Comércio catarinense apresenta nova retração em setembro, mas saldo do ano ainda é positivo

30/11/2021 10:11

Por: Matheus Rosa[1] e Guilherme Razzini[2]

Os dados relativos ao desempenho do comércio divulgados pela Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) no mês de novembro, com dados referentes ao mês de setembro, revelam que o comércio catarinense reafirmou o resultado do mês anterior e continuou apresentando quedas no volume de vendas. O cenário negativo se consolidou através das quedas mensais, observadas na série mês a mês com ajuste sazonal, e na comparação com o mês de agosto de 2020. Entretanto, o acumulado no ano e nos últimos 12 meses ainda apresenta leve avanço.

Com isso, os dados da pesquisa mostram que o volume de vendas do comércio varejista ampliado no mês de setembro ainda está abaixo do patamar verificado no cenário pré-pandemia, como mostra a variação do índice de base fixa com ajuste sazonal, o qual registra retração de -1,8% na comparação entre fevereiro de 2020 e setembro de 2021. Em contraste ao cenário nacional, a variação de Santa Catarina no mesmo período é de 6,6%, demonstrando que no estado a recuperação do volume de vendas tem se dado em ritmo mais acelerado do que no agregado nacional.

A partir dos dados divulgados pela pesquisa, esse breve texto se direciona à análise do desempenho geral da atividade comercial no Brasil e em Santa Catarina, à luz da conjuntura econômica e dos entraves condicionados pelo atual estágio da pandemia da covid-19.

A Atividade Comercial no Brasil em Setembro de 2021

A Figura 1 ilustra o comportamento do índice de volume de vendas do comércio varejista ampliado no Brasil, de janeiro de 2010 a setembro de 2021. Em consonância com os movimentos gerais da economia brasileira na última década, observa-se uma primeira trajetória de crescimento que se estende até o segundo semestre de 2014, seguida por uma queda brusca, até o segundo semestre de 2016, e uma posterior expansão vacilante que se mantém até o início do primeiro semestre de 2020.

Com o início de 2020 inicia-se o período caracterizado pelo impacto externo da pandemia na atividade econômica, sendo o primeiro reflexo desse choque a profunda retração que ocorreu em março de 2020, levando o índice de atividade aos patamares de janeiro de 2010. Após, e como consequência direta do programa de auxílio emergencial promovido pelo governo federal, ocorreu uma brusca elevação do volume de vendas, mantendo relativa estabilidade até novembro de 2020. Em seguida, com a redução dos programas de incentivo ao consumo, os resultados do primeiro semestre de 2021 se caracterizaram pela instabilidade e por uma leve tendência de retração, a qual se intensificou a partir de julho com as variações sucessivas registradas na série mês a mês.

Figura 1 – Volume de vendas no comércio varejista ampliado do Brasil (índice base fixa com ajuste sazonal, 2010=100, janeiro de 2010 a setembro de 2021)

F1

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

A Tabela 1 apresenta as variações no volume de vendas, a partir das quatro séries mantidas pela pesquisa. Antes de mais nada, é digno de destaque a retração agregada de -1,1% na série mensal com ajuste sazonal, resultado que reforça o dado negativo de agosto na mesma série. Com isso, o volume de vendas do comércio ampliado obteve resultados negativos em 5 dos 9 primeiros meses do ano. Em âmbito regional, ocorreram resultados negativos em 23 das 27 Unidades da Federação (UFs), com destaque para: Mato Grosso do Sul (-4,7%), Tocantins (-4%) e Maranhão (-3,6%). Somente 4 UFs apresentaram dados positivos sendo de maior destaque Pernambuco (2,9%) e Ceará (1,3%).

A comparação com o desempenho de setembro de 2020 também retornou variação negativa, com retração de -4,2%. Essa nova retração aprofunda a queda registrada em agosto, consolidando o cenário esperado já que a segunda metade de 2020 apresentou trajetória sustentada de expansões e, por isso, elevou consideravelmente as bases de comparação. Nos resultados das UFs também se percebeu esse debacle em relação a setembro do ano passado, com retrações registradas em 20 dos 27 estados pesquisados. Os maiores vetores dessas retrações localizaram-se no Maranhão (-11,5%), Amazonas (-10,9%) e Amapá (-9,4%). Despontaram positivamente apenas os estados de Pernambuco (13,9%), Goiás (6,2%) e Mato Grosso do Sul (4,2%).

Por fim, em relação às séries acumuladas é possível perceber uma patente queda de ritmo, o que também é causado, primariamente, pela elevação da base de comparação acima referida. Na série acumulada, foi obtida expansão de 8%, em nova etapa da redução de ritmo que se estabeleceu a partir de maio. Pela ótica do acumulado de doze meses foi registrada a expansão de 7%.

Tabela 1: Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado no Brasil (setembro de 2020 a setembro de 2021)

T1 

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Com isso, é perceptível que a trajetória geral da atividade comercial no Brasil é de retração. O ritmo instável que se perpetuou ao longo do ano e o quadro de quedas a partir de agosto expressam as dificuldades do setor frente a manutenção da crise econômica brasileira em sua atual forma embasada pela manutenção do desemprego elevado e pela crescente inflação, fatores que deprimem a demanda do consumidor e afetam diretamente o dinamismo da atividade comercial. A escalada dos preços, em especial, representa a principal dificuldade do setor, como aponta estudo recente da Confederação Nacional do Comércio (CNC, 2021).

Uma compreensão mais concreta sobre o desempenho da atividade comercial pode ser auferida através dos dados setoriais, como mostra a Tabela 2, que traz os dados consolidados entre outubro de 2020 e setembro de 2021. É visível que o resultado negativo é hegemônico no quadro geral, sendo somente os setores Artigos Farmacêuticos (0,1%) e Livros, Jornais, Revistas e Papelaria (0%) os quais não apresentaram resultados negativos, localizando-se em nível de estagnação. As quedas foram mais acentuadas nos setores de Equipamentos e Materiais para Escritório (3,6%), Móveis e Eletrodomésticos (3,5%) e Combustíveis e Lubrificantes (2,6%).

Vale destacar que no mês de agosto, dos 11 setores pesquisados somente 3 não apresentaram resultado negativo, e no mês de setembro somente 2 não apresentaram resultado negativo. Alguns setores apresentaram quedas no volume de vendas pelo quarto mês consecutivo, como é o caso dos Combustíveis e Lubrificantes, Equipamentos e Materiais para Escritório, Móveis e Eletrodomésticos e Materiais para Construção, configurando uma tendência negativa que deverá ser observada nos próximos meses.

Tabela 2: Variação mês/mês imediatamente anterior do volume de vendas no comércio varejista ampliado e suas subdivisões para o Brasil

T2

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

A Figura 2 ilustra os resultados setoriais a partir da série acumulada, a qual compara o acumulado dos nove primeiros meses de 2021 com o acumulado do mesmo período em 2020. Das 10 subdivisões do comércio varejista ampliado, 5 apresentam expansões consolidadas na série, o que é esperado, dado que os meses de 2020 trazem forte carrego estatístico em decorrência das quedas do primeiro semestre. As expansões de maior magnitude se localizam nos setores de outros artigos de uso pessoal e doméstico (18,5%), veículos, motocicletas, partes e peças (14,8%) e artigos farmacêuticos (12,5%). Já os setores de livros, jornais, revistas e papelaria (-23,1%) e equipamentos e materiais para escritório (-3,3%) consolidaram retrações preocupantes, principalmente quando se leva em conta que o período da base de comparação representa um dos piores acumulados de toda a série histórica.

Figura 2 – Variação acumulada em 12 meses no volume das atividades de venda no comércio varejista ampliado e suas subdivisões para o Brasil

F2

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

O Desempenho do Comércio Varejista de Santa Catarina em setembro de 2021

A trajetória do volume de vendas do comércio varejista ampliado de Santa Catarina é de clara expansão, como mostra a Figura 3. A partir de 2016, em especial, foi consolidada uma tendência expansiva que se mantém até os últimos dados registrados, sendo curtos os períodos de contratendências retrativas. Com a pandemia, contudo, o índice apresentou uma volatilidade de maior magnitude, refletindo o desarranjo econômico e o forte aumento de incertezas. Com isso, março e abril de 2020 foram meses de retrações agudas, a exemplo do que acontecera também nos demais setores da economia. Já o segundo semestre de 2020 foi caracterizado pela retomada do movimento expansivo, em razão principalmente dos programas de auxílio emergencial, os quais conseguiram evitar, ao menos em alguma medida, quedas na demanda do consumidor final. Porém, o enfraquecimento desses programas a partir da virada para o ano de 2021 trouxe novamente instabilidade para o índice, o que só foi revertido por um novo ciclo de altas após abril.

Figura 3 – Volume de vendas no comércio varejista ampliado de Santa Catarina (índice base fixa com ajuste sazonal, 2010=100, janeiro de 2010 a setembro de 2021)

F3

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

A Tabela 3 faz uma síntese dos resultados de setembro em Santa Catarina, a partir das quatro séries históricas da pesquisa. Se destaca a retração de 2,4% na passagem de agosto a setembro de 2021, potencializando a queda de 7,8% no mês anterior. Com isso, o comércio varejista ampliado de Santa Catarina apresentou 5 expansões e 4 retrações no ano, consolidando um saldo expansivo de 4,5% entre janeiro e setembro. Já em comparação com fevereiro de 2020, último mês do pré-pandemia, a expansão é de maior monta, alcançando variação de 8%, saldo que mostra que, a despeito dos períodos retrativos, o setor comercial catarinense conseguiu manter a tendência expansiva que foi cultivada nos anos anteriores ao período pandêmico.

Tabela 3 – Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado em Santa Catarina (setembro de 2020 a setembro de 2021)

 T3

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Já na série mensal em comparação com o mesmo mês do ano anterior, a variação foi tímida, na ordem de 0,3%. Esse resultado corrobora os dados de diminuição do ritmo expansivo que se repetiram após julho, cenário que já era esperado em decorrência da elevação da base de comparação no segundo semestre de 2020. Ainda assim, a variação catarinense ficou acima do resultado nacional. Para os próximos meses é esperado que se mantenha o baixo ritmo dessa série, pois, por um lado, a base de comparação se elevará até novembro e, por outro lado, ainda não há no horizonte perspectiva de resolução do problema inflacionário.

Por fim, as séries acumuladas também registraram expansões. No que concerne ao acumulado do ano, em comparação ao mesmo período de 2020, a expansão é de 12%. É a nona expansão do ano nessa série que apresentou ritmo sucessivamente crescente até julho. Já no período de doze meses, o acumulado é de 10,6%, também o nono resultado positivo do ano. Em nível de comparação, é digno de nota que essa expansão está acima da média nacional, se localizando como o décimo melhor resultado da série entre as UFs, como mostra a Figura 4. Esse quadro positivo confirma as expectativas para ambas as séries, já que parte do período que trazem no escopo de suas bases de comparação é atravessado pelos meses mais duros da pandemia, produzindo um carrego estatístico considerável.

Figura 4 – Variação acumulada em 12 meses do volume de vendas no comércio varejista ampliado para o Brasil e suas Unidades Federativas

F4

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Os resultados setoriais do comércio varejista ampliado de Santa Catarina podem ser observados na Tabela 4, pela ótica do desempenho mensal, em comparação com setembro de 2020. Dos 10 setores considerados, sete apresentaram resultados negativos, ilustrando o cenário hegemonicamente negativo que atravessa o comércio catarinense no mês de setembro. É destaque a queda acentuada no setor Móveis e Eletrodomésticos (-23,1%), variação que consolidou o quinto mês consecutivo de quedas no setor, aprofundando a retração registrada em agosto (-6,4%). Em contraste Livros, Jornais, Revistas e Papelaria foi o setor que mais cresceu na série, com expansão de 15%. Contudo, a expansão foi inferior às variações registradas em julho (40,9%) e agosto (36,7%), denotando certa perda de ritmo dessas expansões.

Desse modo, os resultados de setembro para a atividade comercial catarinense apresentam um quadro geral de retrações, como mostra a série mensal com ajuste sazonal. Após o período expansivo entre abril e julho, que produziu taxas vultosas de expansão em diversos setores, os dados de agosto e setembro repetiram retrações relevantes e que preocupam para os próximos meses. É de se esperar que ocorra a manutenção dessa instabilidade, dado que é parca a reação do nível de ocupação e é ainda vigente o problema inflacionário, fatores que afetam diretamente todos os setores do comércio varejista.

Tabela 4: Variação mensal em relação ao mesmo mês do ano anterior do volume de vendas no comércio varejista ampliado e suas subdivisões em Santa Catarina (outubro de 2020 a setembro de 2021)

T4

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC

Considerações Finais

Os dados de setembro do volume de vendas revelam um cenário negativo para a atividade comercial no Brasil e em Santa Catarina, como mostram as retrações mensais e a perda de ritmo nas séries acumuladas. Em nível nacional, o resultado de setembro consolidou o saldo de -0,3% nos nove primeiros meses do ano, caracterizando um cenário de estagnação com leve tendência retrativa. Já em Santa Catarina, o saldo anual consolidado é de expansão de 4,5%, o que mostra, ao menos comparativamente, que o desempenho catarinense tem sido superior ao agregado nacional. Ainda assim, as duas retrações seguidas a partir de agosto, que anulam boa parte das expansões dos meses anteriores, preocupam para os próximos meses.

Em relação aos setores de atividades, é ainda patente uma grande disparidade nos resultados, fato que é consequência das diferentes capacidades de resposta dos setores aos impactos da pandemia e da crise econômica. Nacionalmente, é preocupante o cenário dos setores de livros, jornais, revistas e papelarias, que soma grandes perdas nos dados mensais e também acumulados. Em Santa Catarina, por sua vez, chama atenção negativamente o desempenho mensal do setor de hipermercados e supermercados, o qual detém parte relevante no volume de vendas do comércio varejista ampliado do estado.

Por fim, a superação desse quadro majoritariamente negativo só poderá se dar a partir da resolução dos atuais problemas da economia brasileira. Destacam-se como prioridades o combate ao desemprego, o enfrentamento da redução na renda da população e o estabelecimento de políticas capazes de refrear o aumento de preços, com o objetivo fomentar a demanda do consumidor e, consequentemente, reaquecer a atividade comercial. Sem essas medidas é difícil esperar que ocorram recuperações nos setores mais deprimidos do comércio varejista, ou mesmo um crescimento equilibrado no agregado do volume de vendas do comércio.

Referências Bibliográficas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal do Comércio. (PMC). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, setembro de 2021.

CNC – Confederação Nacional do Comércio. Aumento da circulação de consumidores viabilizou melhor mês para o varejo em 21 anos. Disponível em: https://www.portaldocomercio.org.br/publicacoes/analise-cnc-da-pesquisa-mensal-do-comercio-julho-de-2021/375193. Setembro de 2021.


[1] Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. Email: matheusrosa.contato@outlook.com

[2] Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. Email: guilhermerazzini33@gmail.com