Setor de serviços tem forte alta no mês de fevereiro em Santa Catarina
Por: Daniel da Cunda Corrêa da Silva[1]
Panorama do setor de serviços no Brasil
O setor de serviços registrou alta de 3,7% no mês de fevereiro de 2021 em comparação com janeiro deste ano. A alta registrada em fevereiro fez com que os serviços recuperassem os patamares pré-pandemia, sendo registrados num volume 0,9% superior aos dados que vigoravam até fevereiro de 2020. De outro lado, num paralelo direto com o mesmo mês do ano passado, o desempenho dos serviços no Brasil foi 2% menor do que no segundo mês de 2020.
Apesar de promissora, a retomada do setor de serviços no Brasil deve ser interpretada com cautela. Todos os indicadores anteriores não levam em consideração os ajustes sazonais. Quando estes são contabilizados, o que se verifica é um desempenho decrescente, em termos de número-índice. Depois de alcançar 109 em dezembro de 2020, os serviços no Brasil recuaram para 95 em janeiro e 94 em fevereiro. Na prática, considerando a sazonalidade, o volume de serviços no Brasil em fevereiro de 2021 é equivalente ao nível de agosto de 2020[2]. É o que se pode observar no Gráfico 1, abaixo:
Gráfico 1: Volume de serviços desde janeiro de 2018
(índice base fixa com ajuste sazonal, 2018=100)
Fonte: PMS (2021); Elaboração: Necat/UFSC
O crescimento de 3,7% em fevereiro representou o nono mês seguido de alta na Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE[3] nas comparações feitas com os meses imediatamente anteriores. Entretanto, quando observados os dados relativos ao mesmo mês do ano anterior, já se contabilizam doze meses consecutivos de desempenhos inferiores ao que havia sido registrado em 2020. Isto faz com que o acumulado destes últimos 365 dias seja negativo em 8,6%, patamar mais baixo desde que esta série histórica passou a ser divulgada, em 2012. A expectativa é de que esta tendência se reverta nas próximas pesquisas, visto que o comparativo passará a ser feito com os meses mais críticos de isolamento social adotados no ano passado (entre março e maio). Estes dados são mais bem detalhados abaixo, na Tabela 1:
Tabela 1: Variação do volume de serviços no Brasil (janeiro e fevereiro de 2021)
Fonte: PMS 2021 (IBGE)
Nota 1: com ajuste sazonal
Nota 2: base igual ao mesmo mês do ano anterior
Nota 3: base igual ao mesmo período do ano anterior
Todas as cinco classes de atividades que compõem o estudo do setor de serviços no Brasil pelo IBGE tiveram desempenho positivo neste mês de fevereiro de 2020. Os melhores resultados foram apresentados pelos setores de serviços prestados às famílias (alta de 8,8%), outros serviços (positivo em 4,7%) e serviços de transportes, serviços auxiliares de transporte e correio (crescimento de 4,4%). Na sequência, com resultado ligeiramente mais modesto, ficou o setor de serviços profissionais, administrativos e complementares (+3,3%) e praticamente uma estabilidade registrada nos serviços de informação e comunicação (+0,1%).
Adotando-se o recorte dos impactos da Covid-19, os setores de transportes, informação e comunicação, bem como outros serviços são os que apresentam uma recuperação mais consistente, pois já se encontram atualmente em níveis pré-pandemia. Segundo o IBGE, os transportes possuem indicadores 2,8% acima do patamar de fevereiro de 2020; os serviços de informação e comunicação estão 2,6% superiores a 2020 e os outros serviços apresentam desempenho 1,0% superior ao do ano anterior.
De outro lado, ainda faltam 2,0 pontos percentuais para que os serviços profissionais, administrativos e complementares retornem ao patamar pré-pandemia. Para este setor, dado o ritmo atual de recuperação, a expectativa é de que em poucos meses a retomada a níveis pré-Covid-19 esteja sacramentada. Entretanto, os serviços prestados às famílias representam ainda a atividade mais frontalmente impactada pela pandemia. Mesmo acumulando a maior alta mensal por grupo de atividades neste mês de fevereiro de 2021 (8,8%), o subgrupo encontra-se ainda num patamar 23,7% inferior ao desempenho registrado em 2020.
A relativa retomada dos indicadores relacionados ao setor de serviços prestados às famílias pode estar relacionada ao cenário de estabilidade da pandemia entre os últimos meses de 2020 e os primeiros meses de 2021, somada ao período mais concentrado de recebimento de valores adicionais de férias e décimo terceiro salário. Embora a estabilidade em nada indique redução ou controle da pandemia, é razoável interpretar que a população em geral tenha se sentido relativamente mais confortável para frequentar restaurantes, hotéis e academias. Além disso, houve retomada das aulas presenciais em muitas unidades da federação, o que também pode ter contribuído para a elevação do indicador.
A alta dos serviços de transporte se deve, de acordo com os dados da Confederação Nacional dos Transportes, majoritariamente ao subitem dos serviços auxiliares de transporte e as encomendas de correios. O aumento dos serviços logísticos e de transporte rodoviário de cargas em função das compras pela internet neste início de ano impulsionaram as atividades deste subgrupo, tal como se pode observar no Gráfico 2 abaixo:
Gráfico 2: Evolução mensal do volume de serviços dos segmentos de transporte – Número-Índice (período base: fev/2020 = 100, série com ajuste sazonal)
Fonte: Elaboração CNT com dados da Pesquisa Mensal de Serviços, do IBGE[4].
Além disso, o mês de fevereiro também representou o retorno às aulas presenciais em muitos estados brasileiros, sobretudo nas instituições de ensino privadas, o que eleva a circulação de veículos e a contratação de serviços de transporte.
Por sua vez, o desempenho positivo de outros serviços está vinculado à boa performance de serviços prestados por corretoras de títulos e valores imobiliários, administração de bolsas e mercados de balcão organizados, administração de fundos por contrato ou comissão, recuperação de materiais plásticos e atividades de apoio à produção florestal.
O acumulado do primeiro bimestre de 2021 denota, até o momento, uma retração de 3,5% no setor de serviços quando a base de comparação é o primeiro bimestre de 2021. Segundo o IBGE, das 166 atividades avaliadas regularmente pela pesquisa, 38,6% dos serviços registraram elevação, o que aponta para a persistência de uma performance bastante heterogênea na claudicante retomada do setor. A Tabela 2, logo abaixo, detalha estes indicadores de desempenho setorial:
Tabela 2: Evolução do volume de serviços no mês de fevereiro de 2021, segundo grupos de atividades
Fonte: Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria (IBGE)
Nota 1: mês anterior com ajuste sazonal
Nota 2: base igual ao mesmo mês do ano anterior
Nota 3: base igual ao mesmo período do ano anterior
Nota 4: acumulado dos 12 meses anteriores
No que se refere à distribuição espacial dos resultados do setor de serviços no Brasil, à exceção da região nordeste, todas as outras apresentaram pelo menos um estado federado com desempenho acima da média nacional, envolvendo 2/3 das unidades federativas. Em termos de representação e impacto nos indicadores nacionais, particularmente merecem destaque os estados de Mato Grosso (+14,8%), São Paulo (+4,5%), Santa Catarina (+3,9%) e Minas Gerais (+3,5%). O Distrito federal registrou o resultado negativo relativamente mais importante, com queda de 5,1%.
Em comparação com os mesmos períodos dos anos anteriores, o cenário se inverte, sendo que praticamente 2/3 (17 das 27 unidades federativas) apresentaram indicadores negativos. Neste caso, as quedas mais representativas foram as do estado do Rio de Janeiro (-5,3%), da Bahia (-14%), do Paraná (-7,1%) e, novamente, o Distrito Federal (-11,0%). Da parte dos que registraram indicadores positivos, destacam-se os estados de Minas Gerais (6,2%), Santa Catarina (9,9%), Amazonas (10,7%) e Mato Grosso (6,3%).
Na sequência, a Tabela 3 revela que estados importantes como São Paulo (-2,9%), Rio de Janeiro (-5,3%), Paraná (-8,0%), Bahia (-13%) e Rio Grande do Sul (-8,0%) tiveram um desempenho muito ruim no primeiro bimestre do ano, ao passo que os resultados positivos mais significativos foram alcançados por Minas Gerais (+4,0%) e Santa Catarina (+7,5%). Nos últimos 12 meses, o único estado que acumula expansão no indicador é o Amazonas, com 0,6%.
Tabela 3: Variação (%) do volume de serviços entre os estados brasileiros no mês de fevereiro de 2021
Fonte: PMS 2021 (IBGE)
Nota 1 – Base: mês imediatamente anterior – com ajuste sazonal
Nota 2 – Base: igual mês do ano anterior
Nota 3 – Base: igual período do ano anterior
Nota 4 – Base: 12 meses anteriores
O comportamento do setor de serviços em Santa Catarina em fevereiro de 2021
Em fevereiro de 2021 o volume de serviços no estado de Santa Catarina[5] chegou próximo de seus valores vigentes em meados de 2016, como se pode observar no Gráfico 3. Sendo assim, o primeiro bimestre de 2021 aponta que, mesmo com o destaque em nível nacional, Santa Catarina vive um arrefecimento de seu ritmo de recuperação quando comparada consigo mesma em meses e anos anteriores. O estado segue, por exemplo, defasado em 13 pontos em termos de número-índice com relação ao nível de atividade mais alto registrado para o setor, ocorrida em novembro de 2014 e tomada como referência para o Gráfico 3 abaixo:
Gráfico 3: Volume de serviços em Santa Catarina até fevereiro de 2021
(índice base fixa com ajuste sazonal, nov 2014=100)
Fonte: PMS (2021); Elaboração: Necat/UFSC
Na sequência, a Tabela 4 apresenta a evolução dos dados referentes ao setor de serviços em Santa Catarina com diferentes períodos de comparação. Os dados abaixo apresentados permitem notar que Santa Catarina recupera seu setor de serviços em patamar compatível com a média nacional em fevereiro (+3,9% no estado, frente a +3,7% no país). Também chama a atenção positivamente, por contrariar a tendência nacional, o resultado do setor de serviços no estado quando se compara o desempenho de fevereiro de 2021 com fevereiro de 2020: Santa Catarina registrou um volume de serviços 9,9% superior ao mesmo mês de 2020. No acumulado do ano são 7,5% de aumento e uma diminuição do patamar negativo acumulado em 12 meses, passando de -3,6% para -2,9%. Trata-se de um destaque nacional, pois é o estado com índice mais alto no setor de serviços acumulado no primeiro bimestre de 2021.
Tabela 4: Variação (%) do volume de serviços em Santa Catarina (janeiro e fevereiro de 2020)
Fonte: PMS 2020 (IBGE)
Nota 1 – Base: mês imediatamente anterior – com ajuste sazonal
Nota 2 – Base: igual mês do ano anterior
Nota 3 – Base: igual período do ano anterior
Nota 4 – Base: 12 meses anteriores
Continuando os efeitos comparativos de Santa Catarina com o restante do país, a Tabela 5 abaixo apresenta relações do estado com o Brasil e os demais estados da região sul para diversos períodos. A perspectiva trimestral permite perceber que a variação mensal dos serviços em Santa Catarina iniciou o ano com desempenho significativamente acima da média nacional e regional. Em fevereiro, o recorte nacional (+3,7%) se aproximou de Santa Catarina (+3,9%), mas o estado seguiu com indicadores bastante superiores quando comparado com seus vizinhos (1,9% para o Rio Grande do Sul e 1,8% para o Paraná).
A mesma tendência se mantém quando se observa a comparação com o mesmo mês do anterior: Santa Catarina registra indicadores significativamente maiores que os do Brasil e os demais estados da região sul (+4,7% +5,3% e +9,9%, contra -7,5%, -9,2% e -7,0% no Rio Grande do Sul e -3,8%, -8,9% e -7,1% no Paraná). Na prática, todos os indicadores do Brasil e dos outros estados do sul na comparação com o mesmo período do ano passado foram negativos; em Santa Catarina, todos os resultados foram positivos.
Com relação ao acumulado do ano, o estado também registrou performance melhor que a média nacional e os demais estados do sul. Se forem levados em consideração os indicadores apenas para o ano de 2021, tanto na comparação com o mesmo período do ano passado quanto no acumulado do ano, mais uma vez o cenário se repete: enquanto Santa Catarina apresenta dados positivos para todos os seus indicadores (+5,3% e +7,5%), o restante do Brasil (-5,0% e -3,5%) e, em particular, Paraná (-8,9% e -8,0%) e Rio Grande do Sul (-9,2% e -8,1%) possuem resultados negativos.
Para o acumulado em 12 meses, os dados de todo o país e os estados do sul são negativos. A Tabela 5 a seguir indica que o desempenho de Santa Catarina (-2,9%) é praticamente três vezes superior à média nacional (-8,6%) e de 4 a 5 vezes melhor que o de seus estados vizinhos (-13,5% no Rio Grande do Sul e -10,6% no Paraná). Além disso, todos os demais indicadores apontam para uma alta na queda acumulada de 12 meses, enquanto Santa Catarina aponta em direção oposta.
Tabela 5: Comparação da variação (%) do volume de serviços na região sul e no Brasil
(dezembro de 2020 a fevereiro de 2021)
Fonte: PMS 2021 (IBGE)
Nota 1 – Base: mês imediatamente anterior – com ajuste sazonal
Nota 2 – Base: igual mês do ano anterior
Nota 3 – Base: igual período do ano anterior
Nota 4 – Base: 12 meses anteriores
Adiante é possível verificar os dados da Tabela 6, importante por discriminar por grupos de serviços aqueles que tiveram melhor e pior desempenho no resultado agregado no estado. O expressivo resultado no estado (9,9% de aumento na comparação com o mês imediatamente anterior) denota forte recuperação em termos gerais. No entanto, há muitas oscilações entre um mês e outro, apontando para incertezas quanto à sustentabilidade dos indicadores.
Por exemplo, após terem saltado 28,5% em dezembro e 31% em janeiro, os serviços profissionais, administrativos e complementares registraram nova alta expressiva no estado, subindo 23,8% em fevereiro na comparação com janeiro de 2021. O acumulado do ano é de 27,3% e nos dados dos últimos 12 meses a posição já é bastante assertiva, com alta de 15,2%. Podem ser apontadas como responsáveis por estes indicadores a retomada de muitos serviços públicos e privados de natureza presencial, em escritórios e serviços administrativos em geral, inclusive com o fim do sistema de rodízio semanal em certas repartições. Diante de relativo aquecimento do setor de construção civil, as atividades de serviços ligados a engenharia e arquitetura também podem ter contribuído com o setor. Os aluguéis de máquinas e equipamentos agrícolas, bem como os serviços de apoio às empresas (desde vigilância a asseio e conservação) também contribuem positivamente para os indicadores expressivos registrados.
No que se refere aos serviços de informação e comunicação, Santa Catarina apresentou uma evolução contundente na virada de 2020 para o início de 2021, passando de uma alta de 2,6% para 8,7%. Em fevereiro de 2021 também houve uma alta importante, com volume de serviços 10,5% superior a janeiro. O acumulado do ano já é positivo em 9,6%, mas a variação em 12 meses segue negativa, em 4,4%. A retomada mais orgânica do setor potencialmente advém de maior busca por serviços de telecomunicações, consultoria em tecnologia da informação, suporte técnico e tratamento de dados, bem como serviços de hospedagem na internet, ocorridas na esteira da retomada do calendário escolar, além de cursos e atividades em modalidade híbrida, combinando serviços remotos e presenciais.
Os serviços de transporte, auxiliares de transporte e correio registraram alta de 13,8% em fevereiro na comparação com o mês imediatamente anterior em Santa Catarina. No acumulado do ano já são 9,2% de alta e o setor está prestes a registrar um resultado positivo no acumulado em 12 meses, caso mantenha o ritmo de recuperação, pois o subsetor apresenta rendimento negativo de apenas 0,5%. A consolidação das atividades de postagem como reflexo das compras pela internet, aliada à diminuição de restrições aos transportes públicos municipais no estado (combinados à baixa fiscalização das restrições existentes) e à retomada das aulas presenciais em muitas escolas particulares do estado representaram impulso ao setor.
Por seu turno, o ramo de outros serviços, que não teve bom desempenho ao final de 2020 e modesta recuperação em janeiro de 2021, apontou para uma alta significativa de 10,8% em fevereiro na comparação com janeiro deste ano. Isto fez com que a variação acumulada no ano fosse para +5,8% e o resultado dos últimos 12 meses acumulados fosse de +0,8%. Consideram-se que responsáveis por tal desempenho a intermediação de compra, venda ou aluguel de imóveis, serviços de manutenção e reparo, intermediação de títulos e valores mobiliários, bem como atividades de apoio à agricultura, pecuária e produção florestal.
De todos os subgrupos de serviços da pesquisa, o pior desempenho segue sendo o do setor de serviços prestados às famílias. Particularmente em Santa Catarina, o indicador vem registrando quedas a taxas menores nos últimos 3 meses. Ainda assim, é impactante o declínio de 19,4% registrado de janeiro para fevereiro de 2021. No acumulado do ano o resultado é negativo em 20,9% e, nos últimos 12 meses, são 31,4% de retração. As liberações parciais de atividades esportivas e de serviços de educação não foram suficientes para contrabalançar o desempenho ainda muito baixo dos serviços de alojamento e alimentação, assim como das atividades culturais, de recreação e lazer, também abaladas pelo fim das férias escolares em muitas unidades de ensino.
Tabela 6: Variação (%) das atividades de serviços em Santa Catarina entre setembro e novembro de 2020
Fonte: PMS 2020 (IBGE)
Nota 1 – Base: igual mês do ano anterior – sem ajuste sazonal
Nota 2 – Base: igual período do ano anterior
Nota 3 – Base: 12 meses anteriores
Desde uma perspectiva mais abrangente, Santa Catarina é a unidade da federação que melhor inicia o ano em termos de volume de serviços, com alta acumulada de 7,5% entre janeiro e fevereiro, seguida pelo estado do Amazonas, com 6,0% e Minas Gerais com 4,0%. São pelo menos 19 das 27 unidades brasileiras ainda com valores negativos no acumulado do ano, o que torna o Estado de Santa Catarina destaque nacional neste início de ano no setor.
Considerações Finais
Concluído o ano de 2020 e os resultados catastróficos para o setor de serviços no Brasil, os dois primeiros meses deste ano de 2021 apresentam perspectivas ligeiramente mais alentadoras. Não há indícios consistentes de que o início da vacinação já tenha causado efeitos na população, mas o fato de que o setor de serviços recuperou os patamares pré-pandemia e todos os cinco subgrupos registraram desempenho positivo representou otimismo entre os analistas em geral. De todo modo, é prudente ponderar que o setor de serviços já apresentava resultados bastante fracos no início de 2020. Assim, ter recuperado o patamar pré-pandemia não passa de um modestíssimo bom começo.
Ainda que de maneira global o volume de serviços no Brasil tenha retomado o patamar pré-pandemia, uma tônica da pesquisa é que, quando comparados aos mesmos períodos do ano passado, os serviços seguem registrando desempenho inferior, assim como no acumulado dos últimos 12 meses. Espera-se que, conforme a comparação passe a ser realizada com os piores meses da pandemia no ano passado no que tange aos fechamentos, incertezas e restrições, os dados apresentem melhora. Também merece destaque o fato de que a recuperação é heterogênea e inconsistente. As atividades de outros serviços e serviços prestados às famílias, por exemplo, tiveram resultados negativos em janeiro e reverteram para resultados muito positivos em fevereiro. Além disso, reitera-se que pouco mais de um terço das 166 atividades avaliadas apresentou recuperação de fato.
Em linhas gerais, Santa Catarina se destacou no mês de fevereiro diante do cenário nacional. Seu setor de serviços registrou alta acima da média nacional e acumula a maior variação positiva do ano. Entretanto, quando comparado com seu próprio desempenho e histórico de mais longo prazo (de 2014 para cá), o Estado segue em ritmo muito fraco de retomada da economia, inclusive se afastando dos melhores indicadores da série histórica neste início de ano.
É importante ressaltar também que a observação detalhada, por setores de atividade, revela que o comportamento do setor de serviços em Santa Catarina merece destaque naquilo que se diferencia da tendência nacional. Enquanto todas as categorias de serviços tiveram resultado positivo no Brasil, mas com variação relativamente discreta, em Santa Catarina as atividades de serviços registraram crescimento acima de dois dígitos, à exceção do subsetor de serviços prestados às famílias, que foi negativo em 19,4% (ao mesmo, tempo, nacionalmente este grupo de atividades foi positivo em 8,8%).
Como mencionado pelo gerente da Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE, Rodrigo Lobo, os ajustes sazonais não estão dando conta de representar a realidade da economia brasileira para o setor. Assim sendo, é preciso seguir acompanhando o ajuste dos indicadores conforme o ano avança e as atividades de rua se normalizam. O mês de fevereiro não conta sequer com 3% da população brasileira imunizada com a primeira dose da vacina contra a Covid-19. No entanto, as medidas restritivas vêm sendo praticamente extintas em vários estados e, se permanecem, o grau de fiscalização é muito baixo. Há que se ter atenção, pois em vários estados os índices de casos vêm aumentando significativamente, e a nova cepa do vírus proveniente de Manaus pode representar um recrudescimento da pandemia e provocar consequências drásticas à pretensa recuperação econômica ora registrada.
[1] Professor do curso de Relações Internacionais da Univali. Economista, mestre em Relações Internacionais e Pesquisador do NECAT/UFSC. danicorreadasilva@gmail.com
[2] A despeito desta ponderação, é pertinente mencionar também a declaração feita pelo gerente da Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE, Rodrigo Lobo, a respeito dos ajustes sazonais. Segundo Lobo, “o sistema de ajustamento sazonal está preparado para a inclusão de determinados pontos – como o carnaval, a páscoa e o número de dias úteis”. No entanto, “o contexto absolutamente atípico da pandemia trouxe impacto para a série com ajuste sazonal da pesquisa de serviços e pode significar uma quebra estrutural importante do próprio modelo de ajustamento sazonal”. Sendo assim, o gerente recomenda que sejam observados de forma mais atenta os indicadores de comparação com o mesmo período do ano anterior e a média móvel trimestral como indicadores conjunturalmente mais correspondentes à realidade atual. Disponível em: <https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/04/15/volume-de-servicos-cresce-37percent-em-fevereiro-aponta-ibge.ghtml>. Acesso em: 23 abr 2021.
[3] Em conformidade com os dados do IBGE à época, nosso artigo referente a dezembro de 2020 apontou queda de 0,2% no setor de serviços, o que encerrava seis meses consecutivos de alta. No entanto, a revisão dos dados nos meses seguintes apontou para um resultado positivo em 0,3% neste referido mês, fazendo com que a sequência positiva de agosto do ano passado permanecesse.
[4] Disponível em: <https://cdn.cnt.org.br/diretorioVirtualPrd/82968364-3fcb-4b33-98b4-e5238771be69.pdf> . Acesso em: 28 abr 2021.
[5] Indicadores que levam em conta o ajuste sazonal.