Comércio varejista catarinense registra nova expansão do volume de vendas

29/07/2022 14:03

Guilherme Ronchi Razzini*

A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC-IBGE), divulgada em julho e com dados referentes ao mês de maio de 2022, apresentou expansão tímida do volume de vendas no cenário nacional (0,2%). No cenário estadual o resultado foi ligeiramente superior (1,3%). Na comparação com o cenário pré-pandemia, ou seja, no comparativo entre fevereiro de 2020 e abril de 2022, o setor apresenta expansões em nível nacional e estadual, com variações de 1,18% e 13,4%, respectivamente.

O fraco ritmo de curto prazo se explica pelos entraves macroeconômicos, principalmente pela alta inflação que tem corroído o poder de compra, sobretudo, de famílias de baixa renda, e o aumento das taxas de juros que tem atingido o mercado de bens duráveis, os quais possuem maior dependência do crédito. Com isso, a produção e comercialização de bens ficaram estagnadas no mês de maio.

Nos resultados regionais, pela perspectiva da série mensal com ajuste sazonal, houve variações positivas em 15 das 27 Unidades Federativas (UFs), com destaque para Tocantins (3,6%), Rio Grande do Sul (3,5%) e Sergipe (2,5%). Em contraste, pressionaram negativamente o resultado agregado 12 das 27 UFs, com destaque para Ceará (-5,3%), Amazonas (-3,1%) e Rio Grande do Norte (-3%).

Deste modo, o presente artigo tem como objetivo ilustrar o desempenho do comércio varejista ampliado no Brasil e em Santa Catarina, a partir dos dados disponibilizados pela PMC-IBGE, no contexto do atual estágio da pandemia e da conjuntura macroeconômica.

Atividade comercial do Brasil em maio de 2022

A Figura 1 apresenta a trajetória do volume de vendas do comércio varejista ampliado no Brasil, desde 2014 até o período atual. Nesta figura é possível perceber as variações do setor em resposta à atividade econômica do país e os distintos períodos da pandemia da Covid-19.

O setor apresenta duas trajetórias sólidas que estão ilustradas na Figura: primeiro, uma trajetória de retração entre 2014 e meados de 2016, período em que o setor sofreu retração de aproximadamente -18% no volume de vendas; na sequência, a partir do segundo semestre de 2016, há uma tendência de expansão até fevereiro de 2020, quando há a interrupção em virtude da pandemia do Covid-19, nesse período o setor acumulou expansão aproximada de 21%.

Figura 1 – Variação do volume de vendas no comércio varejista ampliado no Brasil entre janeiro de 2014 e maio de 2022 (2014=100)

FIGURA 1

Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

Com os resultados dos meses de 2022 é possível perceber uma lenta expansão, proveniente das dificuldades macroeconômicas do período, num movimento que ilustra a dificuldade em criar uma sólida tendência de expansão e de recuperar a máxima histórica, ou até mesmo de se manter em patamares acima do pré-pandemia.

A Tabela 1 apresenta as quatro séries da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) ao longo dos últimos doze meses. No indicador mês a mês com ajuste sazonal, o que melhor caracteriza o ritmo da atividade no curto prazo, foi registrada expansão tímida de 0,2% no volume de vendas. Com isso, o acumulado do ano recuou de 1,5% para 1% no mês de maio, indicando que o ritmo de expansão está levemente acima do ano passado.

Tabela 1: Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado no Brasil (maio de 2021 a abril de 2021)

TABELA 1

Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, houve retração de 0,7% no volume de vendas. Essa foi a segunda retração registrada nesse indicador no ano, ilustrando a incapacidade de superar os resultados estabelecidos no ano anterior. No acumulado em doze meses, a expansão recuou de 2,2% para 0,3%, o menor patamar dos últimos doze meses.

Tais resultados indicam que durante o mês de maio o setor foi incapaz de crescer em níveis suficientes para superar o volume de vendas de maio de 2021. Fato que se explica, em larga medida, pelo avanço inflacionário, pela manutenção do desemprego elevado e pelo parco crescimento econômico, eventos que deprimem a demanda dos consumidores e reduzem o volume de vendas do comércio varejista.

A Tabela 2 apresenta os resultados setoriais, na comparação mês a mês com ajuste sazonal, os resultados estão ilustrados na tabela abaixo.

Tabela 2: Variação mês a mês com ajuste sazonal do volume de vendas no comércio varejista ampliado e suas subdivisões no Brasil (janeiro de 2022 a maio de 2022).

TABELA 2

Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

Foram registradas expansões em 6 dos 10 setores analisados pela PMC, sendo as maiores expansões nos setores de livros, jornais, revistas e papelaria (5,5%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (3,6%) e tecidos, vestuário e calçados (3,5%). Por outro lado, houve 4 retrações nos setores analisados, sendo as mais intensas nos setores de móveis e eletrodomésticos (-3%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-2,2%).

As quedas no volume de vendas estiveram concentradas em setores que representam os bens duráveis e semiduráveis. A comercialização de tais produtos tem sido dificultada, especialmente, pelo restrito acesso ao crédito decorrente dos consecutivos aumentos de taxas de juros na economia brasileira. Outros setores apresentaram expansão tímida capaz somente de recompor a retração registrada no mês anterior, como o setor de hipermercados e supermercados que oscilou de -0,9% para 1%.

Atividade comercial de Santa Catarina em maio de 2022

No estado de Santa Catarina, os resultados da PMC apresentaram uma expansão superior ao registrado no âmbito nacional. Na passagem do mês de abril para maio, houve expansão de 1,3% no volume de vendas com ajuste sazonal.

A Figura 2 apresenta a trajetória do volume de vendas do comércio varejista ampliado em Santa Catarina, é possível perceber que o volume de vendas no mês de maio está em patamar superior ao período pré-pandemia, porém ainda abaixo dos resultados históricos registrados no segundo trimestre de 2021. Em contraste do cenário nacional, o estado catarinense obteve êxito em se recuperar rapidamente das perdas causadas no início do período pandêmico.Além disso, obteve seus melhores resultados históricos no período pós-pandemia.

Figura 2 – Variação do volume de vendas no comércio varejista ampliado em Santa Catarina entre janeiro de 2014 e maio de 2022 (2014=100)

FIGURA 2

Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

Os resultados da PMC estão expostos na Tabela 3, que apresenta as quatro principais series temporais da pesquisa, onde estão presentes os dados na série mês a mês com ajuste sazonal, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, no acumulado do ano e no acumulado de doze meses.

Tabela 3: Variação do volume de vendas do comércio varejista ampliado em Santa Catarina (maio de 2021 a maio de 2022)

TABELA 3

Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

Em relação ao mesmo mês do ano anterior foi registrado expansão de 4,8%, resultado esperado em virtude das baixas bases de comparação com abril de 2021, momento em que o setor varejista apenas iniciava a recuperação no volume de vendas.

No acumulado do ano houve retração em relação ao mês anterior, o saldo caiu de 6,5% para 6,2%, terceiro resultado consecutivo de queda que ilustra o fraco desempenho do setor e os efeitos macroeconômicos no varejo. No acumulado em doze meses também houve queda de 6,5% para 5,6% em maio, este é o menor valor do ano, e reforça a tese de que o setor vem desacelerando frente ao ano passado.

A Tabela 4 apresenta os saldos acumulados no ano (janeiro de 2022 a maio de 2022) em Santa Catarina para os dez grupos de atividades que compõem o comércio varejista ampliado.  Dos dez setores analisados pela pesquisa, houve expansão no acumulado do ano em 5 setores, sendo destaque os setores de artigos farmacêuticos e médicos que apresentou variação de 8,9% para 10,2% no acumulado do ano e o setor de combustível e lubrificantes que variou de 4,6% para 5%.

Por outro lado, houve retrações no saldo acumulado em outros 5 setores, com destaque para o setor de hipermercados e supermercados que apresentou queda de 1,2% para 0,4%, e o setor de outros artigos de uso pessoal e doméstico que variou de 4,5% para 1,2%. Tais setores representam parcela significativa do volume de vendas do setor varejista e com o resultado de maio de 2022 apresentam saldo perto da estagnação para o ano de 2022.

Tabela 4: Variação do volume de vendas por grupo de atividades do comércio varejista ampliado em Santa Catarina, acumulado no ano (janeiro de 2022 a maio de 2022)

TABELA 4

Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

A Figura 3 mostra os resultados na comparação mês a mês com ajuste sazonal para as Unidades Federativas (UFs), com a expansão de 1,3% no mês de maio, o estado catarinense obteve o decimo melhor resultado entre as UFs pesquisadas. Deste modo, Santa Catarina obteve resultado acima da média nacional, porém abaixo dos outros estado do Sul, como Rio Grande do Sul (3,5%) e Paraná (2,1%).

Figura 3: Variação mês a mês com ajuste sazonal no Brasil e nas suas respectivas UFs em maio de 2022.

FIGURA 3

Fonte: PMC-IBGE (2022); Elaboração NECAT-UFSC.

Diante do exposto, é possível perceber que apesar dos resultados que apontam expansão no estado catarinense, o setor ainda está aquém das suas capacidades produtivas, sendo a estagnação e o baixo dinamismo frutos da corrosão do poder de compra da população e do crescente aumento das taxas de juros no mercado. Tais fatores contribuem para um cenário de baixo crescimento.

Considerações finais

Os resultados da Pesquisa Mensal do Comércio de maio de 2022 não surpreendem. Com a mesma tendência registrada nas pesquisas anteriores, o setor tem apresentado taxas de crescimento baixas e pouco dinamismo, com dificuldade de superar os impactos causados pela crise do Covid-19.

A Confederação Nacional do Comércio (CNC) tem otimismo ao crer que a desaceleração dos preços no atacado e a PEC das Bondades deve provocar crescimento sólido no setor neste ano. Segundo pesquisa da instituição o varejo deve abocanhar cerca de R$ 16,3 bilhões dos recursos liberados pela PEC, ou 40% do valor previsto na medida. O setor varejista tem respirado com as recentes injeções realizadas pelo governo, como a liberação de recursos do FGTS, antecipação do 13º salario de aposentados e pensionistas, e com as medidas já listadas, porém a inflação, juros altos e a incerteza são capazes de corroer grande parte destes estímulos.

Diante do exposto, o cenário futuro para o setor é de instabilidade e a capacidade do setor de absorver os estímulos é incerta, os setores de bens duráveis e semiduráveis devem sofrer mais com a alta dos juros e a corrosão do poder de compra, tais setores têm impacto significativo no volume de vendas no estado catarinense, o que deve contribuir para o baixo crescimento no estado.

Referências

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Mensal do Comércio. (PMC). Rio de Janeiro (RJ): IBGE, maio de 2022.

IEDI – INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL. Análise IEDI: Comércio Varejista Desempenho anêmico. [S. l.], 13 jul. 2022. Disponível em: https://www.iedi.org.br/artigos/top/analise/analise_iedi_20220713_varejo.html. Acesso em: 20 jul. 2022.

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO. COM VENDAS DESACELERANDO, APROVAÇÃO DE PEC PODE INJETAR R$ 16,3 BILHÕES NO VAREJO. Análise CNC da Pesquisa Mensal do Comércio ,13 jul. 2022. Disponível em: https://portal-bucket.azureedge.net/wp-content/2022/07/f08967ca58f260e24d2f0fac88109637.pdf. Acesso em: 20 jul. 2022.


* Graduando em Ciências Econômicas na UFSC e bolsista do NECAT. E-mail: guilhermerazzini33@gmail.com