Atividade comercial catarinense apresenta resultado inexpressivo em novembro

09/02/2022 13:31

Por: Guilherme Razzini[1] e Matheus Rosa[2]

Os dados relativos ao desempenho do comércio divulgados pela Pesquisa Mensal do Comércio (PMC-IBGE) no mês de janeiro, com dados referentes a novembro, revelam um cenário de fraco crescimento no cenário nacional e estadual. Esse resultado se apresenta após três meses de quedas consecutivas no cenário nacional, observadas na série mês a mês com ajuste sazonal e na comparação do mesmo mês do ano anterior.

O comércio varejista ampliado registrou expansão de 0,5%, dando fim a sequência de quedas registradas nos meses anteriores. Assim, o comércio varejista ampliado acumulou aumento de 5,3% no ano de 2021 contra 6,3% no mês anterior. O indicador acumulado nos últimos doze meses, passou de 5,8% até outubro para 5,1% até novembro, também apontou redução no ritmo de vendas.

Em relação ao desempenho do comércio varejista na comparação com novembro de 2020, houve queda de 2,9% no cenário nacional, com resultados negativos em 19 das 27 Unidades da Federação (UF) na mesma comparação, sendo destaque para Acre (-10%), Paraíba (-8,6%) e Maranhão (-8,5%). Em contraste, houve resultado positivo em 8 das 27 UFs, com destaque para Pernambuco (9,3%), Roraima (6,2%) e Mato Grosso do Sul (4,9%).

A partir dos dados divulgados pela pesquisa, esse breve texto se direciona à análise do desempenho geral da atividade comercial no Brasil e em Santa Catarina.

A atividade comercial no Brasil em novembro de 2021

A Figura 1 apresenta a trajetória do Volume de Vendas do Comércio Varejista no Brasil de janeiro de 2010 a novembro de 2021. Conforme os movimentos gerais da economia brasileira na última década, observa-se uma primeira trajetória de crescimento que se estende até o segundo semestre de 2014, seguida por uma queda brusca, até o segundo semestre de 2016, e uma posterior expansão vacilante que se mantém até o início do primeiro semestre de 2020.

A partir de 2020 é possível perceber os efeitos da pandemia no volume de vendas do comércio varejista ampliado, o primeiro efeito constatado pelo IBGE está em março de 2020 quando o volume de vendas esteve em patamar inferior a janeiro de 2010, início da série retratada. Após a queda acentuada, é possível perceber uma rápida recuperação no volume de vendas impulsionado pelo programa de auxílio emergencial implantado pelo governo federal, este patamar de vendas se mantém até novembro de 2020. Posteriormente, com a redução dos programas emergenciais de incentivo ao consumo é possível perceber certa instabilidade no volume de vendas no primeiro semestre de 2021, e tendência de queda registrada a partir de julho de 2021 com as variações sucessivas registradas na série mês a mês, encerradas com o registro de saldo de expansão em novembro de 2021.

Figura 1 – Volume de vendas no comércio varejista ampliado do Brasil (índice base fixa com ajuste sazonal, 2010=100, janeiro de 2010 a novembro de 2021)

F1

Fonte: Pesquisa Mensal do Comércio – PMC/IBGE

A Tabela 1 expõe as variações no volume de vendas, a partir das quatro séries pesquisadas. No índice em comparação ao mês imediatamente anterior foi registrada uma expansão de 0,5%, com este resultado foi interrompido a sequência de quedas registradas a partir de julho de 2021. No mesmo índice em âmbito regional foram registradas quedas em 14 das 27 Unidades da Federação, com destaque para: Paraíba (-6,8%), Tocantins (-6,1%) e Alagoas (-5,1%), por outro lado, pressionando positivamente, figuram 12 das 27 Unidades da Federação, com destaque para: Rio de Janeiro (2,1%). Amazonas (1,9%) e Rondônia (1,7%). O estado do Amapá registrou estabilidade.

No índice em comparação ao mesmo mês do ano anterior foi registrado queda de 2,9% no volume de vendas, resultado que reforça o prognóstico de queda nos índices quando comparado ao segundo semestre de 2020, período em que foi registrada trajetória sustentada de expansão, sendo assim as bases de comparação estão elevadas. Nas UFs também houve predomínio de resultados negativos em 19 das 27 Unidades da Federação, com destaque para: Acre (-10,0%), Paraíba (-8,6%) e Maranhão (-8,5%). Por outro lado, registraram expansão 8 das 27 Unidades da Federação, com destaque para: Pernambuco (9,3%), Roraima (6,2%) e Mato Grosso do Sul (4,9%).

Além do mais, em relação às séries acumuladas é possível perceber uma tendência na queda dos indicadores, causado também como já dito anteriormente pela elevada base de comparação. Na série acumulada no ano foi obtido expansão de 5,3%, seguindo tendência de queda do índice desde maio de 2021. Ao considerar o acumulado nos últimos doze meses a expansão registrada é de 5,1%, queda pelo quinto mês consecutivo.

Tabela 1: Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado no Brasil (novembro de 2020 a novembro de 2021)

T1

Fonte: Pesquisa Mensal do Comércio – PMC/IBGE

A partir dos dados expostos é evidente que o volume de vendas no comércio varejista ampliado tem apresentado quedas no segundo semestre de 2021, após um primeiro semestre instável entre quedas e expansões e com o fim dos programas de incentivo ao consumo, a expectativa é que o presente semestre apresente retração na comparação com o mesmo período do ano anterior. O cenário demonstra a dificuldade do comércio em se recuperar dos efeitos causados pela crise econômica brasileira, reforçada principalmente pela manutenção do desemprego, crescente inflação e alto endividamento das famílias, tais fatores corroem o poder de compra e afetam diretamente o consumo e a possibilidade de uma recuperação firme e estável.

Uma análise mais detalhada sobre o desempenho da atividade comercial pode ser efetivada a partir dos dados setoriais, como mostra a Tabela 2, que traz os dados de novembro de 2020 a novembro de 2021 na comparação mês/mês imediatamente anterior. A partir dos dados é possível aferir que 10 das 5 atividades pesquisadas apresentaram queda, sendo destaque para: Móveis e Eletrodomésticos (-2,3%), Tecidos, Vestuários e Calçados (-1,9%) e Livros, Jornais, Revistas e Papelaria (-1,4%). Por outro lado, cinco setores apresentaram expansão no período pesquisado, sendo destaque para: Outros artigos de uso pessoal e doméstico (2,2%), Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (1,2%) e Hipermercados e supermercados (0,9%).

Tabela 2: Variação mês/mês imediatamente anterior do volume de vendas no comércio varejista ampliado e suas subdivisões para o Brasil (novembro de 2020 a novembro de 2021)

T2

Fonte: Pesquisa Mensal do Comércio – PMC/IBGE

A Figura 2 amplia o escopo da análise com a comparação do volume de vendas em novembro de 2021 com o patamar de fevereiro de 2020, apenas quatro setores superam o volume de vendas do período pré-pandemia, sendo Artigos Farmacêuticos (13,2%), Material de Construção (12,6%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (11,1%) e Hipermercados e supermercados (1,7%). Em contraste a expansão, os setores com maior retração no mesmo período são: Livros, Jornais, Revistas e Papelaria (-37,7%), móveis e eletrodomésticos (-14,8%) e Equipamentos e Materiais para Escritório e Informática (-12,8%).

A forte retração em alguns setores e fraca recuperação em apenas três setores demonstra a dificuldade do comércio em reagir à crise econômica e estabelecer um ritmo de crescimento sustentado e contínuo. No cenário nacional, o volume de vendas do comércio varejista ampliado registra queda de 1,9% em comparação com fevereiro de 2020, em outubro de 2021 a mesma comparação registrava queda de 2,8%.

Figura 2 – Variação percentual do volume de vendas entre fevereiro de 2020 e novembro de 2021 por setor

F2

Fonte: Pesquisa Mensal do Comércio – PMC/IBGE

O desempenho do comércio varejista de Santa Catarina em novembro de 2021

O comércio varejista ampliado em Santa Catarina apresenta uma trajetória de expansão desde 2010, com pequenos intervalos de queda, como mostra a Figura 3. O registro expõe sucessivas expansões especialmente a partir de 2016, com curtos períodos de retração, que se manteve até o início dos impactos da pandemia no primeiro trimestre de 2020. Devido aos impactos econômicos causados pela incerteza diante do cenário pandêmico, os meses de março e abril de 2020 registraram quedas agudas no volume de vendas do comércio catarinense, assim como em outros setores da economia. No segundo semestre de 2020 foram registradas fortes expansões em razão dos programas de incentivo ao consumo que impulsionaram uma rápida recuperação do setor neste período, porém com o racionamento destes programas o ano de 2021 apresenta instabilidade nos resultados, com momentos de expansão até julho de 2021 e quedas a partir deste mês interrompidas pela expansão registrada em novembro.

Figura 3 – Volume de vendas no comércio varejista ampliado de Santa Catarina (índice base fixa com ajuste sazonal, 2010=100, janeiro de 2010 a novembro de 2021)

F3

Fonte: Pesquisa Mensal do Comércio – PMC/IBGE

A Tabela 4 expõe os resultados da Pesquisa Mensal do Comércio em Santa Catarina, a partir das quatros séries históricas da pesquisa. Na comparação com o mês imediatamente anterior, o estado registrou expansão de 0,3%, interrompendo a sequência de retrações iniciada em agosto de 2021. Com os dados do volume de vendas de novembro de 2021, Santa Catarina registra uma expansão de 7% no volume de vendas quando comparado ao início da pandemia em fevereiro de 2020. Vale destaque para a expansão de 2,4% registrada na comparação com o mesmo mês do ano anterior, saldo que contrasta com o cenário nacional que registrou queda de 2,9% no mesmo índice.

Tabela 3: Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado em Santa Catarina (outubro de 2020 a novembro de 2021)

T4

Fonte: Pesquisa Mensal do Comércio – PMC/IBGE

Por fim, as séries acumuladas continuam a registrar expansão, porém em queda constante desde o início do segundo semestre de 2021. O acumulado no ano registra expansão de 9,3%, em comparação ao cenário nacional é notável um crescimento mais expressivo no estado no presente ano tendo em vista que o acumulado nacional registra expansão inferior de 5,3%.  Em relação ao acumulado nos últimos 12 meses, o índice apresenta expansão de 8,8%, quinta queda consecutiva, em relação ao mês de outubro o mesmo índice apresentou expansão de 9,2%

A Figura 4 facilita esta comparação do cenário regional com o cenário nacional, com destaque para o saldo nacional e o saldo de Santa Catarina. Sendo destaque para as maiores expansões no índice nos estados de Pernambuco (19,20%), Piauí (14,80%) e Espírito Santo (14,10%). Somente 2 UFs apresentaram saldo negativo na comparação, sendo: Amazonas (-0,1%) e Distrito Federal (-0,9%).

Figura 4 – Variação percentual no ano no volume de vendas no comércio varejista ampliado para o Brasil e suas Unidades Federativas no mês de novembro de 2021

F4

Fonte: Pesquisa Mensal do Comércio – PMC/IBGE

Os resultados setoriais no estado de Santa Catarina podem ser observados na Tabela 5, no índice em comparação com novembro de 2020. Dos 10 setores pesquisados, 4 setores apresentam retração na comparação interanual, destaque para: Móveis e Eletrodomésticos (-23,20%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-8,9%) e tecidos, vestuário e calçados (-4,5%). Por outro lado, 6 setores apresentaram expansão no mesmo índice, sendo destaque para: Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (27,7%), Veículos, motocicletas, partes e peças (17,30%) e Livros, Jornais, Revistas e Papelaria (16,70%).

Tabela 4: Variação mensal em relação ao mesmo mês do ano anterior do volume de vendas no comércio varejista ampliado e suas subdivisões em Santa Catarina (novembro de 2020 a novembro de 2021)

T5

Fonte: Pesquisa Mensal do Comércio – PMC/IBGE

Considerações Finais

Desse modo, os resultados de novembro corroboram o fraco desempenho da atividade comercial do atual segundo semestre, no Brasil e em Santa Catarina. Ainda que em ambos os casos as variações tenham sido positivas, a baixa magnitude dos resultados, no contexto anterior de quedas sucessivas, ilustra o baixo dinamismo alcançado atualmente pelo setor. Tal cenário é esperado como consequência da permanência das dificuldades macroeconômicas advindas da pandemia e da crise brasileira, em especial relativas ao alto nível de desemprego e à inflação, fatores que corroem o poder de compra do consumidor final e, por isso, afetam diretamente a capacidade de vendas do varejo.

Esse quadro se manifesta nos setores, os quais registram, em sua maioria, resultados negativos. Nacionalmente, móveis e eletrodomésticos (-2,3%), tecidos, vestuários e calçados (-1,9%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-1,4%), apresentam os piores resultados. Todos estes setores com trajetórias de quedas estabelecidas, quadro que aumenta a projeção de dificuldades para os próximos meses. Já em Santa Catarina, móveis e eletrodomésticos (-23,20%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-8,9%) e tecidos, vestuário e calçados (-4,5%), foram os setores de pior desempenho. Em ambos os casos, uma reversão de tendência desses setores deverá ser crucial para a consolidação de taxas sustentáveis no agregado.

Referências Bibliográficas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal do Comércio. (PMC). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, novembro de 2021.


[1] Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. Email: guilhermerazzini33@gmail.com

[2] Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. Email: matheusrosa.contato@outlook.com