Com leve retração, volume de vendas do comércio catarinense interrompe tendência expansiva

19/12/2023 14:28

Matheus Rosa*

Bonifácio Packer Testoni**

A Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE (PMC-IBGE) divulgada na última semana apresentou os resultados da atividade varejista no Brasil, e em suas unidades da federação (UFs), em outubro. Nacionalmente, registrou-se retração de -0,4% na comparação com o volume de vendas de setembro, ao passo que em Santa Catarina a variação apontou uma queda de menor magnitude, na ordem de -0,1%. Ambos os resultados mostram um quadro de estagnação da atividade no varejo pela perspectiva mensal, mas apenas no caso nacional essa estagnação corrobora a tendência anterior, dado que em Santa Catarina a tendência é de expansão em bom ritmo desde junho. Em termos acumulados há o registro de expansões nas duas localidades: no Brasil, houve expansão de 2,4% em relação ao acumulado do mesmo período de 2022; em Santa Catarina, registrou-se alta de 3,1% nessa mesma base de comparação.

O Gráfico 1 mostra a trajetória recente do índice de volume de vendas do comércio varejista ampliado no Brasil e em Santa Catarina. Nota-se que após os impactos mais imediatos da pandemia da Covid-19 houve o estabelecimento de uma tendência de crescimento moderado no Brasil e em Santa Catarina, ainda que com maior ritmo nessa última localidade. Em 2023, no caso catarinense, houve o ensaio de uma tendência retrativa no primeiro trimestre, mas esta foi superada nos meses posteriores, sendo positivo o cenário a partir de junho. No Brasil, diferentemente, a norma é de estagnação desde o início do ano.

Gráfico 1 – Índice do volume de vendas do comércio varejista ampliado com ajuste sazonal, 2020-out/23 (jan/20=100)

Fonte: IBGE – Pesquisa Mensal do Comércio. Elaboração: Necat/UFSC.

Esses resultados andam em linha com o que se verifica nos demais setores da atividade econômica, os quais em 2023 têm sido caraterizados por uma patente tendência de desaceleração. Aparecem com destaque como vetores dessa desaceleração, no caso do comércio varejista, a manutenção dos juros reais em patamares elevados, a despeito do relaxamento recente da taxa de juros nominal, e o elevado nível de endividamento das famílias, o qual tem se mostrado resiliente mesmo frente aos recentes esforços do governo federal[1]. Além disso, dados recentes do Bacen mostram que, mesmo frente as recentes reduções da taxa básica de juros, há desaceleração na concessão de crédito, o que afeta especialmente alguns dos setores do comércio varejista que dependem do crédito como viabilizador do consumo (IEDI, 2023). Todos esses fatores se somam para configurar o cenário de desaceleração da demanda que se manifesta na debilidade do ritmo de vendas em 2023.

Gráfico 2 – Índice de volume de vendas, mês frente ao mês anterior, por UF, out/23.

Fonte: IBGE – Pesquisa Mensal do Comércio. Elaboração: Necat/UFSC.

Do ponto de vista regional, configurou-se em outubro o quadro exposto pelo Gráfico 2, na perspectiva das variações mensais frente o mês imediatamente anterior. Das 27 UFs, 16 registraram variações não negativas, porém destas apenas 8 registraram expansão acima de 1,0%, indicando o cenário hegemônico de ritmo arrefecido. Similarmente, das 11 retrações registradas, apenas 4 localizaram-se abaixo de -1,0%. Se destacaram positivamente as expansões em Rondônia, em Pernambuco e no Tocantins, com variações de 4,3%, 3,8% e 2,4%, respectivamente. No outro polo, apareceram as quedas no Mato Grosso do Sul (-2,4%), no Rio de Janeiro (-2,3%) e em São Paulo (-1,9%), essa última com importância destacada na formação do índice nacional. Em perspectiva, o resultado catarinense localizou-se entre as retrações de baixa magnitude, sendo levemente mais positiva do que o resultado do Brasil, porém mais negativa que a variação na maior parte das UFs.

No que compete às manifestações setoriais para o caso catarinense, pode-se conferir a Tabela 1, a qual apresenta os resultados dos segmentos do comércio varejista ampliado na ótica do acumulado do ano. Em outubro, o que se percebe é que as atividades de veículos automotores, motocicletas, partes e peças tem impactado positivamente o índice catarinense em 2023, agora registrando expansão de 17,2% em relação ao acumulado do mesmo período de 2022. Na mesma toada, o comércio de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação mostrou a boa expansão de 14,4% em relação a 2022. Pelo lado negativo, o contrapeso tem se apresentado nas atividades livros, jornais, revistas e papelaria, as quais desde abril apresentam resultados negativos. Em outubro, essas atividades localizavam suas vendas -19,1% abaixo do registrado para o mesmo período de 2022. No saldo, o comércio varejista ampliado catarinense registrou 7 expansões e 4 retrações na comparação com o ano anterior.

Tabela 1 – Variação dos segmentos no acumulado no ano em comparação com o mesmo período do ano anterior, outubro de 2023.

Fonte: IBGE – Pesquisa Mensal do Comércio. Elaboração: Necat/UFSC.

Para os resultados dos últimos dois meses de 2023 o que se espera é manutenção do cenário, possivelmente com ligeira melhora nos indicadores. Isso porque aparecem no horizonte mudanças apenas marginais nas variáveis que mais significativamente condicionaram o desempenho do varejo nesse ano. Por isso, a Confederação Nacional do Comércio projeta um cenário levemente positivo condicionado à consolidação do recuo da inflação, à continuidade da tendência de queda dos juros e ao seguimento na tendência de apreciação do câmbio (CNC, 2023).

Referências bibliográficas

CNC – Confederação Nacional do Comércio. Análise CNC da Pesquisa Mensal do Comércio – outubro de 2023. Disponível em: < https://portaldocomercio.org.br/publicacoes_posts/analise-cnc-da-pesquisa-mensal-do-comercio-outubro-de-2023/>. Acesso em: 17 de dezembro de 2023.

CNC – Confederação Nacional do Comércio. Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC). Disponível em: < https://pesquisascnc.com.br/pesquisa-peic/>. Acesso em: 17 de dezembro de 2023.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal do Comércio (PMC). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, outubro de 2023.

IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Carta IEDI edição 1237: desaceleração creditícia. Disponível em: < https://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_1237.html>. Acesso em: 17 de dezembro de 2023.


* Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pesquisador do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat/UFSC). Email: matheusrosa.contato@outlook.com.

** Graduando em Ciências Econômicas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Bolsista do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat/UFSC). Email: bonifaciopacker@gmail.com.

[1] Em outubro de 2023, segundo dados da Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor da Confederação Nacional do Comércio (PEIC-CNC), 76,9% das famílias brasileiras estavam endividadas. Em Santa Catarina o indicador é de 78,5% (CNC, 2023).

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