), produtos químicos (+0,6%), farmoquímicos e farmacêuticos (+1,7%) e impressão e reprodução de gravações (+6,6%).

Por outro lado, os bens de consumo semi e não duráveis (-1,2%) e os bens intermediários (-0,1%) apresentaram retração em junho. No primeiro caso, foi a terceira queda consecutiva, acumulando perda de (-5,7%) no período; já no segundo, repetiu-se a mesma variação negativa de maio (-0,1%). Entre as oito atividades que recuaram, destacaram-se as indústrias extrativas (-1,9%), o setor de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,3%) e os produtos alimentícios (-1,9%), que exerceram os maiores impactos negativos. As indústrias extrativas interromperam quatro meses de crescimento seguidos (+9,3% acumulados), enquanto o setor de derivados de petróleo somou perdas de (-9,1%) em três meses consecutivos e os alimentos chegaram ao quarto recuo seguido, com queda acumulada de (-3,6%). Também influenciaram negativamente as atividades de bebidas (-2,6%), artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-4,0%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-2,7%).

Gráfico 2 – Índice de produção física com ajuste sazonal, categorias de uso, Brasil, (jan/20 – jun/25) (jan/2020 = 100)

Fonte: IBGE, Pesquisa Industrial Mensal – PF. Elaboração: NECAT/UFSC

As variações por categorias de uso em junho de 2025 estão detalhadas na tabela 2. Na comparação mês/mês anterior apenas duas das cinco grandes categorias registraram avanço: bens de capital (+1,2%), com um crescimento mais expressivo, e bens de consumo duráveis (+0,2%), com variação mais moderada. Por outro lado, os bens de consumo semi e não duráveis tiveram a maior retração (-1,2%), seguidos pelos bens de consumo (-0,6%) e, logo depois, pelos bens intermediários (-0,1%). As atividades específicas que contribuíram para esses resultados, tanto de forma positiva quanto negativa, já foram destacadas anteriormente na análise do gráfico 2.

Na comparação como mesmo mês do ano anterior, bens de consumo semi e não duráveis (-8,8%) e bens de capital (-1,2%) apresentaram quedas, enquanto bens intermediários (+1,7%) e bens de consumo duráveis (+0,2%) registraram crescimento. O setor de semi e não duráveis teve a terceira retração seguida e a mais intensa desde janeiro de 2022, influenciado pela forte queda em carburantes (-27,6%) e pelo recuo em alimentos e bebidas elaborados, não duráveis e semiduráveis. O único destaque positivo veio de alimentos e bebidas básicos (+30,0%). Bens de capital voltaram ao campo negativo após avanço em maio, pressionados principalmente pelos grupamentos de uso misto, construção e transporte, enquanto os subsetores agrícola (+2,4%) e de energia elétrica (+1,6%) ajudaram a frear a perda. Bens intermediários cresceram (+1,7%), quarta alta seguida, puxados por metalurgia, químicos, têxteis e veículos. Já os bens duráveis tiveram leve alta de (+0,2%), décima terceira taxa positiva consecutiva, sustentada pela forte expansão de motocicletas (45,8%), mas limitada pelas quedas em automóveis e eletrodomésticos da “linha branca”.

No acumulado do ano, o desempenho das grandes categorias econômicas evidenciou maior dinamismo em bens de consumo duráveis (+8,3%), resultado impulsionado principalmente pelo aumento na produção de automóveis (+9,2%) e de eletrodomésticos da “linha marrom” (+8,7%). Também registraram crescimento acima da média da indústria os setores de bens intermediários (+2,2%) e de bens de capital (+1,5%). Em contrapartida, o segmento de bens de consumo semi e não duráveis apresentou retração de (-2,6%), sendo o único a encerrar o semestre em queda.

Tabela 2 – Variação da atividade industrial do Brasil em vários períodos, categorias de uso, em maio de 2025

 

Categorias

Mês/Mês anterior (1) Mês/igual

mês ano anterior (2)

Acumulado no ano (3) Últimos doze meses

(4)

Bens de capital 1,2 -1,2 1,5 7
Bens intermediários -0,1 1,7 2,2 2,6
Consumo duráveis 0,2 0,2 8,3 12,5
Consumo semi e não

duráveis

 

-1,2

 

-8,8

 

-2,6

 

-0,5

 Fonte: PIM-PF/IBGE. Elaboração: NECAT/UFSC

Com base nos dados apresentados no Gráfico 3 é possível notar que a produção física acumulada anual da indústria de transformação no mês junho não se diferem tanto das apresentadas nos meses anteriores. Os segmentos que mais impulsionaram a indústria no acumulado anual foram os de produtos têxteis (+11,4%), instalação de máquinas e equipamentos (+9,6%), máquinas e equipamentos (+8,5%), veículos automotores (+5,7%) e metalurgia (+4,7%). Todos eles apresentando um crescimento acumulado significativo, com destaque para o setor têxtil, que vem apresentando o maior acumulado desde março deste ano.

Gráfico 3 – Produção física industrial, setores de atividades, Brasil, acumulado anual comparado com o mesmo período do ano anterior (jan / jun – 2025)

Fonte: IBGE, Pesquisa Industrial Mensal – PF. Elaboração: NECAT/UFSC

Na comparação entre janeiro-junho de 2025 e igual período de 2024, sete segmentos acumularam retração. O recuo mais significativo veio de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-5,1%), influenciado, sobretudo, pela menor produção de álcool etílico e óleo diesel. Também contribuíram negativamente produtos alimentícios (-0,9%), celulose, papel e produtos de papel (-1,8%), impressão e reprodução de gravações (-8,7%) e bebidas (-1,5%). De modo geral, o gráfico aponta para uma retomada industrial desigual, assim como já mostrado em análises anteriores. Setores como o de bens de capital e automóveis mostraram resultados melhores, enquanto áreas mais ligadas ao consumo interno ou afetadas por sazonalidades continuaram apresentando desempenho mais fraco. Isso mostra que a recuperação da indústria brasileira acontece de forma lenta e desbalanceada.

Produção industrial catarinense recuou 0,8% no mês de junho de 2025

O Gráfico 4 ilustra a evolução do índice de produção física da indústria de Santa Catarina entre janeiro de 2020 e maio de 2025. Vale lembrar que a crise econômica de 2014 a 2016 já havia provocado uma forte retração nesse indicador, com efeitos mais profundos até mesmo do que aqueles registrados na crise de 2008. Entre 2017 e 2019, o setor viveu uma recuperação lenta e contínua, que foi interrompida com o início da pandemia de Covid-19, no começo de 2020. A produção industrial catarinense sofreu uma queda acentuada no primeiro semestre daquele ano, acompanhando a tendência nacional. Porém, a retomada iniciada a partir de agosto de 2020 foi mais intensa em Santa Catarina do que no restante do país, o que fez com que o índice estadual se mantivesse acima da média nacional até o final de 2022. Após um curto período de aproximação no início de 2023, os índices voltaram a se distanciar, com a indústria catarinense voltando a apresentar uma trajetória superior à da indústria brasileira.

No acumulado de 2024 até dezembro, esse descolamento se intensificou, com a indústria catarinense crescendo (+7,7%) no ano, reforçando o dinamismo produtivo do estado em comparação ao desempenho nacional. Essa situação se repetiu nos meses de janeiro de 2025 quando houve um crescimento acumulado de (+9%). Contudo, nos seguintes meses o estado de SC apresentou forte retração ou crescimento pífio com as seguintes taxas, fevereiro (-0,3%), março (+0,1%), abril (-0,1%), maio (-0,2%) e finalmente junho apresentando a maior queda do ano com (-0,8%). Dessa forma, levanta-se novamente a questão da dificuldade de crescimento da indústria no estado, ao mesmo tempo em que a mesma permanece subjugada a indústria e a demanda nacional.

Gráfico 4 – Índice de produção física com ajuste sazonal, Santa Catarina, 2020 – mai/25 (jan/2020 = 100)

Fonte: IBGE, Pesquisa Industrial Mensal – PF. Elaboração: NECAT/UFSC

A Tabela 3 apresenta as variações mensais da produção física industrial catarinense entre julho de 2024 e junho de 2025. Na comparação com o mês imediatamente observou-se a repetição dos dois meses anteriores. Com isso, por três meses seguidos essa comparação foi negativa. Já na comparação com o mesmo mês do ano anterior, os resultados mostram desempenho positivo em quase todos os meses (com exceção de abril), ainda que com diferentes níveis de crescimento. Os maiores avanços ocorreram em julho de 2024 (+12,6%), outubro de 2024 (+11,9%) e novembro de 2024 (+7,1%), sinalizando forte recuperação no segundo semestre de 2024. Já em 2025, o crescimento perdeu força: janeiro (+8,2%) e março (+8,1%) mantiveram expansão elevada, mas fevereiro (+5,4%), abril (-0,7%), maio (+3,8%) e junho (+2,3%) indicaram clara trajetória de desaceleração.

No acumulado do ano, a indústria catarinense iniciou em alta (+8,2% em janeiro de 2025), mas o crescimento foi perdendo a força ao longo dos meses seguintes, até atingir (+4,4%) em junho. Esse movimento mostra que, embora o setor tenha entrado em 2025 em ritmo acelerado, possivelmente a impulsionado pela demanda maior por conta da sazonalidade, a capacidade de expansão vem se reduzindo gradualmente.

O acumulado nos últimos 12 meses confirma essa tendência: após alcançar (+8,0%) em março de 2025, o indicador caiu para (+6,2%) em junho, apontando perda de fôlego da atividade industrial. Assim, o quadro geral mostra que, apesar do forte desempenho no segundo semestre de 2024, a indústria catarinense enfrenta desaceleração no primeiro semestre de 2025, juntamente com o enfraquecimento do cenário industrial nacional.

Tabela 3 – Variação da produção física industrial em Santa Catarina em diversos período

 

Mês

Mês/Mês anterior (1) Mês/Mês ano

anterior (2)

Acumulado anual (3) Acumulado doze meses

(4)

jul/24 0,9 12,6 7,3 5,2
ago/24 -1,5 3,5 6,8 5,5
set/24 2,5 7 6,8 6
out/24 0,6 11,9 7,3 6,7
nov/24 -0,8 7,1 7,3 7,1
dez/24 0,4 5,9 7,2 7,2
jan/25 0,9 8,2 8,2 7,2
fev/25 -0,3 5,4 6,8 7,1
mar/25 0,1 8,1 7,2 8
abr/25 -0,1 -0,7 5,1 6,6
mai/25 -0,2 3,8 4,8 6,3
jun/25 -0,8 2,3 4,4 6,2
  Fonte: PIM-PF/IBGE. Elaboração: NECAT/UFSC

O desempenho do conjunto dos setores de atividades de Santa Catarina em diferentes períodos de 2025 está descrito na Tabela 4. Na comparação com o mês imediatamente anterior, a indústria catarinense apresentou resultados distintos entre os setores. Entre os destaques positivos do trimestre, sobressaíram produtos de metal, exceto máquinas, veículos automotores, reboques e carrocerias, produtos de minerais não metálicos, metalurgia e máquinas e equipamentos. Por outro lado, algumas atividades registraram quedas relevantes, como produtos de borracha e plástico, artigos do vestuário e acessórios, produtos de madeira e máquinas aparelhos e materiais elétricos. Na análise dos meses anteriores, vale notar que maio apresentou forte crescimento em móveis (+14,7%) e veículos automotores (+10,5%), enquanto abril teve desempenho negativo em segmentos importantes, como produtos de madeira (-5,2%) e vestuário (-4,4%), em queda possivelmente pela base de comparação com 2024.

Tabela 4 – Produção Física Industrial de Santa Catarina por setores de atividades, variação mensal em relação ao mesmo mês do ano anterior / Acumulado do ano em comparação com o mesmo período do ano anterior

Setor de atividade Mês/mesmo mês do ano anterior Acumulada no ano
abr/25 mai/25 jun/25 abr/25 mai/25 jun/25
Produtos alimentícios -1,7 5,8 3,7 3,9 4,3 4,2
Produtos têxteis -3,5 5,3 0,6 4,5 4,7 4
Artigos do vestuário e acessórios -4,4 -6,8 0,9 2,1 0,2 0,3
Produtos de madeira -5,2 7,6 -1,3 1,8 2,9 2,2
Celulose e papel 2 2,9 0,7 1,2 1,5 1,4
Produtos químicos 0,1 1,2 2,8 4,5 3,8 3,7
Produtos de borracha e de mat. Plástico -0,8 2 -4,8 2,2 2,2 1
Produtos de minerais não metálicos 2,3 4,5 5 10,7 9,4 8,6
Metalurgia 3,4 4,5 9 5,2 5,1 5,7
Produtos de metal, exceto máq. 3,4 23,3 21,5 18,3 19,3 19,7
Máquinas, aparelhos e mat. elétricos 1,6 -3 -5,3 8 5,5 3,6
Máquinas e equipamentos 4,5 4,9 3,5 10 8,8 7,9
Veículos automotores -3 10,5 7,2 3,2 4,6 5
Móveis -2,2 14,7 1,5 9,2 10,3 8,7

Fonte: PIM-PF/IBGE. Elaboração: NECAT/UFSC

No acumulado de janeiro a junho de 2025, os resultados apontam crescimento mais consistente. Os maiores avanços foram observados em produtos de metal, exceto máquinas (+19,7%), produtos de minerais não metálicos (+8,6%), máquinas e equipamentos (+7,9%) e móveis (+8,7%), todos acima da média geral da indústria catarinense. Também se destacaram positivamente veículos automotores (+5%), têxteis (+4%) e produtos químicos (+3,7%). Por outro lado, os setores de artigos de vestuário (+0,3%), produtos de madeira (+2,2%) e celulose e papel (+1,4%) mostraram crescimento mais moderado. Esse quadro mostra que, apesar das variações mensais, a indústria catarinense tem uma trajetória positiva no primeiro semestre de 2025 em comparação com o mesmo período do ano passado, puxada por setores de maior peso, como metalurgia, bens de capital e móveis.

A consolidação desses resultados setoriais anteriormente mencionados é apresentada por meio do Gráfico 5, que compara quanto cresceu ou caiu um indicador de janeiro até o mês atual, em relação a esse mesmo período do ano anterior. Entre os 14 segmentos analisados, nenhum apresentou retração no acumulado do ano, o que mostra um cenário de crescimento generalizado ainda que em ritmos diferentes. Os dados atuais não divergem muito das análises feitas nos meses anteriores, sendo que os maiores destaques continuam sendo os setores ligados à produção de bens de capital. O segmento de produtos de metal lidera com um acumulado de (+19,7%) seguido pelos setores de móveis, com (+8,7%), produtos de minerais não metálicos (+8,6%) e máquinas e equipamentos (+7,9%). Os quatro principais setores em alta no estado não mudaram de posições em relação ao mês anterior. Esses dados reforçam a importância da indústria catarinense em áreas que exigem maior valor agregado, refletindo uma base produtiva forte, mas com expressivas quedas nos últimos meses.

Gráfico 5 – Produção física industrial em Santa Catarina por setores de atividades, acumulado no ano (jun/25)

Fonte: IBGE, Pesquisa Industrial Mensal – PF. Elaboração: NECAT/UFSC

Já na base do gráfico estão setores como vestuário e acessórios (+0,3%) com a menor taxa de crescimento entre os 14 analisados, borracha e material plástico (+1%) celulose, papel e produtos de papel com (+1,4%), e produtos de madeira (+2,2%). Ainda que com uma diminuição no acumulado anual entre a maioria dos segmentos, as taxas acumuladas de todos estão positivas, o que demonstra certa resistência do ramo industrial de Santa Catarina. Contudo, é importante destacar que a maioria dos ramos apresentaram queda em relação a maio o que levanta um alerta sobre o quanto a indústria catarinense pode ser resiliente em relação a indústria nacional, que nos últimos meses vem enfrentando forte retração.

Considerações finais

A indústria brasileira terminou junho de 2025 em um cenário de perda de dinamismo, reforçando a tendência de piora que já vinha se acumulando desde o final de 2024. Apesar de alguns setores ainda mostrarem crescimentos pontuais, o cenário geral mostra uma atividade industrial marcada por oscilações e incapaz de sustentar uma trajetória consistente de crescimento. O resultado negativo frente ao mesmo mês do ano anterior evidencia essa perda de fôlego, mostrando tanto as limitações do mercado interno quanto os desafios do cenário internacional.

Do lado doméstico, o crédito caro e a redução da confiança de empresários e consumidores têm sido questões importantes para a menor expansão da produção. Esse ambiente deixa difícil para novos investimentos, reduz a demanda por bens industriais e compromete a retomada mais firme do setor. Além disso, nos últimos meses ficou mais evidente a questão de acúmulo de estoques em alguns segmentos mostrando que a demanda final é insuficiente para absorver a produção, pressionando margens e levando a ajustes no ritmo industrial.

No plano externo, o contexto global mais desfavorável também contribui para essa trajetória tímida. A instabilidade internacional, somada às medidas econômicas adotadas pelos Estados Unidos, como a imposição de tarifas adicionais a produtos brasileiros, amplia as incertezas e tende a restringir ainda mais a indústria nacional nos próximos meses. Essa combinação de fatores externos e internos explica porque, mesmo em um mês que trouxe pequenas variações positivas em parte dos segmentos, o setor industrial como um todo segue sem capacidade de firmar um ciclo de crescimento sustentado.

Em Santa Catarina, a indústria também apresentou retração em junho de 2025, acompanhando a tendência nacional de enfraquecimento, mas com particularidades relevantes. O resultado negativo registrado no estado evidencia a dificuldade em sustentar o ritmo de crescimento observado no segundo semestre de 2024 e início de 2025, período em que a atividade catarinense se destacou positivamente com relação à média do país. Enquanto a indústria nacional já vinha apresentando oscilações e sinais de perda de fôlego desde o ano anterior, a indústria catarinense conseguiu se manter sustentada por mais tempo. Porém, a partir dos primeiros meses de 2025 a perda de capacidade industrial local ficou mais evidente, mostrando não só as mesmas questões que atingem a economia nacional, como juros elevados e crédito caro, mas também fragilidades próprias do estado, como a queda de demanda em segmentos industriais tradicionais. Assim, se antes Santa Catarina se destacava por apresentar resultados mais relevantes do que a média brasileira, junho confirmou uma convergência para o cenário nacional de desaceleração, mostrando que até mesmo economias regionais com maior dinamismo produtivo não estão imunes às pressões internas e externas que limitam a recuperação industrial.


* Graduando em Ciências Econômicas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Bolsista do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (NECAT/UFSC). Email: ga6riel17@gmail.com

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal da Indústria. Produção Física (PIM). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, junho de 2025.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal da Indústria. Produção Física Regional (PIM Regional). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, junho de 2025.

IEDI – Instituto de Estudos para o Setor Industrial. Carta IEDI edição 08/08/2025: https://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_1323.html