Ainda não é o momento para retirar o uso de máscaras

10/03/2022 17:28

Por: Lauro Mattei[1]

Desde o mês de março de 2020, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a COVID-19 como pandemia e elencou algumas medidas preventivas para controlá-la, o tema do uso de máscaras se tornou um ponto controverso nos debates sobre a pandemia no Brasil. Em grande medida, essa polêmica foi causada por diversas autoridades governamentais e também por alguns segmentos sociais contrários ao uso desse instrumento, sobretudo no momento em que sequer existiam vacinas.

Em artigo publicado no site do NECAT-UFSC (www.necat.ufsc.br/blog) no dia 01.11.2021 mostrei dois aspectos sobre o assunto. O primeiro foi a eficácia comprovada cientificamente em vários países do mundo diante do uso de máscaras enquanto uma camada de proteção extremamente benéfica às pessoas diante da pandemia da Covid-19, destacando-se, inclusive, diversas publicações de revistas científicas com vasta credibilidade internacional. Em função disso, o segundo aspecto alertava para a decisão equivocada que estava sendo tomada naquela época, especialmente pelos governos do RJ e do Distrito Federal, os quais pretendiam flexibilizar o uso de máscaras em todos os ambientes. Com a grande explosão da variante Ômicron ainda no mês de dezembro/21, tais autoridades foram obrigadas a recuar em suas intenções. Em síntese, meus argumentos naquela época mostravam o quanto era equivocado eliminar precocemente camadas protetivas da população quando ainda não se tinha o controle efetivo da pandemia.

O assunto da retirada do uso de máscaras retoma ao centro dos debates exatamente no momento em que o mundo se encontra diante de nova incerteza em relação ao controle efetivo da pandemia. Isso porque no dia 09.03.2022 a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou a comprovação científica de uma nova variante que está circulando na Europa (França, Holanda Dinamarca) e que foi denominada provisoriamente de Deltacron, por ser uma combinação da variante Delta com a variante Ômicron. Esse fato foi comprovado cientificamente pelo Instituto Pasteur (França), entidade científica responsável pelo sequenciamento genômico enviado à OMS em 08.03.2022. Esse era um fato já esperado pela OMS porque a variante Delta ainda estava em circulação quando surgiu, ainda ao final de 2021, a variante Ômicron que, no caso do Brasil, teve uma grande explosão nos meses de janeiro e fevereiro de 2022. Tal cenário causou forte recrudescimento da pandemia em todas as regiões do país, inclusive com elevação expressiva do número de casos e de óbitos. Tais fatos indicam claramente que a pandemia ainda persiste, sendo necessário manter as principais medidas preventivas até que o percentual da população vacinada atinja um patamar capaz de frear a contínua propagação do novo coronavírus, inclusive das novas variantes que estão se disseminando pelo mundo.

Nesta direção, o caso particular de Santa Catarina continua bastante preocupante quando se analisa a situação atual do processo de vacinação. Por um lado, é alarmante o número de pessoas acima de 50 anos que deixaram de tomar a dose de reforço e, por outro, a vacinação das crianças continua num ritmo extremamente lento. A meu ver seriam esses assuntos que deveriam estar na pauta de prioridades das autoridades governamentais e nas discussões do conjunto da população catarinense.

Portanto, esse cenário recomenda cautela neste momento, deixando claro que ainda não é hora de relaxar com as medidas preventivas essenciais, especialmente a flexibilização do uso de máscaras em qualquer ambiente. Como dissemos ainda em novembro de 2021, o processo de controle da pandemia está sendo bastante penoso para todos, porém não se pode perder tudo o que foi conquistado até o momento pela simples pressa de se abandonar medidas preventivas comprovadamente eficazes.


[1] Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador Geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br