Situação do emprego formal em Santa Catarina um ano depois do momento mais crítico da crise da Covid-19

08/06/2021 17:47

Por: Victor Hugo Azevedo Nass[1]

Dando sequência aos acompanhamentos mensais publicados no blog do NECAT, o objetivo deste texto é analisar o comportamento do mercado formal de trabalho do Brasil e de Santa Catarina em abril de 2021, a partir dos resultados do Novo CAGED[2]. Para isso, serão analisados os saldos mensais e as variações relativas do emprego formal por grupamento de atividade econômica, gênero, escolaridade, faixa de remuneração e mesorregião geográfica.

De acordo com a Tabela 1, em abril o Brasil apresentou saldo positivo de 120.935 vínculos formais de trabalho, registrando alta de 0,3%. Já Santa Catarina criou 11.127 vínculos no mesmo período, com variação mensal de 0,5%. Com isso, ambas as regiões tiveram uma desaceleração no crescimento, em comparação com os resultados de março.

Tabela 1 – Evolução mensal de estoque, admissões, desligamentos, saldo e variação percentual (Brasil e Santa Catarina, abril a abril de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

No acumulado de 12 meses[3], o Brasil gerou 1.935.616 novos postos formais de trabalho, o que representa uma variação de 5% no estoque de empregos formais. O mercado formal de trabalho catarinense seguiu as tendências nacionais durante todo o período analisado, mas continua apresentando um ritmo de geração de vagas mais intenso. O estado acumulou uma variação de 8,9% entre abril de 2020 e de 2021, com saldo de 184.185 vagas. Essas altas taxas se devem ao fato de que abril de 2020 foi o mês mais crítico da crise da Covid-19, fazendo com que os estoques de empregos ficassem muito baixos.

Evolução do emprego formal no Brasil

Conforme os dados contidos na Tabela 2, o setor com melhor desempenho em abril, em valores absolutos, foi novamente o de serviços. Seu saldo foi de 57.650 vínculos, sendo puxado principalmente pelas contratações nos subsetores de: saúde humana e serviços sociais (30.259 vagas); e informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (34.988 vagas). Com o recrudescimento da pandemia, no entanto, houve uma nova queda expressiva no subsetor de alojamento e alimentação, que fechou abril com saldo negativo de 28.575 vagas, puxado pelo segmento de restaurantes e similares (-22.979 vagas). Em termos relativos, os serviços tiveram alta mensal de 0,3% e de 3,1% no acumulado de 12 meses.

Tabela 2 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Brasil, abril de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Em termos relativos, a construção novamente teve o melhor desempenho no mês e no acumulado em 12 meses, com crescimento de 0,9% e 12,8%, respectivamente. Seu saldo em abril foi de 22.224 vínculos. Esse resultado foi bem distribuído entre os seus subsetores.

A agropecuária cresceu 0,7% em abril, com um saldo de 11.145 vínculos, com um comportamento heterogêneo entre os subsetores. No acumulado de 12 meses o setor obteve a segunda melhor posição, com alta de 7,9%.

A indústria criou 19.884 empregos formais em abril, com destaque para os subgrupos de: fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (6.611); fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (3.222); e fabricação de produtos minerais não metálicos (3.168). Somados, esses subgrupos concentraram 2/3 das vagas geradas no mês. Tomado em seu conjunto, o crescimento do setor industrial foi de 0,3% no mês, e de 6,7% em comparação com o estoque de abril de 2020.

O setor de comércio gerou 10.124 vínculos formais de trabalho em abril, o que representou um crescimento de apenas 0,1%. Esse resultado pode estar associado a um novo recuo no consumo das famílias. No  acumulado de um ano, o setor registrou crescimento de 5,4%.

A Tabela 3 apresenta o saldo de vínculos formais de trabalho por sexo no Brasil. O resultado de abril foi positivo em 79.251 vínculos para os homens e em 41.684 vínculos para as mulheres. Quase 2/3 dos postos gerados foram ocupados por homens. Essa concentração se reafirma no acumulado de 12 meses, período no qual os homens ocuparam quase 2 vezes mais postos de trabalho do que as mulheres.

Tabela 3 – Saldo por sexo (Brasil, abril de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 4 apresenta a distribuição do emprego formal por nível de escolaridade. Em abril, mais de 70% dos postos formais de trabalho criados (89.078) foram ocupados por pessoas que têm ensino médio completo. Outro nível de escolaridade que teve crescimento considerável foi o superior completo, com 28.648 novas vagas. Três grupos apresentaram resultados negativos no mês: ensino fundamental incompleto (-7.532); fundamental completo (-2.384); e os analfabetos (-498 vagas). No acumulado de 12 meses, é notável que a retomada do emprego foi puxada quase integralmente por vagas para ensino médio completo (1.616.923).

Tabela 4 – Saldo por nível de escolaridade (Brasil, abril de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 5 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em abril de 2021, foram criadas 122.013 vagas com remuneração entre 1 e 2 salários mínimos, um saldo que supera o próprio resultado total do mês. A faixa de 2 a 3 salários mínimos também registrou crescimento, porém mais contido, de 20.474 vagas. A queda mais expressiva no mês ocorreu na faixa entre meio e 1 salário mínimo, com uma queda de 38.289 postos formais de trabalho. Quando observamos o acumulado de 12 meses, mais uma vez observa-se que as vagas geradas na faixa entre 1 e 2 salários mínimos (2.079.565) superam o saldo total, revelando uma tendência de concentração do emprego formal nessa faixa salarial.

Tabela 5 – Saldo por faixa de remuneração (Brasil, abril de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Nota: Faixas de remuneração em salários mínimos de 2021 (R$ 1.100).

Evolução do emprego formal em Santa Catarina

De acordo com os dados da Tabela 6, o principal responsável pelo crescimento do emprego formal em Santa Catarina em abril de 2021 foi o setor de serviços, que registrou saldo de 5.170 vínculos e variação relativa de 1,1%. O resultado mensal foi puxado pelos subsetores de: administração pública, defesa, seguridade social, educação e saúde humana e serviços sociais (2.716 vagas); e informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (2.948 vagas). Tais números corroboram a percepção de que as mudanças metodológicas do Caged podem estar inchando as estatísticas de emprego, principalmente por meio da inserção de trabalhadores do setor público que anteriormente não entravam na base de dados[4]. Por fim, cabe destacar que, a exemplo do que ocorreu na média nacional, o estado também registrou uma queda no subsetor de alojamento e alimentação (-1.191 vagas). Quando se considera o acumulado de 12 meses, o  setor de serviços fechou com um bom crescimento, de 8%.

Tabela 6 – Saldo por grupamento de atividade econômica (Santa Catarina, abril de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A construção obteve novamente o maior crescimento do mês, com uma alta de 1,3% e saldo de 2.021 vínculos. Esse crescimento concentrou-se no subsetor de construções de edifícios, que abriu 1.181 vagas. No acumulado de um ano o setor teve um aumento de 8,5% no número de empregos formais.

A indústria catarinense criou 2.635 vínculos no mês, o que lhe conferiu uma alta de 1,2%. Esse resultado foi bem distribuído, com pequenos destaques aos subsetores de: fabricação de produtos de madeira (628); fabricação de máquinas, aparelhos e aparelhos elétricos (543); fabricação de máquinas e equipamentos (470); e fabricação de produtos minerais não metálicos (424). No acumulado em 12 meses, o setor industrial tem o maior crescimento do estado, com 11,1% de aumento no emprego formal.

O comércio também apresentou uma alta expressiva, de 0,7% em abril, com criação de 2.053 vínculos. Cerca de metade desses vínculos estão concentrados no setor varejista, que apresentou um saldo de 1.172 vagas. Em 12 meses, o crescimento do setor comercial foi de 7,6%.

O desempenho desses setores compensou a forte queda registrada na agropecuária, que perdeu 752 vagas, sofrendo uma retração de 5% no mês. Essa queda foi puxada basicamente pelo fim da safra da maçã, cultivo este que havia gerado um grande volume de vagas temporárias nos meses iniciais do ano e que fechou 680 postos formais de trabalho em abril. No acumulado de 12 meses o setor tem uma alta de 4,3%.

Conforme a Tabela 7, 6.477 das vagas abertas em abril foram ocupadas por homens e 4.650 por mulheres. O saldo de 12 meses, também apresenta uma leve concentração nos vínculos masculinos, que tiveram saldo de 98.121 vagas, face às 86.064 femininas.

Tabela 7 – Saldo por sexo (Santa Catarina, abril de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Conforme indicam os dados contidos na Tabela 8, mais da metade dos empregos gerados em abril de 2021 foram ocupados por trabalhadores com ensino médio completo (7.106 vagas). A única faixa escolar com perdas no mês foi a dos trabalhadores com fundamental incompleto, que perdeu 444 vagas. No acumulado de 12 meses, continua a tendência de concentração das vagas na faixa do ensino médio completo, com cerca de 2/3 das vagas (121.331). O segundo maior saldo é o da faixa do ensino médio incompleto (24.928).

Tabela 8 – Saldo por nível de escolaridade (Santa Catarina, abril de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Tabela 9 apresenta a distribuição do emprego formal por faixa de remuneração. Em abril, 7.182 vagas formais foram criadas na faixa entre 1 e 2 salários mínimos, que concentrou mais da metade do saldo mensal. A faixa de 2 a 3 salários mínimos também teve um crescimento, porém mais contido, de 2.080 vagas. Com relação ao acumulado de 12 meses, pode-se perceber que Santa Catarina tem um comportamento muito similar ao visto nacionalmente, com um crescimento das vagas extremamente concentrado na faixa entre 1 e 2 salários mínimos (170.989 vagas), que corresponde a cerca de 90% do saldo total.

Tabela 9 – Saldo por faixa de remuneração (Santa Catarina, abril de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

Com relação à distribuição mesorregional dos empregos formais (Tabela 10), podemos observar que a região Sul apresentou o melhor desempenho em abril, tanto em termos absolutos, quanto relativos. Puxada pelo bom desempenho do setor de serviços no município de Tubarão, a região registrou alta da ordem de 1%, correspondente ao saldo de 2.852 novos postos de trabalho formais. Em 12 meses, o Sul Catarinense acumula um crescimento de 10,3% 一 também o maior crescimento do estado.

Tabela 10 – Saldo por mesorregião (Santa Catarina, abril de 2021)

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Fonte: Novo CAGED (2021); Elaboração: NECAT/UFSC.

A Grande Florianópolis manteve o ritmo de crescimento do mês passado, registrando o segundo melhor saldo do estado, com 2.489 novas vagas e crescimento de 0,6%. Em grande medida, esse resultado se deve ao desempenho do setor de serviços – que tem uma forte presença na região -, com destaque para as atividades prestadas a edifícios e ao ramo da saúde. No acumulado de 12 meses, a Grande Florianópolis apresenta um crescimento de 6,6%.

O terceiro melhor resultado mensal foi registrado na região Norte, com saldo de 2.195 vínculos e variação de 0,5%. Na comparação com o estoque de abril de 2020,  a região ostenta o segundo melhor resultado do estado, com alta de 10,2%. Esse desempenho se deve particularmente à retomada de empregos no setor industrial de Joinville.

Já a região do Vale do Itajaí registrou saldo de 2.065 vagas no mês, registrando uma alta de 0,3%. No acumulado de 12 meses, a região teve um crescimento de 9,5%, apresentando o maior resultado estadual em termos absolutos, com saldo de 52.798 vagas. Dentre os municípios que compõem a região, destaca-se a forte retomada de empregos formais em Blumenau, Itajaí e Brusque.

A região Oeste obteve um saldo de 1.691 vagas em abril, uma alta de 0,4% no seu estoque de empregos formais. Os principais determinantes desse desempenho são o crescimento da indústria madeireira, por um lado, e a queda no emprego agropecuário, por outro. Em relação aos últimos 12 meses, a região obteve um crescimento de 8,6%, concentrado na indústria de alimentos.

A única região com saldo negativo 一 pelo segundo mês seguido 一 é a Serrana, que perdeu 165 empregos em abril, uma queda de 0,2%. Essa retração está fortemente relacionada com a perda de empregos no cultivo de maçã, que é muito forte na região. No acumulado de 12 meses, a região apresenta alta de 6%, sendo este o pior resultado entre as mesorregiões catarinenses.

Em síntese, os dados de abril indicam que o emprego formal em Santa Catarina continua em expansão, porém com menos intensidade do que foi visto nos meses anteriores. Os setores da indústria e de serviços tiveram papel muito importante nesse processo, apresentando taxas de crescimento significativamente superiores à média nacional. No entanto, destaca-se a baixa qualidade de grande parte desses postos de trabalho gerados, tendo em vista que forte presença de vagas com remuneração na faixa entre 1 e 2 salários mínimos e de baixa qualificação da mão-de-obra.


[1] Estudante de Economia na UFSC e bolsista do Necat.

[2] Todos os dados apresentados neste texto foram coletados junto à base de dados do Ministério da Economia em 28 de maio de 2021. Em razão das declarações fora do prazo e das revisões periódicas dessa base de dados, os dados podem divergir dos divulgados nas análises anteriores.

[3] A variação acumulada em 12 meses refere-se ao crescimento do estoque de empregos formais entre abril de 2020 e abril de 2021.

[4] Além de contemplar as atividades da administração pública, o setor público também é muito expressivo na educação e na saúde, podendo ser enquadrado como o principal responsável pelos resultados desses subsetores. Conforme temos destacado, no Caged tradicional, os servidores da administração pública direta ou indireta, federal, estadual ou municipal, bem como das fundações supervisionadas, não precisavam ser declarados. Já no Novo Caged, cuja captação passou a se dar por meio do eSocial, a declaração da maioria desses vínculos passou a ser obrigatória a partir de abril de 2021. Para mais detalhes, ver: ALMEIDA et al. Substituição da captação dos dados do Caged pelo eSocial: implicações para as estatísticas do emprego formal. 2020.