Ampla maioria dos setores do comércio catarinense registra retração em dezembro, mas acumulado do ano é positivo

17/02/2022 12:58

Por: Guilherme Ronchi Razzini[1]

A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE divulgada neste mês, com dados referentes ao mês de dezembro e encerrando os dados referentes a 2021, apresentou novamente um cenário de crescimento inexpressivo no cenário nacional e leve queda no cenário estadual. Os dados nacionais do volume de vendas do comércio varejista ampliado registraram na série mês a mês com ajuste sazonal variação de 0,30%. Em Santa Catarina o resultado foi diferente do cenário nacional e registrou queda de -0,2% na mesma comparação.

O volume de vendas no cenário nacional ainda está abaixo do patamar pré-pandemia (retração de -1,3% em comparação a fevereiro de 2020, na série nacional) e com desempenho ainda pior na comparação com os melhores meses de 2020, apresentando retração de 4,9% em comparação com novembro de 2020 (novembro foi o mês de melhor desempenho no ano passado). Desse modo, é notável que após as oscilações entre expansões tímidas e quedas no segundo semestre de 2020, o comércio varejista ampliado ainda não conseguiu estabelecer um ritmo de crescimento sustentável, devido ao cenário econômico de alta da inflação, corrosão nos níveis de renda e do ainda alto desemprego.

Em relação aos resultados regionais houve queda em 16 das 27 Unidades da Federação (UF) na comparação com novembro de 2020, sendo destaque para Amapá (-12,1%), Distrito Federal (-11,3%) e Paraíba (-11,2%). Em contraste, houve resultado positivo em 10 das 27 UFs, com destaque para Tocantins (10,9%), Espírito Santo (9,5%) e Goiás (8,5%).

A partir dos dados divulgados pela pesquisa, esse breve texto se direciona à análise do desempenho geral da atividade comercial no Brasil e em Santa Catarina.

A atividade comercial do Brasil em dezembro de 2021

A Tabela 1 apresenta uma síntese dos resultados da pesquisa a partir das quatro séries cultivadas. Na série mensal com ajuste sazonal, a mais adequada para verificar o ritmo de curto prazo do volume de vendas do comércio varejista ampliado, registrou-se variação positiva de 0,3%. Houve uma desaceleração frente ao mesmo índice na comparação de novembro com outubro, porém este é o segundo resultado positivo consecutivo e o sexto saldo de expansão do ano. No quadro regional dessa mesma série, apresentaram-se expansões em 10 das 27 Unidades de Federação. Os melhores desempenhos foram registrados no Tocantins (5,8%), Goiás (3,8%) e Espirito Santo (3,6%). Em contraste houve retração em 17 UFs, sendo bastante expressivas as que foram localizadas em Acre (-4,6%), Sergipe (-3,0%) e Amapá (-2,9%).

Tabela 1: Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado no Brasil (dezembro de 2020 a dezembro de 2021)

T1

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

A comparação com dezembro de 2020 registrou retração de 2,7%, sendo a sétima retração no ano e a quinta retração no índice. Tal resultado reforça o prognóstico de queda nos índices quando comparado ao segundo semestre de 2020, período em que foi registrada trajetória sustentada de expansão. Porém tal retração no índice vem apresentando melhora, tendo em vista na comparação de novembro quando foi registrado queda de 2,9% em relação ao mesmo mês de ano anterior.

Em relação ao acumulado do ano houve expansão de 4,5%, maior expansão desde 2018 quando o país registrou expansão de 5%. Tal expansão era esperada tendo em vista a queda aguda registrada no volume de vendas em 2020, quando o ano fechou com retração de 1,4%. Entretanto, o saldo preocupa devido ao índice de acumulado no ano apresentar quedas consecutivas desde maio de 2021.

A Tabela 2 evidencia os resultados fracos no segundo semestre de 2021, quando o volume de vendas do comércio varejista registrou retração de 1,7% em comparação com o semestre anterior. Resultado muito inferior ao primeiro semestre do ano quando foi registrado expansão sólida de 12,3%. Tais resultados demonstram que a partir do segundo semestre de 2021 houve uma trajetória vacilante entre fracas expansões e retrações. No segundo semestre de 2020 foram registradas fortes expansões em razão dos programas de incentivo ao consumo que impulsionaram uma rápida recuperação do setor neste período, porém com o racionamento destes programas o ano de 2021 apresenta instabilidade nos resultados, com momentos de expansão até julho de 2021 e quedas a partir deste mês interrompidas pela expansão registrada em novembro e mantida em dezembro.

Houve predomínio de resultados negativos nos setores no segundo semestre do ano, as maiores retrações foram registradas nos setores de móveis e eletrodomésticos (-19,4%), livros, jornais, revistas e papelaria (-9,7%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-8,6%). Ficam como destaques positivos os desempenhos de veículos, motocicletas, partes e peças (5,5%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (4,3%) e tecidos, vestuários e calçados (3,8%).

Tabela 2: Indicador semestral do volume de vendas do comércio varejista ampliado, por grupo de atividades (Base: Igual semestre anterior)

T2

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

A Tabela 3 facilita a compreensão do desempenho mensal ao ilustrar os resultados setoriais. Primeiramente, cabe destacar que dos 10 setores pesquisados apenas 4 apresentaram resultados negativos, tendo as maiores retrações nos setores de outros artigos de uso pessoal e domestico (-5,7%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-2%) e material de construção (-1,4%). Ficam com destaque para variações positivas os setores de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (3,2%), livros, jornais, revistas e papelaria (-2,4%) e veículos, motocicletas, partes e peças (1,2%). Os demais setores apresentaram resultados próximos da estagnação. O setor de móveis e eletrodomésticos registrou expansão de 0,4% após cinco meses de quedas consecutivas.

Tabela 3: Variação mês/mês imediatamente anterior do volume de vendas no comércio varejista ampliado e suas subdivisões para o Brasil

T3

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

A Figura 1 facilita a compreensão do desempenho dos setores no período da pandemia ao analisar o desempenho dos setores em comparação com fevereiro de 2020, último mês antes dos impactos da crise causada pela pandemia do coronavírus. Apenas 3 setores apresentam volume de vendas superior ao patamar pré-pandemia, sendo o de maior expansão artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos com crescimento de 18,8% no volume de vendas em comparação com fevereiro de 2020, seguido por material de construção (10,17%) e hipermercados e supermercados (1%). Os setores com maior retração são livros, jornais, revistas e papelaria (-34,4%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-14,78%) e moveis e eletrodomésticos (-12,92%).

O cenário preocupa ao expor que após quase dois anos do inicio da pandemia ainda há setores que não apresentaram expansão, tal como o cenário nacional ainda está abaixo do patamar pré-pandemia com retração de 1,3% em comparação a fevereiro de 2020. A dificuldade de estabelecer um ritmo de crescimento sustentado e contínuo se agrava em consequências da alta inflação que corroeu os níveis de renda nacional, do alto nível de desemprego e o alto endividamento da população.

Figura 1: Variação percentual do volume de vendas entre fevereiro de 2020 e dezembro de 2021 por grupo de atividade

F1

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

A atividade comercial de Santa Catarina em dezembro de 2021

O desempenho do comércio varejista ampliado catarinense em dezembro pode ser caracterizado a partir da Tabela 4, que apresenta os dados na série mensal com ajuste sazonal, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, no acumulado do ano e no acumulado de doze meses. Em comparação com o mês imediatamente anterior o saldo registrou retração de 0,2%, a sétima retração do ano, e resultado que contrasta ao cenário nacional que registrou expansão de 0,3%.

Tabela 4: Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado em Santa Catarina (dezembro de 2020 a dezembro de 2021)

T4

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Na comparação com dezembro de 2020 houve expansão de 2,7%, saldo igual ao do mês anterior, e que antagoniza com o resultado do cenário nacional que registrou queda de 2,7% no mesmo indicador. A variação foi a décima primeira expansão do ano, sendo registrado retração neste índice apenas em outubro.

No indicativo do acumulado do ano e dos últimos doze meses, o índice fechou o ano com expansão de 8,6%, resultado expressivamente maior que o cenário nacional que registrou expansão de 4,5%. Neste índice houve resultados positivos em todos os meses de 2021, confirmando o cenário esperado de maior nível de atividade comercial no ano analisado do que na comparação com 2020. O resultado situa o estado de Santa Catarina com a 9ª melhor expansão entre as UFs, como mostra a Figura 2.

Figura 2 – Variação acumulada no ano do volume de vendas no comércio varejista ampliado para o Brasil e suas Unidades Federativas

F2

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Os resultados setoriais do comércio varejista ampliado de Santa Catarina podem ser observados na Tabela 5, no índice em comparação com dezembro de 2020. Dos 10 setores pesquisados, cinco apresentaram queda no saldo, sendo as maiores retrações nos setores de moveis e eletrodomésticos (-20%), outros artigos de uso pessoal e domestico (-3,5%) e tecidos, vestuário e calçados (-3,1%). Em contraste houve cinco setores com expansão, com destaque para veículos, motocicletas, peças e partes (13,6%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (7,4%) e combustíveis e lubrificantes (5,3%).

O setor de móveis e eletrodomésticos apresentou a oitava queda consecutiva no índice analisado, demonstrando a incapacidade de reação do setor frente aos efeitos da crise econômica brasileira. O setor de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos foi o único a fechar o ano de 2021 com resultados positivos em todos os meses analisados, tais saldos são reflexo da demanda pelos produtos oferecidos pelo setor durante a pandemia do coronavírus.

Tabela 5: Variação mensal em relação ao mesmo mês do ano anterior do volume de vendas no comércio varejista ampliado e suas subdivisões em Santa Catarina (junho de 2021 a dezembro de 2021)

T5

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Uma analise do desempenho dos setores pode ser observado através da Figura 3, que ilustra a variação acumulada no ano por setor. Dos 10 setores analisados, apenas 2 registraram retração no volume de vendas sendo móveis e eletrodomésticos (-9,5%) e hipermercados e supermercados (-1,7%). Houve resultado positivos em 8 setores, com destaque para a expansão nos setores de veículos, motocicletas, partes e peças (26%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (17,6%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (13,9%).

Diante do exposto, é possível perceber que o estado de Santa Catarina apresenta desempenho superior na recuperação econômica nos setores, no cenário nacional 4 setores apresentaram quedas no volume de vendas, enquanto no cenário estadual apenas 2 setores apresentaram retração no mesmo período analisado. Além do desempenho superior no acumulado no ano no índice geral do comércio varejista ampliado.

Figura 3 – Variação acumulada no ano no volume das atividades de venda no comércio varejista ampliado e suas subdivisões em Santa Catarina

F3

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Considerações Finais

Com os dados referentes a dezembro de 2020, é possível realizar uma analise do ano em seu todo. Os dados apontam para uma forte expansão durante o primeiro semestre do ano com avanço de 12,7% no volume de vendas, porém tal recuperação desacelerou durante o segundo semestre do ano registrando queda de -1,7% na comparação com o semestre anterior. Diante destes dados, o cenário aponta para um inicio de 2022 com baixa perspectiva de melhora acentuada no volume de vendas, os efeitos da alta inflação e da corrosão do nível de renda da população dificultam a promoção de uma recuperação sólida no setor.

Apesar do avanço registrado o comércio varejista ampliado ainda registra retração de 1,3% em comparação com o cenário pré-pandemia (em comparação a fevereiro de 2020, mês anterior aos efeitos econômicos da pandemia no país). Contudo, o estado de Santa Catarina apresenta expansão de 7% na mesma comparação, demonstrando novamente que o estado apresenta recuperação de forma mais sólida que o cenário nacional.

Por fim, em dezembro de 2020, a taxa de inflação acumulada em doze meses, medida pelo IPCA, estava em 4,52%. Um ano depois, acelerou para 10,06%. Aliado a alta da inflação, a alta dos juros impactou a queda no consumo e contribui para os resultados de 2021. Diante de tal cenário a Confederação Nacional do Comércio prevê o crescimento fraco de 0,9% nas vendas em 2022 (CNC, 2021).

Referências Bibliográficas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal do Comércio. (PMC). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, dezembro de 2021.

CNC – Confederação Nacional do Comércio. Inflação alta impediu aceleração das vendas em 2021. Disponível em: https://www.portaldocomercio.org.br/publicacoes/analise-cnc-da-pesquisa-mensal-do-comercio-dezembro-de-2021/413634. Fevereiro de 2022.


[1] Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. E-mail: guilhermerazzini33@gmail.com