Serviços e indústria lideram a formação de empregos formais catarinenses no 1º semestre de 2025
Tamires Boing1
João Marcelo Sovinski2
Os dados do Novo Caged de junho/2025 evidenciaram que o mercado de trabalho formal do país se expandiu em 0,3% com abertura de 166,6 mil vagas. Já em Santa Catarina foram gerados 6,5 mil novos postos de trabalho, correspondendo a um crescimento de 0,2%, conforme demonstrado na Tabela 1. Quando descontados os efeitos sazonais, o crescimento em ambos permanece o mesmo, evidenciando a ausência desses efeitos.
Na análise do desempenho acumulado em 12 meses, observa-se que o estado apresentou um crescimento nos estoques de emprego formal superior à média do nacional, sendo de 3,5% comparado a 3,4%, respectivamente. No acumulado de 2025, Santa Catarina registra uma alta de 3,1% na geração de vínculos formais, frente aos 2,6% observados no âmbito nacional.
Tabela 1 – Saldo de vínculos formais de trabalho no Brasil e em Santa Catarina (Brasil e Santa Catarina, junho/2025)
Fonte: Novo Caged (2025); Elaboração: NECAT/UFSC
* Variação contra mês anterior, na série dessazonalizada
** Estoque de empregos em jun/25 vs. estoque em dez/24
*** Estoque de empregos em jun/25 vs. estoque em jun/243
Embora haja incertezas relacionadas ao ajuste sazonal na série histórica do Novo Caged4, as informações apresentadas no Gráfico 1 indicam que Santa Catarina apresentou um crescimento inferior à média nacional quando descontados esses efeitos.
Gráfico 1 – Crescimento estimado do estoque de empregos formais (Santa Catarina, 2022-2025) – Série original e com ajuste sazonal
Fonte: Novo Caged (2025) e NECAT/UFSC (2025); Elaboração: NECAT/UFSC
O objetivo deste texto é analisar o desempenho do mercado formal de trabalho catarinense em junho de 2025 à luz dos resultados nacionais. Para isso, serão analisadas a seguir a dinâmica da geração de empregos por setor de atividade econômica, seu patamar remuneratório e sua distribuição regional.
Desempenho por setor de atividade econômica
A Tabela 2 apresenta a distribuição do saldo de empregos formais por setor de atividade econômica no Brasil e em Santa Catarina em junho de 2025. Os resultados evidenciam que, tanto no Brasil quanto em Santa Catarina, o setor de serviços foi predominante na geração de empregos.
No Brasil, o setor de serviços apresentou um saldo de 73 mil vínculos formais, o que representou uma variação mensal de 0,3%. Tal crescimento foi promovido, sobretudo, pelas contratações na locação de mão de obra temporária e nas atividades de atendimento hospitalar. Negativamente, o setor foi impactado pelos desligamentos sazonais na área da educação, especialmente na educação superior e na educação infantil e ensino fundamental, possivelmente relacionado ao período de recesso escolar. No recorte do acumulado do ano de 2025, o setor de serviços registra um saldo de 643 mil postos de trabalho, responsabilizando-se por metade das vagas formais geradas no país.
O setor de comércio gerou 32,9 mil postos de trabalho formais, com uma variação mensal de 0,3%. Esse crescimento foi puxado pelas contratações no comércio varejista, em especial no comércio varejista de produtos farmacêuticos, no segmento de comércio varejista de mercadorias em geral, com predominância de produtos alimentícios, de supermercados e no comércio varejista de combustíveis para veículos motores, que apresentou um bom resultado quando analisado a comparação interanual, contribuindo positivamente com o setor. No acumulado do ano de 2025, o setor de comércio gerou 90,8 mil empregos formais.
O setor agropecuário registrou um saldo de 25,8 mil, o que representou a maior variação relativa entre os setores, na ordem de 1,4%. O cultivo da soja e o cultivo da laranja foram os responsáveis pela maior parte das admissões no setor. No acumulado de 2025, o setor agropecuário foi responsável pela geração de 99,3 mil vínculos formais.
O setor industrial apresentou um saldo de 20,1 mil postos de trabalho formais, com um crescimento mensal de 0,2%. Contribuindo positivamente com o desempenho do setor houve as admissões na fabricação de álcool, entretanto com um resultado inferior quando comparado ao mesmo período dos anos anteriores. Destaque também para a fabricação de produtos alimentícios, especialmente na fabricação de produtos de panificação e na fabricação de açúcar em bruto. No acumulado de 2025, o setor industrial contabilizou o segundo maior saldo na geração de vínculos formais, com 229,8 mil empregos.
Por fim, o setor de construção apresentou um saldo de 10,6 mil postos de trabalho formais, com uma expansão de 0,3% em junho. Grande parte das contratações referem-se às admissões nas obras de infra-estrutura, em destaque nos subsetores de construção de rodovias e na construção de estações e redes de distribuição de energia elétrica. No recorte do acumulado de 2025, o setor de construção apresentou um saldo de 159,4 mil empregos formais.
Tabela 2 – Saldo por setor de atividade econômica no Brasil e em Santa Catarina (junho/25)
Fonte: Novo Caged (2025); Elaboração: NECAT/UFSC
O setor de serviços em Santa Catarina registrou um saldo de 3,3 mil postos de trabalho formal em junho, com uma variação de 0,3%. Desse total, uma parte significativa foi no subsetor de serviços de escritório e apoio administrativo, com destaque também para o subsetor de serviços de arquitetura e engenharia. No entanto, o saldo foi negativamente impactado pelo subsetor de alojamento e alimentação. No acumulado de 2025, o setor de serviços contabilizou um saldo de 31,2 mil vínculos formais, ocupando a primeira posição na geração de vagas do estado.
O comércio catarinense registrou a abertura de mil postos de trabalho formal em junho, apresentando uma variação de 0,2%. Uma parte significativa das contratações foi no subsetor do comércio varejista de mercadorias em geral. No ano de 2025, o setor apresentou um saldo de 6,7 mil vínculos de emprego formais.
A indústria catarinense registrou a geração de mil postos de trabalho formal em junho, com um crescimento de 0,2%. O destaque foi para o subsetor de fabricação de material elétrico e eletrônico para veículos automotores. Em 2025, o setor industrial ocupa a segunda posição na geração de vagas de empregos formais, com um saldo de 29,8 mil postos.
O setor de construção gerou 668 novas vagas formais em Santa Catarina, com a maior variação mensal entre os setores, de 0,5%. O saldo foi impulsionado pelas contratações em construções de edifícios, enquanto as obras de infraestrutura impactaram o setor negativamente. No acumulado de 2025, o setor de construção registrou um saldo de 12,1 mil postos formais.
Por fim, o setor agropecuário apresentou um saldo de 489 novas vagas formais, com variação mensal de 1%. O subsetor de destaque foi o de cultivo de plantas de lavouras temporárias, principalmente no cultivo da cebola. No acumulado de 2025, o setor registrou um saldo de apenas 385 postos formais. É importante ressaltar que a maioria dos trabalhadores rurais não possui carteira de trabalho assinada ou opta por não ter vínculo formal.
Evolução salarial
Em junho de 2025, o salário médio de admissão registrou um crescimento de 0,7% em Santa Catarina e uma expansão de 1,1% no Brasil, chegando às cifras de R$2.325,49 e R$2.278,37 respectivamente. No estado, observa-se que o salário médio apresenta uma tendência de crescimento, uma vez que encerrou o segundo trimestre com valor mais elevado. Já na esfera nacional, mesmo com algumas oscilações nos meses anteriores, também se observou um aumento no mês em tela.
Gráfico 2 – Salário médio real de admissão (Brasil e Santa Catarina, 2020-2025)
Nota: seguindo a metodologia adotada pelo MTE, o salário médio foi deflacionado pelo INPC e calculado desconsiderando vínculos de trabalho intermitente e salários declarados abaixo de 0,3 SM ou acima de 150 SM.
Fonte: Novo Caged (2025); Elaboração: NECAT/UFSC
Conforme demonstrado pelos dados da Tabela 3, em junho, aproximadamente 90% dos trabalhadores admitidos estão agrupados em faixas salariais de até 2 salários mínimos.
Do total de catarinenses contratados em junho/25, 8,7 mil (6,2%) recebem até 1 salário mínimo, 117,8 mil (83,4%) recebem de 1 até 2 salários mínimos e apenas 14,6 mil trabalhadores recebem salários acima de 2 salários mínimos (pouco mais de 10% do total de contratados).
Tabela 3 – Admissões por faixa salarial (Santa Catarina, junho/25)
Fonte: Novo Caged (2025) e RAIS (2025); Elaboração: NECAT/UFSC.
Distribuição geográfica dos empregos em Santa Catarina
A Tabela 4 apresenta o saldo e a variação mensal de empregos formais nas mesorregiões de Santa Catarina em junho de 2025.
Em termos absolutos, a região do Vale do Itajaí despontou com o maior saldo de contratações no último mês, com a abertura de 1,8 mil vagas formais, representando uma variação de 0,2%. Tal resultado foi impulsionado significativamente pelo setor industrial, em especial pela fabricação de produtos têxteis em Itajaí. A região do Vale do Itajaí contabilizou também o maior acumulado do ano, registrando um saldo de 21,4 mil empregos formais.
A região da Grande Florianópolis foi responsável pela geração de 1,6 mil novas vagas formais, um crescimento de 0,3%. Parte significativa das contratações ocorreu no subsetor de serviços de arquitetura e engenharia em Florianópolis e nas atividades de vigilância, segurança e investigação em Palhoça. No acumulado de 2025, a região da Grande Florianópolis registrou cerca de 12,2 mil vínculos de trabalho formal.
A região Oeste registrou um saldo de 1,3 mil vagas formais, com um crescimento de 0,3%. Parte significativa das contratações ocorreu nos setores de fabricação de produtos alimentícios em Chapecó e de fabricação de móveis em Caçador. No acumulado de 2025, a região Oeste contabilizou o segundo maior saldo dentre as demais regiões, com a geração de 16,1 mil vínculos de trabalho formal.
Tabela 4 – Saldo de empregos formais por mesorregião (Santa Catarina, junho/25)
Fonte: Novo Caged (2025); Elaboração: NECAT/UFSC.
A região Norte contabilizou um saldo de 1,2 mil postos de trabalho formais, com uma variação relativa de 0,2%. O setor de serviços despontou com o maior número de contratações, especialmente no subsetor de serviços para edifícios e atividades paisagísticas em Joinville. Nota-se também que houve desligamentos significativos na seleção, agenciamento e locação de mão de obra, também em Joinville. Em 2025, a região Norte contabilizou um saldo de 15,8 mil vínculos de trabalho formal.
A região Sul registrou um saldo de 572 postos de trabalho formais, com uma variação de 0,2%. O subsetor que mais impactou as contratações foi o de atividades de atenção à saúde em Jaguaruna, enquanto, de forma negativa, destacaram-se as indústrias de transformação em Araranguá. No acumulado do ano, a região Sul registrou 10,6 mil vínculos de trabalho formal.
A região Serrana apresentou um saldo negativo de 162 postos de trabalho formais, com uma retração de 0,1%. Parte significativa dos desligamentos ocorreu em Lages, no subsetor de atividades de vigilância, segurança e investigação. No acumulado de 2025, a região Serrana apresentou um saldo de 4 mil vagas, o menor resultado quando comparado às demais regiões.
A Tabela 5 apresenta o saldo e a variação mensal dos empregos nas cidades catarinenses com mais de 100 mil habitantes. Do total de empregos formais gerados nos 295 municípios de Santa Catarina, 3,1 mil foi criado nesses 13 municípios, o que significa que esses grandes municípios concentraram aproximadamente metade de todos os vínculos formais de trabalho no estado.
Especificamente em relação a estas cidades, nota-se que os municípios que mais se destacaram na criação de empregos em maio foram Joinville, com 902 vagas, Florianópolis, com 623, seguidas por Itajaí, Chapecó e Palhoça.
Tabela 5 – Saldo das cidades com mais de 100 mil habitantes (Santa Catarina, junho/25)
Fonte: Novo Caged (2025); Elaboração: NECAT/UFSC.
Em Joinville, parte majoritária das admissões ocorreu no setor de serviços, em especial no subsetor de serviços para edifícios e atividades paisagísticas. Na cidade de Florianópolis as contratações foram puxadas pelos serviços de arquitetura e engenharia. Em contrapartida, Balneário Camboriú foi a cidade com mais de 100 mil habitantes a apresentar o menor saldo, devido aos desligamentos na incorporação de empreendimentos imobiliários.
Considerações Finais
Em junho/25 o mercado de trabalho formal em Santa Catarina apresentou um saldo de 6,5 mil novas vagas, correspondendo a um crescimento de 0,2%. Quando descontado os efeitos sazonais, a variação permanece na mesma ordem de 0,2%. Nacionalmente, a variação foi de 0,3% e, semelhante à esfera estadual, o crescimento permaneceu na ordem de 0,3% após o ajuste sazonal.
O principal destaque absoluto foi o setor de serviços, impulsionado pelo subsetor de serviços de escritório e apoio administrativo e o segmento de serviços de arquitetura e engenharia. Em termos relativos, sobressaiu-se o crescimento da construção, em destaque a construção de edifícios. No recorte regional, merecem destaque os serviços de arquitetura e engenharia em Florianópolis e as atividades de vigilância, segurança e investigação em Palhoça.
A média salarial dos catarinenses contratados apresentou um crescimento de 0,7%, chegando a R$2.325,49 no mês de junho. A predominância de trabalhadores em faixas salariais de até dois salários mínimos sugere a necessidade de atenção às condições salariais e à qualidade dos empregos gerados.
1 Graduanda em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. Email:tmrsbng@gmail.com
2 Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. Email:Sovinskiapc@gmail.com
3 Embora à primeira vista possa parecer que de jun/24 a jun/25 contabiliza-se 13 meses, por se tratar de uma medida de variação do estoque mês a mês, o valor acumulado compreende o período de 12 meses.
4 Qualquer dessazonalização feita a partir dos dados do Novo Caged deve ser analisada com muita cautela. Como a série tem início em 2020, a observação de seus padrões sazonais deve ser complementada com os dados do Caged antigo. No entanto, conforme temos alertado constantemente, essas bases não são plenamente comparáveis entre si, uma vez que a transição para o Novo Caged inchou as estatísticas do emprego formal, seja pela inclusão de novas categorias de vínculos, ou pela maior abrangência de captação. Com isso, é possível que haja um viés de alta nos resultados dessazonalizados.
MINISTÉRIO DO TRABALHO (Brasil). Programa de Disseminação das Estatísticas do Trabalho (org.). NOVO CAGED. 2025. Disponível em: http://pdet.mte.gov.br/novo- caged/. Acesso em: 10 de agosto de 2025.









