Comércio brasileiro registra queda no primeiro mês de 2022, saldo em Santa Catarina é de expansão

30/03/2022 13:14

Guilherme Ronchi Razzini[*]

A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE divulgada neste mês, com dados referentes ao mês de janeiro e dando início aos dados referentes a 2022, apresentou um cenário de queda no cenário nacional e leve expansão no cenário estadual. Os dados nacionais do volume de vendas do comércio varejista ampliado registraram na série mês a mês com ajuste sazonal retração de -0,30%. No estado catarinense, o resultado foi diferente do cenário nacional, e registrou expansão de 1,7% na mesma comparação.

O volume de vendas no cenário nacional ainda está abaixo do patamar pré-pandemia (retração de 1,63% em comparação a fevereiro de 2020, na série nacional). Em Santa Catarina, há expansão de 9,4% na mesma comparação. Desse modo, é notável que após as oscilações entre expansões tímidas e quedas no segundo semestre de 2020, o comercio varejista ampliado ainda não conseguiu estabelecer um ritmo de crescimento sustentável no cenário nacional, devido ao cenário econômico de alta da inflação, do aumento expressivo das taxas de juros e do ainda alto desemprego.

No comércio varejista ampliado, a variação entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022, foi de -0,3% no cenário nacional. Nos cenários regionais, porém houve resultados positivos em 14 das 27 Unidades da Federação (UFs), com destaque para: Sergipe (6,1%), Bahia (4,1%) e Pernambuco (3,7%) e Alagoas (3,7%). Por outro lado, houve retração em 13 das 27 UFs, com destaque para: Amazonas (-5,6%), Rio Grande do Norte (-3,2%) e Amapá (-3,1%) e Tocantins (-3%).

A partir dos dados divulgados pela pesquisa, esse breve texto se direciona à análise do desempenho geral da atividade comercial no Brasil e em Santa Catarina.

Atividade comercial do Brasil em janeiro de 2022

A Tabela 1 apresenta as quatros series da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) ao longo dos últimos doze meses. Na série mês a mês com ajuste sazonal, a mais eficiente para verificar o ritmo de atividade do comercio varejista ampliado no curto prazo, foi registrada retração de -0,3%. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior foi registrada retração de -1,5% no volume de vendas, apresentando o sexto resultado negativo consecutivo da série. No acumulado em doze meses houve expansão de 4,5% em dezembro para 4,6% em janeiro, primeira expansão do índice após seis meses de queda.

Tabela 1: Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado no Brasil (janeiro de 2021 a janeiro de 2022)T1

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

No quadro regional da comparação com o mesmo mês do ano anterior, apresentaram-se retrações em 15 das 27 UFs, com destaque para: Amapá (-12,9%), Distrito Federal (-8,8%), Paraíba (-7,2%) e Acre (-6,2%). Por outro lado, houve resultados positivos em 12 das 27 UFs, com destaque para: Amazonas (34,7%), Pernambuco (15,4%), Roraima (8,7%) e Mato Grosso (7,9%).

A Tabela 2 apresenta a taxa de variação dos setores na comparação com o mesmo mês do ano anterior e sua contribuição sobre a taxa global do comércio varejista ampliado.

Houve retração em 6 dos 10 setores pesquisados na comparação com o mesmo mês do ano anterior, com destaque para os setores de móveis e eletrodomésticos (-11,4%), material de construção (-7,8%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-7,1%). Em contraste, houve 4 setores com resultados positivos, com destaque para: livros, jornais, revistas e papelaria (23%), artigos farmacêuticos e médicos (10,1%) e veículos, motocicletas, partes e peças (2,8%).

Na composição absoluta da taxa global, os setores de artigos farmacêuticos e médicos (0,8 p.p) e veículos, motocicletas, partes e peças (0,6 p.p) foram os responsáveis pelos maiores impactos positivos na taxa. Enquanto, os setores de móveis e eletrodomésticos (-0,8 p.p) e material de construção (-0,8 p.p) tiveram os saldos mais negativos do índice.

Desse modo, é possível ilustrar a força dos setores supracitadas na composição econômica do setor do comércio varejista ampliado no Brasil. O setor de livros, jornais, revistas e papelaria apesar de apresentar crescimento expressivo de 23% representou apenas 0,10 p.p na composição absoluta da taxa global.

Tabela 2: Indicadores do volume de vendas do comércio varejista ampliado e a composição da taxa mensal em comparação ao mesmo mês do ano anterior.T2

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

A Tabela 3 ilustra as variações mês a mês imediatamente anterior nos dez setores analisados pela PMC. Dos 10 setores analisados nesta comparação, apenas 3 deles apresentaram expansão no volume de vendas, sendo os setores de outros artigos de uso pessoal e domestico (9,4%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (3,8%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (0,30%). Em contraste, houve resultados negativos em 7 setores pesquisados, com destaque para: tecidos, vestuário e calçados (-3,9%), livros, jornais, revistas e papelaria (-2%) e veículos, motocicletas, partes e peças (-1,9%).

Cabe aqui ressaltar que na PMC de dezembro de 2021, foi registrado que o setor de móveis e eletrodomésticos havia apresentado expansão de 0,4%, porém a PMC de janeiro de 2022 corrigiu tal dado e reverteu para uma retração de -0,1%, portanto o setor continua a apresentar resultados negativos pelo oitavo mês consecutivo, ainda sem apresentar dados que sinalizem uma recuperação do setor ao longo prazo. Além disso, o setor de tecidos, vestuário e calçados, que apresentou a maior queda na série, está há 3 meses sem apresentar expansão no volume de vendas.

Tabela 3: Variação mês/mês imediatamente anterior do volume de vendas no comércio varejista ampliado e suas subdivisões para o BrasilT3

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

A Figura 1 facilita a compreensão do desempenho dos setores no período da pandemia ao analisar o desempenho dos setores em comparação com fevereiro de 2020, último mês antes dos impactos da crise causada pela pandemia do coronavírus. Apenas 4 setores apresentaram crescimento em relação ao período pré-pandemia, sendo eles: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (24%), material de construção (10%), outros artigos de uso pessoal e domestico (4%) e hipermercados, supermercados (1%). Por outro lado, ainda há 6 setores que apresentam retração no volume de vendas na comparação com o período pré-pandemia, com destaque para: livros, jornais, revistas e papelaria (-35%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-14%) e tecidos, vestuário e calçados (-14%).

Tais fatos preocupam ao ilustrar que após quase dois anos do início da pandemia do coronavírus, ainda há setores que não se recuperaram ou outros que retroagiram no volume de vendas durante a pandemia. O cenário nacional que registra volume de vendas 1,63% menor que o período de fevereiro de 2020 corrobora com a tese de que o comércio varejista ampliado sofre em virtude da crise econômica intensificada pela pandemia no país, refletida na alta inflação, alto desemprego e dos níveis cada vez menores de renda.

Figura 1: Variação percentual do volume de vendas entre fevereiro de 2020 e janeiro de 2022 por grupo de atividade FIG1

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

A atividade comercial de Santa Catarina em dezembro de 2021

O desempenho do comércio varejista ampliado em Santa Catarina é ilustrado a partir da Tabela 4, que apresenta as quatros principais series da PMC no estado catarinense, na tabela estão presentes os dados na série mensal com ajuste sazonal, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, no acumulado do ano e no acumulado de doze meses. Na comparação com o mês imediatamente anterior, o estado registrou expansão de 1,7%, em contraste com o resultado nacional que registrou queda no mesmo índice.

Desse modo, o estado iniciou o ano de 2022 com resultados positivos, no acumulado em doze meses houve avanço de 8,7% no mês anterior para 9% em janeiro, é o primeiro avanço no índice após seis meses de quedas consecutivas.

Tabela 4: Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado em Santa Catarina (janeiro de 2021 a janeiro de 2022)

T4

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Na comparação com janeiro de 2021 houve uma expansão de 4,8% no volume de vendas, resultado que contrasta com o cenário nacional que registrou retração na comparação interanual. O comércio varejista ampliado em Santa Catarina apresentou resultados positivos em todos os indicadores e novamente se apresentou de forma mais sólida e competitiva do que no cenário nacional, que ainda enfrenta dificuldades de apresentar crescimento sólido.

A Figura 2 evidencia os resultados do setor na comparação com o mês imediatamente anterior nos estados brasileiros, 14 dentre as 27 Unidades da Federação registraram saldo positivo neste indicador, o estado de Santa Catarina se posiciona com a oitava maior expansão na comparação. Aliado ao cenário nacional, outas 13 UFs apresentaram retração no volume de vendas no primeiro mês de 2022.

Figura 2: Variação mês imediatamente anterior com ajuste sazonal nas Unidades Federativas em janeiro de 2022

FIG2

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Os resultados por setor do comércio varejista ampliado em Santa Catarina estão ilustrados na Tabela 5 no índice em comparação com o mesmo mês do ano anterior.

Tabela 5: Variação mensal em relação ao mesmo mês do ano anterior do volume de vendas no comércio varejista ampliado e suas subdivisões em Santa Catarina (agosto de 2021 a janeiro de 2022)T5

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Entre os dez setores pesquisados, sete apresentaram expansão no saldo, sendo as maiores expansões registradas nos setores de livros, jornais, revistas e papelaria (33%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (18,8%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (18,1%). Por outro lado, três setores apresentaram retração no volume de vendas, sendo eles: tecidos, vestuário e calçados (-11,2%), moveis e eletrodomésticos (-10,1%) e material de construção (-0,5%).

Os resultados setoriais demonstram que setores importantes na formação do comércio varejista ampliado em Santa Catarina ainda resistem em apresentar dados sólidos de expansão, o setor de móveis e eletrodomésticos apresentou a nona queda consecutiva no indicador, assim como o setor de tecidos, vestuário e calçados apresentou a sexta queda consecutiva.

Entretanto, no cenário nacional seis setores apresentaram queda no volume de vendas nesta comparação, enquanto no estado catarinense apenas três setores tiveram resultados negativos. Os resultados no estado são mais otimistas que o balanço nacional, por aqui houve expansão na série mês a mês e na comparação com o mesmo mês do ano anterior, no cenário nacional houve retração em ambos indicadores.

Considerações Finais

Os resultados nacionais reforçam o prognostico de novamente o setor enfrentar resultados instáveis e não obter resultados satisfatórios ao longo do ano, sem os programas de incentivo ao consumo e com a intensificação da crise econômica em todo o país, o poder de compra principal responsável pela demanda do setor está estagnado e sem perspectivas de melhora ao longo do ano.

Diante de tal cenário, a Confederação Nacional do Comércio revisou sua expectativa de alta de 0,9% para 0,5% em 2022, tal revisão foi motivada pela inflação de custos herdada de 2021 e dos impactos pela alta dos preços dos alimentos e combustíveis.

No estado de Santa Catarina, o cenário é mais otimista em relação ao panorama nacional, por aqui houve crescimento no primeiro mês do ano e expansão dos índices, como o acumulado em doze meses. Entretanto, o ano de 2021 fechou os últimos meses com fracos resultados, deste modo é cedo para apontar tendências para o presente ano.

Referências Bibliográficas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal do Comércio. (PMC). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, janeiro de 2022.

CNC – Confederação Nacional do Comércio. CONFLITO EUROPEU DEVE AUMENTAR PRESSÃO SOBRE OS PREÇOS NO VAREJO. Disponível em: https://www.portaldocomercio.org.br/publicacoes/analise-cnc-da-pesquisa-mensal-do-comercio-janeiro-de-2022/417063. Março de 2022.


[*] Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. E-mail: guilhermerazzini33@gmail.com