Taxa de desocupação de 2,2% em Santa Catarina é o menor patamar desde início da série histórica em 2012

29/09/2025 13:21

Lauro Mattei*

INTRODUÇÃO

O período pandêmico (2020-2022) registrou, diferentemente de outras crises econômicas e políticas, um impacto brutal sobre o nível da produção com efeitos imediatos sobre o nível de emprego e dos salários em todo o país a partir de março de 2020 cuja marca maior foi a elevação dos níveis de desocupação em todas as unidades da federação. Esse cenário só começou a ser modificado a partir de 2023, ano em que a economia brasileira retomou seu dinamismo em patamares idênticos e até mesmo superiores ao período pré-pandemia.

Assim como observado no âmbito nacional, a dinâmica econômica em Santa Catarina ao longo dos anos de 2023 e 2024 também foi caracterizada pelo aquecimento do mercado de trabalho em função dos estímulos decorrentes do maior nível de consumo das famílias decorrente da ampliação da oferta de novos postos de trabalho. Tal cenário fez com que a taxa de desocupação catarinense recuasse para 2,7% no 4º trimestre de 2024 – o menor patamar da série histórica registrado até então. Com isso, ocorreu no estado catarinense, de forma idêntica ao que ocorreu no restante do país, um crescimento da população ocupada no biênio a partir do ano de 2023-2024.

Esse processo está tendo continuidade no ano de 2025 conforme revelaram os dados divulgados recentemente pela PNAD Contínua do IBGE referentes ao segundo trimestre do referido de 2025. O objetivo do estudo é analisar as informações mais relevantes sobre o mercado de trabalho catarinense no primeiro semestre de 2025. Além dessa breve introdução, o artigo está organizado em mais cinco seções. Na primeira delas são apresentados os principais conceitos utilizados pelo IBGE com o respectivo organograma. Na segunda seção são analisados alguns dados gerais sobre o comportamento da força de trabalho em Santa Catarina no segundo trimestre de 2025, enquanto a terceira seção se ocupa com a posição na ocupação e as relações de trabalho da população ocupada. Na quarta seção são analisados os diferentes indicadores de renda dos trabalhadores, enquanto a quinta seção apresenta as considerações finais do estudo.

1. CONCEITOS BÁSICOS UTILIZADOS PELO IBGE PARA CONSTRUIR A PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIO (PNAD) CONTÍNUA

Por meio do Organograma Geral da PND Contínua pode-se chegar aos procedimentos metodológicos utilizados pelo IBGE para acompanhar a situação do emprego no país e em suas respectivas Unidades da Federação (UFs), conforme segue, com base em dados atuais de Santa Catarina:

  1. Pessoas em idade de trabalhar com 14 anos ou mais de idade. Neste caso, se obtém as pessoas na força de trabalho, que são 4,53 milhões de pessoas, bem como as pessoas fora da força de trabalho, atualmente 2,17 milhões de pessoas.
  2. As pessoas na Força de Trabalho são divididas entre as pessoas ocupadas

(atualmente 4,43 milhões) e as pessoas desocupadas (101 mil pessoas atualmente).

  1. Dentre as pessoas ocupadas também existe a categoria das pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas (não encontram um número suficiente de horas de trabalho em uma jornada completa, 40 horas, por exemplo) e que são atualmente 201 mil pessoas.
  2. As categorias subocupados e desocupados geram a Força de Trabalho
  3. Já as pessoas Fora da Força de Trabalho são atualmente 2,17 milhões de pessoas, incluindo as pessoas com menos de 14 anos de idade e também aquelas pessoas na Força de Trabalho Potencial.
  4. A Força de Trabalho Potencial é definida como o conjunto de pessoas de 14 anos ou mais de idade que não estavam ocupadas nem desocupadas na semana de referência, mas que possuíam potencial de se transformarem em força de trabalho. Tal contingente é composto por dois grupos: os Desalentados (pessoas fora da força de trabalho na semana de referência e que não realizaram busca efetiva por trabalho, mas gostariam de trabalhar, estando disponível para tal) atualmente em Santa Catarina são 13 mil pessoas e os Não Desalentados (pessoas que realizaram busca efetiva para trabalhar, mas que se encontravam indisponíveis para trabalhar na semana de referência da pesquisa) que atualmente 39 mil pessoas.

A partir desses procedimentos metodológicos o IBGE definiu um conjunto de conceitos conforme segue:

  1. Nível de ocupação: é a porcentagem de pessoas ocupadas em relação às pessoas em idade de trabalhar;
  2. Taxa de desocupação: porcentagem de pessoas ocupadas em relação às pessoas que fazem parte da força de trabalho;
  3. Taxa de subutilização da força de trabalho: porcentagem de pessoas desocupadas e subocupadas em relação à força de trabalho;
  4. Taxa de informalidade: o cálculo dessa taxa leva em considerações os seguintes quesitos: trabalhadores do setor privado sem carteira assinada; trabalhadores domésticos sem carteira assinada; empregadores e trabalhadores conta própria sem CNPJ; e trabalhadores familiares auxiliares.

ORGANOGRAMA GERAL DA PNAD CONTÍNUA

Fonte: IBGE, PNAD Contínua 2º Trimestre de 2017

2- CARACTERÍSTICAS GERAIS DA FORÇA DE TRABALHO EM SANTA CATARINA NO SEGUNDO TRIMESTRE DE 2025

O Quadro 1 apresenta a evolução de alguns indicadores da Força de Trabalho em Santa Catarina no segundo trimestre de 2025 em comparação com o mesmo trimestre do ano de 2024. Inicialmente observa-se que ocorreu um salto positivo de 28 mil pessoas no período considerado, correspondendo a uma expansão de 0,6%.

Quanto à condição de ocupação dessa força de trabalho, nota-se que o saldo dos ocupados sofreu um acréscimo de 70 mil pessoas, correspondendo a um aumento no período de 1,6%. Já os desocupados sofreram uma redução de 44 mil pessoas, correspondendo a um decréscimo de 6,9% ao longo do ano considerado.

Esses comportamentos fizeram com que o nível de ocupação de Santa Catarina ao final do segundo trimestre de 2025 se situasse num dos patamares mais elevados do país.

Quadro 1: Força de trabalho e seus indicadores. (SC, 2º Trimestre/2025, mil pessoas)

Indicadores 2º Tri 2025 2º Tri 2024 Saldo Interanual Var. Interanual
Força de Trabalho

*Ocupados

*Desocupados

4.531

4.427

101

4.503

4.357

145

28

70

44

0,6%

-1,6%

-6,9%

Nível de ocupação 66,2% 66,1% 0,01%

Fonte; IBGE-PNADC, 2º Trimestres de 2024 e 2025

O quadro 2 apresenta as diversas medidas de subutilização da força de trabalho catarinense no intervalo interanual considerado. Quanto aos desocupados, nota-se que nesse intervalo ocorreu uma redução de 44 mil pessoas, correspondendo a uma variação percentual negativa da ordem de 30,5%. Foi exatamente esse movimento que fez com que Santa Catarina atingisse a menor taxa de desocupação do país no segundo trimestre de 2025. Já a categoria dos trabalhadores subocupados sofreu uma redução de 47 mil pessoas no período, correspondendo a uma queda interanual de 19%.

Quanto aos indicadores relativos à força de trabalho potencial, verifica-se uma leve redução (2 mil pessoas) dos trabalhadores desalentados. Com isso, essa subcategoria se situou num patamar bastante baixo. Já a subcategoria dos subocupados classificados como não desalentados sofreu uma redução considerável no período da ordem de 11 mil pessoas, correspondendo a 22%.

Quadro 2: Medidas de subutilização da Força de trabalho. (SC, 2º Trimestre/2025, mil pessoas)

Indicadores 2º Tri 2025 2º Tri 2024 Saldo Interanual Var. Interanual
Desocupados 101 145 -44 -30,5%
Subocupados 201 248 -47 -19%
Força de Trabalho Potencial

*Desalentados

*Não-desalentados

52

13

39

65

15

50

-13

-2

-11

-20%

-13%

-22%

Fonte; IBGE-PNADC, 2º Trimestres de 2024 e 2025

3-  POPULAÇÃO OCUPADA SEGUNDO A POSIÇÃO NA OCUPAÇÃO, RELAÇÕES DE TRABALHO E GRUPAMENTOS DE ATIVIDADES

O Quadro 3 apresenta a evolução da população ocupada no segundo trimestre de 2025 comparativamente ao mesmo trimestre do ano anterior, sendo as informações subdivididas entre os quatro grupo ocupacionais: empregados, empregadores, trabalhadores do setor público e trabalhadores por conta própria. Do ponto de vista do conjunto da categoria de empregados, nota-se que houve um acréscimo de 38 mil pessoas no período considerado, o que corresponde a um aumento de 1,3%. Neste caso, verifica-se um aumento de apenas 9 mil pessoas na subcategoria empregados no setor privado, correspondendo a um acréscimo de 0,4%. A relação contratual dessa subcategoria será analisada separadamente.

Quanto à subcategoria “trabalhador doméstico”, notam-se duas situações correlatas: por um lado os trabalhadores domésticos com carteira assinada sofreram uma redução de 10 mil pessoas no período considerado, o que corresponde a 18,1% e, por outro os trabalhadores sem carteira assinada permaneceram no mesmo patamar do segundo trimestre de 2024, ou seja, com 116 mil pessoas. Registre-se, todavia, que esse patamar representa 73% de todos os trabalhadores domésticos, indicando que aproximadamente ¾ dessa categoria não tem qualquer proteção social no âmbito das políticas que compõem o sistema de proteção social do país.

Por fim, a subcategoria dos empregados do setor público apresentou uma expansão de 40 mil pessoas de 40 mil pessoas no período considerado, correspondendo a um aumento de 10,2%. Todavia, também neste caso correram duas situações distintas: por um lado houve uma expansão da subcategoria de militares e estatutários da ordem de 56 mil pessoas, correspondendo a um aumento de 21,7% e, por outro, houve uma redução dos trabalhadores desse grupo, tanto para os com carteira assinada (-7%) quanto para os sem carteira (-16,7%).

Quadro 3: População ocupada por posição na ocupação, setor e categoria de emprego no trabalho principal em Santa Catarina (mil pessoas)

Posição Ocupação e Categorias de emprego 2º Trim/2024 2º Trim/ 2025 Variação % 25/24
Empregado

Empregado Setor Privado Com Carteira

Sem Carteira

3.085

2.522

2.190

332

3.123

2.531

2.212

319

1,3%

0,4%

1,0%

-3,9%

Trabalhador Doméstico

Com carteira Sem carteira

172

55

116

160

45

116

-6,9%

-18,1%

0,00%

Setor Público

Com Carteira Militar e Estatutário Sem Carteira

391

71

258

62

431

66

314

51

10,2%

-7,0%

21,7%

-16,7%

Empregador

Com CNPJ Sem CNPJ

203

184

19

224

207

17

10,3%

12,5%

-10,5%

Conta Própria

Com CNPJ Sem CNPJ

1.033

354

679

1.046

438

607

1,3%

23,7%

-10,6%

Trabalhador Familiar Auxiliar 37 37 0,00%

Fonte: IBGE- Superintendência de SC – Seção Disseminação de Informações

Do ponto da categoria de empregador nota-se uma expansão absoluta de 21 mil pessoas, o que corresponde a um aumento de 10,3% no período considerado. Esse resultado  claramente  está  sendo  puxado  pelos  empregadores  com  CNPJ,  cujo crescimento foi da ordem de 12,5%, ao mesmo tempo em que os empregadores sem CNPJ, além de terem sido reduzidos em 10,5% no período considerado, representam apenas 7,6% de toda essa categoria.

Quanto à categoria dos conta própria, observou-se um aumento de 13 mil pessoas no período considerado, representando um aumento de apenas 1,3%. Do ponto de vista de seus dois segmentos, nota-se que os conta própria com CNPJ tiveram um acréscimo absoluto de 84 mil pessoas, ou seja, 23,7%. Ao mesmo tempo, os conta própria sem CNPJ sofreram uma redução de 72 mil pessoas, ou seja, de 10,6%. Mesmo assim, essa subcategoria continuou respondendo por 58% do total geral da categoria. Assim, pode-se dizer que esse avanço dos conta própria com CNPJ diz respeito aos estímulos legais oriundos da legislação específica sobre os MEI (Microempreendedores Individuais).

Por fim, a categoria do trabalhador familiar auxiliar não apresentou nenhuma alteração relevante no período considerado.

Em síntese, no terceiro trimestre de 2025 no cenário estadual, em termos de posição na ocupação revelou o seguinte quadro: os empregados (3.133 mil pessoas) representavam 70,5% dos trabalhadores; enquanto os conta própria (1.046 mil) detinha 23,7% de todos os trabalhadores. Completam o cenário os empregadores com 5,1% e os trabalhadores familiares auxiliares com apenas 0,9%.

O quadro 4 apresenta as distintas formas de contratações das pessoas empregados no setor privado nos segundos trimestres de 2024 e 2025. Inicialmente observa-se uma expansão de 22 mil pessoas com carteira de trabalho assinada, correspondendo a um aumento de 1% no período considerado. Com isso, essa subcategoria de empregados do setor privado passou a representar 87,4% da categoria geral.

Já os empregados do setor privado sem carteira de trabalho assinada sofreram uma redução de 13 mil pessoas no período entre o segundo trimestre de 2024 e o segundo trimestre de 2025, ou seja, uma queda de 4%. Em função disso, viram sua participação no total da categoria ser reduzida para 12,6% ao final do segundo trimestre de 2025.

Quadro 4: Sistemas de contratação da Força de trabalho no setor privado. (SC, 2º Trimestres/2024-2025, mil pessoas)

Indicadores 2º Tri 2025 2º Tri 2024 Saldo Interanual Var. Interanual
Pessoas empreg. setor privado 2.531 2.522 9 + 0,4%
*Com carteira assinada 2.212 2.190 +22 +1,0%
*Sem carteira assinada 319 332 -13 -4,0%

Fonte; IBGE-PNADC, 2º Trimestres de 2024 e 2025

O Quadro 5 apresenta a evolução dos distintos grupamentos de atividade na geração das ocupações no período interanual entre o segundo trimestre de 2024 e idêntico trimestre no ano de 2025. Inicialmente se observa que a indústria geral continua sendo o setor de atividade com a maior inserção individual, mesmo com a leve redução apresenta no período interanual da ordem de 1,2%, o que representou menos 12 mil pessoas.

O comércio figura como o segundo grupamento de atividades com o maior número de pessoas ocupadas, inclusive com um aumento expressivo de 5,5% no período considerado, o que implicou em uma expansão de 43 mil pessoas em apenas um ano.

Na sequência se observa o bom desempenho do grupamento de atividades na esfera da administração pública ao apresentar um crescimento da ordem 4,5%, o que correspondeu um acréscimo líquido de 28 mil pessoas ao final do período considerado.

Além desses setores merecem destaque o grupamento de transporte, armazenagem e correio com um crescimento de 7,1% no período, significando a incorporação de 17 mil pessoas e o grupamento de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas que apresentou o maior percentual de crescimento interanual (7,8%). Neste último caso observou-se a incorporação de mais 41 mil pessoas.

Por fim, destacam-se os seguintes grupamentos que tiveram quedas absolutas ao final do período considerado: Construção (queda de 2,2%); Serviços Domésticos (queda de 7,0%), Outros serviços (queda de -1,5%), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-5,5%). Também atenção especial a redução absoluta de 8 mil pessoas no grupamento de alojamento e alimentação, implicando em um decréscimo da ordem 4,3% no período considerado.

Quadro 5: Participação de cada grupo de atividade nas ocupações totais nos segundos trimestres de 2024 e 2025 (mil pessoas)

Grupos de atividades 2º Tri/2024 2º Tri/2025 Var. Interanual
Agric.Pec.Floresta,Pesca e Aquic. 272 257 -5,5%
Indústria em geral 1.032 1.020 -1,2%
Construção 321 314 -2,2%
Com.Reparo Veic.Autom.Motos 783 826 +5,5%
Transp.Armazenagem e Correios 239 256 +7,1%
Alojamento e alimentação 186 178 -4,3%
Infor. Comunic.Ativ.Financeiras, imobiliárias, prof. administrativas 526 567 + 7,8%
Adm. Pública, defesa, seguridade social, educ.saúde e serv.socais 627 655 + 4,5%
Outros serviços 198 195 -1,5%
Serviços domésticos 173 161 -7,0%

Fonte: IBGE- Superintendência de SC – Seção Disseminação de Informações

4-  RENDIMENTO MÉDIO DOS TRABALHADORES CATARINENSES

Inicialmente é importante registrar que o tema do rendimento dos trabalhadores foi fortemente impactado durante a pandemia da Covid-19 (2020-2022) e que o processo de recuperação do mercado de trabalho no país – e também em Santa Catarina

– nos anos seguintes (2023-2024) foi marcado por um conjunto de indicadores que remetem à temática da precarização do mercado de trabalho: informalidade, baixos rendimentos e alta rotatividade da mão de obra.

O Gráfico 1 – que se encontra publicado em Mattei et al (2024) – apresenta o comportamento do nível de rendimentos das distintas categorias de trabalhadores. Inicialmente destaca-se a influência da implementação e posterior retirada dos auxílios governamentais emergenciais, além de uma tendência de recuperação do rendimento médio a partir do ano de 2022. Contudo, quando se considera esse indicador num período mais longo (10 anos), nota-se que o aumento do rendimento médio ainda se manteve em patamares considerados baixos.

Gráfico 1- Quantidade de pessoas e rendimento médio real, habitual e efetivamente recebido, por categoria do emprego no trabalho principal em Santa Catarina no período 2014-2023 (terceiros trimestres).

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua trimestral (2024).

Elaboração: NECAT/UFSC.

Observando-se o rendimento médio total no período entre 10 anos (2014 R$ 3.238 e 2023 R$ 3.382), verifica-se que ocorreu um crescimento modesto de 4,4%. Nos dois grupos de trabalhadores onde se concentram o maior número de pessoas ocupadas – empregados do setor privado e os trabalhadores por conta própria – nota-se que os aumentos foram bem menores (3,2% e 3,9%, respectivamente). Entre 2014 e 2019 (R$ 3.244), o crescimento do rendimento médio total no estado foi praticamente nulo, com uma variação de apenas 0,2%, atingindo o ponto mais baixo em 2016 (R$ 3.050). Com a pandemia, houve um aumento de 4,7% entre 2019 e 2020 (R$ 3.396), impulsionado pelo programa Auxílio Emergencial. O processo de recuperação somente se consolidou a partir do final do ano de 2022 (R$ 3.325), período em que o rendimento médio superou o nível de 2019, porém ainda ficando aquém do valor registrado no ano de 2014.

A partir de 2024 houve uma expansão do rendimento médio mensal habitual. Com isso, no país esse rendimento passou de R$ 3.367,00 (2º trimestre de 2024) para R$ 3.477,00 (2º trimestre de 2025). Todavia, somente na região Sudeste do país ocorreu uma alta estatisticamente significativa (2,8%), de tal modo que esse rendimento médio passou para R$ 3.914,00. Nas demais regiões do país constatou-se estabilidade, registrando-se que na região Sul o patamar médio ficou em R$ 3.880,00.

No caso de Santa Catarina, nota-se que esse rendimento passou de R$ 3.706,00 (2º trimestre de 2024) para R$ 4.076,00 (1º trimestre de 2025) e atingiu o patamar de R$ 4.077,00 (2º trimestre de 2025), o que representou um aumento interanual da ordem de 10%. Mesmo assim, os maiores rendimentos médios mensais habituais ainda se situam em Brasília (R$ 5.919,00), Rio de Janeiro (R$ 4.205,00) e São Paulo (4.770,00). Na região Sul o estado de Santa Catarina está na liderança, uma vez que esses valores no Paraná (R$ 3.820,00) e Rio Grande do Sul (R$ 3.794,00) são bem inferiores.

5-  CONSIDERAÇÕES FINAIS

É importante registrar inicialmente o histórico recente da economia brasileira (2023-2025), cujos resultados surpreenderam até mesmo as mais pessimistas projeções à luz do crescimento real do PIB. Neste caso, constatou-se que o PIB do país cresceu 3,2% em 2023 e 3,4% em 2024, sendo que no estado de Santa Catarina esses percentuais foram de 3,4% e 5,3%, respectivamente. Isso significa que no momento o país está conseguindo manter uma taxa de inflação e de câmbio relativamente estáveis conjuntamente com um mercado de trabalho bastante aquecido, conforme está sendo registrado pela queda contínua da taxa de desemprego, tanto no país quanto no estado catarinense.

Neste sentido, os dados do mercado de trabalho de Santa Catarina relativos ao segundo trimestre de 2025 são bastante positivos. Neste caso, destacam-se os seguintes aspectos: a menor taxa de desocupação do país (2,2%), sendo esta a menor taxa desde o início da série histórica; o nível de ocupação de 66,1% é o segundo melhor do país; a taxa de informalidade é a mais baixa do país (24,7%); e o rendimento médio mensal habitual figura dentre os quatro melhores níveis do país.

Mesmo assim, não devem ser ignorados alguns indicadores relevantes quando se considera a qualidade do mercado de trabalho. Em primeiro lugar, não se pode esquecer que 101 mil pessoas no estado ainda estão desocupadas; que mais de 1 milhão de pessoas ainda estão na informalidade; que os empregados do setor privado sem carteira aumentaram no último trimestre frente ao declínio dos empregados com carteira assinada; que o número de trabalhadores domésticos sem carteira continua elevado e sem alteração ao mesmo período do ano anterior; que a maioria dos trabalhadores conta própria não possuem CNPJ, etc.

Por fim, apresentam-se algumas informações sobre questionamentos recentes que buscavam compreender melhor as razões para essa boa fase do mercado de trabalho catarinense. Em primeiro lugar, deve-se registrar que, apesar do pessimismo de muitos segmentos formadores de opinião, a economia brasileira está em expansão (PIB do país cresceu 3,2% em 2023 e 3,4% em 2024). Já a economia catarinense está crescendo de forma bem mais acelerada (3,4% em 2023 e 5,3% em 2024).

Além disso, devem ser considerados mais dois aspectos fundamentais que podem estar corroborando para a obtenção desse bom desempenho do mercado de trabalho. Por um lado, a conformação histórica de uma estrutura econômica assentada nas micros, pequenas e médias empresas, inclusive com inserção nacional e até mesmo internacional. Por outro lado, a regionalização produtiva catarinense pode ser considerada um fator determinante nesse processo de expansão do mercado de trabalho, uma vez que esses nichos produtivos acabam interferindo positivamente na própria conformação e funcionamento geral do nível de emprego estadual.


* Professor Titular do curso de Graduação em Economia e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br. PS: artigo escrito em agosto de 2025.

IBGE. PNAD Contínua. Divulgação especial com medidas de subutilização da força de trabalho no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2º trimestre de 2017 e 2º trimestre de 2023.

IBGE. PNAD Contínua 2º trimestre de 2024 e 2º trimestre de 2025. https:www.ibge.gov.br consultado em 15.08.2025

IBGE. PNAD Contínua trimestral: desocupação cai em 18 das 27 unidades da federação no segundo trimestre de 2025. https:www.ibge.gov.br consultado em 15.08.2025

IBGE. Superintendência de Santa Catarina. Seção de disseminação de informações. Florianópolis, Agosto de 2025.

MATTEI, L. et all (2024). Impactos da pandemia da Covid-19 no mercado de trabalho catarinense: uma análise do período 2014-2023. Florianópolis: NECAT-UFSC (Texto para Discussão n.061/2024).