Comércio catarinense registra a quinta expansão do ano no mês de julho/21

14/10/2021 14:31

Por: Matheus Souza da Rosa[1] e Lauro Mattei[2]

A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE divulgada referente ao mês de julho/21 apresentou um quadro geral positivo para a atividade varejista no país e também para o estado de Santa Catarina. Os dados nacionais do volume de vendas no comércio varejista ampliado registraram a quarta expansão do ano na série mês a mês com ajuste sazonal, variando 1,1%. Em Santa Catarina a variação foi de 6,7% na passagem entre junho e julho, consolidando a quinta alta da série no ano.

Essas oscilações se localizam num contexto anual no qual o índice do volume de vendas supera os níveis pré-pandemia (alta de 2,7% em relação a fevereiro de 2020, na série nacional), porém é ainda inferior aos melhores meses do ano passado, apresentando retração de -0,7% em relação a novembro de 2020 nos dados nacionais (novembro foi o mês de melhor desempenho em 2020). Assim, se caracteriza um cenário de expansões ainda débeis e vacilantes em relação à trajetória de recuperação esboçada no segundo semestre do ano passado, características que são marcadas pelo cenário econômico de desemprego no país e pelas quedas nos níveis reais de renda da população.

Nesse texto realiza-se uma breve análise dos dados expostos pela pesquisa, destacando as trajetórias nacional e estadual e suas diferentes dinâmicas em nível setorial, a partir da compreensão dos impasses que a conjuntura econômica impõe para a atividade comercial em seu conjunto.

A atividade comercial do Brasil em julho de 2021

A trajetória recente da atividade comercial no Brasil é caracterizada pela alternância entre movimentos expansivos e de retração, processo que segue o comportamento da economia brasileira, como mostra a Figura 1. Nos primeiros anos após 2010, em consequência da elevação do nível geral de renda e do baixo desemprego que encerraram a primeira década do século, o índice de volume de vendas do comércio varejista ampliado apresentou trajetória de expansão sustentada até janeiro de 2014. Após, seguiram-se dois anos de quedas, reflexo principalmente do endividamento e da queda no consumo das famílias, fazendo o índice retroceder ao patamar de 2010, o que acabou anulando as expansões acumuladas nos quatro anos anteriores. Contudo, desde o segundo semestre de 2016 é possível visualizar mais uma trajetória de expansão, a qual é interrompida apenas pelos primeiros efeitos da pandemia da Covid-19. Já em 2021 o saldo do índice é positivo, variando 4,3% ao longo ano.

Figura 1 – Volume de vendas no comércio varejista ampliado do Brasil (índice base fixa com ajuste sazonal, 2010=100, janeiro de 2010 a julho de 2021)

F1

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Colocando em perspectiva apenas o período da pandemia, é fato que ocorreu uma recuperação das quedas bruscas registradas nos meses de março e abril de 2020, ao menos no que concerne ao índice do volume de vendas. Isso fica nítido quando se observa o reestabelecimento da tendência de expansão que vigorava no período anterior ao início da pandemia. Porém, é válido destacar que boa parte dessa recuperação se dá a partir dos estímulos de demanda realizados no segundo semestre de 2020, principalmente através do programa de auxílio emergencial nacional. Com o enfraquecimento do programa a partir de dezembro de 2020, assim interrompendo em boa parte a suplementação de renda da população economicamente vulnerável, é visível a perda de ritmo, de modo que a despeito do saldo positivo no ano, registra-se retração em relação a novembro de 2020, mês que apresentou o maior índice de vendas do período de pandemia.

A Tabela 1 apresenta as variações do volume de vendas do comércio varejista ampliado em vários períodos. Na série mensal com ajuste sazonal foi registrada a expansão de 1,1% na passagem de junho para julho, revertendo em parte a queda negativa de 2,1% em junho e consolidando a quarta expansão do ano. O quadro regional dessa mesma série apresentou expansão em 15 das 27 Unidades de Federação pesquisadas. Os melhores desempenhos se concentraram em Santa Catarina (6,7%), Paraná (6,2%) e Mato Grosso do Sul (5,3%). Já no Maranhão (-2,6%), Rio Grande do Norte (-2,2%) e Sergipe (-2,2%) foram registradas as piores retrações.

Tabela 1 – Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado no Brasil (julho de 2020 a julho de 2021)

T1

Fonte: PMC-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

A comparação com julho de 2020 também resultou em expansão de 7,1%, a quinta alta seguida na série. Todavia, é nítido que desde abril o ritmo das altas diminuiu, o que era esperado devido às bases de comparação sucessivamente maiores existentes a partir de maio de 2020. Nas UFs, foram registradas expansões em 21 dos 27 dados coletados, destacando-se os estados do Piauí (27,4%), Mato Grosso do Sul (21,2%) e Rondônia (21,1%). Surpreendeu negativamente a retração do estado do Amazonas (-10,8%), além de quedas menores na Paraíba (-5,9%) e no Maranhão (-5,1%).

Cenário similar é descrito pela série do acumulado do ano em comparação com acumulado do mesmo período de 2020. Assim como na série anterior, foram registradas retrações apenas nos meses de janeiro e fevereiro, seguidas por expansões a partir de março. A diferença, contudo, se encontra na manutenção do ritmo das altas que pode ser visto na série acumulada. A variação de julho mostra que o período dos sete primeiros meses de 2021 foi de expansão de 11,4% em comparação com os mesmos meses de 2020. Os resultados regionais também são positivos, com expansões em todas as Ufs. Piauí (28,3%), Amapá (26,6%) e Rondônia (25,9%) apresentaram as maiores expansões.

A série do acumulado em doze meses também apresenta um cenário consolidado com a expansão de 8,4% em julho, a quarta seguida na série. Esse é um resultado positivo, porém bastante esperado, já que a base de comparação da série inclui os meses de março e abril de 2020, período com os piores desempenhos do setor no referido ano. Os dados regionais revelam expansões em todas as Ufs, destacando-se positivamente o desempenho dos estados do Piauí (21,7%), Rondônia (21,7%) e Amapá (21,4%).

A Tabela 2 amplia o diagnóstico do desempenho mensal do comércio ao ilustrar os resultados setoriais. Inicialmente, observa-se que grande parte do resultado positivo do mês é consequência direta da grande expansão das vendas das atividades de outros artigos de uso pessoal e doméstico, setor que variou 19,1% na passagem entre junho e julho. Também registrou expansão, porém com magnitude bem inferior, a atividade de tecidos, vestuário e calçados, com expansão de 2,8%. Já as demais variações positivas consolidaram resultados muito próximos da estagnação. Em sentido oposto, destacaram-se negativamente a atividade de livros, jornais, revistas e papelaria, com retração de 5,2%, a atividade de materiais de construção, cujo volume de vendas regrediu 2,3% em relação ao mês anterior, e a atividade de combustíveis e lubrificantes, com retração de 0,3%. Em grande medida, a queda dessa atividade está atrelada as grandes oscilações dos preços aos consumidores da grande maioria de produtos que compõem tal setor.

Tabela 2 – Variação mês/mês imediatamente anterior do volume de vendas no comércio varejista ampliado e suas subdivisões para o Brasil

T2

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

A Figura 2 apresenta os resultados setoriais pela ótica do acumulado no ano, que compara os resultados dos sete primeiros meses de 2021 com o mesmo período de 2020. Das 10 subdivisões do comércio varejista ampliado, 5 delas apresentaram expansões. Destacam-se as atividades de tecidos, vestuário e calçados (42%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (36,8%), e veículos, motocicletas, partes e peças (18%). Negativamente despontam as atividades de livros, jornais, revistas e papelaria (-23,2%), móveis e eletrodomésticos (-12%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-5,6%).

Importante frisar que os desempenhos negativos nessa série são bastante preocupantes, pois apontam setores que retrocederam seu volume de vendas mesmo em comparação ao período dos sete primeiros meses de 2020, os quais foram marcados pelos mais graves impactos da pandemia na atividade econômica. A tendência é que esses dados piorem nos próximos meses, salvo caso de reações na série mensal em cada um desses setores, já que as bases de comparação da série acumulada se elevarão continuamente até dezembro.

Figura 2 – Variação acumulada no ano no volume das atividades de venda no comércio varejista ampliado e suas subdivisões para o Brasil

F2

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Ainda sobre o desempenho setorial, vale destacar a composição absoluta da taxa de variação que a pesquisa apresenta na série mensal em comparação com julho de 2020. A Tabela 3 mostra esse indicador, ilustrando que a maior participação na expansão de 7,1% é por conta de veículos, motocicletas, partes e peças, com 3,8 p.p. em relação ao agregado. Outros artigos de uso pessoal e doméstico também possui relevância, representando 3,1 p.p. da variação. O desempenho desses setores, por conseguinte, será fundamental para a consolidação de bons resultados nos próximos meses.

Tabela 3 –  Composição absoluta da taxa de variação do comércio varejista ampliado e suas subdivisões, julho de 2021 frente julho de 2020

T3

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

A atividade comercial de Santa Catarina no mês de julho de 2021

A trajetória do índice de volume de vendas em Santa Catarina possui uma clara tendência expansiva, como mostra a Figura 3. A partir de 2010, contra tendências vigoraram apenas durante o segundo semestre de 2014 e o início de 2016 (período no qual o índice nacional também apresentou forte retração). Outro movimento de quedas se efetivou durante os meses de março e abril de 2020, os piores meses para a atividade econômica em geral em decorrência da pandemia da Covid-19. A partir do segundo semestre de 2020 forem sendo consolidadas expansões em diversos setores, sobretudo em função do programa de auxílio financeiro especial promovidos pelo governo federal para fazer frente aos impactos negativos da pandemia. Da mesma forma que no contexto nacional, também se observa um breve período de quedas e estagnações entre os meses de dezembro de 2020 e março de 2021, quando os recursos do programa de auxílio emergencial deixaram de ser transferidos aos beneficiários. Já a partir de abril/21, o volume de vendas entra em um novo ciclo, com expansões mensais sucessivas, culminando com o maior patamar da série histórica no mês de julho/21.

Figura 3 – Volume de vendas no comércio varejista ampliado de Santa Catarina (índice base fixa com ajuste sazonal, 2010=100, janeiro de 2010 a julho de 2021)

F3

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

O desempenho do comércio no mês de julho pode ser visualizado a partir da Tabela 4, que apresenta os dados na série mensal com ajuste sazonal com três períodos comparativos: mês em relação ao mesmo mês do ano anterior; no acumulado do ano e no acumulado de doze meses. Na passagem de junho para julho foi registrada uma expansão de 6,7%, a quinta do ano, consolidando a leve expansão do mês anterior. Essa é a maior alta mensal do índice desde janeiro de 2018[3].

Na série mensal em comparação com o mesmo mês do ano anterior a variação é de 19%, resultado que além de positivo caracteriza maior ritmo de expansão em comparação com os dados dos meses anteriores. Esta foi a sexta variação positiva do ano, sendo o único resultado negativo registrado em fevereiro. Assim como nos dados nacionais, esse é um desempenho que já era esperado, uma vez que a comparação com os meses de 2020 parte de bases baixíssimas. Assim, espera-se que no restante do segundo semestre deverão se apresentar expansões bem mais modestas, já que as bases de comparação deverão se elevar até dezembro/21.

Tabela 4 –  Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado em Santa Catarina (julho de 2020 a julho de 2021)

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Fonte: PMC-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

Em ritmo semelhante, a série do acumulado do ano apresentou expansão de 14,9%. Nesse indicador todos os meses de 2021 retornaram resultados positivos, confirmando o cenário esperado de maior nível de atividade comercial no ano vigente comparativamente aos resultados de 2020. Da mesma forma, a série de doze meses apresentou expansão de 11,7%, resultado ligeiramente superior à média nacional e que se situa como 12ª melhor expansão entre as UFs, como mostra a Figura 4.

Figura 4 – Variação acumulada em 12 meses do volume de vendas no comércio varejista ampliado para o Brasil e suas Unidades Federativas

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Fonte: PMC-IBGE; Elaboração: NECAT-UFSC.

O desempenho das subdivisões do comércio varejista ampliado pode ser observado na Tabela 5, pela ótica do desempenho mensal em comparação com julho de 2020. Dos 10 setores considerados, oito deles apresentaram resultados positivos, mostrando o cenário majoritariamente favorável da atividade comercial no estado. Assim como nos dados nacionais, o destaque mensal é do setor de outros artigos de uso pessoal e doméstico, com expansão de 141,4%.

Tabela 5 – Variação mensal em relação ao mesmo mês do ano anterior do volume de vendas no comércio varejista ampliado e suas subdivisões em Santa Catarina (agosto de 2020 a julho de 2021)

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Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Em comparação regional, o resultado catarinense é o segundo de maior expansão nesse setor, atrás apenas do desempenho paranaense, com expansão de 151,8%. De modo que os desempenhos dos estados do Paraná e Santa Catarina representam as principais parcelas da expansão do setor registrada no dado nacional de julho. Com desempenho negativo, aparecem as retrações de móveis e eletrodomésticos (-7,5%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumos (-2,2%). Vale ressaltar que o setor de hipermercados e supermercados apresenta retrações sucessivas desde fevereiro de 2021, acumulando perdas ao longo de todo ano. Em parte, essas quedas são potencializadas pela capacidade de manutenção do volume de vendas durante os piores meses da pandemia em 2020[4], o que acabou por elevar as bases de comparação.

Um complemento desse cenário pode ser observado através do acumulado de doze meses, ilustrado pela Figura 5. Dos 10 setores, cinco deles apresentaram expansões, denotando um cenário de disparidade setorial nesse período. Tecidos, vestuário e calçados registrou a maior variação, com expansão de 42%. Outros artigos de uso pessoal e doméstico e veículos, motocicletas, partes e peças também foram destaques positivos, com expansões de 36,8% e 18%, respectivamente. Continua com retração considerável, contudo, o volume de vendas de livros, jornais, revistas e papelaria, setor duramente afetado pela pandemia e pela forte migração da demanda signatária do setor para as lojas online, com variação de -23,2%. Móveis e eletrodomésticos foi outro setor que também regrediu, com variação de -12%.

Figura 5 – Variação acumulada no ano no volume das atividades de venda no comércio varejista ampliado e suas subdivisões em Santa Catarina

F5

Fonte: PMC-IBGE (2021); Elaboração NECAT-UFSC.

Considerações Finais

Os dados de julho do volume de vendas confirmam o cenário positivo para a atividade comercial no Brasil e em Santa Catarina, como mostram as expansões mensais e os saldos positivos nas séries acumuladas. O saldo do ano, como consequência, também é positivo, sendo registradas expansões em relação a janeiro em nível nacional e estadual.

De um modo geral, se observam dois comportamentos setoriais bem distintos. Por um lado, a atividade outros artigos de uso pessoal e doméstico foi responsável, tanto no Brasil como em SC, pelos resultados positivos e, por outro, a atividade livros, jornais, revistas e papelarias continua apresentando resultados negativos, mesmo com maior flexibilização das medidas preventivas necessárias ao controle da pandemia.

De alguma maneira, abordando esses resultados comparativamente ao desempenho registrado na segundo metade de 2020, é possível afirmar que ainda há espaços para melhoras, já que há retração em comparação com novembro de 2020, mês que registrou o melhor volume de vendas após as quedas bruscas do início da pandemia. Atingir esses níveis, porém, só deverá ser possível através da elaboração de políticas públicas que ataquem o problema do desemprego e da queda dos níveis de renda. Além disso, também devem ocorrer problemas em decorrência da conjuntura de inflação, que poderá atuar como limitador do ritmo de expansão de vendas (CNC, 2021).

Além disso, as disparidades setoriais que são verificadas, principalmente em Santa Catarina, precisam ser enfrentadas para que se viabilize uma retomada uniforme e sustentável. Preocupam especialmente as vendas de livros, jornais, revistas e papelaria, setor que também enfrenta forte retração nacional, e móveis e eletrodomésticos, atividade que sustenta importante indústria para o estado de Santa Catarina.

Referências Bibliográficas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal do Comércio. (PMC). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, julho de 2021.

CNC – Confederação Nacional do Comércio. Aumento da circulação de consumidores viabilizou melhor mês para o varejo em 21 anos. Disponível em: https://www.portaldocomercio.org.br/publicacoes/analise-cnc-da-pesquisa-mensal-do-comercio-julho-de-2021/375193. Setembro de 2021.


[1] Graduando em Ciências Econômicas na Universidade Federal de Santa Catarina e bolsista do NECAT-UFSC, e-mail: matheusrosa.contato@outlook.com.

[2] Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador Geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br

[3] Excetuando-se a alta de 20,1% de maio de 2020, cujo resultado expressivo é fora da curva em decorrência das quedas muito bruscas nos dois meses anteriores, em decorrência da pandemia.

[4] O setor consegui razoável resiliência durante os meses da pandemia em decorrência do crescimento dos serviços de delivery, dos auxílios financeiros emergenciais,e da dinâmica de demanda contínua que caracteriza o setor.