Após meses seguidos com resultados negativos, atividade industrial catarinense registrou expansão em agosto/21

26/10/2021 14:02

Por: Matheus Souza da Rosa[1] e Lauro Mattei[2]

A Pesquisa Industrial Mensal do IBGE (PIM-PF IBGE) sobre o desempenho do setor no mês de agosto/21 apresentou a continuidade do cenário de retrações mensais no agregado da produção industrial nacional, com a variação de -0,7% na passagem entre o mês de julho e agosto, na série com ajuste sazonal. Em Santa Catarina, por sua vez, foi registrada a expansão de 1,9% nessa mesma série, um contraponto às quedas sucessivas registradas nos meses anteriores.

No saldo das Unidades da Federação (UFs) é possível verificar um desempenho bastante dispare. Das 14 pesquisadas, 5 apresentaram expansões, sendo as mais expressivas verificadas em Amazonas (7,3%) e Pará (7,1%), estados nos quais as altas correspondem a reações aos fracos desempenhos registrados no mês anterior (julho). Já outras 4 UFs apresentaram os resultados negativos, destacando-se a forte retração de Pernambuco (-12%). Outros 5 estados apresentaram resultados próximos à estagnação, cenários que caracterizam um quadro bastante desigual nos níveis da produção industrial regional.

Desta forma, os dados relativos a agosto/21 continuam reforçando a tendência de arrefecimento da atividade industrial, comportamento que tem sido a regra geral ao longo de todo o ano de 2021. A despeito das taxas positivas localizadas regionalmente, a persistência das retrações e estagnações em importantes UFs (como São Paulo, cujo parque industrial é o mais relevante do país e teve resultado estagnado) demonstra que os impactos da crise econômica e da pandemia continuam se manifestando nos índices de produção da indústria brasileira. Essa realidade bastante do setor industrial pode ser melhor analisada a partir do índice geral, cujo nível no mês de agosto – com variação de -6,2% em relação a janeiro – é o mais baixo de acumulado anual.

A atividade industrial do Brasil em agosto de 2021

A Tabela 1 apresenta um resumo da atividade industrial nacional nos últimos doze meses. De início, destaca-se a nova retração na série mensal com ajuste sazonal, variando -0,7% na passagem entre julho e agosto. Esse saldo negativo é a sexta retração mensal registrada no ano, caracterizando uma perda sucessiva do ritmo de produção, a qual só foi interrompida pelo resultado de maio. Com isso, o saldo em relação ao início do ano é de retração de -6,2%. Por sua vez, a comparação com o último mês do período pré-pandemia registra retrocesso de -2,9%, evidenciando que os impactos causados pela pandemia ainda não foram revertidos no que concerne ao nível agregado da produção industrial nacional.

Tabela 1: Variação da atividade industrial do Brasil em vários períodos

T1

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Na comparação com agosto de 2020 foi registrada leve retração, com variação negativa de -0,7%. É o primeiro dado negativo dessa série que já registrava desde maio uma evidente diminuição do ritmo das expansões, movimento motivado pelo desempenho progressivamente positivo que foi observado no segundo semestre de 2020. Nos desempenhos regionais também se expressou a mesma tendência, com retrações em 8 das 14 UFs pesquisadas. Bahia (-13,8%), Pernambuco (-13,5%) e Pará (-6,2%) obtiveram as piores variações. Paraná (8,7%), Minas Gerais (6,5%) e Espírito Santo (6,0%) destacaram-se positivamente, consolidando as expansões que também foram observadas na mesma série da pesquisa de julho.

A série acumulada apresentou mais um bom desempenho, com expansão de 9,2%. Com isso, em todos os meses do ano a comparação com o período acumulado do ano anterior foi positiva, reafirmando as expectativas de desempenho superior da produção industrial em 2021, já que em 2020 todo o parque industrial brasileiro foi afetado pelos meses mais bruscos da pandemia da Covid-19. Dentre as UFs pesquisadas foram registradas expansões em 10 delas, sendo os desempenhos mais proeminentes verificados em Santa Catarina (20,5%), Amazonas (17,1%) e Ceará (16,3%)[3]. Nesse acumulado, é preocupante o resultado baiano, com forte retração de -14,8%.

Por fim, no acumulado de doze meses, foi consolidada nova expansão, a quinta seguida, com variação de 7,2%. Essa expansão é embasada nos desempenhos regionais também positivos, dos quais mais contribuíram para o saldo nacional os estados de Santa Catarina (16,9%), Amazonas (14,4%) e Ceará (13,4%). Assim como na série acumulada, o pior saldo localizou-se no estado da Bahia, com retração de -10,1%.

Diante disso, o quadro geral da produção industrial nacional é positivo, comparativamente ao fraco desempenho de 2020, o que pode ser evidenciado pelos dados da série acumulada e de doze meses. Todavia, quando se analisa a série mensal e suas sucessivas retrações, torna-se nítido que ainda há muito espaço para evolução da produção industrial agregada. De alguma forma, a tendência de queda dessas oscilações mensais mostra que o ritmo de produção ainda continua afetado pelos impactos negativos da pandemia e pela crise econômica, destacando-se os gargalos produtivos potencializados no último ano e a persistência da demanda agregada deprimida, ocasionada pelo desemprego e pela inflação crescente. Além disso, como aponta recente análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, também permanece problemático o baixo nível de estoques da maioria dos ramos da indústria, o que contribuiu para a vulnerabilidade das cadeias produtivas. (IEDI, 2021)

Observar os desempenhos setoriais contribui para a compreensão do contexto anteriormente descrito, como mostra a Tabela 2. Primeiramente, nota-se que os desempenhos agregados foram opostos entre si, tendo as indústrias extrativas apresentado expansão (1,3%), enquanto as indústrias de transformação registraram leve variação negativa (-0,7%). Quanto aos setores desagregados, foi consolidado um quadro com o seguinte comportamento: 6 expansões, 9 estagnações e 10 retrações, fato que mantém o desempenho desigual que vem sendo observado ao longo de todo o ano de 2021. Produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-9,3%), outros produtos químicos (-6,4%) e informática, produtos eletrônicos e ópticos (-4,2%) apresentaram as maiores taxas de retrações na passagem de julho para agosto, sendo os principais motores da retração agregada. Já fabricação de bebidas (7,6%), produtos de madeira (3%) e manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (2,2%) contribuíram positivamente, apresentando os melhores saldos.

Além disso, as informações da Tabela 2 possibilitam a visualização da tendência formada pelos diversos setores ao longo do ano. Um dos cenários mais preocupantes diz respeito ao comportamento das indústrias de veículos automotores, reboques e carrocerias, setor que sofreu duras quedas em 2020 e que continua apresentando dificuldades em praticamente todos os meses do ano corrente. Isto porque, nos oito primeiros meses do ano, esse setor apresentou retrações em sete deles, culminando em uma perda acumulada de -23,7% em relação ao mês de janeiro/21. Máquinas, aparelhos e materiais elétricos é também outro setor que se encontra em situação semelhante, uma vez que apresentou variação positiva apenas em janeiro, culminando em uma retração acumulada no ano da ordem de -13,9%. Essas quedas sequenciais, sustentadas e sem capacidade de reação aparente revelam um dos principais entraves para recomposição mensal dos níveis de produção industrial, de modo que o desempenho dos setores antes mencionados deve ser acompanhado rigorosamente.

Tabela 2: Produção Física Industrial do Brasil por Setores de Atividades, mês a mês com ajuste sazonal

T2

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Por fim, o Gráfico 1 ilustra o desempenho dos setores na série do acumulado no ano de 2021. Os dados agregados apresentaram expansões na indústria de transformação (10,4%) e na indústria extrativa (1%), consolidando a expansão da indústria geral em 9,2%. Os setores de veículos automotores, reboques e carrocerias (42,6%) e máquinas e equipamentos (36,8%) registram as maiores expansões em relação ao mesmo período de 2020[4], sendo os principais responsáveis pela alta agregada. Já o setor de produtos alimentícios é o principal componente negativo, com retração de -6,9%[5]. Ao todo, foram registradas 20 expansões e 5 retrações setoriais na série.

Gráfico 1: Produção física industrial do Brasil por setores de atividade, acumulado no ano

G1

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Atividade industrial de Santa Catarina em agosto de 2021

A trajetória da produção física industrial catarinense nos primeiros oito meses de 2021 caracteriza-se por uma tendência retrativa, evidenciada pelos sucessivos resultados mensais negativos entre os meses de fevereiro e julho, como mostra o Gráfico 2. Em agosto, contudo, registrou-se uma breve reação, com expansão de 1,9% na série mensal com ajuste sazonal. Com isso, os desempenhos mensais apresentaram retrações em seis dos oito primeiros meses de 2021, acumulando perda de -7,1% em relação ao início do corrente ano.

Gráfico 2: Produção física industrial em Santa Catarina, mês contra mês imediatamente anterior com ajuste sazonal

G2

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

A Tabela 3 expande a visualização do desempenho catarinense a partir da observância das demais séries da pesquisa. Além da expansão já citada na série mensal, também foi registrada expansão na comparação com agosto de 2020, porém num ritmo inferior aos resultados verificados nos meses anteriores. Essa queda do ritmo acompanha o movimento nacional e já era esperada, sendo causada também pelo melhor desempenho da indústria catarinense no segundo semestre de 2020. A variação de 5,8% nessa série foi o quarto melhor resultado dentre as UFs, localizando-se acima do dado médio nacional.

As séries acumuladas também apresentaram resultados positivos, tanto na perspectiva anual, com variação de 20,5%, quanto na ótica de doze meses, cuja expansão atingiu 16,9%. Em ambas as séries, Santa Catarina possui o melhor resultado dentre as unidades da federação pesquisadas, o que coloca o estado acima da média nacional. Ao menos comparativamente, esse desempenho da indústria catarinense parece ter respondido melhor aos impactos da pandemia na atividade econômica.

Tabela 3: Variação da atividade industrial de Santa Catarina em vários períodos

T3

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

O Gráfico 2 mostra o desempenho dos setores de atividades pelo acumulado do ano. Como era esperado, a comparação com os resultados de 2020 é majoritariamente positiva, o que fica nítido pelas expansões relevantes registradas na grande maioria dos setores. Dentre os principais motores da taxa agregada da série destacam-se os setores de metalurgia (69,8%), veículos automotores, reboques e carrocerias (54,8%) e máquinas e equipamentos (45,4%). Ainda que em grande medida as expansões desses setores estejam infladas pelo baixo desempenho dos mesmo no ano de 2020, é um indicador positivo, uma vez que se trata de setores de alta complexidade tecnológica e com potencial para impactos no restante dos demais segmentos industriais, de modo que os bons desempenhos registrados também podem impactar positivamente o conjunto da atividade industrial, bem como a atividade econômica do estado em geral.

Diferente é o desempenho do setor de produtos alimentícios, que acumula queda de -11,6% em relação ao acumulado dos oito primeiros meses de 2020. Esse dado reflete os impactos da crise econômica nas atividades do setor, destacadamente em decorrência da débil retomada do emprego no pós-pandemia e da crescente perda do poder de compra da população, que por sua vez têm como consequência entraves para a formação da demanda do consumidor final. Com a consolidação do resultado de agosto, o setor de produtos alimentícios catarinense permaneceu com acumulado negativo durante todos os meses do ano. Como aponta a pesquisa, os principais motores da retração no setor se relacionam com as quedas na produção de óleo de soja refinado, carnes e miudezas de aves congeladas, preparações e conservas de peixes e produção de biscoitos e bolachas. Nesse setor, apenas as atividades de produção de carnes de suínos congeladas registraram expansão no acumulado de 2021.

Gráfico 3: Produção física industrial em Santa Catarina por setores de atividades, acumulado no ano

G3

Fonte: PIM-PF IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Diante disso, é possível afirmar que a trajetória da produção industrial em Santa Catarina é instável com tendência de quedas, conforme mostrou a análise da série mensal. Todavia, é fato – e a expansão de agosto corrobora este ponto – que a atividade industrial catarinense tem apresentado um desempenhado ligeiramente superior ao agregado industrial nacional, especialmente quando se considera o desempenho nas séries acumuladas das demais UFs. Ainda assim, segue preocupante a incapacidade de retomada do setor de produtos alimentícios, que representa parcela importante da produção industrial no estado. É seguro dizer que a superação das oscilações mensais no agregado estadual dependerá da reversão da tendência de queda estabelecida nesse setor.

Considerações Finais

Os dados da produção física industrial em agosto reafirmaram a trajetória de quedas que está estabelecida nas séries do Brasil e de Santa Catarina. Nos dados do desempenho nacional, essa tendência se mostra com força através das sucessivas retrações mensais, reafirmadas agora também pela variação negativa de -0,7% em agosto. Em Santa Catarina, em menor grau, porém de forma similar, a mesma tendência se estabelece, tendo sido registradas retrações sucessivas entre os meses de fevereiro e julho. A expansão de 1,9% ocorrida no mês de agosto reverte essas retrações apenas em parte, de modo que somente os dados dos próximos meses poderão ilustrar se a atual expansão pode ser considerada o início de uma nova tendência expansiva, ou se foi apenas uma reação localizada.

O olhar sobre os setores da atividade industrial também continua apontando problemas, sendo os mais destacados relacionados às atividades de veículos automotores, reboques e carrocerias e máquinas, aparelhos e materiais elétricos, que nos dados nacionais seguem uma trajetória de quedas sustentadas mês após mês. Já em Santa Catarina, a falta de dinamismo do setor de produtos alimentícios é o principal problema, sendo necessárias algumas medidas auxiliares que sejam capazes de reverter o baixo desempenho desse setor, dado que o mesmo é determinante para o avanço sustentado do conjunto da produção industrial do estado.

A resolução desses problemas na esfera da produção industrial se relaciona com a aceleração da atividade econômica, mas até agora não há indícios de que essa aceleração ainda poderá ocorrer no ano de 2021. De acordo com estudo recente do IEDI, agosto foi o mês de pior dinamismo econômico para o país no ano, com retrações em dois dos três grandes setores da atividade econômica, as quais foram motivadas pelo elevado desemprego, pela inflação, pelos desequilíbrios entre as cadeias produtivas e pelo elevado nível de incertezas. (IEDI, 2021). Desse modo, a atuação dos governos com políticas públicas direcionadas, em esfera nacional e estadual, é de primeira importância para a recuperação da atividade econômica em geral e, consequentemente, também para o setor industrial.

Referências Bibliográficas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal da Indústria. Produção Física (PIM). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, agosto de 2021.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal da Indústria. Produção Física Regional (PIM Regional). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, agosto de 2021.

IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Carta IEDI 1110: Declínio Sistemático. Disponível em:  https://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_1110.html.

IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Carta IEDI 1111: Economia em fraca evolução. Disponível em: https://iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_1111.html.


[1]Graduando em Ciências Econômicas da UFSC e Bolsista do NECAT. Email: matheusrosa.contato@outlook.com.

[2]Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador Geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br

[3] Os níveis de produção industrial dos estados de Amazonas e Ceará estiveram, em 2020, dentre os mais afetados pelos impactos da pandemia, de modo que as expansões acumuladas registradas em 2021 se explicam em parte pela recomposição das perdas bruscas do ano passado.

[4] Os dois setores possuem desempenhos vacilantes em 2021, como pode ser visto através da Tabela 2. Porém, as quedas muito acentuadas registradas em 2020 acabam por possibilitar os dados positivos na série acumulada.

[5] Ainda que a retração não seja da mesma magnitude das expansões registradas na série, a variação de produtos alimentícios é bastante significativa para formação da taxa geral, já que o setor possui grande participação no valor da transformação industrial nacional.