Dois anos da Covid-19 em Santa Catarina: evolução dos casos e óbitos até o mês de fevereiro de 2022

12/03/2022 17:22

Por: Lauro Mattei[1]

Esse texto faz uma breve análise da evolução agregada dos casos e óbitos por Covid-19 em Santa Catarina desde o início da pandemia. A tabela 1 apresenta a evolução dos casos oficiais a cada mês entre março de 2020 e fevereiro de 2022. O primeiro surto contaminatório ocorreu entre os meses de junho e agosto/20. Em termos da velocidade de circulação da doença no estado, nota-se que se passaram 113 dias para se atingir a marca de 30 mil casos (início do mês de julho), patamar que foi reduzido para 20 dias em meados de julho e para 11 dias no auge do primeiro surto epidêmico ocorrido entre o final de julho e primeira quinzena de agosto. Além disso, a média móvel semanal de casos atingiu seu pico máximo ao final de julho quando se situou no patamar de 2.500 casos/dia. Com isso, Santa Catarina já assumia naquela época a 9ª posição no ranking nacional das unidades da federação com maior número oficial de casos da doença. Após uma ligeira arrefecida nos meses de setembro e outubro de 2020, comprovada pela queda da taxa de crescimento dos novos casos nesses dois meses, os registros voltaram a crescer fortemente nos meses de novembro e dezembro de 2020, sendo que nesse último mês foi anotado o maior patamar de casos oficiais ao longo de todo ano de 2020. Quando somados os casos desses dois últimos meses, nota-se que eles representavam 48% de todos os registrados efetuados no ano de 2020, ou seja, das 492.583 pessoas contaminadas.

O segundo surto contaminatório – que iniciou ainda no mês de novembro de 2020 – teve forte continuidade nos seis primeiros meses de 2021, sendo que somente entre janeiro e junho foram notificados 559.872 casos, o que corresponde a 75% do total de casos registrados no ano de 2021. Além disso, as notificações registradas nos seis meses de 2021 correspondiam a 53% de todos os casos oficiais relativos ao período que vai de março/20 a junho/21. Em termos da velocidade de circulação da doença no estado, nota-se que no mês de março/21 foram registrados 40 mil casos a cada 8 dias, indicando o auge dessa onda de contaminação no referido mês.

Esse avanço da doença, especialmente durante o segundo surto epidêmico no ano de 2021, manteve uma correspondência direta com o crescimento expressivo do número de óbitos, que sofreu uma verdadeira explosão no ano de 2021, particularmente entre os meses de fevereiro e junho, conforme veremos posteriormente.

No segundo semestre de 2021 (julho a dezembro) notou-se uma forte desaceleração do contágio, implicando em uma redução expressiva do número de novos casos a cada mês, chegando-se ao final do ano com uma média de aproximadamente 350 casos diários, patamar extremamente baixo quando comparado com a média diária do mês de março/21, que atingiu aproximadamente 6.000 casos/dia.

Tabela 1: Evolução mês a mês dos casos oficiais da Covid-19 em SC entre março/2020 e fevereiro/2022

T1

Fonte: Boletins Epidemiológicos. SES-SC. Elaboração: NECAT-UFSC

A chegada do ano novo (2022) foi marcada pela presença de uma nova variante (Ômicron) em todo o território nacional. Uma das características da Ômicron foi sua alta taxa de transmissibilidade também revelada no estado de Santa Catarina. Com isso, observa-se que em apenas dois meses do corrente ano 371.538 pessoas foram contaminadas pela doença. Isso significa que os dois primeiros meses de 2022 representaram 23% do total de contaminados ao longo de toda a pandemia. Além disso, se observa que os dados desse pequeno período são 1,94 vezes o total de casos registrados nos últimos seis meses de 2021. Até fevereiro/22 apenas os meses de novembro e dezembro/20 e março/21 tinham superado a marca de 100 mil casos mensais.

Em termos da velocidade de circulação da doença no estado, nota-se que somente no mês de janeiro/22 foram registrados quase 200 mil novos casos, implicando em uma média diária de aproximadamente 11 mil casos/Dia na última semana do referido mês, período que estabelecer um novo marco diário no processo de contaminação da população catarinense.

Essas informações relativas ao ano de 2022 confirmaram exatamente o que se previa desde o surgimento da nova variante na África do Sul, ou seja, que ela era dotada de grande transmissibilidade, porém de menor letalidade. O segundo aspecto da nova variante (letalidade) será retomado na sequência.

A Tabela 2 apresenta a evolução agregada a cada mês dos óbitos que ocorreram em Santa Catarina desde o início da pandemia. Inicialmente é importante registrar que as taxas de crescimento nos meses iniciais apresentam um percentual bastante elevado em função de que o número absoluto de ocorrências era extremamente baixo até o mês de julho de 2020. Com o surgimento do primeiro surto expressivo da doença nos meses seguintes, esse panorama se alterou, fazendo com que essas taxas refletissem mais adequadamente a realidade. Desta forma, nota-se que o aumento mais expressivo do número de óbitos só vai acontecer a partir do mês de julho de 2020, com forte expansão no mês seguinte. Em termos percentuais, essas ocorrências nesses dois meses (julho e agosto) representam 36% de todos os óbitos que ocorreram no ano de 2020.

Além disso, destaca-se que no mês de dezembro de 2020 houve um aumento de 40% do número de óbitos em relação ao mês anterior. Com isso, somente esse mês respondeu 28% de todos os óbitos registrados em 2020. Se a esse percentual for agregada a participação das mortes que ocorreram no mês de agosto/20, nota-se que apenas em dois meses (agosto e dezembro) foram registradas 50% das mortes relativas ao ano de 2020.

Todavia, quando se considera os óbitos que ocorreram nos dez primeiros meses de pandemia (março a dezembro de 2020) eles representam apenas 25% do total de mortes registradas até o último mês considerado (fevereiro/22).

A partir do início do ano de 2021 ocorreu um aumento expressivo dessas ocorrências fatais em relação ao total registrado nos meses anteriores. Assim, nota-se que os óbitos registrados no primeiro semestre de 2021 (janeiro a junho) atingiram a marca de 11.608 pessoas que perderam a vida para a Covid-19. Com isso, o primeiro semestre de 2021 respondeu por 78% das mortes registradas no ano de 2021 e por 54% de todos os óbitos oficiais decorrentes da pandemia. Ou seja, o primeiro semestre de 2021 é o período de maior incidência fatal da doença no estado.

Tabela 2: Evolução mês a mês dos óbitos por Covid-19 em SC

T2

Fonte: Boletins Epidemiológicos SES-SC. Elaboração: NECAT-UFSC

Já no segundo semestre/21 ocorreu uma queda expressiva do número mensal de óbitos, destacando-se o mês de dezembro/21 cujo número de mortes somente superou os três meses iniciais da pandemia (março a maio/20). Com isso, os 3.325 óbitos registrados no referido semestre representaram apenas 22% de todas as mortes registradas em 2021 e 15% de todos os óbitos ocorridos ao longo da pandemia.

Essa escalada de óbitos registrada no ano de 2021 fez com que o indicador atingisse a marca de 14.933 pessoas perdessem a via para a Covid-19 apenas em um único ano. Desta forma, verifica-se que 70% de todas as mortes pela doença foram registradas no ano de 2021.

Por fim, menciona-se que as mortes registradas nos dois primeiros meses de 2022 (aproximadamente 1.182) representam 5,5% do total de óbitos que ocorreu ao longo de toda a pandemia. Todavia, esses óbitos indicaram uma inversão de tendência que estava em curso desde o mês de outubro/21.

Comentários Finais

As informações consideradas neste artigo revelam que, tanto nos casos quanto nos óbitos, houve alternâncias expressivas de cada indicador em um determinado período específico. E esse comportamento está em conexão com os surtos contaminatórios mencionados na parte inicial do estudo.

É importante registrar que alguns fatores contribuíram para as alternâncias observadas no comportamento dos dois indicadores analisados. Por um lado, quando houve uma flexibilização geral das medidas preventivas que estavam em curso na fase inicial da pandemia (2020), tanto os casos como os óbitos apresentaram aumentos consistentes por alguns meses. Por outro, a partir da ampliação da vacinação da população (2021), os benefícios dessa imunização das pessoas apareceram na trajetória inversa dos dois indicadores considerados, especialmente no segundo semestre de 2021.

Por fim, a afirmação de que a nova variante (Ômicron) seria altamente transmissível, porém menos letal, pode ser revista à luz das informações relativas aos óbitos que ocorreram nos meses de janeiro e fevereiro/22, período de maior incidência dessa nova variante. Os dados de mortes desses dois meses (1.182 mortes) revelam que essa variante também é bastante letal, particularmente quando se detecta que a maioria desses óbitos decorrentes da Ômicron ocorreu com pessoas acima de 50 anos que não tomaram a dose de reforço e/ou que sequer foram vacinadas.


[1] Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Coordenador Geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. Email: l.mattei@ufsc.br  Artigo escrito em 02.08.2021.