Geração de vagas nos serviços e em obras de infraestrutura sustentam expansão do mercado formal de trabalho catarinense em agosto
Pedro Henrique Batista Otero*
Joana Lara Fernandes Feller**
Os dados do Novo Caged de agosto revelam que o mercado formal de trabalho brasileiro segue em expansão, com abertura de 220,8 mil novas vagas e crescimento de 0,5% na análise mensal. Já em Santa Catarina, foram gerados 6,7 mil novos empregos formais, o que representou uma variação de 0,3% no mês, conforme Tabela 1. Esse resultado conta com forte componente sazonal, de modo que a série dessazonalizada aponta para um resultado mais modesto, próximo à estabilidade.
Tabela 1 – Saldo de vínculos formais de trabalho no Brasil e em Santa Catarina
* Estoque de empregos em ago/23 vs. estoque em dez/22
** Estoque de empregos em ago/23 vs. estoque em ago/22
Fonte: Novo Caged (2023); Elaboração: NECAT/UFSC
Considerando o acumulado do ano (janeiro a agosto), o Brasil apresentou crescimento de 3,3% no volume de empregados, enquanto no estado catarinense o crescimento foi de 3,0%. No acumulado de 12 meses, o estado também apresenta resultados piores, com crescimento de 2,5%, ante 3,5% da média nacional. Essa discrepância se explica, principalmente, pelo Brasil ser relativamente mais beneficiado pelo consumo das famílias, uma vez que os serviços prestados às famílias têm maior participação em sua estrutura de empregos, em comparação a Santa Catarina.
Em agosto, a construção obteve a maior expansão no volume de empregos formais entre os setores (1,1%) no estado, apresentando o segundo maior saldo (1,4 mil novas vagas) conforme ilustra a Tabela 2. Esse saldo foi puxado pelas obras de infraestrutura, notadamente na construção de rodovias, como é o caso do contorno viário na Grande Florianópolis. Outros subsetores também tiveram contribuição importante para o saldo da construção, particularmente as obras de montagem industrial realizadas em Tubarão e as de infraestrutura para energia elétrica em Navegantes, as quais podem estar relacionadas às obras de expansão do complexo portuário da região. No acumulado do ano, a construção gerou mais de 12 mil vagas formais no estado.
Tabela 2 – Saldo de empregos formais por setor de atividade econômica no Brasil e em Santa Catarina
* Estoque de empregos em ago/23 vs. estoque em dez/22
Fonte: Novo Caged (2023); Elaboração: NECAT/UFSC
O desempenho da construção reverberou também no setor industrial, que gerou 953 novas vagas formais no mês. Os principais destaques na indústria foram os segmentos de metalurgia e fabricação de produtos de metal, associados às obras de infraestrutura em curso no estado. Outro destaque positivo foi a fabricação de produtos de material plástico, particularmente de embalagens e artigos descartáveis, que se beneficiam da manutenção do consumo das famílias em âmbito nacional. O principal destaque negativo ficou por conta do segmento têxtil-confecção, que mantém forte tendência de queda. No entanto, diferentemente dos meses anteriores, quando essa queda era protagonizada pelo ramo de vestuário, em agosto foi o subsetor de produtos têxteis para uso doméstico (artigos de cama, mesa e banho, basicamente) o principal responsável por pressionar negativamente o saldo do setor. Na análise interanual, o setor industrial segue em franca desaceleração. Já no acumulado do ano, o setor apresentou saldo de 17 mil vínculos, mantendo-se bem abaixo do resultado observado no mesmo período do ano anterior.
Novamente o setor de serviços sustentou a maior parte da abertura de vagas no mercado de trabalho estadual. Em agosto, o setor foi responsável por 3,7 mil novos postos formais de trabalho, com expansão de 0,4%. Os principais destaques do mês foram o transporte rodoviário de cargas, ainda estimulado pelo escoamento da produção agrícola, e os serviços de saúde. A geração de empregos no segmento de saúde se explica tanto pelas mudanças na forma de captação do Novo Caged (que ampliou a captação de vínculos em órgãos públicos municipais e estaduais), quanto pelas mudanças dos regimes de trabalho dos profissionais que atuam na rede pública. Neste sentido, destaca-se que a expansão dos contratos celetistas e temporários na área da saúde podem refletir a tendência de substituição de servidores efetivos (não captados pelo Novo Caged), decorrente da privatização dos serviços públicos através de Organizações Sociais (OSs) e outras entidades do gênero[1]. Além disso, a expansão de vagas na saúde também pode estar associada ao Programa Estadual de Cirurgias Eletivas implementado pelo governo estadual, que prevê reduzir a lista de espera por procedimentos cirúrgicos na rede pública. No acumulado do ano, o setor de serviços têm saldo de 38,7 mil vagas, o que representa mais da metade de todos os empregos gerados no estado.
Quanto aos setores do comércio e da agropecuária, ambos tiveram saldos pouco expressivos no mês. No comércio, foi registrado o saldo de 977 novas vagas formais, com expansão de 0,2% no mês. No acumulado do ano, o saldo deste setor foi de 2,8 mil novas vagas. No caso da agropecuária, o saldo mensal foi de -354 vagas, representando uma retração de 0,8%. Já no acumulado de janeiro a agosto, o saldo do setor foi de -98 vagas.
A média salarial real de admissão no estado apresentou variação mensal de 1,1%, sendo fortemente influenciado pelo crescimento da participação do setor de saúde nas contratações. Com isso, o indicador atingiu R$2.043,8, maior valor registrado desde o início da série histórica, em jan/2020. No entanto, na análise interanual foi registrada uma desaceleração pelo quarto mês consecutivo, com crescimento real em agosto de apenas 2,5%.
Análises mais aprofundadas a respeito do mercado de trabalho formal catarinense e informações relativas ao Novo Caged de agosto de 2023 serão publicadas em breve no informativo NECAT.
* Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. E-mail: phbo2000@gmail.com
**Graduanda em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. E-mail: joanalarafernandesfeller@gmail.com.
[1] Para mais detalhes sobre essa tendência, aprofundada nos últimos anos, ver: Druck, Graça. A terceirização na saúde pública: formas diversas de precarização do trabalho. Revista Trabalho, educação e saúde, v. 14, nov/16.